Coleção pessoal de layarasarti
Ei garota, preste atenção no que eu vou dizer, só leia, até o fim, sem parar e se as lágrimas rolarem, não tenha vergonha, mostre-as para o mundo. As coisas estão difíceis né minha pequena, tá difícil aguentar tudo isso sozinha, sem falar pra ninguém,cada vez mais aperta no coração, essa dor de não poder mais suportar sozinha. E toda noite é a mesma coisa, por mais que seja impossível de acreditar, você vai dar volta por cima, vai fazer todos se levantarem e te aplaudirem, sim, você consegue. Jamais deixe isso te abalar, por favor não deixe, continue seguindo firme, vai que a estrada longa, mas eu sei que no fim você poderá dizer: Eu consegui!. Tudo isso é só pra te fortalecer, você é capaz, você é forte. Não deixe as palavras dos outros te afetarem, eles não sabem o que falam. Se você soubesse como é tão linda, tão perfeita, tão maravilhosa, por estar aguentando tudo isso sozinha, você é magnífica, perfeita do jeito que é. Eu sei muito bem como é ser rejeitada, ignorada por todos que vivem ao seu redor, confesso que nunca foi fácil, sei muito bem que guarda todas as tuas lágrimas, tua dor deixada reservada no fundo do coração, e quando chega no chuveiro, se joga, se deslancha em dores e por mais que tente ser assim tão fria, és tão sensível e forte ao mesmo tempo. Vai minha pequena se jogue nesse mundo, você é perfeita, eu sei muito bem que conseguirá, se levanta desse chão, esqueça essas dores e vai ser feliz, não esqueça, você é linda.
Vitórinha amarelinha toda boba desatina, sorria pelos lados, vinha assim caminhando com teu jeito de menina, espalhava teus encantos por todos os lados, despertava amor em corações solitários, tua fragrância envolvida pelo teu doce de ser pairava no ar. Perdida pelas ruas movimentadas, teus pequenos olhos com uma grossa camada de rímel revelava a esperança caindo pelo olho direito. Ia e vinha, coitadinha, chute pedrinhas, espalhe tua ternura, cante com as árvores, sinta o vento, faça desejos, te querendo Zé, te querendo muito. 1...2...3... O sonho se transformando em um desejo surreal. No cantinho da esquina vinha o "sonho" caminhando a passos largos, era Zé com teu jeito desleixado, com as mãos no bolso vinha assoviando sem preceitos, sem defeitos, tão perfeito. A garotinha desatina cheia de gracinha com um laço bonito no cabelo aperfeiçoando teu rosto angelical mal espiou no cantinho da esquina e teus olhinhos cheios de doçura tornaram-se cada vez mais brilhantes. Vai passo a passo, sem hesitar, sem temer, o coração exaltado, gritando Zé, ecoava pelas paredes internas do teu corpo, indo...indo...indo, 5 passos os separavam, ouvia-se as conversas pretendidas a ser realizadas, o cheiro da primavera a agradava, 4 passos, as mãos suavam frio, um pedido devia ser feito, 3 passos, ajeitava o vestido pela barra, puxava e repuxava, era o nervosismo que a deixava assim, 2 passos, arrumava as madeixas, deixando caída pelos ombros, 1 passo e já estava nas mão dele. Vitórinha desajeitadinha, aquela menina tão tímida sorria bruscamente, sem tirar nem pôr, era Zé, apenas ele.
Era 8 de julho, às 7:00 am de uma manhã fria e gélida de inverno acompanhada pela sinfonia da chuva, molhando lá fora os sapatos esquecidos. As pessoas nas ruas andando com pressa pro seus trabalhos e afazeres, agasalhadas e com seus guarda chuvas, era um festival de cores, sombrinhas floridas, coloridas, pretas, de todos os gostos. Mas naquela mesma manhã, a mesma chuva que molhava as sombrinhas e as pessoas, também molhava o telhado alaranjado de uma velha casa no centro da cidade, de gota em gota caindo no chão e batendo na janela, fazia um barulho suave e embalava o sono da menina, dentro de casa só se ouvia o barulho do relógio, tic tac sem parar, a respiração fraca da garota. Embrulhada pelos lençóis brancos, sonhando com o único que trazia a ela uma esperança, rolava pela cama, espreguiçava-se, e notou que na cama havia uma ausência, ele não estava lá.Podia ver tranquilamente, o tempo fechado, as nuvens nubladas, caindo cada vez mais a chuva, dessa vez um pouco mais forte, a garota, apertando o travesseiro contra o corpo, enrolada nos lençóis, começou a chorar, seu rosto pálido, branco e a pela macia, o cheiro de camomila ainda estava nos lençóis, o frescor da felicidade poderia ser encontrado, mas não, tudo era solidão. Seus pensamentos voltados para ele, voltando a lembrar dos beijos embalados e carregados de sentimentos, de paixão, dos abraços daquela noite envolvida por amor, a garota não conseguia se conter, os soluços ecoando pela casa fazia, chorava ainda mais, lágrimas e lágrimas caindo sem parar dos seus olhos serenos cheios de amor, de tristeza, de solidão. Lembrou-se daquela tarde ensolarada, daquele verão que passaram juntos, deitados na areia da praia, as ondas indo e vindo, as gaivotas pelo ar, a praia deserta, os chinelos jogados, os corpos contra a areia fina, o único barulho era das ondas, eles se olhavam, admirando cada vez mais, desejando ser a única da vida dele, imaginado com tanta força quase se tornando real. Sim, ela o amava, não pouco, mas muito, um amor tão surreal, impossível de descrever, de explicar, só quem sentia poderia entender. A chuva quase parando, ouvindo apenas o gotejar banhando o jardim florido por pequenas rosas murchas, o cabelo loiro recém pintado, bagunçado, as mãos forçando as bochechas rosadas e as unhas pintadas de anil, quebrou o silêncio, saiu em busca de algo ou alguém, vestiu-se com o vestido verde florido desbotado pelo tempo, delicado, cheio de botões rosas, calçou a sandália preta perdido em meio a revistas e roupas no canto do armário, quase esquecido, enxugou o rosto, ignorou o frio e a tristeza e saiu a procura.
Lá fora, quase não havia mais chuva, as pessoas andando se debatendo um contra o outro, cada um com seus pensamentos em algo, nos problemas, nos filhos, nas tarefas, as lojas cheias, pessoas comprando, gastando, ganhando ou comendo, era assim uma manhã monótona, as pessoas fazias as mesmas coisas quase todos os dias, mas não era uma manhã qualquer para a garota. Mas do meio da multidão estava saindo alguém com o rosto conhecido, o cabelo loiro, os olhos negros, vestido uma jaqueta preta, com uma bandeja na mão, cheio de frutas e copos, ela não aguentou a felicidade, os olhos cheios de lágrimas, feliz por vê-lo, por amá-lo. Ele indo ao encontro dela, chegando cada vez mais perto, olhou fixamente aqueles olhos magníficos e perguntou: - Você prefere achocolatado ou café?.
Era apenas uma manhã qualquer, mas os dois ficaram no meio da multidão, se amando, se beijando e se abraçando, eles se amavam, se amavam muito, até demais por sinal e nada poderia separar aqueles dois corações unidos, batendo juntos, em um só palpitar. A chuva voltou a cair forte, molhando os dois abraçados, mas ninguém se importava, eram eles, era amor, era tudo.