Coleção pessoal de lasana_lukata

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garça garça
por que o desprezo ao bando
se ao voar muitas asas
a vida machuca menos?

vigia de mar


eu jogava tintura Márcia
no bigode branco do navio
e o tempo passava ao largo
distante da proa e de mim

a garça voou
sumiu nos telhados do antigo cinema
voou na cidade
às cinco da tarde
me trouxe um poema

não é hora de matricular-se no silêncio,
contra quem levanta a garça a sua lança?

sereníssima fingida


olheiras verdes
mascarada de esperança
também a garça oferece pão aos peixes
e os devora

feito pardais
os meritienses vão chegando em bandos
e das dezessete e quarenta em diante
a praça se enche de conversa e pássaros

serei poeta nem que seja por usucapião

chega um tempo de cair umas pedras de sal em nossa feijoada,
pedras que nós mesmos produzimos.

se a poesia evapora,
o lago diminui.

com o mar aprendi
como rápido se fecha uma ferida.

não basta saber-se garça,
fazer-se garça,
é preciso aceitar-se garça.

Tarde de outono
Na terra ensanguentada
banham-se pássaros.

inoportuno


na escuridão marítima
cego apoio-me na garça
vou com suas pernas
o coração aberto como uma ferida
sem rota
anda pelo mar
este grito que não tem onde atracar

absoluta
sentada no ombro esquerdo,
eu navio adernado,
ninguém no ombro direito,
para sempre desequilibrado.

poeta não é para ser canonizado,
é para ser carbonizado,
renascer das cinzas.

por todos os mares,

em surdas remadas por águas injustas,

o peixe a acardumar-se para indignar-se

contra as ondas que o empurram para as margens,

para longe dos hiperônimos, dos hipônimos,

e, fora do vinho,

por todas as terras,

convertido em hiena que fatalmente ferida

busca um lugar para o seu fim,

vim hoje aqui

para morrer neste poema.

a poesia apodrece a realidade