Coleção pessoal de lasana_lukata
os filhos já não deixam de jogar
para receber o beijo
que trazem os pais
quando chegam do trabalho,
evapora-se o orvalho
e fica só o verso seco.
é a era de aquário,
do sangue quente dos leões,
do sangue frio das serpentes.
uma serpente dá inúmeras picadas,
o homem perde-se em rajadas.
antiquario
(poeta frustrado)
sobre a antiga escrivaninha,
sustentada por altas pernas de garça,
ficam os grandes poetas...
embaixo,
na prateleira inferior,
para versos inferiores
e o desejo de ganhar altura,
tropeça minha poesia.
vigia de mar
eu jogava tintura Márcia
no bigode branco do navio
e o tempo passava ao largo
distante da proa e de mim
a garça voou
sumiu nos telhados do antigo cinema
voou na cidade
às cinco da tarde
me trouxe um poema
sereníssima fingida
olheiras verdes
mascarada de esperança
também a garça oferece pão aos peixes
e os devora
feito pardais
os meritienses vão chegando em bandos
e das dezessete e quarenta em diante
a praça se enche de conversa e pássaros