Coleção pessoal de lasana_lukata

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no recuo da geleira
ficou esta pedra em minha vida.⁠

⁠as
garças
chegando
tropas
da
primavera


mãe
Ícaro
sai
do
sol
menino

⁠um
buquê
de
pedras
também
murcha

⁠nesse
mar
deixei
a
minha
silhueta

⁠fiquei
preso
como
pássaro
no
visgo

céu
grita
sua
dor
na
trovoada⁠

⁠metralhadora
antiaérea
ou
inveja
de
passarinhos?

⁠me
deixa
marinhar
as
tuas
águas

⁠nuvens
madurinhas
prometem
alimentar
as
plantas

reclinava-se⁠
no
banco
a
tua
ausência

meus
olhos
fertilizados
por
teus
seios⁠

⁠POÉTICA

escrevo como um ciclone:
arrasto tudo para dentro de mim.

só Deus decifra teus silêncios.⁠

⁠frio sobre um rio morto...
garças imóveis como albas pedras
de um cemitério.

⁠nesta pandemia que desagrega,
que esfrega os barcos nas pedras,
que naufraga todo dia
e devora toda noite-
impossível-
mil caírem ao meu lado,
dez mil à minha direita
e eu não ser atingido.

⁠em meus momentos de mar, solífugo, a evitar o sol,
as ondas submetendo a proa, olhava o horizonte...
sereias labializavam meu nome,
o navio a extraviar-se, agonizava a silhueta,
e a melancolia era a tinta
para pintar os meus naufrágios.

⁠tarde outonal-
garça plágio do urubu
num rio sem rã.

bem-aventurados os que se assentam na roda
dos esclarecedores.

não empedres meu vulcão