Coleção pessoal de lasana_lukata
ao escrever A Madrasta de Pedra, eu não fiz opção pelo sofrimento, eu tinha um material sofrido de onde extraí poesia.
a garça aviva sua brancura
a garça encrespa sua brancura
a garça finge suabrancura
a garça é plágio do urubu
A internet deu a onipresença aos escritores, mas são criados novos corredores para passar somente alguns.
olho a para um lado,
lama e lodo.
talvez seja a parte,
parece o todo.
olho o outro lado-
lodo e lama-,
parece que este mundo
está em chama.
os muçuns
eles turvam a água
para que você não veja,
para que você não beba,
para que você não seja,
para que você não saiba,
para que você não suba
e depender da aspereza;
turvam a água e são retráteis,
retratos de déspotas a despistar
cinicamente;
eles estão na superfície
e nós no fundo, entre náufragos,
como seres estranhos,
se alimentando do que afunda
e está morto;
no fundo, sem vermelho,
sem amarelo,
sem verde
e o azul já se desfaz,
escuro e frio...
eles estão na superfície
e nós no fundo,
em baixa temperatura-
dentes à mostra-
e a pressão aumenta
esse entredevorar-se.
tempo em que a palavra verde esperança
é proliferação de bactérias
e há versos que nascem das feridas,
da injustiça, do incêndio, do abuso-,
e até os poemas são equipados para a guerra.
quando uma mulher fala:
você parece com o meu marido!
no mundo dos álbuns, ela está dizendo
que a figurinha é repetida,
não vai completar o álbum.
para entrar no poema
tire os sapatos...
como a garça, pé ante pé,
não esbarre nas palavras barulhentas:
minha cicatriz tem sono leve.
entre as pedras, a mais perigosa delas é a pedra oculta. Aquela bate e esconde a mão, a mão de pedra.