Coleção pessoal de landeira
Me samba
Tum Tum Tum...
O grave eleva como um impulso surdo e imperativo.
Obriga seduzindo o movimento irresistivelmente.
Toda a energia se faz e se faz dentro com inconsciência crescente.
Envolventes coisas soam aleatórias. Fazem os sentidos brilhar.
Explode como flor, perfuma, colore e as mãos pro ar.
Puxa pra lá e puxa pra todo lugar em ritmo de ritual.
O corpo é todo só um canal, produz, capta e entende.
Revela-se sempre mais e não precisa ter fim.
Esquece a vida, o sentido é carregar a esperança e a vontade.
Alegre ou triste tem força.
A festa sou eu, a celebração sou eu. E o motivo sou eu também.
Me faz samba.
Conselho
Líderes imaginados disputam por sombras.
São nuvens se chocando a favor do mesmo vento.
As palavras aqui tem peso de ouro; antes de engano são verdades. O primeiro toque no outro.
Os interesses são astúcias e desafiam, mas não se sente queimar. Não se sente arder.
Tenha mais liberdade; tem outro amor aqui pra se experimentar.
Sinta. Estamos a favor do mesmo vento.
Tem o céu, noite de brisa livre; tem o chão as árvores. E na trilha, uma dor.
Ele chora a dor de uma mordida em seu coração.
Sangra. Um rio bento correndo.
Salga a visão. O corpo não corrige.
Partem vãs as verdes esperanças.
Melodias saindo curvas, oscilantes entre passos que levam avante indo em outra direção.
Vácuo preenchido
Trouxe dias felizes e, correspondendo a cada um deles, um mar de lembranças.
Ver aqueles dias cada vez mais distantes trouxe falta.
Guardo a lembrança. E a falta. Guardo as duas juntas, porque se não fora, a lembrança sozinha, esqueceria. A falta sozinha, não seria.
Fez-se assim minha saudade. Sinto-me só saudade.
Se volto ao mundo; percebo que sou ainda a lembrança e a falta.
Perto disso, e longe de todo o resto... sou a espera por nascer num outro dia.
O homem se faz de escolhas
A palavra por observar
A criatividade por imaginar
E o poeta? Se as palavras o escolhem, a imaginação o ilude e os sentimentos o traem?
Amor, velho amor... Estás cheio das certezas alarmantes das juras, garantias de céu e de um eterno que existiu durante alguma manhã.
Podes matar-me com elas e com apenas uma sangrar-me em muitas partes. Posso todo sangrar.
Se não mentes, suas verdades são feias, murchas como a rosa que já estando morta ainda espera cair. Oxalá esta rosa conseguisse alcançar-me ainda enquanto acompanhada do seu perfume, logo quando fora recém pintada sendo tão atraente para mim como para as abelhas. Mas não conheço a tua primavera.
Ó amor, estas mesmas verdades, as mais puras verdades, não se despem pra mim, não repousam, nem se entregam. Ficam recolhidas ali, enfrentando os cantos de parede. Perturbadas de receios. Sem argumentos.
E sendo eu o teu hospedeiro, deus de incompreensível julgamento; traio a mim por sentir-me atraído para ti.
O que ainda não me tornei por tanto considerar-te?
Não me domino. Sigo enganado.
Resta-me tentar os dias, ignorante ao próximo momento em que vais sangrar-me.
Antes da escolha feita; convencimento e convicção se confundem enquanto a intuição rege. E perdendo ou ganhando, não se teme decidir.
No jogo, antes de vencer, o que mais se quer é desvendar a surpresa.
Motivo. Partida para o alcance da realização.
A vida é o tempo todo isso. Alcances. Motivos.
Celebrar os motivos. Todos os motivos.
Sem pintar as alegrias que trazem algumas realizações.
Agradecer os motivos. Todos os motivos.
Qualquer deles é o seu merecimento.
Viver os motivos. É o caminho.
Palavra II
Porque não escrever? Se no fim resta a palavra como a última força.
Força de um último pensamento; de uma última fala.
Sai carregando a vida como o peso da coroa retirada do rei.
Honesta como foi concebida.
Nessa importância da palavra está o respeito do poeta e escrever assim revela sua íntima inspiração. Atinge como uma fagulha que acende o facho, desafia como a aposta temerosa que decide o jogo e constrange a devoção que faz ajoelhar. Convence!
Palavra que chama e faz-se valida. Viva.
Lá longe existem grandes sonhos.
Aventuras como as nossas e contadores de história.
Sentimentos de bravura reafirmados nas conquistas.
Devoção nos olhares. Complexos abstratos.
Atos justos. Paradoxo. Existe medo.
Receio de não saber e receio de partir.
Receio do que vem depois.
Eles são mamíferos, beija-flores e tulipas. Nomeados por seus homens. Os mesmos elementos em outra organização.
Compõem. Pecam.
Faremos troca? Ou aplaudiremos?
A certeza é sermos vida.
eu Eu
Um animal em parto ou que abati?
Um raio que se apressa a romper ou se lança atraído?
Uma porta trancada ou que leva a varanda?
Movimentos de assalto ou gentil intenção?
O querer que se quer ou o que exagera?
Sou troca justa ou um furto sínico?
Cores ou dia nublado?
Amo e abato
Corrompo e desejo
Vou aos mais belos lugares. Me fecho.
Atinjo e amparo.
Quero. E também quero mais.
Pondero. E não peço licença.
Cores... Precisam de luz! Tenho música.
Que fome é essa que me faz sair as minhas buscas? Estará sempre a frente de ser o bastante. E nada terminará hoje ou com um sorriso só por ser positivo.
Nada termina assim... Nada nem termina. Mesmo o dia que se espera, que chega e que passa.
Que fome é essa que sou?
Um animal que sobrevive ou que evolui?
Eu sou tudo. E assim, o desagrado também sou.
Não escapo a essa natureza.
- Me disse que era pesado e meu valor como o de um dinheiro.
Invalidou minhas certezas, e equivocou minha justiça.
Quase vejo que o beckause de tudo isso é sua crença no meu querer. Mas pareço estar ainda de olhos fechados.
Outro motivo me melhor convenceria.
Se me apresento assim como está em sua razão... Me penso... Me dispenso.
Chorare
Gosto das coisas que me fazem chorar
Me mudam imprevisivelmente.
Como se depois de tentativas, ali eu tentasse o silêncio.
Olhos fechados. Mudo.
Honesto convívio com os piores sentimentos. Com descontrole de alegrias.
Sempre um ponto final ou... De partida.
Em qualquer sentido me cai bem renovação.
Quadro Abstrato
O grande e gracioso peixe perolado com olhos de cristal está contornado por folhas e gavinhas,besouros solitários azuis e vermelhos, flores desabrochadas e maduras frutas cítricas.
A coroa em sua cabeça é uma roda gigante de sensação comum deitada num giro anti-horário de jornada eterna e descançada.
No céu, uma ilha flutuante de montanhas rochosas distantes e adormecidas, abriga uma paisagem de alguns coqueiros e matagal, e um balão arco-íris paira alto fixado por cordas fincadas na praia branca nunca antes visitada e entrega às areias o fim de sua desenrolada escada de cordas.
Seguindo o rastro de pegadas solitários ao largo da praia o outro extremo aponta onde se finda. Ali há um martelo deixado ao lado de fincadas estacas que sustentam outra escada de cordas que se derrama desde a ilha até a entrada da roda gigante.
A estrutura em madeira de pintura desgastada em amarelo e vermelho tem escrito acima "entrance" e "exit" e fincada ao chão uma catacra enferrujada de entrada e saída liberadas.
Alguém reveza os últimos degraus da escada em direção a roda-gigante. Desce vestindo verde, tênis e jeans com o olhar para cima mesmo sem ainda tocar aquele chão.
Um Sonho.
Lugar revisitado com sensação de ter voltado à casa de um bem distante.
Coisas a fazer lá com importância distribuída entre rostos familiares não conhecidos.
Se vestir, comer e dividir as notícias das vésperas de onde se vem.
O tempo acontece numa parte de noite e tudo brilha ardente e suave como felicidade de reencontros saudosos.
Sorrisos que abraçam e desejam um amor tão próximo que ensinam ao seu próprio.
Conforto de ser guiado para fins simples que vão servindo pra sempre.
Despertar com o esforço de trazer aquela consciência junto comigo. Mas não resta muito além de sensações, vultos em fade out e a certeza de que tudo aconteceu.