Coleção pessoal de kasulo
Saudade é uma palavra que tem cheiro.
E fica no travesseiro, na curva da sala, naquele ponto da conversa quando minha língua tocou sua voz.
Ainda procuro algumas essências. É a procura do habitável, eu diria.
Depois de tudo, seria esquisito pedir licença e ir morar em lugar conhecido, onde reina o que já decifrei.
De que matéria é feita uma manhã de disponibilidade?
Tesouro do divizível, minha disponibilidade acena para gregos e troianos e hoje ofereço meu reino por uma caixinha de Bis, no máximo.
“Mensagem de fumacinha: onde anda a Clara Pálida?”
(Um índio que gostava de cinema escreveu no banheiro este poema)
Minhas verdades são poucas.
Perdi a fina casca que protegia
meu fino pudor.
Hoje sou Antonietas,
Anas Célias,
Marias e suas varizes.
Meu coração mundano e aprendiz,
percorre outros corpos,
habita outros medos
mas sempre volta.
Bem humilde.
Bem viciado.
A abelha enfastiada
achava chata
sua vida de operária
na colméia.
Mal sabia ela que era
bem mais feliz que a família
que consumia
sua geléia.
DECLARAÇÃO I
Não gosto de ganhar rosas.
Não tenho paciência com crianças.
Detesto massagem “pra relaxar”.
Entendo pouco sobre Deus.
Mas cuido de bêbados, salvo gatos, faço aniversário
de chatos, cozinho para medíocres, perdôo grosserias.
Minha sensibilidade é seletiva.
Uvas são cápsulas feitas de gel licoroso com uma fina película de algo doce que termina azedo. São como pessoas. Nos dois casos, gosto mais do design delas do que do sabor.
Guardei a lua cheia
Aquela pedra de São Tomé
O roteiro da viagem
A foto do seu pé.
Mas não foi por saudade
Muito menos pelas rosas
É que dizem que dá sorte
Guardar bobagens amorosas.