Coleção pessoal de KarlaMello

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O tempo é vento e fome.
Que traz poeira cinza e que engole o homem.
Cortina que cobre cenas.
Cortina que encerra em atos.

Pois que amar é tão aflito quanto estar-se parado num cais.
Acena-se na chegada...
Acena-se na partida...
E sempre há um prenúncio de chuva.

Vivemos entre o equilíbrio do amor consonante.
E a felicidade dissonante.
Andamos à meio tom: Desafinados.

Cala-te nesta tua boca de carne!
E logo fala-nos a tua boca escancarada!...
Da tua alma sedenta!

Abrem-se portas.
Fecham-se portas.
E o vento... O tempo...
Sempre a bater as portas!

Escrever é quase uma catarse.
É vomitar quando a gente come a vida com gulodices.
... Mesmo prevendo o mal final.
É lavar a casa-coração com água de choro...
E de cheiro, afinal.

Porque todo dia é dia da criança de mim.
Assim... Num cantinho reservado de mim.
Ela... Livra-me de mim.

Em algumas circunstâncias e curvas e becos
Da vida!
Havemos de subtrair pessoas:
Adicionamos.

Sou muito divertida quando estou feliz.
Sou muito chata quando estou lúcida.
Sou muito lúcida quando silencio.

Eu cuido do jantar todos os dias: Comida de gente!
E alimento-me dos meus sonhos todos os dias:
Comida de "loucos".

Não sei lidar com perdas... Decididamente!
Ando meio farta de perdas!
A gente sai pela vida!... Se fracionando inteira!

Gente que muito se acha.
De certo... Gente que pouco se encontra.

... Entre um pensamento nublado e outro...
Um sorrisinho de bebê:
E tudo fica iluminado!...

Na minha vida nada foi fácil.
Se fosse fácil... Não seria a minha vida.
Explicar por quê?!...
Já é um outro assunto meu.

Preciso arrumar um trabalho neste "circo": Domadora!
... De mim mesma.

Tentou fechar-me todos os caminhos.
Mas esqueceu do meu universo infinito.

O VÔO

Lívida. No parapeito da janela.
Do filme reavaliou o roteiro.
Entregou-se...
Aos instantes da inércia.

DA MARGARIDA

Olhou de soslaio e era ele.
Assim... Num bem me quer.
E ela despetalava-se Margarida:
Bem me quer, mal me quer.

SOBRE A AMIZADE

Na vitrina viam-se duas pessoas:
Uma na escuridão e uma outra com um candeeiro na mão.
Raridade!

PASSANDO A LIMPO...

Ela escreveu o seu passado na folha do outono.
Deixou-o secar...
E quebrou-o em pedacinhos de raios de sol.