Coleção pessoal de KarlaMello
O tempo é vento e fome.
Que traz poeira cinza e que engole o homem.
Cortina que cobre cenas.
Cortina que encerra em atos.
Pois que amar é tão aflito quanto estar-se parado num cais.
Acena-se na chegada...
Acena-se na partida...
E sempre há um prenúncio de chuva.
Vivemos entre o equilíbrio do amor consonante.
E a felicidade dissonante.
Andamos à meio tom: Desafinados.
Escrever é quase uma catarse.
É vomitar quando a gente come a vida com gulodices.
... Mesmo prevendo o mal final.
É lavar a casa-coração com água de choro...
E de cheiro, afinal.
Porque todo dia é dia da criança de mim.
Assim... Num cantinho reservado de mim.
Ela... Livra-me de mim.
Sou muito divertida quando estou feliz.
Sou muito chata quando estou lúcida.
Sou muito lúcida quando silencio.
Eu cuido do jantar todos os dias: Comida de gente!
E alimento-me dos meus sonhos todos os dias:
Comida de "loucos".
Não sei lidar com perdas... Decididamente!
Ando meio farta de perdas!
A gente sai pela vida!... Se fracionando inteira!
Na minha vida nada foi fácil.
Se fosse fácil... Não seria a minha vida.
Explicar por quê?!...
Já é um outro assunto meu.
O VÔO
Lívida. No parapeito da janela.
Do filme reavaliou o roteiro.
Entregou-se...
Aos instantes da inércia.
DA MARGARIDA
Olhou de soslaio e era ele.
Assim... Num bem me quer.
E ela despetalava-se Margarida:
Bem me quer, mal me quer.
SOBRE A AMIZADE
Na vitrina viam-se duas pessoas:
Uma na escuridão e uma outra com um candeeiro na mão.
Raridade!
PASSANDO A LIMPO...
Ela escreveu o seu passado na folha do outono.
Deixou-o secar...
E quebrou-o em pedacinhos de raios de sol.