Coleção pessoal de kamylla23

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Domingo sozinha em casa dá nisso: eu com saudades de você. Tentei assisti um filme, você tava lá no andar do antagonista, tentei ler um livro você tava lá no jeito que o mocinho foi embora e deixou a mocinha sofrida, decaída, pelos cantos. Depois de todas as tentativas frustradas de tirar minha cabeça de você me rendi e abri seu perfil num site de relacionamento, nada novo, você nunca foi muito adepto de rede social e não sei o que é pior: não saber de você ou saber que você está infinitamente melhor sem mim. Comecei a ler nossas conversas antigas e chorei feito uma criança birrenta e me perguntei pela milésima vez o porquê de sermos tão bacanas juntos e não estarmos juntos. Há um bom tempo não sei nada novo de você, sei que se formou e que continua no mesmo emprego, mas não sei que banda nova você anda ouvindo, qual o livro recentemente foi adicionado aos seus preferidos, nem se ainda sente falta de mim. Já era tarde e queria tanto ligar pra você, nem que fosse pra ouvir tua voz e desligar rapidinho feito uma daquelas adolescentes e suas paixões platônicas, mas ao invés disso liguei pra o carinha atual pra vê se encontrava um pouco de você e dormia em paz. Não deu certo, ele tava apressado, voltando de uma viagem e eu desliguei rápido porque a pressa dele me lembrou o quanto você sempre teve tempo pra mim, não importava a hora, nem onde ou com quem você estava, você sempre me atendia com a maior paciência do mundo mesmo se fosse só pra eu te perguntar qual cor de sapato era mais apropriado para uma entrevista. Mas acabou, prometi não falar mais de você pra minhas amigas, prometi pra mim mesma não comparar você com ninguém mais, mas ainda não consegui entrar num acordo com meu coração, pra não lembrar mais de você, pra não ressuscitar você num dia qualquer quando o vazio aqui dentro me lembrar que você é exatamente do tamanho do que falta em mim.

Eu corro, corro porque todo mundo me acha tão boazinha que se eu ficar um minuto a mais vão descobrir que não é bem assim que na verdade eu to pouco me lixando pra opinião de quem quer que seja, eu só tô aqui porque não queria ficar em casa hoje, está com alguém pouco me importa porque eu to surda para o mundo, porque eu to surda pra essas conversas vazias, pra essa gente cheia de conteúdo. Ninguém nunca me disse que seria assim, a vida é uma injustiça sem tamanho, você faz planos, constrói castelos, se acha dono do mundo e de você e de repente: acabou! Você é nada mais nada menos que um zumbi, que vive sobrevivendo e abrindo os olhos todos os dias ignorando tudo que já morreu por dentro. Eu só não quero sentir mais, quero acordar, trabalhar, sair, ler e pronto, por que diabos no intervalo disso a gente tem que sentir tanto? Como eu faço com esse embrulho no estômago que matou todas as borboletas que tinham aqui antes? Mas eu parei de brigar com a vida, e todos dizem: você ta tão zen... mas a verdade é que eu to sem: sem esperança, sem gana, sem saco. Cheguei a um nível que nem chorar eu choro mais, porque sofrer é tão pouco sabe, porque soluçar já não me basta, aliás nada me basta porque eu sou o próprio basta. Ninguém me entende, ninguém enxerga o tudo e o nada que corre nas minhas veias mas eu não to nem aí, que se dane esse negócio de ser compreendida, pela primeira vez na minha vida passar despercebida virou um alívio. Se essa dor vai passar eu não sei, mas com um tempo ela vai ficando, ficando e quando você vê ela se torna um braço cê se acostuma, cê acorda mais um dia e vai vivendo até achar um sentido, até se agarrar em algo ou alguém pra continuar.

Eu te achava tão lindo, olhava pra você e pensava: Meu Deus é demais pra mim. Você sempre bem vestido, com palavras prontas milimetricamente ensaiadas. Nada parecia está errado em você: família perfeita, amigos perfeitos, vida perfeita. Era tudo tão perfeito que me embrulhava o estômago. Você veio fácil demais, com promessas rápidas, elogios baratos, liberdade calculada. E eu a garota cansada da intensidade de tudo que vivi mergulhei de cabeça no vazio sem fim que você é. Tentei olhar pra você como alguém que tava passando por uma fase, que um dia ía enxergar toda a breviedade das coisas, mas não, não era uma fase: era você. Esse vazio todo não era essas festas frequentes sem hora pra terminar, esse valor exacerbado a luxos tão banais, esses amigos do de vez em quando que você colecionava, esse vazio todo era você. Era você com seu jeito tímido que escondia um cara frio e calculista, com seu gosto musical apurado que disfarçava sua falta de sensibilidade pra ouvir além do som, com sua mania de perfeição que só gritava o quão longe da perfeição você era. E como te enxergava assim doeu acordar pra quem você sempre foi e perceber o quanto tudo que você me oferecia era menos pra mim. E hoje me permiti ir embora, paguei um ingresso caro demais e o seu show é pra uma platéia selecionada que eu definitivamente não quero fazer parte nem fazer coro com essa gente que te rodeia, que te enaltece, que te faz rei. Sempre fui transparente com tudo que sou e pra ser bem sincera, quem anda comigo, sabe não perco meu tempo com pouco, não aguento futilidade nem no meu armário quanto mais no meu coração.

Acordo falando comigo mesma: tem alguém aí? Será que sobrou alguém aqui dentro pra me ouvir? Coloco os pés no chão frio, e sinto algo externo, fico um pouco feliz por sentir algo que não seja essa dor. Conversei com meu melhor amigo, mas ele não me entendeu, porque toda essa tristeza não tem nome, ninguém morreu, ninguém me trocou, ninguém me abandonou a própria sorte, mas eu morri, não há nada aqui dentro só uma ferida aberta que dói, dói. Ontem tentei sair, não deu, ontem vi um rapaz tão bonito, fiquei olhando um pouco, tentei ficar feliz só porque ele retribuiu o olhar, mas essa tristeza não deixa, porque eu não quero que ninguém me olhe, eu só quero me trancar no escuro de mim e cega dormir, dormir, dormir. Eu já fiquei tantas vezes triste, meu amigo me disse: você já passou por coisa pior, mas nada é pior que agora, nada é pior que se ter dinheiro pra comprar a melhor roupa e só ter vontade de vestir um trapo qualquer, nada é tão triste que ver seu prato preferido na sua frente e só querer vomitar no banheiro mais próximo e eu tô assim, tenho todas as oportunidades do mundo batendo a minha porta e eu só quero ficar sozinha. Nada é mais justo, levaram minha leveza, não tem mais nenhuma risada guardada, não tenho nenhuma lembrança boa na manga, eu não penso, eu não sinto, eu só respiro e se isso é ta viva, eu ainda tô. Tentei congelar minha melhor lembrança mas escorreguei na minha vontade de não lembrar, tentei encostar no colo de alguém mas cai no poço fundo de mim, tentei ler, comer, trabalhar mas é tudo mecânico, virei um robô com o controle remoto na mão da dor, é ela que me direciona, é ela que me acorda e é ela que me faz dormir. Um dia vi uma garota chorando num banco e um rapaz a abraçava, apertava, ele não dizia nada e ela chorava, soluçava, desejei ser aquela mulher por um minuto, só pra poder chorar, só pra querer ser tocada por alguém, só pra me diluir em mim e me recompor depois, mas eu não consigo, eu não aceito o toque, eu não aceito olhares compassivos. Então eu deixo, deixo toda essa coisa sem nome que virou meu peito, me dominar, ditar as regras, só pra não me esforçar pra viver, só pra deixar alguém cuidar de mim, até que um dia lúcida eu me tenha de novo.

Ainda não sei o nome disso, qual o nome daquilo que a gente senti quando quer ficar e precisa ir? Indecisão? Não, não é indecisão porque eu sei o que eu quero, eu quero teu andar distraído-apressado-troncho andando sempre a minha frente, eu quero teu sorriso despretensioso que te faz ser o cara mais bonito que qualquer protagonista de filme de super-herói, eu quero essa sua mania de me querer de vez em quando que me faz te querer pra sempre. Mas eu não posso querer você, eu não posso me diluir em gotas toda vez que você escorrer pela minha porta, exausto de mim. Eu não posso fingir que não tô na sua pra depois chorar com saudades de você, sentada no banquinho do shopping tomando o quinto sorvete seguido da McDonald’s. Eu não posso, não posso. Mas eu faço, eu finjo ser a menina mais centrada do mundo na sua frente mas minhas unhas estão todas ruídas de ansiedade, eu finjo ser a mulher mais descolada e liberal do universo pra você mas eu guardo no íntimo de mim um desejo bobo de que você me assuma, me leve pra um jogo de paintball e me apresente a seus amigos. Eu sei que eu não podia querer demais, você veio com prazo de validade no rótulo e eu agora tô aqui torcendo pra que você fique mais um pouquinho mesmo estragado, mesmo me causando náuseas. Ninguém ama aquilo que tem na mão e você nunca esteve na minha, você canta pra mim e sorri pra moça parada na lanchonete, você liga pra mim e manda sms pra vizinha nova do seu primo, você é livre demais pra mim, você é um passarinho no universo e eu tô presa na gaiola do meu mundinho. Hoje pela milésima vez ensaiei meu pedido que você fique, listei minhas qualidades que você adora, e como a garota comportada que nunca fui me eximi dos meus erros corriqueiros numa forma esdrúxula de apelo. Mas deixei o papel em casa e fui te ver, feliz, realizada, fingindo ser a única a andar com você no banco passageiro do teu carro, te querendo como nunca.

É esse medo de não pertencer a lugar nenhum, de sentir que você está caminhando e caminhando, deixando coisas e pessoas pra trás mas nunca se sentindo a vontade o bastante pra se acomodar em algum lugar, pra encostar a cabeça em algum ombro e descansar. É tanta bagagem, dores, saudades e nenhum lugar pra acomodá-los, nenhum cômodo pra guardá-los e voltar a caminhar leve pra quem sabe encontrar um lar. Um horizonte que me acolha, um sorriso que me peça pra ficar, nenhuma promessa, apenas a certeza de uma paz esquecida, de uma paz de ter um lugar pra onde voltar quando meus pés estiverem cansados de ir por aí querendo encontrar sei lá o quê, quando meus olhos tiverem embaçados de uma dor que não é minha mas que carrego por força do destino. Mas eu não posso voltar, meu medo me fez perder o caminho, meu coração abriga uma fé que resiste mesmo que meus joelhos doam, mesmo que minhas orações se repitam, mesmo quando as pessoas se vão. É só uma vontade simples de querer me esquecer, acreditar que esse sol que me acorda é por um motivo, por uma razão. Não há vidas vãs, não há lágrimas vãs, esse sufoco de chorar só não é em vão, essa esperança que me faz acordar não é vã. Só me deixa dormir um pouco, me deixa fechar os olhos e ver nos meus sonhos uma razão pra tudo isso, me espera na próxima parada do fim da minha dor, me espera no início da minha cura, aceita meu coração cansado, meu caminho errado, minhas mão vazias e me pede pra ficar mesmo que seja pra doer de novo, mesmo que seja pra construir uma catedral e me perder dentro dela, por você eu fico, só por você eu aceito ter um lar.

Hoje a noite não vou sair e por incrível que pareça depois de um tempo esperando respostas suas pra toda a minha vontade de estar com você, hoje não estou esperando você, hoje não saí porque simplesmente quis estar com alguém que há tanto tempo não cuidava: eu mesma. Pode parecer louco pra você mas a verdade é que eu não quero mais minhas emoções em frangalhos, não quero mais acordar no meio da noite querendo está com alguém que tem milhões de prioridades e eu não estou em nenhuma. Durante um bom tempo estava pensando que você talvez poderia ser a pessoa certa: você todo certinho, cabelo, roupas impecáveis, compromissos agendados, emprego fixo e com um bom futuro pela sempre, olhava pra você e nada parecia tá errado, filho querido, amigo disputado, mas hoje tenho raiva de mim por ter acreditado algum dia que existe a "pessoa certa", você nunca foi a pessoa certa pra mim porque isso não existe o que existe são duas pessoas erradas tentando acertar juntos, e de nós dois só quem quis acertar fui eu. No início queria me divertir, mas a verdade é que eu melei nosso trato, porque eu me apaixonei e o pior como toda mulher apaixonada comecei a acreditar que um dia você enxergaria isso, e pensaria com carinho em mim, eu e você, almoço de domingo, passeios de mãos dadas, brigas intermináveis, reconciliações com direito a amor depois. Boba eu sei, e isso pra mim é segredo de morte, você nunca vai saber. Agora simplesmente é hora de cair na real, aprender com tudo isso, e olhe que estou aprendendo, não significa que não sinta uma falta absurda de você porque eu sinto e dói, é engraçado como mesmo não te esperando mais algumas coisas perderam a graça pra mim, mas isso é questão de tempo um dia isso vai passar, sempre passa, pena pra você, pena porque estando tanto tempo comigo nesses últimos dias pude ver a mulher fantástica que eu sou, teimosa um pouco egoísta mas verdadeira, que seria mais que uma amante seria sua amiga, compraria sua briga, adotaria sua causa. Mas agora já deu, eu fui, desculpa não ter te avisado, mas é que me lembrei que eu precisaria significar um pouco mais pra você merecer uma explicação.

Desde a última vez que nos vimos eu mudei, meus amigos falam que eu tô mais seca, menos inventada, mais eu. Com o tempo perdi aquela mania de acreditar em todo mundo por achar que eu era boazinha demais pra merecer uma traição, hoje não é todo mundo que divide a mesa comigo, que entra na minha casa, que eu compartilho meus sonhos. Perdi aquele jeito bobo de se deixar levar, hoje são poucas as pessoas que me fazem perder a hora. Demorou mas aprendi, aprendi que o fato de eu amar alguém não é pré-requisito pra essa pessoa não me magoar, aprendi que ninguém é o que parece até me provarem ao contrário, percebi que mesmo aos trancos e barrancos a vida continua sendo minha e ninguém tem o direito de tomar decisões por mim. Se eu tô mais fria? Não, tô no chão! Hoje não é qualquer conversa que me distrai, não é qualquer “eu te amo” que me tira o sono. Depois de tanto tempo eu finalmente aprendi a gostar de mim, a me querer por perto. Depois de tanto não, hoje eu sou a primeira pessoa pra quem eu digo sim e quem quiser que me acompanhe, não vou atrás de ninguém, hoje eu não conquisto, eu sou conquistada. Mas eu não perdi minha sensibilidade, só uso ela com quem merece, ainda sou a amiga, companheira, ainda me preocupo, vou atrás, mas hoje nada que eu sinto agride mais minha auto estima, hoje não sou coadjuvante da história de ninguém. Quando você foi embora por um tempo me senti como se estivesse morrido, não havia mais o que ver, nem o que senti, mas a verdade é que eu morri mesmo. Junto com você morreu meu medo, minha insegurança, minha falta de amor próprio. Você foi e me devolveu, você sumiu e me fez aparecer. E ainda me perguntam se eu tenho raiva de você, que nada! o que eu tenho tem outro nome: gratidão.

São tantas coisas suas que ainda estão aqui, aqui dentro, em mim. Você conseguiu me trazer tantas saudades nesse mundo que eu pareço não me apegar a ninguém, não ser de ninguém, você incrivelmente ainda parece ser meu e o nós parece ainda está vivo, no ar, à espreita. Você não está sozinho, aliás nunca esteve e eu também não, nunca me prendi por sua causa, nunca deixei de ser livre, solta, à toa, coisa de signo sabe? Você não vai entender. E todos os dias na minha superficialidade viciante sou de quem eu quiser porque por dentro das minhas entranhas ainda sou tua, ainda te pertenço, e na minha alma cansada eu sou leal a nós, a tudo que fomos, a tudo que ainda seremos, mesmo distantes. Hoje tudo soa tão banal e cansativo, as pessoas são apenas conquistas e sinto por isso, sinto porque tudo que sentimos me fez entender o que é o melhor, e quem sabe do melhor é inquieto com todo o resto. Hoje tudo é jogo, todos são meros jogos de sedução, de desempenho e quem ganha, me leva noite afora, sem destino, sem regras, sem motivos. Você era minha exceção, sinto falta de toda aquela ausência de banalidade, sinto falta de quando o desejo não era troca de favores, era sentimento, realidade. Você era incrivelmente meu mesmo sem estar presente, havia uma certeza que me fazia companhia na sua ausência, éramos um do outro, sem provas, sem convenções, sem papel passado. Mas me acostumei com tua ausência, aprendi a ser minha novamente sem nunca deixar de ser tua, aprendi a me educar me enganando com um até logo que nunca deixou de ser adeus. E as pessoas pensam que eu estou deixando a vida passar, perdendo a chance de se deixar ser de alguém, mas elas não sabem que sua ausência me ensinou a ser tão minha que hoje não consigo ser de mais ninguém.

É uma crise apenas e vai passar, talvez amanhã, talvez mês que vem, mas vai passar. Crise existencial não era o que você dizia? Crise de identidade? Mas hoje sei que não é crise existencial o que eu tenho é a crise de não mais existir, hoje sei que não é crise de identidade o que me afeta, e sim crise de quem não tem mais no espelho familiaridade, crise de quem não se reconhece. Hoje cheguei em casa e mesmo um caco eu não queria está ali mais, eu não queria olhar aquelas paredes, eu não queria estar naquele quarto frio, seco, isolado de mim, eu não queria sentir sono, eu não queria sentir nada... talvez andar por aí sem rumo, reconhecer em algo simples um motivo, um motivo sequer pra seguir nessa montanha russa que é a vida, sem vomitar diante de tanta hipocrisia. Sentir, nada mais ridículo que sentir, a gente não poderia apenas viver? Acordar cedo, trabalhar, faculdade, um cineminha quem sabe, levar os filhos a escola, atender o telefone e pronto. Porque diabos a gente precisa sentir? Quantas vezes critiquei pessoas vazias, ocas sem saber que só é feliz quem finge, só é feliz quem não vê com esses olhos de alma que poucos parecem ter. Hoje me sinto como uma criança que se acha estranha de todas por ter medo do papai Noel que todos dizem que é o bom velhinho, hoje me sinto como uma adolescente que se descobriu grávida sem nem saber que era mulher, hoje eu sou como um relógio quebrado que sempre marca o mesmo ponto e nunca sai do mesmo lugar, que insiste em um tempo que não volta mais. Hoje eu queria o colo de alguém que não me afetasse, hoje eu queria falar pra alguém que apenas ouvisse mas não me escutasse, hoje eu queria uma condenação que me desse um prazo, uma sentença qualquer que eu pudesse vislumbrar algo de digno no fim que pudesse me libertar de mim.

Não precisa se assustar eu sou assim mesmo, eu nunca fico por muito tempo, envolvimentos pra mim sempre tiveram limites e o nosso já deu. Talvez você queira me entender pra me deixar ir, mas não tem o que entender, eu não nasci pra ter manual, eu não nasci pra que alguém pudesse me ler e me descobrir, meu livro não está aberto. Eu tô cansada desse mundo em que precisamos de motivos pra gostar de alguém, porque eu sempre gostei de você sem precisar explicar, eu nunca senti necessidade de listar suas qualidades pra entender porque demoro tanto pra dormir pensando em você, porque pra ser sincera acho que foram seus defeitos que mais me atraíram, comigo sempre foi assim, o bom, puro, certinho nunca me encheu os olhos, pra mim tinha que mostrar um podre pra me tirar o sono. E você quer jogo e eu não to afim, eu to numa fase que quero verdade mais que qualquer coisa, me falta paciência pra interpretar suas entrelinhas, seu modo subliminar de dizer que me quer me irrita, não sou mais menina pra brincar de detetive e ladrão, eu não quero desvendar nada, eu quero clareza pra me permitir viver esse sentimento que ainda nem tem nome, mas que um dia pode ter. Já me protegi demais, deixei pessoas bacanas irem embora porque não tava pronta, mas hoje eu to na corda bamba, ou eu me equilibro de uma vez ou me perco num abismo de uma vida vazia. Desculpa mas não quero mais histórias vazias, não quero mais começar algo com prazo de validade, hoje eu quero ter certeza que algo nessa minha vida vai continuar, agora meu bem se não tiver sentido eu descarto, não insisto mais. Hoje eu quero liberdade, liberdade pra me prender, pra me envolver, pra sofrer talvez, mas acima de tudo liberdade pra me permitir viver.

Como alguém pode ser tão familiar em tão pouco tempo? Como um abraço pode nos deixar tão livres de nós mesmos ao ponto de querermos ficar ali pra sempre? Quietinhos, quentinhos... Como pode ser tão fácil contar a alguém uma dor que de tão sua você nem teve coragem de se tornar ciente dela? Como podemos nos sentir tão livres para ser nós mesmos, sem máscaras, atuações, sem reservas diante de alguém que há pouco tempo era um mero estranho? Ás vezes a vida nos dói tanto, arranca pedaço, acorrenta-nos ao passado, mas ás vezes no meio de uma turbulência, de quando a gente se ver sozinha no meio de uma multidão nosso olhar cansado encontra uma alma amiga, que divide o mesmo peso de uma vida que deixou muitas marcas mas carrega um coração alagado de esperanças. Você é assim, é o colo quentinho no final de um dia cansativo, é o abrigo seguro quando o que mais queremos é nos esconder da dor, você é uma canção de ninar quando os problemas nos roubam o sono, você é a maior prova do cuidado de Deus conosco, quando nos permite conhecer pessoas que nos ensinam que em meio a dor ainda há motivos pra sorrir.

E pela primeira vez depois de algum tempo eu saí a noite sem querer que você estivesse comigo, pela primeira vez quis estar só com meus amigos e com meu desapego. Talvez seja assim que a gente sinta que acabou, quando não há mais necessidade de te mostrar que to bem, quando eu não preciso procurar um motivo pra te ligar, quando tudo volta a fazer sentido quando você não está. Hoje eu posso dizer que cansei, que realmente me devolvi a mim mesma, hoje meu amor próprio é maior que a minha insistência insana, que minha teimosia em te querer por perto se nem ao menos em teus pensamentos eu estou. Você pode agora nem perceber, mas um dia vai sentir falta da mulher que fui pra você, louca, insana, por vezes até um pouco desequilibrada, mas ainda assim apaixonada, compreensiva, que se colocaria em qualquer situação, que iria a qualquer lugar se fosse por você, se fosse por nós. Mas agora tanto faz, e por ironia do destino foi com você que aprendi que realmente tanto faz, meu bem há tanto o que ver, há tanto o que sentir, e nesses últimos dias de casamento comigo e com minha auto estima descobri o quanto eu sou demais pra você, o quanto eu sou mulher demais pra um menino que ainda nem decidiu se quer crescer, o quanto eu sou linda demais pra perder tempo com alguém que ainda nem descobriu o que é ser inteiro. Dessa vez eu não precisei te avisar que eu tava indo embora, eu simplesmente fui, sem dor, sem peso na consciência, sem remorso, sem medo, eu roubei a parte da minha alegria que você tomou e virei a esquina.

Você não era nada do que eu sonhei, mas teu mistério me permitiu imaginar quem você poderia ser, quem poderíamos ser, e fomos tantas coisas, deixei que você fizesse parte de um mundo que antes era só meu, e você foi o meu mais intenso devaneio. E hoje de você só restou essa minha vontade incansável de te desculpar pra mim mesma, de fazer você voltar por um caminho diferente, já que nos perdemos um do outro na velha estrada que trilhamos. Por tantas perguntas que me tiram o sono, hoje é apenas uma incógnita, uma loucura, de saber que acabou mas querer tirar a última gota de suor dessa relação tão surrada, mas que ainda me dá fôlego. Me diz que acabou, mas não sai limpo disso, me deixa te sujar com meu amor lamaçado, me deixa estapear teu rosto com minha falta de amor próprio, me deixa chorar sobre a tua mais linda camisa de linho. Me diz onde ir, que eu te entrego ao mundo que te encontrei, me diz por onde seguir agora, se na minha mente nossa história me prende, me ensina a me desapegar do que fomos, já que ainda não me encontrei sozinha. Como encontrar forças, se esse pedaço de mim você levou? Se minha segurança tava nos teus olhos postos nos meus? Se minha fome de viver se saciava no teu corpo em mim? Termina de matar todos esses sonhos, rompe nossos laços, pisa nos nossos planos, acaba conosco da forma mais indigna possível, me deixa que essa dor um dia ainda há de me curar.

Pra mim você continua sendo o mais inteligente, o mais bonito, o mais atraente. Pra mim você ainda é quem eu desejaria que me esperasse na parada em um dia de chuva, você continua sendo o único pra quem eu queria dividir casa, cama, lençóis, abraços, saudades, vida. Seu sorriso ainda é o mais sincero que já vi, e sua gargalhada continua sendo a mais gostosa que já ouvi. Você será sempre o melhor. E como sempre tive mania de perfeição, todo esse tempo nenhum me contentou porque na minha mente você continuava sendo o primeiro, o único, até ontem, até esse fim de semana. Durante sua ausência consentida mergulhei em tudo para me desvencilhar da única coisa que me prendia: você. Novos amigos, novas pessoas, novos rolos, envolvimentos, início, meio e fim e você continuava lá, no silêncio de tudo que sentia, no meu medo infame de me ver querendo alguém, na minha mania errada de colocar prazo de validade em relações. Tudo que eu sentia por você e todo o passado que tivemos me fizeram leal a uma vida que nem minha era mais, você já havia ido embora, nem sei mais de você, mas tudo o que fomos continuava cercando à espreita na calada da noite. E eu permitia, permitia nossas lembranças invadirem meus dias, permitia ver você nas pessoas que eu saía, pra tentar ver alguma graça, pra tentar não pirar com toda aquela entrega involuntária, sem controle, que me fazia ser sua sem você nunca ao menos ter sido meu. Mas ontem parei pra pensar em quantas histórias interrompi, em quantas pessoas deixei de enxergar por sua causa, por causa do ‘nós’ que nem existe mais. E doeu, doeu saber que tô caminhando para uma solidão esperada, doeu saber que há anos nem sei o que é ser amada, porque até a amar desaprendi, doeu ver a superficialidade de tudo que mergulhei que não me permite sentir, doeu saber que até de sofrer sinto falta, porque qualquer sentimento é bem vindo nesse enorme vazio que me tornei. Hoje to me entregando a um tratamento que há tanto tempo fugi, hoje eu quero encontrar quem sabe o segundo melhor? Quem sabe O novo melhor? Hoje eu quero preencher toda essa saudade inútil com a presença de alguém que pode um dia me devolver toda aquela vontade de ser de alguém que você levou de mim.

Mais uma vez a vida me pede pra ser forte, me obriga a engoli todo esse sentimento surrado pra tentar buscar algo de digno ao final dessa guerra, guerra minha com você, minha com meu amor, minha com minha dor. Mas onde está meu amor próprio quando procuro nosso amor nos escombros, quando tento limpar toda essa ferida, sendo que nem saudável eu estou? Onde está toda aquela segurança de se saber insubstituível? Não era ele que devia ta chorando agora, me procurando, implorando por um nós no futuro? Então porque eu estou aqui com o celular na mão mandando a milésima mensagem, justificando o não recebimento das respostas pra mim mesma. Mas sempre foi assim, nunca soube lhe dar com rejeição. Rejeição pra mim sempre foi como asma, tira o ar, sufoca, comprime o estômago, e mesmo sabendo que não há mais o que tirar de nossa veia aorta, nosso sangue parou de bombear, foi morte na certa, ainda preciso ouvir você dizer que me quer, nem que seja pra mentir, inventar um mundo em que nosso afastamento não foi por falta de amor, por sua falta de amor. Deixa eu ficar quieta e buscar em mim essa força que me falta, porque ainda quero ser lembrada como a mulher fantástica que você conheceu, não como essa louca neorótica que te liga tarde da noite pra perguntar pela milésima vez porque que acabou. Porque a gente faz isso? Não seria mais simples entender que acabou, fechar a porta e ir embora, tirar um dia pra beber até cair, dormir no colo de um amigo exausta de tanto chorar, ouvir todas as músicas depressivas até toda essa dor virar pó? Tudo isso em silêncio pra que ele nem imagine. Porque a gente tem que gritar esse amor, se nem ele quer ouvir, porque a gente se vitimiza tanto e torna algo que um dia foi tão bonito em algo medíocre. Aquele sentimento que pra ele era tão bonito e atrativo, hoje apenas causa recusa, asco porque pra ele o amor acabou, pra mim ele ta vivo, agarrado aos escombros, implorando resgate, surrado, feio sem nenhum atrativo a mais que seja o suficiente pra trazê-lo de volta.

É a tristeza, entrou sem aviso prévio, se instalou e você está aí: paralisada. Tristeza vêm e sem motivos trás consigo todas as dores que você fingiu que não viu, trás todos os ‘nãos’ que você engoliu e as mãos que te encolheram você consegue através dela vê-las claramente. Tristeza é o abandono da sua própria verdade, é quando se percebe no meio de uma vida corrida que não se tem mais pra quem lutar, por que lutar, tristeza é um trânsito engarrafado que não nos deixa olhar mais adiante e nem sair do lugar. Tristeza é ter que dar adeus a quem se foi sem nem saber quem se é. É ter que se afastar dos amigos por sentir que nossa melancolia encomoda, por querer ficar só com ela. Tristeza é o vazio de não ter como explicar o que sente, tão acostumados que estamos a descrever o que sentimos, a tristeza nos cala, nos trava. Você corre e não se move, você dorme e não descansa, você ouve mas não escuta, você chora e não se consola. Tristeza é quando você quer chegar rápido em casa, chorar calada no chuveiro, abafar as lágrimas no travesseiro sem ninguém ver, sem ninguém notar. Tristeza é quando você engole a dor o dia inteiro, ensaia sorrisos, distribui ‘to bem’ pros quatro cantos, abraça a hipocrisia e permite que ela te proteja. Tristeza é um não na cara de um adolescente rebelde. É um sim de um médico pra um tumor. Tristeza é o não-sentir, um não-querer-sentir e ainda assim doer.

Hoje a noite não vou sair e por incrível que pareça depois de um tempo esperando respostas suas pra toda a minha vontade de estar com você, hoje não estou esperando você, hoje não saí porque simplesmente quis estar com alguém que há tanto tempo não cuidava: eu mesma. Pode parecer louco pra você mas a verdade é que eu não quero mais minhas emoções em frangalhos, não quero mais acordar no meio da noite querendo está com alguém que tem milhões de prioridades e eu não estou em nenhuma. Durante um bom tempo estava pensando que você talvez poderia ser a pessoa certa: você todo certinho, cabelo, roupas impecáveis, compromissos agendados, emprego fixo e com um bom futuro pela frente, olhava pra você e nada parecia tá errado, filho querido, amigo disputado, mas hoje tenho raiva de mim por ter acreditado algum dia que existe a "pessoa certa", você nunca foi a pessoa certa pra mim porque isso não existe o que existe são duas pessoas erradas tentando acertar juntos, e de nós dois só quem quis acertar fui eu. No início queria me divertir, mas a verdade é que eu melei nosso trato, porque eu me apaixonei e o pior como toda mulher apaixonada comecei a acreditar que um dia você enxergaria isso, e pensaria com carinho em mim, eu e você, almoço de domingo, passeios de mãos dadas, brigas intermináveis, reconciliações com direito a amor depois. Boba eu sei, e isso pra mim é segredo de morte, você nunca vai saber. Agora simplesmente é hora de cair na real, aprender com tudo isso, e olhe que estou aprendendo, não significa que não sinta uma falta absurda de você porque eu sinto e dói, é engraçado como mesmo não te esperando mais
algumas coisas perderam a graça pra mim, mas isso é questão de tempo um dia isso vai passar, sempre passa, pena pra você, pena porque estando tanto tempo comigo nesses últimos dias pude ver a mulher fantástica que eu sou, teimosa um pouco egoísta mas verdadeira, que seria mais que uma amante seria sua amiga, compraria sua briga, adotaria sua causa. Mas agora já deu, eu fui, desculpa não ter te avisado, mas é que me lembrei que eu precisaria significar um pouco mais pra você merecer uma explicação.

Você foi embora e eu entrei em casa com aquele vazio do tamanho do buraco na camada de ozônio, sentindo minhas emoções frágeis novamente, um aperto descomunal de não saber quando irei te ver, se irei te ver. Você tá perto e parece que sou forte, parece que as coisas tem sentido, que a vida não é tão banal quanto parece, quando você tá aqui eu consigo até cogitar a idéia de que posso ser feliz. Mas você sempre vai, e quando isso acontece nos dias que se seguem tento lembrar de você pra não me ver decaindo na minha vida vazia, tento te enxergar nas pessoas pra não achar o mundo e quem vive nele tão sem graça, tento me convencer de alguma forma que um dia tudo que eu sinto vai se encaixar em tudo que você quer. Antes era tudo tão simples mas hoje o simples me sufoca, porque já não sei como nem onde guardar o que sinto por isso fujo, corro mas inevitavelmente te encontro, numa frase, num jeito de andar, numa cor, numa oração. Quando a gente gosta de alguém pouco a gente sabe e pouco importa saber, gostar mesmo é não entender, é não se caber, é não pertencer mais ao mundo de antes, é não se ter memória do que se foi. Mas entendo que o pouco que decifro do que sinto é que gosto de você pelo que você tem que eu nunca vou ter, gosto de pensar que toda minha solidão fica pequena quando se depara com toda sua vontade de viver, gosto de ver no seu sorriso a esperança de um mundo que já não me acolhe, gosto de me fazer feliz por você por medo de minha dor te assustar e te levar mais rápido que o destino. Mas deixa eu ficar aqui quieta por enquanto, deixa eu me procurar e me achar no tempo que você ainda não existia, não tinha forma, deixa eu pensar que você um dia vai embora pra me acostumar com a ausência da minha parte mais bonita que junto você irá levar.

Pai ligou agorinha e disse que você tava mal, que talvez não sobreviveria a essa madrugada, juro que pela primeira vez na vida não sei o nome disso que estou sentindo, minha boca tem gosto de sangue e meus olhos ardem. Nós sempre fomos tão abertas e sempre disse a você o que sentia como se você fosse um espelho, nós nunca tivemos reservas uma pra outra, e hoje nem sei o que te dizer, porque nem sei o que sentir. Comecei a pensar coisas bonitas sobre o céu, que ele talvez fosse uma montanha de algodão doce, e que você escorregaria nela e ria, ria, ria como eu nunca vi você rir, apertei meus olhos e tentei imaginar você encontrando vovô, contando a ele o quanto estamos diferentes desde que ele se foi e confidenciando que o natal nunca foi o mesmo, havia um vazio, branco, nítido e um pouco atordoador. Mas nada disso me trouxe alívio, porque eu nunca mais iria olhar teus olhos em vida, nós nunca mais iríamos sentar ao lado uma da outra e eu nunca mais iria aprender crochê. Sua partida deixou o gosto amargo do nunca mais. Fui pra o quarto e comecei a sentir medo, um dia li em algum livro que com o tempo a gente esquece o rosto das pessoas, a memória nos trai, fiquei apavorada em pensar que daqui há alguns anos eu faria um certo esforço pra me lembrar do seu rosto e isso doeu, é deve ser esse o lado mais obscuro da morte: o esquecimento. Compartilhamos tantas coisas e não posso negar que estou com raiva de Deus, eu sei que esse era o último sentimento que você gostaria que eu sentisse, mas sempre fui transparente e não vai ser agora que vai ser diferente, pode parecer que não há motivos, eu deveria está feliz apenas por ter te conhecido, provavelmente é isso que vou ouvir no seu enterro, mas não! Eu me nego a aceitar que você tinha que ir agora, e a nossa viagem a Disney? E os meus 15 anos? Sei que você providenciou tudo mas como vou encarar todo mundo, se a única pessoa que eu queria ver era você? Como vou dançar a valsa, celebrando meu rito de passagem se o que eu queria era estagnar e voltar atrás só pra te ter mais um pouquinho. Vó eu to com medo, eu não sou tão forte como você me dizia, eu não sou você, eu não sei se vou aguentar, eu sei que o trato era eu me cuidar, mas eu não quero me cuidar, eu não quero acordar, na verdade eu nem quero dormir.