Coleção pessoal de juniorkjuru
É um pouco assustador desconstruir coisas que sempre achamos ser verdade. Olhar com olhos de amor, e não de dor. Perdoar o outro, e a gente mesmo, por tanto tempo perdido cultivando mágoas bobas. Então a gente descobre que ainda dá tempo de ser feliz. E descobre que ficar sem chão é o mesmo que voar.
Preencher espaços de luz. Perseverar na fé. Se há pratos sujos é porque tínhamos o que comer. Se há coração partido é porque tínhamos o que amar. Agradecer e aceitar, mas nunca acomodar-se. Entender que o bom da vida é tirar um tempinho para o que realmente é importante. Deixar o tempo e o amor cuidar de cada passo dado. Esquecer problemas pequenos, mesquinhos, e lembrar que quem tira uma hora do dia para chorar o passado, perde sessenta minutos para viver bem o presente.
Lembra daquele sumiço? Com ele aprendi a me guiar não para onde costumávamos ir, mas onde eu nunca iria sozinho por medo de me encontrar. Lembra quando descobri que existia uma outra pessoa em sua vida? Foi o mesmo momento em que entendi que as pessoas que mais sofrem são aquelas que não sabem o que querem, e neste caso era você. Lembra das melhores festas, dos melhores restaurantes, dos melhores parques, das melhores praias? Tudo isso só valia a pena porque era a única hora em que eu percebia seu verdadeiro sorriso e sua verdadeira satisfação, e o mais magnífico, éramos só eu e você. Lembra do pôr-do-sol juntos, do beijo na chuva, de rir até a barriga doer, de correr descalço, de passear com os cachorros? Nunca se lembrará, pois era apenas parte do meu sonho e da vida que eu desejava - e pretendia - viver contigo. E quando me dizia que viria me ver, mas sempre arrumava uma desculpa, também se lembra? Aprendi a arrumar desculpas pra mim também, dentre elas a de ter a certeza de que você nem sempre merecia a minha espera, a minha preocupação, o meu melhor. Aprendi a ter forças diante de cada fraqueza, inclusive nos momentos em que prometia não mais te procurar, e procurava; e aprendi a viver depois de quase morrer por medo de te esquecer um dia, apagando de vez aquele amor puro. Aprendi a desconfiar de tudo, me fechei para o mundo, e te agradeço por isso. Se eu não aprendesse a me fechar, talvez eu vivesse sempre com aquele romantismo sem graça, sem cor, sem consistência, sem insistência, sem exigências, sem reticências... Como disse Aristóteles, "Talvez eu seja enganado inúmeras vezes. Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém merece a minha confiança."
Aos poucos me libertei daquele amor exigente. Nada de desespero por presença, nem tampouco choro por solidão. Aprendi a me completar com meia dúzia de bons amigos. Aquela vontade de estar sempre junto ainda existe, mas o abandono tem lá suas regalias: nos ensina a "se bastar". Me bastei no amor, no beijo, no toque, na presença. Há tanto tempo não me abraçava de frente ao espelho, e hoje vejo o quão isso é importante. Aposto que muitas pessoas nunca sentiram tamanha experiência: utilizar os próprio braços, colocar as próprias mãos, cruzadas, sobre os ombros, tombar a cabeça para a direita, fechar os olhos, sentir o próprio cheiro e, além de tudo, sentir-se especial. Nunca foi hipocrisia ser feliz sozinho quando não se encontra alguém "à altura". Hipocrisia seria aceitar, por mera carência, uma pessoa qualquer, permitindo-a ocupar um espaço especial reservado para alguém especial...
Que chegue a primavera! Que venha logo essa vontade de amar de novo, de cantar sem motivos, de vestir colorido. Que chegue logo a hora de mostrar o coração pra depois mostrar as pernas. Que as atenções se voltem para as mãos dadas, ao invés da colcha de retalhos solitária que nos esquenta e nos sufoca sem que percebamos a cada inverno. Que desapareça o medo de ser feliz a dois. Que nenhuma bebida tenha mais valor que qualquer relacionamento. Que possamos aprender a deixar partir, assim como as árvores aprenderam a abrir mão de suas folhas a cada troca de estação. Porque tudo tem um tempo de validade, e tomar doses de amores vencidos também pode fazer mal à saúde. E que as pessoas sejam livres para se separarem, mas que antes tenham a consciência do que querem realmente. E saber o que se quer toma muito tempo da gente. Muito.