Coleção pessoal de jucsom
Eu sou vários! Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Você nunca saberá com quem está sentado ou quanto tempo permanecerá com cada um de mim. Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa, nesse ritual sagrado eu lhe entregarei ao menos um dos tantos que sou, e correrei os riscos de estarmos juntos no mesmo plano. Desde logo, evite ilusões: também tenho um lado mau, ruim, que tento manter preso e que quando se solta me envergonha. Não sou santo, nem exemplo, infelizmente. Entre tantos, um dia me descubro, um dia serei eu mesmo, definitivamente. Como já foi dito: ouse conquistar a ti mesmo.
Em meio as felicitações que recebi hoje, cheguei a indubitável conclusão: alguns irão transformar qualquer traço da sua personalidade em defeito, já as pessoas que você merece ao seu lado só irão exaltar-las como qualidades. Há quem me vê como marrento e frio, há quem transforma isso em decidido e sensato. No fim eu sou o mesmo para todos. A única diferença está em como cada um consegue me enxergar. As possibilidades para me definir são condicionadas as limitações da própria mente e alma de cada um.
A sua melhor versão nunca será suficiente para os outros. Vista-se de você mesmo, os outros são apenas adornos!
Ser humano é exatamente colecionar prazeres e traumas em uma proporção vantajosa que possibilite a sobrevivência. No limite de nossa essência há marcas intangíveis que sangram como alerta para não sermos vítimas reincidentes de armadilhas alheias. Infelizmente, a couraça espinhosa que nos protege pode também ferir os outros. Nosso foco deve ser aprender a recolher os espinhos quando tentamos nos aproximar de um semelhante. Não é facil, mas sei que a maioria nem tenta, todos andam em modo automático e o pensamento saiu de moda. As pessoas ficam iludidas demais com a romantização extrema das relações e esquecem de que para haver um conjunto é preciso raciocínio lógico. O bendito amor não deve ser a procura e sim a consequência. É como querer o resultado sem ter resolvido o problema. A maioria, no fim das contas, só quer colar na prova da vida!
Não há nada demais nas coisas que escrevo, são só palavras em um jogo ensaiado. Eu poderia colocá-las em um diário, se houvesse em mim esse hábito, como não o tenho, eu poetizo. Reflito, ora como espelho ora como sombra, esses aspectos peculiares de minha oceânica alma (fria, profunda e infinita)...
São poucos que possuem meu lado divertido, sorridente e nesse ano tornaram-se ainda mais raros. Como Saramago eu também não possuo o hábito de tentar colonizar o outro. Há certas fronteiras que considero inadmissível ultrapassar. Não há diplomacia quando a cultura do outro invalida a sua. Aceito experiências, câmbios, parcerias... mas jamais tolerarei submissão aos costumes dos outros. Há muitas pessoas de alma corrompida, mascarando com organização a sujeira que tem preguiça de limpar.
Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.