Coleção pessoal de jose_carlos_fineis
A cada dia que passa, mais me convenço de que, numa perspectiva de tempo futuro, o espírito é uma realidade inexorável, ao passo que o corpo, este sim é uma ficção.
Em essência, não deixamos de ser uma sociedade agrícola primitiva, apesar de toda a ilusão de urbanidade: caminhamos sem rumo em busca de um terreno fértil, olhamos para as estrelas, oramos para nossos deuses, semeamos expectativas, trabalhamos pesado e colhemos decepções - e isso é tudo, na maior parte do tempo.
Graças aos sites de apostas, essa variação do masoquismo chamada futebol se tornou ainda mais sofisticada em seus sortilégios. Agora o torcedor não sabe mais se o seu time perdeu porque é ruim mesmo ou porque vendeu a derrota para mega-apostadores.
Há muito, muito tempo, li numa folhinha uma frase que se tornou um princípio de vida para mim: "Há muito o que fazer; aquilo que fizer, faça com amor." E outra, tempos depois, numa folhinha da Seicho-no-ie: "O amor é a única força capaz de superar todos os conflitos." Incrível como algumas palavras podem mudar nossas vidas.
A arte imita a vida; a vida imita a arte. Mas a vida, que não tem preocupação estética, nem moral, nem filosófica, e não está nem aí se o público vai gostar ou não, geralmente dá um banho em termos de originalidade.
Se a cidade não parar de atrair mais e mais pessoas, com esse marketing irresponsável (e mentiroso) de que é o "melhor lugar para se viver", dentro de poucos anos não haverá água potável para todos os moradores. Alguém precisa escrever isso em letras bem grandes e colocar nos principais acessos da cidade, para alertar os incautos que vêm para cá em busca de um futuro próspero e tranquilo para suas famílias.
A vida deve ter propósito, sempre. Quando não o encontramos, devemos entender que o propósito da vida é encontrar um propósito para a vida.
A fala de Cristo, "quem não tem pecado, atire a primeira pedra", não daria certo hoje. A mulher teria sido apedrejada.
Meus mandamentos: amar o jornalismo e acreditar que ele pode mudar o mundo; ter fé no ser humano e defender seus direitos, seja ele quem for, esteja onde estiver; crer que o infrator pode ser recuperado, que a corrupção pode ser vencida, que a boa vontade e o esforço de todas as pessoas podem transformar a água em vinho, a pedra em pão.
Tá certo, tá certo: errar é humano. Mas errar do jeito que esse pessoal erra, sabendo que é errado e que vai ferrar com tanta gente, é uma puta falta de humanidade.
Você sabe a idade das pessoas pela capacidade de acreditar. Um jovem que não crê em nada: eis aí alguém muito velho.
Muito daquilo que chamamos de grande invenção um dia foi chamado de porcaria inútil e ridicularizado por alguém.
Uma mentira não precisa ser contada mil vezes para tornar-se verdade. Basta que aquele que a ouve queira acreditar.
Bem-aventurados vós,
que alegres festejais em torno dos cálices sagrados,
sempre transbordantes de vinho e graças e virtudes.
Para vós, ó inebriados, a felicidade é tangível,
como um carro que se põe na garagem
ou um iogurte light que se compra no supermercado,
independentemente de vulcões e maremotos
e infâmias e cárceres e títeres e mártires.
Quando a mim, o que posso dizer?
A taça de minha existência tem sido uma só,
e ela se quebrou irremediavelmente.
Para além de qualquer religião ou neurolinguística,
deixou de ser o que era: é, antes, uma não-taça.
Nada retém, além de pó e aflição.
E, como me recuso a imaginá-la inteira,
às vezes penso que também não tenho conserto.