Coleção pessoal de jofariash

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⁠O legado

Aurélio era o mais velho dos irmãos, tornou-se arrimo de família.
Aos 16 anos trabalhava como ajudante numa oficina mecânica de máquinas agrárias.
Morava com sua avó paterna...e uma tia.
Seu pai era agricultor e morrerá ainda jovem.
Sua mãe já viúva... morava com os seus outros filhos.
Aurélio herdara do avó uma caixa de ferramentas de carpintaria e muito habilidoso fazia consertos em portas e janelas. Passou a fabricar mesas, tamboretes e bancos de igreja.
De ajudante a "Mestre" e, assim o chamavam...
Aos 27 anos viajou para São Paulo e realizou o Curso de Mecânica Agrícola Manutenção de Tratores e Colheitadeiras, tornou-se funcionário público.
Casou-se, teve filhos, os dois primeiros também se tornaram mecânicos.
O Mestre, além de muito capacitado era solícito e não media esforços para ajudar as pessoas, foi sempre indicado por realizar um serviço de excelência.
Repleto de verbos e lembranças, contava sempre suas histórias.. fazendo referências a diversas situações... umas engraçadas, outras nem tanto!
Aurélio...levantava todas as manhãs ...muito cedo e mesmo aposentado era sua rotina. No galpão construído por ele, no quintal de sua casa, expunha suas ferramentas...como uma coleção.
Pontualidade era uma de suas maiores qualidades, seus dias eram resumidos....entre o trabalho e a família. As vezes brincalhão outras vezes muito bravo..
Mesmo doente, Aurélio não perdeu sua vitalidade, seu senso crítico e sua imensa vontade ajudar. Fez muitas doações e, uma de suas últimas para o hospital onde fazia seu tratamento..
Era hora de parar... Aurélio sabia que, como uma máquina, tudo tinha seu tempo.

⁠Entardeceres são sempre entardeceres

Haverão tardes que enxergaremos o pôr do sol
e outras que não o veremos.
Antes do pôr do sol, Olga tateia pela casa na companhia do seu inseparável, atento e fiel cãozinho..
Olga aos oitenta e poucos anos é a mais nova de nove irmãos, a cegueira lhe tirou a luz dos dias, mas nunca a alegria de se sentir viva.
Ouvinte e participante assídua de uma emissora de rádio.
Por decepção amorosa não casou e assim filhos não teve.
Foi alfebetizadora no pequeno lugarejo onde nasceu e cresceu.
Tinha uma maestria no crochê e ornava os eletros domésticos, mesas de casa e qualquer canto que vazio estivesse.
Mudou-se para capital, acompanhando os irmãos, seu trabalho foi continuado por um período na prefeitura municipal.
Aposentada passou a fazer ações sociais para uma paróquia da região metropolitana.
Muitos sobrinhos, sobrinhos-netos e sobrinhos-bisnetos lhe visitam o que lhe trás sorrisos..
Olga mantém a tradição de decorar a casa para os festejos juninos e com a ajuda do sobrinho Bartolo pendura as banderolas coloridas no terraço; já no início de dezembro são desencaixotados os brilhos natalinos e um antigo presépio que fôra de sua mãe e havia sido restaurado por sua irmã Aurora.
O sino da igreja..badala, como de costume é hora de fechar as janelas, entardeceu e Olga o sabe...

O sufoco vem me ensinando, que não adianta pressa, pois a mesma é inimiga dos bons acontecimentos.

⁠“A viagem não é o destino, é o caminho.” Caminho para todos!
As vezes agimos tão tolamente uns com os outros, que esquecemos que a vida é tão passageira, para ficar com raiva por besteira.

⁠São compartilhamentos
de alegria e de tristeza
rebeldias e atritos
Os que negam suas raizes
Os que batem orgulhosamente no peito
e que defendem as origens
Os que pouco dizem
É assim: familia é de um jeito
Os que parecem muito bons
Os que parecem ter apenas defeitos
Família é começo
Família é fim.

⁠Epidemia
o medo
os outros
a tristeza
dos outros
a revolta
por outros
e quantos outros
tantos outros
enquanto os outros
outros contaminam outros
o choro cala
um grito encerra

⁠Parte de mim
Partiu
Foi embora
A outra parte
demora.

⁠Aguardar
sem escolhas
viver a recolhas
sem prazos
Esperar nos cabe em todos os tempos verbais.

⁠Café não se conjuga
Se bebe.⁠

⁠Café e amor
Tem que ter pra vida toda.

⁠Optando por cuidar da própria vida...
Porque à vida é um corrimão
Nem dá tempo perceber
Que não se tem os pés no chão.

⁠Dias não são nublados para sempre...
Aliás, nada é para sempre!

⁠⁠Sol para aquecer o corpo..
Café para esquentar as razões.

⁠⁠Todos os entardeceres se vão para sempre..
E todos os outros se ocultam junto ao sol..

Seguimos acreditando..
Acreditamos que vamos acordar e tomar nosso café da manhã..
Acreditamos que vamos enxergar o pôr do sol (minha série favorita de final de tarde), porque depois dele existe o prenúncio de um novo dia,
nossa vida vai girando..
Mesmo que não existam certezas e as incertezas pairem sobre nossos pensamentos, a vida segue e segue..

Eu aprendi a gostar
gostando
Eu aprendi a amar
amando
Eu
aprendiz

Diz-me Lua
onde andam
as estrelas..

Não sei quando vou descer do trem
Se ainda percorro vagões
Ou na estação que vem
Entre embarques e desembarques
o trem vai deixando alguém.

Tão bela
minha orquídea
amarela
não tem perfume
tem cor

E ficamos em casa para conseguir acabar com a Pandemia, que quer acabar com a população.

(...) Quando criança, o mais alto grau do castigo, era o confinamento: "Fica em casa e pensa no que você fez!" , em voz alta, minha mãe falava... Ecoava por toda casa. Não brincar na pracinha, me levava ao mais profundo sentimento de tristeza.
Estamos de castigo pelo que fizemos ou não fizemos...
Não temos certeza de quanto tempo vai durar...
Não sabemos quantos vão entender.
Em confinamento ou não, precisamos entender que não somos diferentes!
Muito mais do que possuir e consumir,
precisamos de empatia!!!
Que ela ecoe para sempre!