Coleção pessoal de joanaoviedo

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POR QUE TE AMO


Amo tuas mãos.
Tem gosto de lençóis
acetinados da infância...

Tuas mãos:
Pérolas a tocar-me as faces!

Amo tua voz!
Tem delírio de música erudita
dos palácios reais...

Tua voz:
Doce canção a beijar-me a alma!

Amo teu corpo!
Tem calor do manto na estrada onde passou
o bom samaritano e o mendigo.

Teu corpo!
Pois me aquece nas noites frias,
quando ninguém mais me oferece nada.

Amo-te! Se me podes ser apenas um toque,
um calor e um sussurro!

FOTOGRAFIA NA MOLDURA


Um dia, seremos apenas uma fotografia.
Alguém há de perguntar quem é.
E alguém há de responder quem foi.
Dizer: Que foi o amor desse alguém ou,
uma boa alma que com o tempo veloz voou.

Há de perguntar o que houve?
Mas, talvez nada terá havido.
Apenas que tenha partido,
por que o tempo vai e com ele
alguém há de se ter sempre ido.

E tornaremos, um dia, apenas uma fotografia.

Nós nos amamos mais quando não nos reconhecemos,
porque é necessário desconhecer o corpo
para só assim, conhecermos a alma
que lhe habita.
Tal e qual a borboleta e o casulo.

DELÍRIO E DOR

A minha dor é um delírio
De um canto irônico de Nerval
Não poderia ter nenhum lirismo
Era só lágrimas, era só mal.

Sua mão algoz segurava-me
E enquanto caminhava
Como se eu fugisse da minha sina,

E você sorria...
Era ironia.
A dor, e o próprio delírio.

Os relógios
sempre param
em algum momento
de alguém.

Frágeis relógios!

PALÁCIO AZUL-TURQUESA

Oh, palácio azul turquesa!
Quanto tempo olharei para
Os teus vitrais
Sonharei com tuas fartas mesas
de banquetes ancestrais?

Quando ouvirei ao longe, Schumann
o menino que sonhava no jardim
Eu, pianista solitário, em busca
de um olhar a tocar em mim?

E verei as meretrizes belas,
Embaixo das suas marquises?
E meus sonhos a voar
Feito pássaros nas tuas janelas!

Oh, palácio azul turquesa...
Quando pintarei os teus vitrais?
Quando sentarei a tua mesa?

VIVER É FATAL

O que és tu vida? Alguém há de perguntar.
E alguém haverá de responder que é um
amontoado de borboletas sugando
as últimas gotículas de sangue do seu cadáver,
enquanto outros seres putrefadores da cadeia alimentar
aguardam sua vez para degustar o corpo que ora habitava sua alma.
Alguns preferirão logo seus olhos para interromper-lhe a visualização...
Para que não sofra com a própria destruição... Da essência ora existente.
E as fezes expelidas nos dias quentes, e também se for noite fria.
Isso é a vida... Os poros se abrindo e deixando derramar, bem devagar
o suor que outrora, umidificava o corpo para não desidratar e agora... tudo explodindo... Implodindo!
Enfim, é a vida... Fezes futuras para adubar a terra onde plantinhas nascerão sobre sua cabeça e lhe taparão os ouvidos e cobrirão sua boca para esconder o desejo das palavras que você preferiu não dizer.
Viver é estar sempre em estágio terminal! Viver é fatal!

LINHO FINO

A poesia é um eterno bordar em linho fino.
O linho são os papeis,e a caneta a agulha
e a tinta as palavras.

E bordaremos e bordaremos...
Até que um dia alguém nos tome
a agulha e a linha e os sonhos e a inspiração.
.

A DOR DA OSTRA


A Semente
A terra
As mãos.

O broto:
A essência da semente.

E então, as mãos e o riso!
Ou as mãos e as lágrimas!

Mas quem sabe,
a ostra, o mar, a areia...

A dor da ostra
A lágrima
A pérola!

Flores de hera

Por ti, na primavera
Caminhei na chuva
Em busca das flores de hera.
Mas sobre ti me enganei...
Tal qual a hera, que não produziu flores
Nem mesmo no fim da primavera.

Esse amor infértil
Também nunca me ofereceu nada
A não ser anoiteceres e madrugadas.
Nunca sozinho um ninho fez para sua amada.
Nem derramou pétalas sobre nossa cama desarrumada.

Porém, tal qual as flores de hera!
Nem um ramo me oferecia.
e nunca, nunca, a mim, tentou ser primavera.

AMOR NO ESPELHO

Eu me busquei em ti
mas não encontrei,
Pobre amor! pobre de ti!
E assim como se olha
em um velho espelho guardado.
Tornaste meu desconhecido
nem mesmo nos olhos, vi,
a sombra de uma saudade.
Oh, tamanha dor vivi,
por se tratar como estranho
o tempo dos versos escondidos.
Preterido, então, meu amor...
(Que fatalidade!)
Guardas para ti o velho espelho: o tempo,
para contemplar e os teus desvelos
e o retrato de teus lamentos!

VOU DAR UM TEMPO

E quando eu chorar
Vou dar um tempo
Um tempo de as lágrimas
Secarem.

Mas se for inverno
E a chuva cair
E as lágrimas não fugirem
A terra vai alagar.

Pode ser que ninguém vê
Porque talvez a terra
Esteja dentro de mim, de você.
Ou que o barro seja nós!

Pode ser que alguém se afogue
Nesse barro da infinitude.

Vou dar um tempo
Quando eu chorar
E pode ser que a terra esteja
A me habitar, ou aí dentro de você.
Se eu não der meu tempo
Vou me afogar.

Eu sou

Sou a estrela -do -mar ou o mar das estrelas....
A moça da torre, na janela vendo o domingo passar.
E quem será ela?
E o domingo passa com as donzelas
nuas nas ruas e com as feias em trajes ultrajes.
Eu sou. E o que sou nunca vais saber.
Eu sou sua gota sorvida às margens,
as margens da vida, do seu próprio morrer.
Eu sou a estrela -do- mar ou o mar das estrelas.

PRINCESA DO ACASO

Quisera eu ,
oh princesa do acaso!
Coroar-te com os mais Finos diamantes,
tua tiara enfeitada de rendas e véus
por sobre a fronte.

Quisera depois, depois,
oh realeza! deixar em tua última cama,
um nobre ramalhete de flores exuberantes,
os brancos jasmins a perfumar essa partida!
Nesse momento em que não se tem guarida...
Tudo é belo, mas triste!
É... esse dia existe:
A noiva fora encontrar seu amado,
enquanto a tudo assistimos, consternados.

Maldito amor

Maldita a hora
em que te fiz "meu amor...
" Que lancei-te "flor"
e no firmamento um canto desesperado
e te marquei
"O sempre"
da minha
pobre vida,
mas que tornou esse canto,
gemido da minha dor.

Maldito! Maldito pecado
onde minha alma sufoquei
e quase a matei
por ter -te tanto amado.

Por isso Maldito serás,
e pela eternidade
por sobre minhas lágrimas, caminharas.
Teu riso jamais
terás por paraíso.

Por que se um dia me amaste,
tua dor terás por teu único resgate.
Maldito amor!

Fim

Faltam-me palavras para o adeus.
Eu sei... Nunca fui prioridade.
Mas sei o qto te amei.

E a cada vez se distanciando vai,
longe dos sussurros meus, pedindo que fique,
e olhe nos olhos e não se torne em saudade,
esse amor que foi só seu.
Ouça, por favor, os meus ais!

Oh, quanto me ferem os Abrolhos,
quando tenho milhas a caminhar,
chorando. Que fatalidade!

Ou então fechar a cortina para não enxergar a direção...
Se é o caminho do Sempre ou o de volta, regressando.

Tristeza de criança

Criança, eu queria estar contigo nas ruas da sua infância.
Correr os campos e jardins com flores.
E dar-te os olores
que a vida te negou.
Queria trocar nossos sapatos,
talvez gostasse mais dos meus.
As minhas roupas (das sobras também), te daria.
Mentiria... Por um sorriso de quem ganha um novo presente...
E você nunca saberia que eu houvera trocado meu riso
pelo teus tristes olhos, contentes!

Música silente

Postas mãos...
brancas, taciturnas,
alvas feito Jasmim
na primavera...
Noturnas!
Nenhum toque de gaita,
à boca se desenhou.
Era o fim... Porque a canção se cansou.

Nenhum sopro... Nem tom.
Borboletas azuis pousam na tela,
voando dos pincéis, outrora em suas mãos,
e agora, voam pelos ares em procissão...

Tudo silente, emudeceu
A canção se cansou e dentro da gaita se recolheu.

O porvir

Um dia estará com Ele no paraíso.
Em seu vestido luminoso tal qual o céu.
E a coroa que o Rei lhe coroar,
a fará chorar por lembrar das promessas
e do tempo da sua dor.
Vai sentir ter valido a pena,
tudo ter sofrido, tudo ter chorado.
E na mansão celestial , finalmente
e para sempre, pousaras tuas pegadas,
passo a passo na caminhada.
E não mais a morte, e não mais contar com a sorte...
Não mais o fim e não mais a dor.
Agora já está com o Senhor,
aquele que te prometeu um belo porvir
é fiel para cumprir. E não mais a morte
e não mais contar com essa maldita sorte.

Sou feliz com minha sanidade insana...
Mas se quiser ser tão feliz quanto eu,
DESTRUA o medo de querer ficar
e que não te permite partir
em busca de si, de algo que passou,
e a tranquilidade exata de NÃO
correr atras daquilo que ainda não veio.