Coleção pessoal de jido_de_cisne_negro
O apetite do privilégio e o gosto da igualdade, eis as paixões dominantes e contraditórias dos franceses em todas as épocas.
A democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si.
A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade... Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.
Se nós humanos temos mais ou menos 60% de água no nosso corpo, isso quer dizer que se alguém, por exemplo, tiver 70 kg de peso é porque está com cerca de 42 litros de água dentro dele; então, dependendo do seu peso, isso significa que vc não está gorda, e sim alagada.😎
GULA
Tenho fome. Sempre. E me disseram que é pecado sentir gula. Não me considero culpado por ser um esfomeado. Meu apetite é voraz. Ele consome absolutamente tudo, não cessa a digestão. Principalmente dos limites. Devora qualquer aresta ou parede. Talvez seja melhor chamar de corrosão. Sou avesso a passar vontade.
Falaram que eu precisava seguir uma dieta. Evitar gordura, açúcar e farinha branca. Pessoas tóxicas e más línguas. Os receituários se esqueceram da própria maledicência, pelo visto. Quem julga com seu juízo sabe diferenciar o bom e o mau? Recomendaram atividade física três vezes por semana, para me auxiliar a queimar as calorias. Mas nem de frio eu gosto, por qual razão abandonaria minha quentura?
Insistiram em ressaltar meu sobrepeso. Condenaram minhas medidas, alegando que não entrariam no tamanho ideal do manequim. Eu prefiro a nudez, não entendem. A fome, por vezes, também a devora. Nada parece me servir, nem minha pele. Concordo, nesse aspecto. Tudo muito pequeno.
Me empanturrei demais. As relações ficaram apertadas. A carência delas marca minha cintura. Não desejo caber em dois números a menos. Me sufoca. Necessito de vestes folgadas mesmo. Comer seriedades, porque as besteiras são minhas e classifico-as como bem desejar. Considero-as importantíssimas. Gosto de sentir o gosto. Saborear o sabor. Salivar a liberdade. Engolir com ou sem casca.
Mandaram eu temer o que não é embalado. Confiar na indicação nutricional. Mas dispensei há tempos os amores de tabela, ricos em sódio. Meu apetite é orgânico, aderi ao natural. Rompi as fronteiras do industrializado, dispenso alimentos e pessoas pré-fabricadas.
Não é o que entra pela boca que faz mal, mas o que sai, dizem as escrituras. Minha dieta vai bem, obrigado, mastigando qualquer coisa capaz de me alimentar. Estou obeso das minhas decisões, sim. Eu me rendi à minha gula. Estou pesado, confesso, o suficiente para me manter no chão. Na verdade de quem sou. Tenho fome, cada vez mais. Fome de mim.