Coleção pessoal de IvandeAngeli
C A M I N H A D A
Temos duas datas garantidas. O que fazer entre elas?
Qual o melhor caminho? Qual a melhor escolha?
Alguns acreditam em destino; outros na ação e reação.
Alguns acreditam na criação de Deus; outros na evolução.
Durante a jornada sonhos, sangue e suor.
Quedas, recomeço, vitórias e derrotas (aprendendo a jogar).
Envelheço a cada janeiro.
Eu e meu vocabulário limitado seguimos em frente.
Só por hoje, um dia de cada vez.
Vejo o mundo diferente após a terceira dose.
Meus olhos vertem água feito dia de chuva calma.
Muitos planos, mas na realidade me falta o real.
Em que momento sonhos se transformam em insônia?
Seria bem mais fácil aceitar que somos simplesmente humanos.
Seres que são tomados pelos piores e melhores sentimentos.
S A L T I M B A N C O
Ainda na fila, vem-me a reflexão.
Pagar o ingresso para ter diversão?
Entre empurrões e palavrões procuro um bom lugar.
Respeitável público, o espetáculo já vai começar!
As cortinas se abrem, música alta, luzes estroboscópicas que me cegam por um instante.
De repente, sou puxado pelo braço, escolhido ao acaso, começo a fazer parte do show.
Trapezista que se lança sem rede de segurança.
Equilibrista sobre uma linha tênue entre o fracasso e o sucesso.
Malabarista de boletos, mágico fazendo aparecer o pão de cada dia.
Habitante do globo da morte e, literalmente, fazendo o papel do palhaço.
C O N F I N A M E N T O
Os dias se repetem, feitiço do tempo.
A face refletida no espelho, como um filme em pausa.
Entre a inocência da infância e a sabedoria da velhice, procuro respostas.
Pelo olhar do observador, na audição de outras gramáticas, meu exercício solitário.
Várias trilhas sobre um mesmo tema, sem a opinião prévia do que me contraria.
Metamorfose de atitudes, a certeza da dúvida.
Duvidar sobre tudo que me disseram, excluir o absurdo, baú de contradições e imperfeições.
Convenções e convicções ficaram no passado.
O alvorecer de um tempo que ainda não começou.
E X I S T Ê N C I A
Sem a música a vida seria chata, em preto e branco, um erro.
Seria como viver sem um bom SAMBA que nasce da tristeza para transmitir alegria. Seria como viver sem a BOSSA que é recebida no Japão feito uma oração.
Seria como viver sem o grito de liberdade e a adrenalina do ROCK.
Seria como viver sem a variedade melódica e o swing do JAZZ.
Seria como viver sem o sentir a alma da música CLÁSSICA.
Seria como viver sem a MPB que nos retrata.
Seria como viver sem o nó da garganta do BLUES.
Seria como viver sem o grito dos excluídos do RAP.
Aprendo não só com livros, mas também com discos.
A música é minha companheira permanente, sem ela não vivo apenas sobrevivo.
O repertório vem com o tempo.
F Á B U L A
O pássaro traído pelo reflexo se choca com a vidraça.
Após o impacto, a velocidade terrível da queda.
O chão o acolhe de maneira quase maternal.
Não se pode voar com as asas quebradas. E como ficar longe dos seus, observando o infinito do chão.
Entregue a própria sorte, estático, pressa fácil para seus predadores.
Talvez em seu último ato, onde o desespero seja mais evidente que a coragem enfrenta o inimigo vil que se apresenta de forma sorrateira, mesmo sabendo que a derrota é certa.
Lutar é a única saída.
E R A U M A V E Z ...
Era uma vez sem amor.
A indiferença reina, face do horror.
Em meio ao caos, fotos ao lado de flor.
Sobrevoam urubus, nenhum condor.
Era uma vez sem amor.
Sem abraço, sem beijo, filme de terror.
Não se tem norte, planejamento, ética, só resta o pavor?
Falta até o remédio que combate a dor.
Era uma vez sem amor.
Me diga por onde andas, vou segui-lo por onde for.
A L T A N O I T E
Alta noite já se ia, eu aqui tão só.
Sobre a mesa uma taça de vinho me faz companhia e o cobertor não aquece mais.
Alta noite já se ia e toda melancolia.
Recordações coloridas de fotos em preto e branco.
O som do silêncio e as digitais impressas em cada canto.
Ah! como eu queria que você estivesse aqui agora.
Ah! como eu queria que você estivesse comigo.
Decorei cada gesto, compartilhei seus sonhos.
Fiquei ao teu lado para esperar o sol chegar.
O que tinha a oferecer era o amor.
Só sei dançar com você.
V Í R U S
Regurgitou a desigualdade.
Escarrou a hipocrisia.
Excretou a maldade.
Reverenciou o medo.
Desnudou a falsidade.
Compartilhou a mesquinhez.
Iluminou a ignorância.
Tirou o ar da razão.
Tornou o ambiente lúgubre.
Evidenciou a falta de planejamento e o descaso a ciência, saúde e educação.
Ensinou que devemos nos posicionar, banir a corrupção.
Partimos rumo ao nada?
O grande mistério da vida se apresenta.
"O pulso ainda pulsa."
Deus nos proteja!
C V V
Quando você chora e ninguém vê.
Quando todo peso do mundo está em suas costas.
Quando o aperto no peito chega a sufocar.
Quando mesmo não querendo, você se põe a chorar.
Quando tudo parece ter dado errado.
Quando o medo reina e te faz escravo.
Quando você se sente invisível e perdendo o controle da sanidade.
Quando nada faz sentido e nenhum remédio traz felicidade.
Quando a dor do flagelo é menor que a da alma.
Pintura rupestre, tatuagem no "eu interior" e no quarto escuro uma proteção que te acalma.
Não se entregue! Lute, resista, peça ajuda, para que seu equilíbrio volte a reinar.
Felizmente, aqui na Terra, encontramos anjos disfarçados. Eles podem te auxiliar.
P A R
Adolescência e Legião.
Fogueira e violão.
Café e pão.
Arroz e feijão.
Integral e derivada.
O zap e a última rodada.
O lar e a mulher amada.
O primeiro passo e a jornada.
Jangada e travessia.
Noite e dia.
Ritmo e melodia.
Rima e poesia.
Michael e o pop.
Nirvana e o rock.
O grafite e o hip hop.
Praia e sol.
Pelé e futebol.
Campo e girassol.
Você e eu.
E V E R E S T
Sou do tamanho dos meus sonhos.
Sou Golias.
Sou moinho de vento de Dom Quixote.
Sou mar.
Sou infinito.
Sou o Cristo Redentor.
Sou baleia azul.
Sou sequoia.
Sou desigualdade.
Sou fome.
Sou tsunami.
Sou tornado.
Sou meu amor por você.
M A E S T R O
Sigo em frente com o caminho encoberto por uma neblina densa.
Mais de vinte primaveras, muitas delas pedindo clemência.
Dando murro em ponta de faca, sempre rogando a Deus que me dê paciência.
Levanto cedo e vou a luta propagando equidade, ética e a ciência.
Me perdoem os peçonhentos, parasitas e fanáticos de plantão.
Mas hoje acordei "cheio" de razão.
Não se dirija a mim com uma retórica pífia, isso só demonstra sua pouca evolução.
Pare, pense, reflita, não se transforme em um "carrasco", prestes a consumar uma execução.
O GAROTO QUE IA MUDAR O MUNDO
" Sua geração vai mudar o mundo."
Infelizmente, acho que meu pai não tinha razão, herdamos um mundo doente e não encontramos a cura.
Os remédios vão adiando nossa sentença final, a loucura.
Em cima do muro, estamos pensando em sobreviver sem nenhum arranhão: doce ilusão.
Nossa indignação não é capaz de abrir nosso portão.
Pitágoras e seus discípulos matemáticos saberiam a resolução?
Blindados de aço e concreto, ocos por dentro, como uma árvore prestes a tombar.
E parecia ser simples, de todas as formas, amar.
Como dizia Newton, "Toda ação gera uma reação" de igual intensidade, atuando em sentidos opostos.
Mas os opostos não se atraem?
Não, eles se repelem, se separam, são água e óleo.
A R P O A D O R
As lágrimas secam sozinhas.
Aos pés do Cristo posso ver dois mundos desiguais.
Tão próximos, porém diferentes.
O sono da razão produz monstros.
A justiça antes cega, agora vê.
Eugenia, divide et impera.
Só eu, ninguém mais consegue ver?
Profusão de ideologias sem razão.
Será que estamos todos na contramão?
Se até as pedras agora pudesse voltar, suplicaria para o mar levar todo o mal que aqui ficou encontrou terra fértil e germinou.
C I N Z A
Céu cinzento que traz chuva que lava a alma.
Vereda para a felicidade que acalma.
A lua, astro brilhante acinzentado.
Que pelo sol é generosamente iluminado.
O aço que sustenta o concreto.
O primeiro passo do trajeto.
O grafite que liberta os pensamentos.
A luz que traz sabedoria e espanta todos os tormentos.
O chumbo que fere e pode matar.
Não precisa ser usado, chega de se maltratar.
Não relacione o cinza com esquecimento, tristeza ou depressão, por favor: não.
Relacione o cinza aqui em questão como uma cor que transmita maturidade, elegância, sutileza, autocontrole e sofisticação.