Coleção pessoal de IvanBittencourt
É que de vez em quando parece que a vida que eu vivo não é a vida que eu queria viver, dai eu preciso fugir de tudo pra tentar entender.
Muitas pessoas hoje estão andando por aí com um belo e importado calçado. Talvez muito apertado e de um modo que as machuque. Elas não conseguem mais tirá-lo. Elas não o podem. Aquele calçado está preso como se fosse parte dos pés. Eu escolhi andar de pés descalços.
Algumas coisas no mundo valem realmente a luta e a espera: a fé de um dia ver Deus; a história de um grande amor, os nove meses de um novo ser; ouvir a primeira palavra de um filho; o conselho dos pais ao se tonar independente; ver o olhar de quem volta de longe; abraçar quem não se vê faz tempo; receber o diagnóstico da cura de uma doença; a eterna busca por aprender. Abrir os olhos um dia e ver que está realizando o maior sonho da sua vida mas entender que aquilo não é nada perto das pessoas que estão ao teu lado.
Acredite sim que não é o fim! O amor existe, creia nele, ele ainda tudo supera, tudo suporta, tudo transforma. O amor está em nós mesmos, está na natureza, está em qualquer um que deixe ele livre para emanar fortes abraços, belos sorrisos, doces palavras e um olhar de compaixão.
Se você estiver triste, chore! Mas um dia pare de chorar, sacuda a poeira, olhe para o alto, dê espaço para a esperança que renasce. Cante uma música, toque um instrumento, se distraia. Pra recomeçar é necessário principalmente ocupar a mente com coisas boas. Ocupar o tempo com coisas maravilhosas, e se possível ajudar as pessoas a se tornarem incríveis.
Querem descalçar os pés? Mantenham por perto sua família, seus melhores amigos e os novos amigos que a vida lhe traz, mas não abdique de um tempo sozinho para fazer uma leitura de um livro, assistir a um filme ou uma boa cantoria ao chuveiro. Sorria e cante quando a vida lhe disser um não, chore, extravase, corra e grite quando a vida lhe disser um sim, dedique mais as suas emoções em coisas boas. Faça uma viagem ao invés de comprar um aparelho de TV mais moderno, ao invés de olhar todos os capítulos de uma novela porque você próprio não escreve uma, ou melhor, junte sua família na hora do jantar, pergunte-lhes como foi o dia, conversem, se amem. Seja satisfeito com o que tens, com as pessoas que vês, sejam simples, sonhem com os pés no chão, mas as mãos nas nuvens.
Colocar os pés no chão é mostrar que estamos aqui, desapegando de tudo para nos apegarmos ao que somos e voltar às raízes do que éramos mostrando ao mundo o que seremos quando valorizarmos a natureza, o respeito ao próximo, o amor próprio e a fé em Deus.
Descalçar os pés também é baixar as bandeiras que às vezes defendemos sem nem conhecer a essência, é lutar pelo povo, é lutar para que coisas simples e necessárias sejam reais e não causem tanto desconforto numa sociedade do “ter”.
Pés descalços é sinal de contato, de libertação sim, mas principalmente de despir-se novamente e entender que se do pó viemos ao pó voltaremos. Nada se leva daqui, mas deixar-se existir, quando não se respira mais é um dom que muitos alcançaram em sua plenitude.
Colocar os pés descalços no chão bruto sem interferência é um novo momento, é redescobrir-se em meio à falta de autoconhecimento que permeia nossos relacionamentos. É renovar as energias com a natureza, é sentir o criador através da criação, é libertar-se da prisão de barreiras que há entre o realmente importante e o simples desconcertante que toca a alma.
Descalçar os pés de toda a influência, do grande orgulho, do demorado egoísmo não é algo fácil, nem tão rápido quanto ao fato simples e físico de colocar os pés no chão, sentir a umidade, sentir a terra, a grama, a areia ou a água fazendo uma conexão direta com o sentimento de pertencimento ao nada.