Coleção pessoal de In_finitys
Num bater de asas emanei toda fúria que sentia. Toda história se repetia diante de meus olhos, mas não me conformava.
Culpava o mundo, o azar, a sorte e principalmente a mim mesmo.
Tempestades de fogo, raios e furacões. Mantinha longe seus intrusos. No recanto da montanha, a fera voando solitária.
No fundo sabe que não passa de uma grande mentira. Vive enganando a si mesma, dizendo aquilo que seus ouvidos querem ouvir para se sentir melhor.
Tenta desesperadamente abafar o grito do seu coração, enquanto ele se contorce por dentro. Canta belas mentiras pra disfarçar a agonia causadas por suas próprias decisões.
Se vê jogando fora aquilo que mais quer, por puro capricho, enquanto se distrai com aquilo que no fundo sabe que não será para sempre.
Deu-me uma rosa
Ela era vermelha como sangue
A segurei firme
A quis muito bem
Mas alguém cobiçou seu jardim
Como uma raposa sorrateira
A roubou
E você ainda deixou a porta aberta
Para que ela retornasse
Aí então percebi
Que aquela rosa não murchou
Porque era falsa
Morri, de "morte matada".
Fui pra bem longe disso tudo. Bloqueando minha mente para não pensar muito. Melhor era fingir demência, como se nada tivesse acontecido.
"Estou bem, não foi nada."
Foi só uma brincadeira de mal gosto.
Pra mim não foi real.
Agora eu apenas sento em silêncio. Com imagens passando pela minha mente cansada. Sem ponderar mais nada, pois seria inútil. Evitando pensar o que eu poderia ter feito ou falado, se talvez alguma coisa mudaria. Mas acredito que não, as coisas são como devem ser.
E agora eu apenas sento em silêncio. Sem gritos desesperados, sem pensamentos acelerados, sem lágrimas. Apenas me conformo com o que foi e com o que é. O que poderia ser feito, fiz. Se foi ou não o bastante, já nem importa mais, passou. Fiz além do que poderia ter feito e isso é o que realmente me importa.
Mas agora eu apenas sento em silêncio.
Já não há mais certeza do que as coisas são agora. Só resta esperar com paciência que elas encontrem seu caminho. Sem alarde, sem aviso prévio, sem manobras, sem criar expectativas. Sabendo onde quero chegar, sem perder meu próprio caminho e resguardando minhas esperanças. No momento oportuno algo acontece.
Mas só por agora eu apenas sento em silêncio.
O rio corria incessantemente, mas parecia secar vagarosamente. Gota por gota, pude sentir se esvaindo de mim. Não somente indo para longe, mas sugando tudo de mim e me deixando com sede e totalmente vazio. Já não tinha mais forças para correr em busca de suas águas e já não podia mais sentir a brisa no meu rosto. O Sol castigava dia após dia e a estiagem se prolongou até hoje e quem sabe até amanhã ou depois.
Meu universo que havia se tornando um pouco azul, voltou a ser acinzentado, agora com traços negros de solidão, algumas texturas vermelhas de traumas, e vários tons de ingratidão.
Meu corpo inerte e sem forças jogado pela imensidão do universo, como um astro desgovernado, perdido no vazio, vagando sem rumo
Meu mundo estava escuro, as cinzas caíam depois que a chama se apagou. Pra mim a viagem estava perto do final, mas talvez estivesse apenas começando.
Meu universo então foi tomado, e o que antes era fogo e cinzas, foi lavado com águas cristalinas. Inundando-me por inteiro.
Meus muros racharam e ruíram, estava completamente vulnerável. Então fechei meus olhos, enchi meus pulmões e flutuei naquele rio. Estava em meu próprio universo, um universo dentro do meu. E com aquelas águas cristalinas, meu universo dantes acinzentado tornou-se um pouco mais azul...
Eu estava bem ali, na sombra daquela nuvem, de pé a admirando. Sentia-me tão próximo a ela e ao mesmo tempo tão distante. E tudo que podia fazer era admirá-la e ela parecia me olhar de volta. Mas uma brisa soprou e ela foi para longe, então desidratei ao sol.
Quando acordei, com amarras de ferro virei refém. Preso num loop infinito de caos e tormento, naquele lugar dantes com aparencia pacífica, mas que se converteu num mar de incertezas.
Suas ondas violentas me lançavam brutalmente para longe, enquanto eu desesperado tentava me agarrar ao meu barco de papel.
Busquei acalmar tais ondas, tentando mudar sua essência e torná-las calmas e habitáveis, porém a medida que lutava contra a maré, mais ela revidava, me causando danos ainda mais irreparáveis. Cansado, com dor, desesperado, ferido e desanimado... Fui bruscamente lançado fora daquele universo nocivo. Um universo que atraía cansados marinheiros com suas belas canções e naufragava seus navios...
Se não fazes questão e se tanto faz, já não tens minha atenção.
Correrei pra longe, até me perder de vista, daquilo que um dia foi minha maior inspiração, para que não se torne minha pior catástrofe.
Com coração cheio de anseio, mas temeroso, continuei a jornada. Viajando pelo espaço solitário, já me encontrava perdido de meu objetivo.
Sem nem ao menos notar fui puxado vagarosamente para um lugar que me cativava com suas belas paisagens e me deixava maravilhado com tão belas canções. Aquele universo fazia acreditar que ali era meu descanso...
Ouvia histórias e promessas sem fim, que sedavam meus sentidos, como morfina em minhas veias... Em tão pouco tempo deixei todo medo de lado e a dor já não me reprimia.
Fiz ali morada, como quem é convidado a entrar e descansar, fechei meus olhos e adormeci...
Confiar é baixar a guarda, deixar que adentrem nossa fortaleza, sem medo do "fogo amigo". Por vezes o fogo incendeia e deixa tudo em ruínas, então reerguemos nossos muros. Ninguém espera que um raio caia em sua cabeça, vivemos sem esperar o inesperado, mas às vezes ele chega. Confiar é dar ao outro o poder de nos destruir, pois sabemos que isso não vai acontecer. Mas nos enganamos algumas vezes.
Pequena estrela consumidora, sugou-me a força vital e me fez querer fugir. Um universo que entrava em colapso, com uma estrela prestes a eclodir e consumir tudo ao redor... Corri para bem longe, com medo de me queimar. Era a decisão certa naquele momento, sabia que avistaria aquele universo novamente, mas passaria bem distante, apenas a observar e relembrar aqueles bons momentos onde ali eu vivi...
Nas linhas incertas da vida eu voo como pássaro durante o verão, procurando lugar seguro para saciar minha sede. Se encontrar abrigo, ali me alojarei. Construirei meu castelo com galhos e folhas retiradas do chão, onde das árvores caem, no outono. No inverno fugirei do frio e na primavera voarei livre outra vez.
Então vaguei solitário durante muito tempo, esperançoso de encontrar meu lugar. Em inúmeros universos tentei pescar algumas estrelas que rompiam minhas linhas e roubavam meus anzóis...
(...) Foi aí que vi de relance aquele mais belo lugar, que sussurrava meu nome e me atraía de longe. Meio hesitante mergulhei naquele novo mundo.
Ah! Quanta paz eu encontrei. Um pequeno universo com uma única Estrela, meio vermelha, meio alaranjada. Ali repousei e pude contemplar o futuro que um dia imaginei para mim. Foram dias que ficaram e marcaram, que eu queria guardar para sempre...
Estendi a mão para que alcançasses o topo, no momento quando estavas só.
O mundo era escuro e vazio e eu te levei um pouco de luz. Ela te alcançou e começaste a irradiar seu próprio brilho. Sua luz se tornou como o brilho do sol iluminando a Terra, então já não mais precisava de mim, foi aí que estive só.
Seu brilho só crescia, enquanto o meu apagava vagarosamente, naquele mesmo mundo escuro e vazio em que te encontrei.
Aquele lugar não era meu lar e eu precisava sair dali, mas ainda cego permanecia. O que eu achava ser luz, era um mar de escuridão. E quando a senti, era tão densa que chegava a ser palpável. A inalei e quase sufoquei. Fui arremessado brutalmente num poço que parecia não ter fim. E caía como que em câmera lenta, vendo aquela saída cada vez mais distante.
Com um nó na garganta não conseguia pronunciar uma única palavra.
(...) Já não tinha mais forças para continuar me debatendo e fui levado pra longe por aquela maré de incertezas e solidão. Talvez só estivesse cansado de nadar contra ela, então deixei aquele lugar para nunca mais voltar.
Penso naquilo que te comprei, no canto do quarto esperando o momento de um dia servir para algo... Aquilo que simbolizou uma promessa tão bonita e agora não passa de apenas mais um objeto esquecido pelo tempo, todo empoeirado, moradia de aranhas.
Penso no caminho que escolheu, tão confuso e incerto, enquanto minha rua havia sido asfaltada para que pudesse caminhar livremente. Ainda te vejo com pés descalços nessa estrada de pó e pedras, e em ti penso calçando as sandálias que eu quis pôr em seus pés...
Era um brilho viciante que se manifestava de forma sutil, atraindo-me atenção. Não me deixava contemplar outras belezas, era a primeira vez que me sentia instigado a adentrar no desconhecido. Faria tudo pra alcançar aquela magnífica visão...
(...)E naquele pequeno universo de astros desconhecidos pude correr entre as estrelas e me inundar na imensidão daquele espaço que me mantinha aquecido e livre. Me sentia finalmente como alguém que acabara de encontrar o seu lar...
Ah, profundo poço de puro egoísmo. Que dizes: é por você e não por mim.
Máscara que blinda suas intenções e a bondade falsa de interesses pessoais. Fere com medo de ser ferido, mesmo sem correr tal risco.
Esmagalha ingênuos e sinceros corações, enquanto mente em favor próprio. Encontra desculpas para justificar seus atos e se convence delas.
Mas a inocência já se foi e a percepção da verdade se reergue mais uma vez. Outrora cria cegamente, mas hoje desconfia até de si mesmo.