Coleção pessoal de Immortalem
Cada um deve ser e proporcionar a si mesmo o melhor e o máximo.
Quanto mais for assim e, por conseguinte, mais encontrar em si mesmo as fontes dos seus deleites, tanto mais será feliz.
Com o maior dos acertos, diz Aristóteles: A felicidade pertence aos que se bastam a si próprios.
Pois todas as fontes externas de felicidade e deleite são, segundo a sua natureza, extremamente inseguras, precárias, passageiras e submetidas ao acaso; podem, portanto, estancar com facilidade, mesmo sob as mais favoráveis circunstâncias; isso é inevitável, visto que não podem estar sempre à mão.
- Arthur Schopenhauer
O que foi não mais existe; existe exatamente tão pouco quanto aquilo que nunca foi. Mas tudo que existe, no próximo momento, já foi. Consequentemente, algo pertencente ao presente, independentemente de quão fútil possa ser, é superior a algo importante pertencente ao passado; isso porque o primeiro é uma realidade, e está para o último como algo está para nada.
Marchamos através da escuridão, impulsionados pela energia furiosa da vontade de viver e mergulhamos cada vez mais profundamente nas trevas do vício e do pecado, na morte e na aniquilação – até que, gradativamente, a fúria da vida se volta contra si mesma e nos damos conta de qual é o caminho que de fato tínhamos desejado seguir, até que, através do sofrimento, do horror e do espanto, chegamos a nós mesmos e é da dor que nasce o nosso melhor conhecimento.
Eles buscavam o porquê, ao invés de considerarem o quê; eles aspiravam ao distante, ao invés de captarem o que lhes ficava mais próximo; eles saíam em todas as direções, ao invés de voltarem-se para si mesmos, o único lugar em que todos os enigmas encontram algum tipo de solução.
Os seres humanos tem de aprender a sobrepor-se à vida, têm de entender que todos os sucessos e acontecimentos, todas as alegrias não podem afetar seu Eu melhor e mais íntimo e que, portanto, todos os movimentos exteriores não passam dos lances de um jogo.
Os reis deixam aqui suas coroas e cetros, os heróis abandonam suas armas, […] mas os grandes gênios que estiveram submetidos a eles, que orgulhosamente apenas contemplaram com um olhar casual, os grandes pensadores que não se importavam com as coisas externas, levaram consigo sua grandeza para o além, foram eles que levaram consigo tudo o que tinham.
Quem deseja aprender, deve saber sublimar. Quem quiser viajar só com a cabeça, deverá deixar o corpo em casa: quem quer viajar fisicamente, deve esquecer as viagens intelectuais.
Quem deseja prender-se às coisas do mundo da erudição, deve também possuir o vigor necessário para a renúncia ao mundo concreto.
Uma filosofia cujas páginas não abranjam os extremos das lágrimas, choro e ranger de dentes e o fragor pavoroso do homícidio social recíproco e universal não é absolutamente uma filosofia.
O mundo como vontade e representação, propõe um sistema metafisico em que a vontade é vista como essência do universo e da existência. O prazer, assim, não seria mais do que a satisfação passageira do desejo,ou seja, a breve negação da vontade, que logo se recomporia e imporia de novo a dor da insatisfação. Por isso, a filosofia de Schopenhauer é considerada um modelo de pessimismo.
Um homem pode ser ele mesmo somente enquanto ele está sozinho, e se ele não gosta de solidão, ele não vai amar a liberdade, pois é somente quando ele está sozinho, que ele é realmente livre.
Só se dedicará a um assunto com toda a seriedade alguém que esteja envolvido de modo imediato e que se ocupe dele com amor. É sempre de tais pessoas, e não dos assalariados, que vêm as grandes descobertas.
Nenhum caminho é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas.
Assim como o nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de mentiras. Os nossos dizeres, as nossas ações, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo.
Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.
A coerção é a companheira inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.
Ademais, quanto mais elevada for a posição de uma pessoa na escala hierárquica da natureza, tanto mais solitária será, essencial e inevitavelmente. Assim, é um benefício para ela se à solidão física corresponder a intelectual. Caso contrário, a vizinhança frequente de seres heterogêneos causa um efeito incômodo e até mesmo adverso sobre ela, ao roubar-lhe seu ‘eu’ sem nada lhe oferecer em troca. Além disso, enquanto a natureza estabeleceu entre os homens a mais ampla diversidade nos domínios moral e intelectual, a sociedade, não tomando conhecimento disso, iguala todos os seres ou, antes, coloca no lugar da diversidade as diferenças e degraus artificiais de classe e posição, com frequência diametralmente opostos à escala hierárquica da natureza.
Nesse arranjo, aqueles que a natureza situou em baixo encontram-se em ótima situação; os poucos, entretanto, que ela colocou em cima, saem em desvantagem. Como consequência, estes costumam esquivar-se da sociedade, na qual, ao tornar-se numerosa, a vulgaridade domina.
Nada pode ser mais insensato do que querer propositadamente ser algo diferente do que se é: porque isso constitui uma contradição direta da vontade consigo mesma. Imitar as qualidades e características de outrem é muito mais vergonhoso do que vestir roupas alheias: pois trata-se do juízo da própria nulidade expresso por si mesmo.
Tudo o que se realiza em função de outra coisa é feito apenas de maneira parcial, e a verdadeira excelência só pode ser alcançada, em obras de todos os gêneros, quando elas foram produzidas em função de si mesmas e não como meios para fins ulteriores.
Ultrapassar obstáculos é o prazer pleno da existência, sejam eles de tipo material, como nas ações e nos exercícios, sejam de tipo espiritual, como nos estudos e nas investigações. A luta contra as adversidades e a vitória tornam o homem feliz. Se lhe faltar a oportunidade, irá criá-la como puder.
Alguém rico interiormente de nada precisa do mundo exterior a não ser um presente negativo, a saber, o ócio, para poder cultivar e desenvolver as suas capacidades espirituais e fruir a sua riqueza interior.
Aquilo que representamos, ou seja, a nossa existência na opinião dos outros, é, em consequência de uma fraqueza especial da nossa natureza, geralmente bastante apreciado; embora a mais leve reflexão já nos possa ensinar que, em si mesma, tal coisa não é essencial para a nossa felicidade.
Para vivermos entre os homens, temos de deixar cada um existir como é, aceitando-o na sua individualidade ofertada pela natureza, não importando qual seja.
O mundo no qual cada um vive depende da maneira de concebê-lo, que varia, por conseguinte, segundo a diversidade das mentes.
Em vez de estarmos sempre e exclusivamente ocupados com planos e cuidados para o futuro, ou de nos entregarmos à nostalgia do passado, nunca nos deveríamos esquecer de que só o presente é real e certo; o futuro, pelo contrário, apresenta-se quase sempre diverso daquilo que pensávamos.