Coleção pessoal de HudsonHenrique
Aceito que a minha jornada é o pleno desencontro com o que desejo.
E todos os desencontros que nunca me acharam;
deixaram uma marca que o tempo não sara.
Porto.
Quando as traças invadem seu guarda roupa.
Quando as baratas comem seu açúcar na madrugada.
Percebe o quanto é velha sua casa.
Mas agradece por ter onde morar.
A impossibilidade
da improbabilidade.
É você.
Tudo fica impossível
quando você
me parte em vários cacos.
É impossível ser ativo
quando você se afasta.
E faz com que eu corra
contra mim,
contra o muro que você me projeta.
Sou bem mais alto que esses prédios.
E ainda sim, me sinto insuficiente em tudo.
Sempre abaixo do nível do mar.
Me torno frequente em teus traços.
Te transformo em vinho do porto e bagaços.
É improvável sua chegada, quem dirá saída.
É inigualável sua alma com a minha.
Você,
uma santa.
Eu,
a impossibilidade de te trazer pro meu mundo.
Você se afasta,
de longe oblíquo.
Você se afasta,
em poucos dias some.
Em poucos minutos me temo,
acho que tenho medo.
Fiz mantras pra me confortar.
Fiz preces pra serem ouvidas.
Indaguei e roguei cordéis.
Você se afasta.
Como bem fez, como bem quis.
Como mal me quer.
Como bem me quer.
Como não sei mais o que quero.
Já cansei de contar quantos perdi.
Por força do azar. Seja da jaula que eu sai, me tornei carrancudo.
Arranhei o chão. Nunca colhi tais frutos.
Recíproco e precipício
andam juntos e são amigos.
Eu moro no inevitável.
Por vezes, sou desagradável.
Mas não deixo de falar o que penso,
não me engasgo.
Imprevisível. Sem traços.
Sou um camelo,
marcado pelo tempo árido
e pelo sol em meus ombros largos.
E todo mundo vai embora
pelo mesmo motivo que nunca me contaram.
Simplesmente vão embora
e deixam o relógio marcando todo o tempo a hora.
Hora de se afastar,
hora de ir embora.
Hora de despertar o que adormece.
Hora de se atrasar pra escola.
Quando eu vi aquela mensagem
eu sorri.
Aprendi a esperar.
Não morri.
Aprendi a esperar.
Você não tem ideia
do quanto eu sorri.
Eu aprendi a te tornar imortal.
Mas para meu mal
criei expectativas.
E isso mata.
A decepção seria só minha.
Pois fui eu culpado
de criar mais essa história
depois de tantos finais sem fim.
Desculpe a todos os amigos
que decepcionei.
Sou distante mesmo,
procuro meu lugar no mundo pra ficar...
e não se sentir um calço
que segura a porta pra não se fechar.
Todos os nossos fardos e incompetências
se resumem em ferramentas que nós mesmos criamos para se sacrificar.
Sentir a sua pele aquela noite foi como tocar um alqueire de velames do campo,
uma plantação inteira de algodão.
Realmente é cafona, sujo, brega e esdrúxulo.
Por isso me sinto em casa, é formal.
Por que sou eu na forma material desse estabelecimento banal, em uma metamorfose de cadeiras geladas e duras.
E esses trechos escondidos, que talvez serão lidos por dois olhos verdes acastanhados. Um dia?
Me pergunto quando, me pergunto onde. Que seja de toda via, em mão dupla,
que me siga de carona e também de motorista. Que aceite minhas paradas e desvios pelas pistas.
Quero jogar tudo isso fora, começar de volta.
Se acabou não foi verdadeiro.
Mas, e se a verdade é uma mentira criada para nos abraçar?