Coleção pessoal de howyoudoing
Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa.
Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida, e não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível que estou só do que ficar à mercê de visitas adiadas e encontros transferidos.
Mesmo assim eu não esquecia dele. Em parte porque seria impossível esquecê-lo, em parte também, principalmente, porque não desejava isso. É verdade, eu o amava. Não com esse amor de carne, de querer tocá-lo e possuí-lo e saber coisas de dentro dele. Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê-lo sempre ali.
Não é que pensei outra coisa de gente grande? Esta é assim: tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Coisa simples é lindo. E existe muito pouco.
Em outros tempos diria “Tomei raiva de você”. Mas nem foi raiva, vejo isso agora. É só tristeza mesmo.
Pessoas são interessantes só na minha imaginação. A partir do momento que elas passam a ter vida própria, sinto vontade de jogá-las pela minha janela.
Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra sempre tão boba e perdida teria sido fatal.
Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê-lo...
Não importa o quanto eu pareça estar feliz, é você; que mesmo longe, sabe o quão solitária e insatisfeita eu realmente estou.
Mas e quando o esconderijo não for mais segudo? Quando o nosso refúgio não mais existir? Quando o amor não for mais o bastante para a perseverança? Aí com toda certeza meu amor, será o fim. Nem o meu, nem o seu, nem o nosso, mas de todos nós, sonhadores.
Me faz um favor? Pega seus problemas, suas complicações, seus sentimentos confusos e distorcidos e chega mais perto. Traz tudo com você, vai. Eu cuido de você. Eu até te trago café na cama, mas chega mais perto. Tão perto pra que eu possa contar as pintinhas do seu corpo, cada traço perfeitamente elaborado do seu rosto. Chega mais perto de mim, pra que eu possa chegar mais perto de você.
E é quando tudo parece desmoronar que seus verdadeiros principios aparecem. É quando tudo parece sem saída que você consegue enxergar o caminho certo a seguir. Mudanças. Novos motivos, novas razões, novos acasos. Afinal, é disso que a vida é feita, não é mesmo? De motivos e também escolhas. Alguém que faz a escolha errada, tem sua vida de pernas para o ar. E é quando tudo parece desmoronar que você percebe que o verdadeiro MOTIVO desse ACASO, foi a ESCOLHA incorreta.
O silêncio nesse quarto cheio de lembranças é apavorante. As inúmeras perguntas que começam a aparecer em minha mente começam a incomodar. E aí junta o silêncio com as perguntas e eu me desespero. O que você vai fazer quando o que restou de nós dois desaparecer? Essa é uma das questões que a resposta me assombra, independente de qual seja. É. O silêncio desse quarto infelizmente vai comigo aonde quer que eu vá.
Te tiveres que ir, não se vá. Mais se fores, vá ao anoitecer e espere-me adormecer. Para que quando eu acordar pensar que tudo foi um sonho inesquecivel, do qual brutalmente fui obrigado a despertar.
As boas intenções têm sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram qualquer coisa foram as que não tiveram intenção alguma.