Coleção pessoal de hidely_fratini

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⁠Alguma pessoa
(Inspiração adolescente)

Andando num lugar muito movimentado
Notei pessoas de vários tipos.
Eu não pensava normalmente,
Sonhava com algo...
E foi com esse pensamento
Que deparei com dois olhos,
Olhos grandes, crianças...
Estes eram puros,
Pareciam castanhos!
Traziam, bem no fundo,
Tristezas não reveladas,
E alegrias que nos enganam.

Eras uma quase criança; então um apelido se fez!
Olhamo-nos...
Meus olhos não são sonhadores
Como os das crianças...
Mas sim de querer paz!
Tu, apesar da idade,
Apesar do tamanho,
Tinhas um rosto tão jovem, infantil...
Será que nunca mais verei,
Aqueles olhos castanhos,
De tristezas não reveladas
E alegrias que nos enganam?
Sim, foi só um relance!
Mas só os olhos falam da alma? Do caráter?
E os sentimentos?

Talvez sejam verdes!
Diferentes dos meus...
Talvez teus olhos, enormes,
Sejam a revelação do mais puro amor!
Ou me enganei?
Será que nunca mais verei,
Aqueles olhos castanhos,
De tristezas não reveladas
E alegrias que nos enganam?

Outros passos eu dei.
E me fui...
Pensando sempre nos olhos tão sonhadores
Que põem qualquer um a sonhar
E a pensar em amar!
Tudo desapareceu.
Morreu!
Seguistes um caminho, para mim indiferente...
E eu segui o meu, que para ti é desconhecido.

Na verdade, nunca mais te vi!
Agosto/ 1967

⁠Saudade e um vazio

Um livro qualquer da estante...
Pego-o
Aquele vazio de não me acostumar
Bate em mim
Forte.

Uma data simples, comum: outubro de 2019,
Marcou aquele fim de ano.
Penetra-me
Sem machucar!
Finca o pé sem estreitar visões
Sem deixar sinal
É só um passado... quase distante,
Vindo de livros

Um passado que está onde deve ficar,
Pois lembranças nada são que memórias
_______> Vêm e vão _______>
Passam
Nada mais são!

11/09/2024

⁠Tarde suspensa - choros e céus abertos


Olho o horizonte com céu aberto.
Parece um espaço mágico sobre a Terra.
Enxergo pedacinhos encantados de vários céus:
__ Azul, azul com traços de água a vapor.

Nuvens voam pelo espaço entre o meu eu e o ser ao lado,
Um choro forte emana de profundezas ancestrais,
Mas não serve de consolo.
Vejo nuvens ora pesadas, ora leves como o nada,
Ora como poeiras cósmicas ou de estradas.

Escuro total, breu emana sem limite demarcando meus vazios.
Ouço o Sol nascente, a pino ou poente,
Agora a indicar limites consistentes.

Água...
Água voadora entre hemisférios a umedecer e fecundar a vida.

Água:
...Vaporizada
...Líquida
...Gelada
...Pesada ou leve como pétalas
...Ou em flocos levados pelo vento
...Sadia
...Contaminada
...Rebelde, como tempestades e tormentas.

Pedacinhos encantados por vários céus...

Meu céu interno aproveita o tempo e se manifesta:
...Vibra
...Chora lágrimas em vapor, profundas ou em cascatas!

Digo adeus e bato a porta.
Sono profundo, por hoje, basta!

junho/ 2021

⁠Ondas e pessoas

Uma a uma as ondas chegam,
quebram na praia.
Uma a uma as pessoas chegam ao mar
E eu a contemplá-lo como se não existisse.
Mas é real.
Pode-se tocá-lo, mergulhar
Em profundas ondas...

O pescador com a família sonda as águas.
Choveu e tudo toma cor de cinza.
Céu e mar, um corpo só.
Céu no mar.

As águas sondam o pescador com a família.
Ao longe, mãos, braços, corpos que trabalham
Já não sondam mais.
Sol ou chuva?Não importa...

Gente e rede, um corpo só!
Gente na rede!
Os frutos pulando, murmurando sons de morte.
Um a um, fruto e gente, deixam a rede.
Sol – chuva – mar.

Novamente frutos na rede...
Vida que não se quebra.
Outra vez gente na rede.
Mar.
Gente.
Rede.
Frutos.
Assim, sucessivamente, até que
os braços deslizem pelo corpo e encontrem
a terra para repousarem eternamente.

Out/1978

Casa de meu pai e cinzas
*
⁠Adentro a casa habitada por meu pai desde menina
- agora espírito!
Estranho a sua ausência...
Onde está o ser vivo
de matéria carbonada de infinitos?
*
Dos céus, estrelas caem, cadentes,
sobre minha existência.
Deixam-me a pensar na vida:
__ Como pode, aquele ser,matéria viva,
ser hoje, espalhadas cinzas?
*
Enfim, a madrugada finda...
*
2024

⁠Despertar

Um dia, deixei hibernando o amor que me servia
De guia, encantamentos e prazeres.
Hoje, desperta pelas águas mansas do futuro,
Compadeço-me por ter dormido tanto
Sem abrir meus olhos à verdade!

Entorpecida pelo dia a dia que me sugava e consumia,
Inativa, busquei viver por meio
De mil afazeres e enganos violentos.
Hoje, desperta pelas águas mansas do futuro,
Agradeço a oportunidade do reencontro e do resgate!

2024

⁠ACORDA!
(Assim, não. Continua até quando der!)

Desabafo?
Não!

Insônia?
Não!

Sonhos?
Sim!

Acorde.
Durma.
Fale!

Movimentos ________^^^^^^^^^________********_______~~~~~~~~

Ande & desande!

(dez/ 2017)

⁠DESFILIAÇÃO & ENTREGA
(Entregar ao universo. Abrir mão... Desapegar)

Processo do entregar...
Começou!
Não serve, descarte!
entregue!
Deixe que outro assuma.

Melhor:
__ Assuma-se!

Esse outro que não é seu,
Que é dele mesmo:
__ Vá a seu próprio encontro! Então,
• Desligue-se,
• Desprenda-se,
• Desfilie-se!

Amém.
Assim seja!

(2017)

⁠Pequeno caminhante...
(Inspiração adolescente)

Caminhante, seresteiro, sempre a esperar
Uma gota angelical a lhe acalmar
Uma aflição desesperada, onipotente,
Que nem deus dos deuses compreenderá.

Pergunta-te Oh, Senhorzinho, ao ver
Um giro de anjo no ar, se podes mais uma vez amar.
Amor que figura em ti é gostar,
Amar o ser de mulher a correr...

E, então, quando consegues o amor alcançar
Nada há mais a fazer...
Tu, seresteiro, estás a sofrer,
Estás quase a morrer...

E quando encontrares a morte em morrer
Irás querer amar mais a vida, viver!
Então, não deixes que uma musa em ti se infiltre
E te faças sofrer sem querer.

Ame-a e também a ti e, sabiamente, amarás!
Não necessitando que a morte se apresse
Para, então, tua vida desmanchar...
Tua vida levar!

(1968)

⁠ONTEM

Na razão inconsciente
Da minha mente insatisfeita,
Vi quebrarem-se as barras de ferro.
Senti um desejo
De residir em nós.

Na loucura da minha consciência
Quase satisfeita,
Vi unirem-se as barras do sentimento.
Sumiu, então, a moradia que nos unia.

A morada se vestiu
De um brando amor humano.
A mente tomou o seu lugar...
O coração repousou,
Bateu leve.
E as mãos uniram-se fortes e ternas.

Abril/ 1971