Coleção pessoal de hidely_fratini
Poesia espelhada ao contrário do poema Negra, de Carlos Drummond de Andrade. Um exercício...
Branco
O sinhô branco tem tudo
o sinhô branco manda em todos:
__ Negros, vão carpir arar
aguar
extrair carregar estocar no celeiro
empacotar
subir paredes
rachar lenha transportar
limpar os sinhozinhos
fêmeas para servi-lo
parir.
O sinhô branco manda em tudo
tudo que seja tudo tudo mesmo
até o minuto final de vida de seus escravos
(único tempo que têm para se libertar)
enquanto o sinhô branco desde sempre
libertado está!
Agosto/ 2022
Fia foi-se e eu, cá, sem ela
Na sua infinita jornada
Mais uma etapa se realizou --
Caminho de todos nós.
Seja lá no que cada um acredita,
Esta instância terrena se encerrará.
Novos...
Caminhos
Jornadas
Lances e
Encontros.
Não importa...
A porta do outro plano sempre estará aberta para todos!
Alerta aos incautos e descrentes:
__O fato é que ninguém escapa do que é certo
E o certo é o amor que nos une
e continuará nos unindo em todas as etapas.
Com afeto e amor a você, Fia!
Da amiga Hidely
06.01.2023
Descoberta do amor
(inspiração pós adolescente)
Nas reentrâncias imaculadas que se findam,
Não vi nada...
Rodei pelos caminhos atormentada,
Até que me depus adormecida
Vieram mundos iluminados por luz límpida
Que transportaram, sem receio, você para mim.
Um outro ponto santo me transformou em amante
Para, então, sorrimos um sorriso eterno.
Vê que mundo brando há em mim,
E quão importante é viver agora?
E quão necessário ter as mãos assim tão postas?
Não existe nada de irregular em nós.
Nem vantagens e nem martírios!
Só um grande amor a nos unir para sempre!
fev/1971
SOBRE A BELEZA
Quando você vê um pássaro, e diz:
__ Ele é bonito!
Isso basta?
Por que perguntar a razão da sua beleza?
__ São as penas, o bico, a localização dos olhos,
a entonação do canto, disposição das pernas?
Não, é o pássaro em si que conta!
Só o pássaro!
A ciência da passarologia não entende de beleza.
Assim acontece com a música, com a poesia
e uma teoria filosófica.
Algumas notas musicais ou palavras
não nos transmitem mensagem de beleza.
Só o todo pode nos tocar.
Na verdade, eu nem sei o porquê dessas palavras...
Posso estar errada.
Mas tudo no mundo pode estar errado.
Eu posso, até, não existir!
Junho/ 1974
DESIMPORTAR
(quando se desligar da energia... retorne à fonte para brilhar!)
Cansa mesmo...
Fale menos!
Enche mesmo...
Esvazia mais!
+++++++++++
Ih, não passa!
Volte,
Retorne,
Retome.... mumumumumu_______________*
Começar de novo?
Que saco, diz-se...
Não diga!
Esmurrar a ponta
da faca __
fraca?
Sangra,
Dói.
E daí, quem se importa?
2017
Alguém pequeno, tão grande
(inspiração adolescente)
Você criança, de olhos grandes, calmos e serenos, reluzindo como a lua...
Sua voz infantil era sua, só sua...
Quando iria tomar forma?
Quando iria crescer?
Andava tão engraçado...
Eu só podia rir de você!
Meu riso não foi zombador,
Foi somente de dor, em pensar tantas coisas... de você!
Meu riso? Foi riso!
Quem pode dizer do que foi?
Sua altura era sua, só sua...
De repente...
Fez-se gigante, apesar de ser tão pequeno!
Você, rosto fino, mãos longas, pés grandes...
Era engraçado, meio desengonçado!
Mas eu gostava de você!
(1967)
Terra nossa – Brasil
(Inspiração adolescente)
Quantas maravilhas... Há milhares! Não dá para contar:
... Estrelas brilhantes de constelações reluzentes!
... Noites prateadas!
... Escuridões melancólicas!
Tristeza, em todos os cantos, também há!
Alegria, encontra-se em quem?
Em piadas feitas por cariocas...
Trabalho, encontra-se em quem?
Nas mãos de paulistas... e dos demais!
Gente simples, ama a vida, ama a paz!
Encontra-se no destino
Dos incomparáveis nordestinos.
Afinal, gente que tem tudo que pode haver!
Noites, só vendo para crer.
Dias vivendo aqui, olhando daqui e dali...
Encontrando coisas para os demais povos admirarem...
Gente alegre, gente trabalhadora, gente simples...
A qualquer um serve de companhia...
Dá o que tem,
Faz o que sabe,
Ensina o que aprende...
Conta para eles, pessoas do mundo inteiro,
Qual dos mares é mais lindo?
Onde tudo é coisa viva...
Porventura conhece outro?
__ Não!
Gente que aprendeu a amar o que é seu!
(1967)
Vida em maravilha
(inspiração adolescente)
Ter paz,
Tudo acomodar.
Nada para nos amargurar?
É só saber tudo aproveitar!
Olhar o mundo...
Poder tudo enxergar.
Olhar tudo bem no fundo...
Poder ver e nos alegrar.
__ Cantar!
Andar sempre a sonhar,
Caminhar sem nos cansar,
Aprender que existe o amor...
__ e amar!
Mas, sobretudo, saber chorar...
__ e perdoar!
Teremos, então, paz!
Uma vida maravilhosa
Por poder ver a vida audaz!
Enxergando-a como rosa...
Nascendo o dia, elevar uma prece aos céus
Para ser sempre de alguém seus pensamentos em discórdia.
Veremos como é melhor,
Sempre que estamos sós,
Ter alguém só seu: essa pessoa é Deus!
(Setembro/ 1967)
Da bondade à maldade
(Inspiração adolescente)
Uma maldade divina do inferno
Surgiu nos passos de regelante vida
Com formas de amor e doçuras de liras
Contendo no coração o prazer
e nas mãos o pecado!
De um sono de anjos, roubavas um beijo
E sempre a beijar guiavas teu anjo ao relevo
De inanimadas vidas e incorrigíveis prazeres
Esquecias que o maior pecador eras tu, pobre imprestável
Em tudo buscavas vida e esta passava a odiar-te!
As coisas que te cercavam morriam odiando-te,
Fugiam desesperadas, sem querer olhar-te
Um perdão nunca ouvistes, tu eras mau
Nada mais para beijar, tu querias o prazer
Implantastes a maldade e colhestes teu plantio,
E por fim, por tua vítima, fostes perdoado...
[Agosto/ 1968]
Poema livre
(Inspiração adolescente)
Página aberta de um livro
Fechou-se...
Capítulo algum,
Não mais existe...
Nada!
Foi de compreensão que sucedeu,
Foi de paz,
Espírito consagrado...
Amor!
Foi e sempre será por nós,
Pelo bem-estar espiritual.
Não virás a mim
Casa minha
Refúgio santo!
Tu somente,
Ninguém mais.
Gélidas vidas?
Nada mais
Só paz &
Amor!
Mas, por quê?
__ Pelo amor, respondem
Mas que amor?
Ninguém explica!
Nosso olhar reflete a alma,
Alma pura de amor
Consagração real de felicidade.
Nossas mãos encontram-se sempre,
Num juramento eterno.
Amar sempre,
Seguir em frente...
Amando-nos sempre...
Sempre!
(1969)
ELEGIA AO PRIMEIRO AMOR
(Apaixonado, arrebatadoramente apaixonado. Amante confesso e condenado)
Chuva.
Tarde.
Pôr do sol.
E versos morenos sobre a areia.
Calor.
Noite.
Lua cheia.
E um banco de jardim com dois amores.
Adolescência.
Descoberta do outro.
Beijo das mãos.
Toques de lábios carnudos.
Desnudos, os corações se apaixonam.
Como é possível?
primeira tarde
primeira noite
alma ansiosa
amor platônico
tomar conta de tudo?
Instalar-se para sempre
“feito um posseiro”
dentro do meu mundo!
(jan./1992)
QUATRO PONTEIOS:
• TEMPOS DE MENINA
• A TERRA E O OUTRO
• FICÇÃO DE CORPOS
• A EMOÇÃO
TEMPOS DE MENINA
Numa tarde perdido hoje no tempo,
Atrapalhada, a menina interpretava histórias.
Como, até hoje,
Tenta essa alternativa,
Mas sem êxito, indaga:
__ Onde, a linha divisória?
__ Onde, reunião de ventos?
__ Onde homens, lutas, seduções e medos?
Buscava ligar o ontem, com o hoje e o amanhã
Ainda difícil em sua memória!
(jan./ 1992)
A TERRA E O OUTRO
Trabalhar com a terra
Não é trabalhar na terra
E nem planetas.
É a forma enviesada de aprendizado
Para, no decorrer dos tempos,
Ir tomando posso de todos os seres!
(Jan./ 1992)
FICÇÃO DE CORPOS
Ai cidadezinhas...
aquela cidade da infância minha
tão apegada na memória
e cheia de pegadas.
Marcas de grandes ânsias e desejos.
Hoje, cidade grande, com pouco alento,
busco pelos caminhos do país
a raiz do pai e do bairro
operário onde cresci.
(jan./ 1992)
EMOÇÕES
A emoção acabou?
__ Não, beija-flor!
Maços de rosas
espalhadas na pele
vermelhas e sem fim.
Odor à natureza,
Querendo sair de dentro de mim.
(jan./1992)
BALANÇO DOS ANOS 40
Recebi a vida sem pedir nada.
Cresci.
Aprendi a exigência do amor,
a impaciência da crise.
Perdi luz.
Enfraqueci ideais.
Conquistei planos.
Queria um aeroplano
vivaz e transparente
para me levar pelos tempos
(presente, futuro, passado)
Em busca de mim,
em busca do outro.
Da quietude dos campos,
com cavalos pastando
entre fontes inquietantes
de vilas perdidas.
Borbulhantes,
sadias,
por entre mil romarias.
O coração entre preces, amor, fantasias.
O cotidiano quebrado
como a semente do milho
caída na terra,
germinando,
gemendo a cada ciclo
por vida.
(abril/ 1992)
O AMOR E O TEMPO
(ao reencontro de um amor verdadeiro, apesar do tempo e das distâncias)
O amor chega.
Instala-se
Feito água forte sem pegadas.
Cativado,
Permanece,
Impávido!
Anos e mais anos-luz se passam
E o amor permanece como semente
Numa sucessão de infindas fases e de lamentos.
São colheitas de vários e gestados frutos
Diuturnamente expelidos dos contatos.
Opa, o amor vai além disso,
das comunicações e dos tratos feitos
Pois o amor, enfim cativo, mas nunca escravo,
É eternamente oferecido em pensamento!
São contatos que não precisam ser presentes
Posto que o amor não necessita de presença física,
É gratuito,
E atua fora do espaço-tempo.
É grão, é sêmen, princípio, causa
Efeito das origens e dos finais dos tempos.
Ai o amor...
Translúcido e transparente,
Permanece, para todo o sempre, sendo
Oferecido de coração a coração e em pensamento!
(2024)
Amor-semente
Sementes do amor frutificado
Ficaram nas gavetas de minh’ alma,
Adormecidas.
Longe da luz,
da água e de nós, secaram,
Ficaram lá tão esquecidas.
“De repente, não mais que de repente”
Vento forte, vindo do Norte, arrebatou-me inteira
Revirando minhas gavetas
Pondo para fora as tais sementes.
O Sol, iluminando-as por inteiro
A chuva, lavando-as com carinho
Levou-as para dentro de meu coração-ser.
Lá, ditas sementes, agora
Brotam em busca de novos frutos
Acompanhadas por seus ais, ais, ais...
Nenhum amor- semente é desperdiçado.
Por respeito às suas origens,
Mantém-se firmes e,
A qualquer Sol,
Levantam-se e germinam!
2024
A soberba do saber
(dia da cirurgia de uma irmã)
Do alto do seu ser,
Médico experiente,
Longevo no cuidar,
Descuidou-se!
Quanto mais se sabe,
Mais sábio?
Não necessariamente.
Quando se pensa que sabe,
e muito,
A soberba e a arrogância
Pega-nos.
A humildade afasta-se...
Nefastos tempos,
Incontroláveis seres...
...ditos humanos!
Set./2023
Apostas # postas
(Dormente... ente, ente, ente!)
O peito desponta,
Aponta,
Ponta.
________________________
Lance de erros.
Lance de certos...
Acertos.
Erros que ficam,
Persistem,
Não ficam mais comigo.
Partir a lança,
Quebrar os elos,
Abrir a porta,
A mão fechada.
Passar...
* Passado
* Presente
________________________ Futuro
Dez/ 2017
O hoje de antigamente
Sinto a presença da saudade.
Chega mansa,
Devagar me alcança,
Abraça-me.
Toma posse, instala-se.
Num repente, vislumbro todos os momentos:
*positivos
*negativos
*vida plena
Indo fundo em mim mesma.
Consciente X inconsciente
- "versus" da poesia -
Explode e aflora.
Como um vulcão "caliente",
Jorro para fora todos os meus ais.
Ai que saudades tenho:
*do mar
*do luar
*dos olhos fundos
*do bom manejo do afeto e das palavras.
Psicólogo leigo,
Aconchego pleno...
Plena estava como vim ao mundo...
Como voltar para o mundo?
__Como? indago!
Set/1991
CÍRCULO
(Abre X Fecha: deixa a luz entrar)
E assim a vida passa,
Entre sonos, sonhos e luz!
Acorda, acorda, acorda
A ilusão insinua-se
Pega-lhe pelos ombros.
Faz de conta,
Tudo incerto!
Chacoalha! Há, há, há
Só você não vê...
E eu dentro deste labirinto
Sem porta, sem seta,
Nem janela.
Pula miudinho.
Faz de conta; tudo certo?
Até a incerteza retornar
E o círculo abrir-se
Num fechar sem fim!
2017
AUSÊNCIA
(Sem ir, sem vir. Tudo o mesmo e no mesmo esmo!)
Irmão:
Chama acesa no peito.
Filho:
Chama acesa no peito.
Amigo:
Chama acesa no peito.
Ardência de tantas chamas.
Ausências.
Presença de si,
de mim,
de ti.
Do, ré, mi, fá, sol, lá, si... ________
• O retorno! }
• A partida! }
Ida X Volta!
2017