Coleção pessoal de goulart_esdras

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⁠O veleiro

Somos como um veleiro
Em um mar revolto a atravessar,
De início com casco forte
E velas firmes a içar.

Mas eis que o tempo da viagem
E as peripécias do vento,
Vão moldando o veleiro
Aos poucos e a todo momento.

E então chegamos em terra firme!

Com orgulho podemos mostrar
As marcas e avarias
Que a história de um veleiro,
Um dia jovem
Podem nos contar!

⁠Os dois viajantes

Um dia estava o tempo
Pela estrada a caminhar,
Quando avistou um viajante
Que em sua direção estava a trilhar.

Então, aos poucos foram
Se aproximando devagar,
Entreolharam-se por alguns instantes
E depois puseram a se cumprimentar.

Perguntou logo o tempo
Quem era o viajante, naquela estrada esquecida,
Este mesmo então se apresentou
Muito prazer, eu sou a vida.

Sou alguém, que sempre anda
Procurando assim cuidar,
Destas cordas finas, e sensíveis
Que neste violão, estão a se preservar.

Olhou então o tempo
Nas mãos do viajante,
Que carregava um instrumento
Um violão diferente e elegante.

Este tinha muitas cordas
E cada uma era de um jeito,
Com cores e espessura variadas
Era simplesmente perfeito.

É um belo instrumento
Admirado estou bastante,
Eu gosto tanto de música
Poderia tocar algo interessante?

A vida logo de repente
O seu semblante mudou,
E com um ar de tristeza
Ao tempo então explicou.

Meu caro peço desculpas
Parece difícil de imaginar,
Mas este lindo violão
Eu não consigo tocar.

Pois ele é especial
Tento entender seu funcionamento,
As cordas se replicam, e desaparecem
E alternam-se a todo momento.

Desta forma, não é possível
Um som qualquer, entoar,
Quando estou tocando, por exemplo
A corda que quero, some no ar.

Outras vezes, se faço então
A corda com os dedos vibrar,
A mesma que produz um tom
De uma hora pra outra, o faz modificar.

Assim, o tempo ouviu
De forma atenta, o viajante,
E ao pensar por um momento
Teve uma ideia empolgante.

E ao olhar o instrumento
Como que por intuição,
Deduziu por entre as várias cordas
A qual iria iniciar uma canção.

Fez à vida uma proposta
Vamos um teste fazer?
Você faz vibrar as cordas
Que eu apontar e dizer.

A vida por um instante
Achou a ideia diferente,
Aceitou o pedido do tempo
E ficou esperançosa, e sorridente.

E aconteceu, que maravilha!
Um momento muito importante,
Onde a vida e o tempo
Fizeram tocar uma música emocionante.

O tempo com o seu dom
As cordas do instrumento, examinava
Escolhendo a próxima corda
Que a vida então tocava.

A música que entoou
Por eles não era conhecida,
E ao coração dos dois tocou
O tempo, e também a vida.

E assim, a partir de então
Deste encontro a se realizar,
O tempo e a vida passaram
A sempre juntos caminhar.

E logo laços de união
Entre estes dois formaram,
E de dois estranhos
Irmãos para sempre, tornaram.

E permanecem até hoje,
Em seus caminhos a trilhar,
Estão sempre juntos conosco
Para o nosso destino guiar.

Não podemos vê-los
Pois parte de nós, eles são,
Infiltrados em nossa essência
E quem sabe até em nosso coração?

Assim, não desanime da vida
E nem culpe o tempo por passar,
Afinal, qual será a próxima canção
Que para você, estão os dois a criar?

⁠A mar

Há repentes
Que só UM abraço pode amortecer
Há suspenses
Que só UM beijo é capaz de o medo desprender
E aprender:
- Tem razão
É o Coração ...
Só sentir!
(Se despir)
Agora, nua está a voz interior
Reprimir o recato de tentar
Esconder este sentimento que dança sem parar
Avivar UMA vez a vontade!
Puxar para si a Verdade
E conduzi-la pelo salão da fantasia
Sentir na proximidade e no ritmo, a maresia.
- Já vem uma onda!
Pés quase que plantados na areia
Secos, por muito tempo, esperaram apontar para uma sereia
A beira:
esperança corria sem parar
UM dia
chega perto da água
- Já vem uma onda!
Deságua sobre os seus pés
Molhados
Acalentados
Maré me acorda
Parece querer se expressar
Coração já se sente em casa:
-Aqui já esperei e quero ficar
Como é lindo a mar!

⁠Da bifurcação à escolha

E pra todo sentimento
Há razão!
E em toda companhia
Solidão!

E pra toda alegria
Há tristeza!
E em toda feiura
Beleza!

E pra todo perdão
Há indiferença!
E em toda convicção
Descrença!

E pra toda bonança
Há migalhas!
E em toda segurança
Falhas!

E pra todo amor
Há ódio!
E em todo fracasso
Pódio!

E pra toda a vida
Há morte!
E em todo o azar
Sorte!

E pra todo ânimo
Há preguiça!
E em todo o escárnio
Justiça!

E pra todo medo
Há coragem!
E em toda ruína
Paisagem!

E pra todo o fim
Há um começo!
E em todo lado
Avesso!

E pra cada situação
Há uma perspectiva!
Talvez você veja o caos
Uma natural reação ativa.

Porém, caso se veja
Como um bravo jogador,
Caos transforma em desafio
Agregando na experiência, valor!

Há para tudo duas vertentes
Uma é bem, outra é mal,
Crie um perfume do equilíbrio:
Do segundo extraia o odor,
Junte-se ao primeiro...
Nascerá daí, uma fragrância especial!

⁠A virtude da convergência

Estaríamos nós
Em uma polêmica convergência?
Onde a virtude saltou da filosofia
Se tornando assim resistência?

O combate é contra a realidade
Que, dura, sempre foi em sua feição,
Nua e desprovida de camadas
Para cobrir, indesejável imperfeição.

Mas então viu se, de que adianta guerrear?
Entre duas forças com grande potencial?
Façamos a escolha de uma, para a outra sobrepor
Que maravilhoso mundo virtual!

⁠Despretensioso ouroborus

Olhando para o céu
Desejei ser passarinho
Livre, leve a planar
Dançando no ar, o seu caminho.

Agora que sou:

Desejei ser o vento
Para a força dele sentir
Incrível é como ele me sustenta
Se é assim no agora, imagina no porvir?

Agora que sou:

Desejei ser o céu azul
Pomposo em toda a sua imensidão
Vagando por ele logo penso:
Se fosse eu, quantas cores não existirão?

Agora que sou:

Desejei ser o sol
Poderoso e brilhante desde o amanhecer
Se como céu já contemplo, uma visão de tudo na terra
O espaço será lugar, muito melhor para ver.

Agora que sou:

Por um tempo fiquei admirado
Mas depois o tédio me tomou
Mesmo no privilégio do poder
A solidão me abraçou.

Distante da terra
Me sinto tão sozinho
Olhando-a falei:
Desejei ser eu, agora, quando desejava ser um passarinho!

⁠A mente

Gosto da mente ...

Onde toda a razão,
Se ergue de repente.

Onde o intelecto,
Exibido é, com a gente.

Conclusões?
Brotam rapidamente.

Pensamentos?
Vão do passado ao mais recente.

Tenta até sufocar,
O que a emoção sente.

Da tentativa de explicar,
Faz deste belo mistério um presente!

⁠A atração do silêncio

Escutei o silêncio durante algum tempo,
Me vi envolvido em um absoluto nada.

Mas de nada virou tudo!
Já que esse tudo era tão escuro!

E da inércia da minha observação,
Senti ... Há aqui uma forte atração!

Revolvido, estou sendo, pela força de um horizonte de eventos,
Não encontro mais gravitação própria!

Buraco negro da existência
Sabia desta forte pulsão:
De buscar no Ser o tudo
E do tudo não ser mais não!

⁠A viagem do novo mundo

Quer conhecer o mundo?
Mas não tem dinheiro pra passagem?
Vou te explicar uma maneira
De sem custo algum, realizar a tua viagem.

Experimente se dirigir a alguém
E dê aquele sorriso,
Verá na face deste
Um imenso paraíso.

Inúmeras cidades de músculos
Cheias de ruas de expressões,
Que a conversa será o seu carro
Para visitar possíveis emoções.

Talvez no meio do caminho
Você sinta o vento do abraço,
Aumentando a vontade de esticar o tempo
Colocando neste, cada vez mais espaço.

Estando no fim do trajeto
Já bem de tarde,
Poderá sobre a ponte da empatia
Desfrutar do pôr do sol da amizade.

Se gostar do passeio
Ressalto que não há mapas
Caso outros trajetos desejar fazer,
Pois encontrar a localização
Faz a parte do pacote de aventuras
Para você espairecer.

⁠Quem construiu o muro

De um lado gritam
Do outro também,
Entre eles um muro...
Nada mais além!

Uns esbravejam dali
Alguns acusam de lá,
E os dedos esticados a frente
Entre ambos os lados estavam a apontar.

Porém era só o muro que via
Somente este que ouvia,
E até de vez em quando sentia
Punhos cerrados, a lhe lançar!

Ânimos ficaram exaltados
Por tanto tempo, e então,
Certo dia o que no meio havia
Ruiu e se despedaçou no chão.

Os dois lados finalmente se encontram
Se entreolham, e iniciam um enfrentamento,
Começam a correr em um ar de guerra
Mas algo acontece neste momento...

Tropeços e mais tropeços nos tijolos
Alguém olha para o chão,
Assustado, vê espalhado que:
O muro não era qualquer construção!

Todos cessam a briga e percebem
Os tijolos eram parte deles também!
Alguém que resolveu não participar da escolha
E excluído virou um ninguém!

- Por isso que o muro era tão alto?
A maioria não queria confusão
Afinal escolher um lado,
Implica do outro, explícita exclusão!

E a medida que a intolerância avançou
Os opostos trataram de se separarem,
A extrema direita se formou,
A esquerda, longe trataram de se
posicionarem.

Porém, ficaram ao meio
Aqueles que não tinham objeção,
E estranharam o sentido de: como um todo
Possa se repartir e ainda assim ser São?

E estando estes unidos
Decidiram dos outros cuidarem:
Unindo se em uma estrutura sólida
Impedindo os dois lados de se machucarem.

Foram sábios guerreiros
E o silêncio decidiram usar
Arma contra a ausência de compreensão:
Qual o motivo de se guerrear?

Mas quando os divididos perceberam
Já era tarde demais,
O muro imóvel que de certa forma lutava
Agora se espalhou junto aos tais!

Se soa como ironia
Pode acreditar que não é só impressão,
Eles se perguntaram e não souberam responder:
- Este muro, quem fez a construção!?

⁠A matemática do Ser

O mundo não é uma função matemática,
E nem as pessoas, equações!

Produto final sequer cabe aqui!

Apesar da influência do conjunto universo,
Que nos fazem tendenciarmos,
Decompondo uns aos outros
Para que em múltiplos subconjuntos possamos,
Ver quem contém ou está contido
E assim, um critério lógico utilizarmos.

O diálogo nos desafia a compreender
Que sob a luz do coração,
O resultado é apenas o ter.

Mas o humano é ser!
E Ser Humano
Se dá somente pela demonstração.

⁠Suposta culpa

Coração!
Falta lhe discernimento para escolher
Para qual sentimento abrirá a porta
Sem que este seja o vilão
Que ao final te fará sofrer.
Coração!
Não se engane mais
Embebedar-se nas paixões
Só aumentará elas: as emoções
Entorpecentes intensos e fatais.
Coração!
Pobre coração!
Conspiraram contra ti há muito tempo
Pela força do seu grande talento
Em ser senhor da pulsação.
Talvez intuíram: se pode o sangue bombear,
Fazendo a vida se revigorar
Por quê não ser os batimentos
Uma maneira também de afirmar?
Coração!
Quem será ter sido o vilão?
A pista? Ele se tornou notório
Pois cheio da razão
Olhou para baixo e pensou:
Meu perfeito bode expiatório!

⁠A falsa crença

Tenho numa lembrança
Um tempo já quase esquecido,
Em que a confiança era conquistada
Não um item vendido.

Confiar era simplesmente
Fechar os olhos da razão,
E em um contrato de alma
Assinar com o coração.

Porém, surgiu uma dúvida
Com um sentimento de desesperança:
Generalizar em um só intento
O incômodo da desconfiança.

Desde então tudo ficou tão rígido
Validações, comprovações ...
Requerendo assim mais tempo
Para assegurar as tantas afirmações.

Infelizmente parece que tudo isso
De nada adiantou,
O modelo de confiança imposta
De tão artificial, nossa integridade questionou.

Ironicamente pregamos, mas não vemos
Que o homem evolutivo é,
Talvez, a própria desconfiança seja
Um sinal da falta de fé!

⁠É só um

Quando pensar que é só um
Veja as formigas se ajuntarem
Elas carregam pedaços,
De um cadáver de outro inseto
Para só então no formigueiro,
Distribuírem e se alimentarem.

Quando pensar que for só um
Repare uma casa sendo edificada
São necessárias muitas pessoas
Para ela ser então finalizada.

Quando pensar que é só um
Respire e reflita um momento,
O conjunto de órgãos trabalhando
Dentro de ti a todo instante
Onde juntos permitem a você
Desfrutar deste pensamento.

Quando pensar que for só um
Perceba que exatamente esta unicidade
É um imenso conjunto agrupado
Para amenizar o desafio,
De entender o todo desta realidade.

⁠Eu tenho a impressão

Eu tive a impressão
Sempre tenho quando olho alguém
Vem sempre antes da opinião
Não importa quando, onde e quem.

E o resultado que logo aparece
Depende da porosidade da razão
E do contato da tinta minuciosa
Conhecida na cor e no tom, como sensação

Tentei ser preciso nas palavras
Na compressão estava o ato de abstrair
Para o leitor deixo este poema como um papel
Pois a mente é a única impressora
Em que não há limites para imprimir.

⁠A ânsia

Se tu reparar um momento
Neste mundo que está mudando
Não vai ver o que vou dizer agora
Pois seus olhos estão te enganando
Mas aposto que já sentiu
O que o coração pressentiu
Desse assunto que seguirei contando.

Começo pelas pessoas
Que tomaram certa distância
Do tamanho de um abismo
A grandeza foi a intolerância

Cada um fechou em si
O motivo? Talvez a competição
Pela corrida da ascensão individual
Que deixou de ser só uma opção
E a estratégia é ser racional
Criar o melhor marketing pessoal
Pra se vender na próxima promoção.

Produto desta circunstância
Logo tornamos
E como em um hipermercado
Aguardamos quem nos compre, mas também compramos

Quem está no topo
É elegido para ser o espelho
Dos que estão bem atrás
Estes, acatam o conselho
Muitos não entendem o nexo
Porque é diferente o reflexo?
Depois de ralar tanto o joelho.

Mas é uma fábrica de desejos
Não há tempo de compreender
Mas sim de ajuntar riqueza
Pois é ela que garante o poder.

Assim com bastante correria
Esquecemos de nós no caminho
A mente tão cheia do saber
O coração frio e mesquinho

Na alma a vontade de encontrar
Um sentimento capaz de curar
O medo de estar sozinho

Começa daí um movimento
Reconstruindo uma ponte de união
Onde, de um lado, um grita pela causa
Que defende do outro, o seu irmão

A injustiça teve o seu papel
A sociedade acordou
E em um senso de empatia
Com as vítimas se solidarizou
Da tecnologia brotou um empurrão
Que ergueu a voz do chão
E ao mundo se espalhou.

O nó na garganta foi superado
Dando lugar ao direito de opinião
Que vindo do calor da emoção
É muitas vezes usado errado
Com ódio e maldade escancarado

Fragmentos de uma ferida compartilhada
Do silêncio que por muitas foi habitada
Resta delegar ao tempo intermediar
Encontrar no diálogo o remédio de curar
Na pessoa, a ânsia de se sentir encontrada.

⁠O voo dos sonhos

Na vida que levamos, desde então
Inspirar é nosso motor de partida,
Quem disse que é de ladeira?
Começa é na subida.

Andando por muitas léguas
A sede começa a cantar,
E o tempo embalou o descanso
Que disse: hora de parar!

Parar não pode, é proibido!
O que será da evolução?
Cansaço aqui é natural,
Na ambição de percorrer o caminho
Há a exaustão!

Será que compensa o esforço?
Muitas vezes pago com dor?
Às vezes é no pesar do sofrimento,
Que se constrói algum valor.

Assim, olhei pro passado
E ele logo fez, a experiência ser percebida,
Me contou, que é no TUDO que passamos
Que encontramos a ressignificação da vida!

Então os sonhos inquietos
Não é só uma abstração,
É a fé interior
Crendo no poder de nossa ação.

Eu sei que não posso voar
Pois asas, quem tem
É minha imaginação.

Mas é nesta vontade de planar
Que mora a minha motivação.

⁠Que te incomoda

Que te incomoda por dentro?
Ó Ser de inquietude total,
Não sabes quando o limite lhe convém
Mas teme em cruzar um dia, com o tal.

Dormindo, sonhou que voava
Fragmentos remonta a uma realidade,
Por uns instantes
Até sentiu o frio na barriga!
Acorda rindo ... Não era verdade.

Acordado, idealiza o mundo
Mesmo sem saber,
A dimensão deste separar.
E percebe que de um, vira dois!
Na incongruência do seu
Ambos começam a se chocar.

Buscando sempre um sentido ...
Talvez não é pra ter explicação.
E sim saber conduzir
A extraordinária energia,
Que flui neste Ser, em uma constante pulsão.

⁠A oportunidade do manifesto

Vem a juventude
- O corpo é forte!
A mente procura se manifestar.

Passa os anos ...

Chega a velhice
- O corpo é cadeia!
A mente procura se libertar.

Digamos que fosse perguntado:
- De que jeito, com esta realidade lidar?
A lembrança de muitos feitos,
Ou sonhos, que um dia a vontade quis realizar.

Ambos vão causar dor ...

Mas há um discernimento:
Lembranças podem trazer,
O sentimento de realização
O sonho, o de arrependimento.

⁠O acordo

A corda sofria,
Em um cabo de guerra.

Acorda equipe!
O outro lado não pode ganhar.

De longe gritava uma torcida ...

A cor da sola dos seus pés,
Eram de terra vermelha.

Era a única coisa em comum,
Que eles, entre si acordaram!