Coleção pessoal de Gotta
Amor não é paixão. Fazer sexo não é fazer amor. Ódio não é amor. Amor não é fogo, não é chama, não é amizade, não é casamento, nem compromisso. Amor não é namorar, não é chorar, não é beijar, não é desejar, não é saudade. Amar não é estar-se preso por vontade. Não é servir quem vence o vencedor.
Amor não vai. Amor é o que fica. Amor é resto. Amor é o que sobra do que foi supracitado. Amor não é onda, é o mar. É o companheiro que não abandona depois que todas as fervorosas sensações se foram. Paixão, ódio, saudade, sexo, casamento, desejo são como trens. Amor é estação.
“Agora sofre. Deixa a lágrima rolar. Não por mim, por você mesma, te dê essa chance. Só assim estará apta a reconhecer os instantes felizes. Como eu, que usufruo um amor com sabor de morangos graúdos e garoas matinais e viagens urgentes que vem de repente rumo ao nada. Mas nunca descarte a dor, bem sabes, ser dois é tão delicioso que às vezes dói.”
"Não perca o agora, o hoje e tudo que está ao seu redor. Principalmente as pessoas. Pois, se não notou, é por elas que você busca grandes coisas. De todos os beijos que você dá, nunca saberá qual deles será o de despedida."
Mesmo num amor de linhas tortas como o nosso, o fim parece um erro, como um ponto final no meio da frase.
Saudade não é um bom motivo para ter de volta as pessoas que você tratou com descaso enquanto estavam do seu lado.
Humor negro é precisar curar a saudade provocada pelo veneno irônico e melancólico de desejar a mais doce presença - que nunca tive - de todas que eu amei.
Cansei de caçar seus verbos soltos, escudos de quem acha que tem o gênio indomável sabendo que não passa de um daqueles que enguiçam a raça humana. Se quiser vir, que seja sem esse egoísmo tão “século-vinte-um” de trilhar caminhos pela metade, escapar pelos canteiros e me deixar falando pelos cantos. Se for pra calar minha boca, vem. Se for pra reescrever minha vida, vem. Mas que seja à caneta.
Trecho de "Interrrupção"
"...Escuta, de uma vez, eu poderia dizer que voltamos à estaca zero, mas esta foi cravada no dia que a gente se encontrou. Depois de tirar um pouco os pés do chão, caímos juntos e abraçados num poço escuro e vazio e sem fim. Agora estamos no negativo, a gente simplesmente deve algo um pro outro. E nem vem, não adianta, quem ama o difícil, muito fácil lhe parece. Sei da sua indolência, mas quero tentar mesmo assim, porque já não dá mais pra passar um dia sem que minha história conte um pouco da sua. Cada vez que eu for até sua boca, é um degrau de subida, a gente já foi fundo, fundo demais, não há mais como cair. De agora em diante, o maior risco que a gente corre é ser feliz"
Tudo que eu queria te dizer era tudo que eu não posso mais te dizer, ou tudo que eu queria ouvir mais vezes, muito tempo antes de chegarmos a esse ponto de partida, minha partida, tão adiada partida
Nada a perder
Não me venha com "temos de conversar, aconteceu uma coisa". Uma coisa não simplesmente acontece. Você precisa apertar um botão pra isso tudo "simplesmente acontecer". Duas pessoas não resolvem dar uma escapulida sem antes um bom flerte, alguma negociação e um punhado de telefonemas.
Todos passam por isso, todos vivem aquele fragmento lúcido de tempo em que é necessário decidir entre resistir ou fazer a coisa - esta é diferença entre nós. Duas pessoas resolveram acontecer. Você está entre elas e é isso que dói um pouco. Outro erro grostesco na construção das suas desculpas esfarrapadas: não há mais o que conversar. Vamos evitar olhares de lamentações, desprezos e resignações.
O que você quer? Absolvição? Aplausos? Ver nos meus olhos uma ponta de dor? Que eu desague um rio de lágrimas? Correção? Desculpa entrar na brincadeira sem julgar seu acontecimento como uma mera molecagem credora de castigo. Nunca fui sua mãe e você já não é mais criança, posso afirmar, apesar da sua ingenuidade em pensar que assim a coisa soaria mais honesta. A pior ingenuidade é achar-se esperto.
Não importam os pontos já somados ou o quanto você foi legal, seremos julgados eternamente por um único e isolado e grande erro. Sinto muito, é assim que funciona. Não existe justiça nisso que chamamos de "vida". Às vezes somos resumidos por aquilo que só fizemos uma vez, se acaso aquilo que só fizemos uma vez modificar alguém para sempre.
Aliás, foi melhor? Foi bom? Me diga. Me conte. Roteirize a cena pra mim. Vamos lá, eu quero saber. Entrei no seu jogo e estou dando uma oportunidade pra você se gabar. Não desperdice. Pegue. Foi bom? Foi melhor? Espero no mínimo um sim, que tenha valido a pena, porque você pôs a perder algumas coisas que até ontem pareciam importantes. Defenda-se.
Sabe, sobre esse seu "amor" que você está dizendo. Eu posso ouvir você dizer milhares de vezes, mas não significa que uma junção de palavras vai me fazer sentir como era antes, tudo outra vez. Seria até bom se você ficasse quieto e deixasse a reputação do amor intacta. No futuro ouvirei de alguém que esse alguém me ama e quero ter um conceito melhor sobre isso.
Vamos fazer assim. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores. Seria exagero dizer que você faz o mundo melhor. Você não é pra tanto, mal dá pro gasto. Mas que fica tolerável, não posso negar. É que... já não estamos nos falando direito mesmo, então acho que preciso aproveitar que nós dois não somos uma aposta segura a longo prazo e que também não sou assim, tão louca por você.
Nada parece fazer diferença agora e tudo indica ser uma boa hora pra largar mão disso de qualquer forma. Não é como se estivéssemos perdendo algo. Eu vou dar uma volta, refrescar as ideias. Quando eu voltar, não quero mais vê-lo aqui. Se ainda estiver, então entenderei que sou eu quem deve sair.
Quero você aqui, no meio das minhas coisas, meus livros, discos, filmes, minhas ideias, manias, suspiros, recortes. Respirando o mesmo ar e todas coisas que alimentam àquela nossa, tua, minha inesgotável saudade. Entra, não pergunte se pode ficar. Vem e fica. Vai e volta.