Coleção pessoal de gleycifreitas
Devia ser sábado, passava da meia-noite. Ele sorriu para mim. E perguntou:
- Você vai para a Liberdade?
- Não, eu vou para o Paraíso.
Ele sentou-se ao meu lado. E disse:
- Então eu vou com você.
Um dia tu vais compreender que não existe nenhuma pessoa totalmente má, nenhuma pessoa completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim, todos te virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?
Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza.
Porque não suportava mais todas aquelas coisas por dentro e ainda por cima o quase-amor e a confusão e o medo puro.
Devo, entretanto, avisar que não pretendo te esquecer nem deixar você em paz. Pode correr; pode fugir; que vou em busca de você, onde estiver.
Vou sair para ver o mar e me perder entre os labirintos que distanciam nossos passos. Vou te procurar entre as estrelas e os satélites distraídos, que confusos me ditaram caminhos errados e esparsos.
Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura — loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura.
Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno.
Não há grandes dores, nem grandes arrependimentos, nem grandes recordações. Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós.
paro.fico remoendo esses sentimentos tão antigos que nem lembro como eles surgiram.isso diminui aquela sensação de vazio que há tanto eu tenho.penso na infinidade de coisas que tenho que fazer daqui pra frente,penso em quantas me serão realmente úteis.mas eu as quero.ah,como quero.quero ao menos não ouvir 'eu fiz tudo por você e olha no que deu' ou 'eu te avisei'.não tem coisa que me deixe com mais raiva do que me dizer 'eu te avisei'.mas eu não quero falar disso.quero falar desses sonhos que a gente constrói de um modo tão criativo e como algum apaixonado,quem sabe,tenta realizar tudo isso.a empolgação,empolgação...e onde fica o sossego?
olho no espelho.aquela imagem de alguém que acredita,acredita,acredita.repete isso várias vezes na mente,pra ver se fixa e acaba acreditando mesmo.tenta acreditar que sonha o próprio sonho,e não o de alguém que diz 'só quero o seu bem'.tá,essa gente grande deve saber mesmo o que fazer,mehor confiar.confiar.confiar.essa gente grande não confia em ninguém.por que diabos eu deveria confiar?mas eu sonho,e vou atrás desse sonho.pra não precisar me humilhar depois,isso é chato.vai ver eu até consigo uma casa num lugar longe de tudo e todos e tenho,enfim,o sossego.sossego.
O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo.