Coleção pessoal de GiusepeBertoli

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Algumas pessoas nunca enlouquecem. Que vida horrível elas devem levar…

e que as palavras
difíceis
que sempre temi
dizer
podem agora ser
ditas:

eu te
amo.

Eu estava deitado na cama a noite e disse: “Eu vou desistir, pro inferno com isso!”. E outra voz em mim dizia: “Não desista! Salve uma pequena brasa, uma faísca. E nunca dê essa faísca, pois enquanto você a tiver, sempre poderá começar uma chama maior.

Às vezes, me sinto como se estivéssemos todos presos num filme. Sabemos nossas falas, onde caminhar, como atuar, só que não há uma câmera. No entanto, não conseguimos sair do filme. E é um filme ruim.

As vezes você levanta da cama de manhã e pensa, eu não vou conseguir, mas você ri por dentro lembrando todas as vezes que sentiu isso.

Aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais incomoda eles
(...)

Se eu nunca ver você de novo
Eu sempre vou levar você
dentro
fora

na ponta dos meus dedos
e nas bordas do meu cérebro

e em centros
centros
do que eu sou do
que restou.

⁠Amor é angustia, é sentar num chão gelado e molhado, cansado de tanto chorar
Amor é lamuria, é vilipendiar criaturas, cheias de palavras, mas incapazes de pensar
Amor é tortura, é agulha na unha, faca na carne, é imolar e se automutilar
Amor é desventura, é labirinto farpado, é a sangria que eu me propus a estancar

⁠Não julgo mais o amor da carne, ora essa porque isso haveria de ser vil? Se hipocritamente o amor idealizado se deturpa na nossa própria percepção e visão do nosso querer, que diferença há em profanar a carne, se nossas mentes mesmo profana o ser que idealizamos amar.

Era bom estar solitário num lugarzinho, sentado, fumando e bebendo. Sempre tinha sido uma boa companhia para mim mesmo.

Meu único problema é estar sóbrio.

Confissão

à espera da morte
como um gato
que saltará sobre a
cama

sinto terrivelmente por
minha esposa

ela verá este
corpo
duro e
branco

vai sacudi-lo uma vez, depois
quem sabe
outra:

"Hank!"

Hank não
responderá.

não é minha morte o que
me preocupa, é minha mulher
abandonada com este
monte de
nada.

quero
no entando
que ela saiba
que todas as noites
dormindo
ao seu lado

que mesmo as discussões
inúteis
sempre foram
esplêndidas

e que as palavras
difíceis
que sempre temi
dizer
podem agora ser
ditas:

Eu te
amo.

Quanto mais o tempo passa, menos eu significo pras pessoas e menos elas significam pra mim.

Acostumei-me tanto à melancolia que a cumprimento como uma velha amiga.

Literatura é que nem mulher: quando não presta, nem vale a pena perder tempo.

Gostava mais quando conseguia imaginar grandeza nos outros, mesmo que nem sempre houvesse.

Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali.

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Não tenho ambições nem desejos.
ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(Álvaro de Campos)