Coleção pessoal de Garfield789
A CORTE DO AMOR
No reino dos sentimentos aristocráticos,
os leais súditos do real e soberano amor,
fazem reverência à graça dos estáticos,
apaixonados pela notável estirpe e valor.
Sedutores e incitados, apostam no jogo
dos desejos e querem somente ganhar;
na arena das paixões, brincar com fogo
é arriscar, e para vencer, é preciso lutar.
A inveja é capciosa, a cobiça é cortesã,
o orgulho mui forte, mas o ódio, vassalo
do reino, aspirou derrotar o audaz amor.
O ciúme, por ter sido o boçal contendor,
ficou sendo o bobo da corte e de malsã
consciência, só cantou a vitória de galo.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A FLOR DO TEMPO
Exultante mocidade! Fluxo de sonhos e emoções,
estampa-te no fulgor da vida à jubilada conquista,
e na candura da flor aromada, o teu ardor otimista
exalta-te ao lesto favônio em estames de paixões.
Extática juventude! Pistilo fecundo de aspirações,
emerge-te no vigor da seiva à tua audaz jornada,
medras e te esparramas nos alfobres da estrada,
arroja-te ao mundo risonha, êxtase das estações.
Gentil maturidade! Escol de aromas e gradações,
aflora-te fascinante ao sol da frenética primavera,
vagas a caçar volições como uma indomável fera,
cinge-te ao universo em anseios de imaginações.
Infausta sazonação! Cálice inerme por ambições,
arrima-te enlaçada à corola a desfolhar no vergel,
obténs notoriedade no auge da luta, faz teu papel,
definha-te ao experimentar toda lufada de ilusões.
Inopinada velhice! Sépala fanada por frustrações,
resta-se de ti, somente uma estampa desfigurada,
sem a magicatura ampla, és crassa e já enrugada,
influi-te no fim para ser a nova florada nos jarrões.
Estéril senectude! Flor estiolada por recordações,
murcha-te pela intempérie dos anos; e desfolhada,
feneces para ser a congérie do nada, e substituída,
torna-te saudade no canteiro dos nossos corações.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A MÁQUINA DE MOER PALAVRAS
Palavras, tiras trituradas por inatos
vocábulos, base de estruturas vitais;
fonemas, timbres das cordas vocais
vertidos pelas turbinas dos palatos.
Vozes, frases laceradas na faringe,
expressões dinâmicas, tons verbais
a esmagar no glote dicções guturais,
concepção da linguagem na laringe.
Mas, a força vital da palavra escrita,
ativa a ordenação do alfabeto pleno,
nos vocábulos e semântica explícita,
há o diálogo das letras no fenômeno.
Nas articulações da boca em lavras,
emana a voz que ri e chora fatalista,
essa é a máquina de moer palavras,
síntese da comunicação humanista.
Em prosa e verso elas se digladiam
num mundo infinito de comunicação,
inscrições e caracteres nos indicam
ação e reação grafados na elocução.
Tal ciência está anexa à expressão,
peripécia dos seres sapiens animais,
calígrafos e escritores de ocupação
fluem palavras e não se calam mais.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
A PEDRA QUE CHORA
Pedra de águas,
seixo da vida,
ainda gravita
as suas mágoas
e bem erigida
nos regorgita
risos e lágrimas
em terra viva.
Géia, diva mater,
pangeia in loco
na pira holocena,
seu dragão pater
no imo do orco,
verte a ira insana
e faz ver o mártir,
pó do samouco.
Gaia, mãe Terra,
a filha do Caos,
berço d’enganos,
em lúdica guerra
amortalhas aos
heróis e profanos,
e o resto soterra
com suas mãos.
Pietra de argila,
de sons guturais,
brama, vocifera,
traga e aniquila
os seres animais
e nesta litosfera
de ódios destila
em água teus ais.
Rocha no lagar,
calhaus de ferro,
nêutrons e íons,
a fissão nuclear,
míssil no aterro,
eclodem pítons
no flash estelar,
o aquífero berro.
Roca lacrimal
esturricada
nas penedias;
penha abissal
estratificada
pelas insídias,
chuva do mal,
deslumbrada.
Piatra lúcida,
voraz e maldita,
bate a sua boca
e nos trucida,
devora e excita;
a sua recíproca
efígie suicida,
chora, ri e grita.
Stone das trevas
com isca e anzol,
sobre seu manto
coberto de relvas
fulgura o arrebol
de luz e encanto,
imensas dádivas,
água crista e sol.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
AMOR DE CAMPEONATO
Oh querida!
o nosso amor é um campeonato,
pela conquista da taça do teu beijo
entrei em campo e nesse jogo desejo,
erguer o troféu como vencedor, de fato.
Na partida
vou tocando a bola com categoria,
sou craque e jogo com empolgação,
eu avanço, driblo com raça e emoção,
ouço os brados da galera... que euforia!
Dou de bandeja,
passo a redonda e faço tabelinha,
mas teu peito mata o tiro e rechaça,
espalmando essa minha bola na raça
para salvar tua meta em cima da linha.
No afã da peleja
recebo falta, mas vou jogando fero,
cobro escanteio, porém a trave evita
o gol, e num final de lance o juiz apita
o término da primeira etapa: zero a zero.
Após o intervalo
pego um bom alento e me declaro
para voltar a campo com muita garra,
chuto de longe, mas teu quíper agarra;
vou tocando a bola, me arrojo e não paro.
Nesse embalo
a partida prossegue e bem renhida,
tua zaga afasta meu chute de perigo,
cobro uma falta, mas que cruel castigo!
As minhas bolas não encaixam, querida!
O jogo vai correndo,
resvalo com a boca o lançamento
fatal e assim cometo pênalti na área;
você cobra e a pelota vai por via aérea,
e tua mãe protesta que há impedimento.
Ao sair pedalando
o juiz dá cartão amarelo para mim;
noutra jogada já entro numa dividida,
lanço o balão a meia-lua e na medida,
mas você a desvia com os dedos, enfim.
Não recuo e luto,
na pequena área sai a jogada feliz,
executo bom arremesso pela lateral;
de calcanhar enfio a bola, lance genial,
É gol! Gol com a mão não vale, diz o juiz.
Minuto a minuto
a nossa refrega vai pegando fogo
e afoito arrisco a jogada da história;
mas quando já tento o lance da vitória,
que bruto azar!... Teu pai encerra o jogo!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
HOJE RADIANTE ESPEREI ESSA FELICIDADE DENTRO DE MIM
Fiquei muito apreensivo de que o amor raiasse assim num redemoinho sem fim
HOJE...
ao abrolhar de um novo dia,
despertei com ótimas notícias:
me avisaram que o amor surgiria
repentino, com acalantos e carícias
para ofertar...
Fiquei muito
RADIANTE...
preparei-me para o acolher;
com grande capricho e poesia
reguei meu jardim com o prazer
de sorrir, bailar e cantar de alegria
para extasiar...
Apreensivo
ESPEREI...
que esse hóspede batesse
à porta do meu ermo coração,
exibisse sua ventura e entoasse
em minh’alma a sua lírica canção
para deleitar...
De que
ESSA FELICIDADE...
viesse desviar-se da estrada
e fosse encontrar outra pessoa
para brindar e fazer a sua morada,
eu então cairia imerso numa mágoa
para lamentar...
Raiasse assim o amor
DENTRO DE MIM...
me faria mui ditoso e risonho,
seja no palco, na apresentação
dum show ou cultivado em sonho,
tal realidade não seria imaginação
para me lançar
Num redemoinho sem fim.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
AS TRÊS LÁGRIMAS
Jazia o Rei da Glória em trono excelso,
quando Gabriel, o bel arcanjo reluzente,
apresentando-se qual pássaro fulgente,
ao júbilo de hosanas à Sua face louvou:
– Bendito seja, Criador eterno!, cá estou
a clamar em prol dos seres do Universo:
– na Terra, nato da cepa real e excelente,
geraste o varão a imperar por primazia,
ficando à mera sorte a fauna e alimária,
e sob essa égide ingrata, infame e cruel,
mamíferos, peixes, répteis, aves do céu,
fadados à morte, tornaram no excedente
do cerne sagrado e emanados à vileza?
– Eis que no homem não há a percepção
da natureza divina estampada à criação;
mas a beleza cristalina doada ao animal,
revela-lhe na estirpe toda graça celestial,
invejável encanto a exibir sua grandeza!
– Comparando-os, óh Deus, iremos notar
a magnífica placidez da casta soberana,
e semelhantes às divindades do Nirvana
são eles, mais nobres, dóceis e singelos
do que os monarcas ilhados em castelos!
– Vede a candura dos inferiores a suplicar?
– Pai! Elevaste os seres feros e racionais,
dignos à Vossa Imagem e Semelhança,
e por sábia razão mudaste tal bonança
doada no início aos bichos por ventura,
fixados no paraíso como belas criaturas,
a serem depois presas de seres bestiais?
Deus do magno trono ao arcanjo ajuizou:
– Bem aventurado és, ó iluminado Gabriel!
– Criei mistérios no avejão da Gaia e céu:
saibas que o homem alteia-se e destrói,
mas só o amor vive, permeia e constrói;
assim ele foi levado à senda que optou.
– A ciência do mal escolheu como guarida,
arvorando o livre-arbítrio em seu destino,
destilou na sua essência o sêmen ferino
da serpe, sabor venal e estigma maldito,
a cicuta da ambição e pólen do anticristo
levou à boca, fruto fatal do néctar suicida.
– O homem, resumiu-se no gérmen animal,
cobriu-se com a capa infernal de malícia,
ódios e guerras para revelar sua infâmia,
esteio de pecados, rude cepa e maldade;
sob o manto da cobiça e grada crueldade
tornou-se ente vil, transcendido e mortal.
– Mas aos irracionais foi-lhes dada beleza
invejável a florescer na serena inocência,
assim foram redimidos em magnificência!
– No entanto, o ser humano e sua geração,
para que torne à bela e primaz condição
deverá mirar-se no ente de real nobreza!
– E tu Gabriel, como arauto do céu, levarás
à esfera inferior o édito de luz e redenção,
pois sem a fé e caridade não há salvação
no advento de doação, amor e liberdade!
Paz na Terra aos homens de boa vontade!,
Essa é a notícia de boas novas que dirás.
– Eis que lhes envio o imaculado Cordeiro,
símbolo da justiça e templo de humildade,
levará fogo e cisão à Terra pela verdade;
será sacrificado primeiro na baixa esfera,
seu reinado suscitará uma grande guerra,
todos hão de se ajoelhar ao meu herdeiro!
Saindo diante da excelsa face do Eterno
o arcanjo Gabriel veio à esfera humana,
ditou o divino édito e na tosca choupana
refulgia a magnífica estrela de imane luz,
emergia ali o ingente diamante que reluz
o trono da nova era: paz e amor superno.
Trinta e três anos depois, na atroz colina,
com trevas, coriscos, trovões e vendaval,
o supremo sacrifício se consumou brutal;
naquele árduo momento na sinistra cruz,
eis que fluíram dos olhos puros de Jesus
três lágrimas tão imaculadas e cristalinas:
A primeira, ali rolou solta pelo pelourinho
por amor e aflição aos súplices animais;
A segunda, ele a verteu com seu sangue
por agonia e compaixão aos seus iguais;
E a terceira, o vento a carregou mui longe,
indo cair na gaiola dum triste passarinho!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 201
E POR FALAR EM PAIXÃO...
E por falar em paixão,
onde anda você, namorado
da lua? Abra já o teu coração
ao orrfeu negro e o bem amado,
na tonga da milonga do kabuletê
desponte pelos caminhos da vida,
veja muito fogo na terra prometida,
o pato na água de beber e catendê.
Ressuscite agora Vinicius!
No epitáfio chega de saudade
renasça para os nossos delírios
e venha com toda versatilidade
só para viver um grande amor,
na forma e exegese do coração
faça novos poemas em devoção
ao lamento do teu mergulhador.
Poeta! apareça hoje para reviver
essa tua aquarela na instância
de Ariana, a carioca mulher,
e no caminho para a distância
faça canções, sonetos e baladas,
uma modinha na tarde em Itapoã,
com as cinco elegias da manhã
e poemas esparsos às amadas.
Ressurja em versos trovador!
Contemple nossas cores de abril
da pátria minha, reveja o amor
pela luz dos olhos teus de anil
e saiba que a felicidade existe
dentro da regra três e como dizia
o poeta à garota de Ipanema: sorria,
mas veja você que tudo é tão triste.
Venha sem medo vate! Sei lá,
eis que a vida tem sempre razão,
porém, Tatamirô o aguarda por cá
para cantar o samba da bênção,
banha-te na água da lagoa negra
lá no rancho das namoradas,
cante a ternura, tristeza e baladas,
insensatez na ária da pedra preta.
Desperte ao raiar do dia o amor,
deixa acontecer o teleco-teco
no dia da criação e deposite a flor
desse testamento no teu boteco.
O nosso relógio aqui não para,
é de gente humilde por simpatia,
e a morena flor, formosa, seria
a tua rosa de Hiroshima rara.
Ecloda teus versos poetinha!
É preciso dizer adeus e vir
no samba do avião, caminha
pela estrada branca a reluzir
e na balada da flor da terra,
eleva-te como a estrela polar
no tempo feliz ainda a brilhar
ao sol da alegre primavera.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
ECLIPSE
No firmamento o astro-rei eflui sorridente
e pela aurora cavalga o dorso da galáxia,
mas no crepúsculo, as trevas da matéria
espessa ocultam seus raios furtivamente.
Tudo se turva ao breu, corpos em eclipse
descrevem órbitas na conjunção de linha
para coroar a sedutora lua como a rainha
da noite ataviada por um diadema tríplice.
Porém, no universo, as estrelas fulguram
a todo instante sem remanchar do passo,
há na aurora e crepúsculo o doce encanto.
Soberano, o sol volta iluminar no espaço,
a lua sorri radiante e seus flashes atiçam
a Terra, daí os poetas a flertam em cantos.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
EU LÁ EM KATMANDU
Eu lá em Katmandu contemplava
o portentoso tabuleiro do Himalaia
e sem qualquer tabu me imaginava
galgando o pico de Tupã-açu de tocaia.
Foi assim naquela hora de fútil reflexão
que virei o expert, chiste do Caipora,
e recitei ao Everest em sua dimensão
a grande proeza da minha metáfora:
“Óh magno píncaro de exuberância,
desejo agora volitar igual o pássaro
no zênite e oscular a tua opulência
sobre as asas de um albatroz bárbaro!
A tua grada estatura eu quero escalar,
contemplar o vale no trono de alvura,
inda que me ouças, em ti quero reinar
por uma fátua e maravilhosa aventura!”
Ali no pino do suntuoso adro pude ouvi-lo
reprochar tal jactância e rir
do meu patético plano em conquistá-lo
por vanglória e nele me insurgir:
“Não sou tão elevado assim como pensas,
pois olhe as estrelas do céu e seu sagrado
manto na imensidão, belas e suspensas,
rutilando para o Eldorado!”.
“Oxalá eu fosse comparado aos astros
rútilos a cintilar no mundo
das constelações, irradiando lastros
de luz a dar-nos um júbilo profundo?”.
Eu lá em Katmandu mirei o céu azulado,
vi refulgir uma luz cristalina sobre o pico nu,
e sobre um cavalo alado, excelso e prateado,
eis que eclodia o rei Tupã-açu.
Lá de cima me sorria com toda afabilidade,
e por um átimo eu o via
em fogo riscando nuvens com habilidade,
cujas frases no éter proferia:
“As mais altas e belas montanhas da terra
sabem quão distantes situam-se das estrelas
do céu, pois são humildes nessa esfera,
tais aos lúmens de velas!”.
“Perante a magnitude do universo existe
a face da perene sabedoria,
cuja ordem soberana de luz consiste
na beleza do Cosmos e sua harmonia!
A lei da submissão é uma virtude,
igual um sol que irradia a verdade,
jamais um astro teria a sua magnitude
se não exibisse sua luminosidade!”.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
HOJE, FELIZ SUSPIREI QUE TAL VENTURA FLORESCESSE NESTE JARDIM
Fiquei bem pouco convicto disso, eu até duvidei... Porém, o Amor me sorriu numa
FELICIDADE SEM FIM
HOJE,
ao abrolhar de um novo dia,
despertei com magnas notícias:
avisaram-me que o amor surgiria
repentino, com acalantos e carícias
para me ofertar.
Fiquei bem
FELIZ...
preparei-me para o receber;
com máximo capricho e poesia
enfeitei a casa; tive imenso prazer
em sorrir, cantar e dançar de alegria
para o abrigar.
Pouco convicto disso, eu até
SUSPIREI...
para que este afeto batesse
à porta do meu tétrico casarão,
trouxesse sua alegria e cantasse
à minha alma uma melódica canção
para me extasiar.
Duvidei...
QUE TAL VENTURA FLORESCESSE...,
e de repente, nesta estrada,
viesse encontrar outra pessoa
para fazer a sua elegida morada;
eu então, me afogaria numa mágoa
para me expirar.
Porém, o amor me sorriu
NESTE JARDIM...,
fez-me mui ditoso e risonho,
por capricho, sorte ou bênção,
quis o céu cultivá-lo neste sonho,
a florir no canteiro do meu coração
para desabrochar...
Numa FELICIDADE SEM FIM
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
MARIA APARECIDA
M ágica garota dos meus sonhos,
A conteceu-me de encontrá-la só;
R eluzente, num dia bem risonho,
I rrompeste-me a alma e sem nó,
A dorei-te para tê-la mui festonho.
A pareceste a mim de inesperado,
P or meio do brando sopro divino;
A gora sei, esta mágica aparição,
R evelou-me tal pássaro dourado;
E nsaiando meu anseio num hino,
C antaste alegre no meu coração,
I nserindo o seu amor imaculado.
D evo agradecer ao Pai Cristalino,
A este encontro de almas e união!
Preâmbulo do Seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O AMOR CICLONE
O amor é a essência da alma num ciclone;
corisco sentimental nos olhares; emoções
levadas por redemoinhos; êxtase no cone
dos desejos; abismo de carícias e afeições.
O amor é o eflúvio irreprimível num vórtice
de prazeres; vagalhão voraz em turbilhões
de amplexos; o acalanto indócil num ápice
de aventuras; oceano convulso de paixões.
O amor é um cataclisma forte e devorador,
é o rio caudaloso dentro do coração febril,
tsunami inexorável em todo seu esplendor,
o imane sentimento do tamanho do Brasil.
O amor é o furacão selvagem que balança
os corações em devaneios de enamorados;
um raio de luz na borrasca do beijo frêmito.
O amor é a procela sagrada de esperança,
caravela à deriva, um sonho real e infinito,
êxtase de volúpias no mar de apaixonados.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O AMOR É O QUE NOS FAZ...
O amor é o que nos faz gigantes na vida;
a navegar por mares revoltos de paixões,
a desafiar abismos de olhares e afeições
profundas nos deleites da terra prometida.
O amor é o que nos faz fortes e valentes;
guerrilheiros apaixonados por conquistas,
a enfrentar obstáculos e sendo otimistas,
vencendo discriminações de maldizentes.
O amor é o que nos faz seres invencíveis,
guardiões sagrados no templo do prazer,
a combater ódios e amarguras no tanger
das almas algemadas por males horríveis.
O amor é o que nos faz rodar num vórtice
de desejos, fazendo afundar em turbilhões
de amplexos a nossa tristeza e desilusões.
O amor é o sentimento elevado num ápice.
O amor é o que nos faz rugir igual furacão
no meio do oceano. É a onda que balança
a nossa alma numa infindável esperança.
É o raio de luz que ilumina todo o coração.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O CERRADO DE LATAS
Um manto de concreto avança selva adentro,
devastando rios, lagoas e cachoeiras nativas,
animais, pássaros, bosques e florestas vivas
já não existem mais; raras plantas no centro
das praças resistem ao extermínio das matas,
ora convertida em cidades – cerrado de latas.
Ao visualizar tais cenas, tristes e deprimentes,
um dilúvio de revolta me traspassa o coração,
só vejo frotas de veículos e cimento pelo chão,
canteiros de obras com guindastes insolentes,
máquinas e betoneiras, edifícios e habitações.
Deus! Cadê os cerrados, as selvas e ribeirões?
Ouvindo-me indagar da sua majestosa criação,
o Senhor respondeu-me com magna sabedoria:
dos cerrados o homem tira a relva, faz moradia;
das selvas derruba as árvores para construção;
dos ribeirões dizima os peixes e polui as águas;
e de si próprio extirpa a natureza - sem tréguas...
O cerrado é agora a selva de latas barulhentas;
indústrias, carros e caminhões vertem fumaças
ao ambiente; nas selvas não se acha as caças;
com tanto dióxido no ar, não chove nem venta
mais a aura na planície; esvai-se toda a beleza
do Planeta Azul no irracional dano à natureza!...
Mas ai dos filhos de agora e gerações futuras;
o que semearem não ceifarão por abundância;
do desmatamento terão os frutos da ganância;
e da maléfica poluição sucumbirão as criaturas
inocentes; a fauna e flora outrora exuberantes,
serão miragens no cerrado de latas sufocantes!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O CICLONE UNIÃO
SE OS HOMENS BUSCASSEM A PAZ E COOPERAÇÃO,
SE AS TEMPESTADES DA IRA CESSASSEM UM DIA,
SE GUERRAS E VIOLÊNCIAS SAÍSSEM DE CENA,
E SE TODAS AS VARIEDADES DE AGRESSÃO
FOSSEM EXTINTAS, QUIÇÁ, ATÉ PODERIA,
NOSSA HUMANIDADE ATINGIR A PLENA
VERDADE, A SABEDORIA E A RAZÃO;
SE CULTIVASSEM SÓ A HARMONIA
EM NOSSA DIMENSÃO TERRENA
E ADORNASSEM O CORAÇÃO
COM BONDADE E ALEGRIA,
POIS SERIA MUI BACANA
VER O CICLONE UNIÃO.
É SÓ TRISTE IRONIA!
EIS AÍ UMA ARENA,
EIS AQUI O LEÃO,
É UMA POESIA,
QUE PENA!
OU NÃO?
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O MUNDO NÃO PRECISA DE ARMAS
O mundo não precisa de armas,
que só causam tristezas e dores
a nos passar lágrimas e carmas;
o mundo precisa sim, é de flores!
O mundo não precisa de guerras,
que só trazem assolação e pavor
com violências e sangue na terra;
o mundo precisa sim, é de amor!
O mundo não precisa de loucos,
que só tramam insanidade brutal
para incitar o ódio e a dissolução.
O mundo precisa sim, de doutos,
que nos reflitam sua luz e razão,
para que vivamos a paz mundial!
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
O ÚLTIMO APITO DA MARIA FUMAÇA
Ao prismar do sol nos prados verdejantes, serpeando brilhos,
uma Maria-Fumaça reluzente vai aos brados pelos trilhos
singrando sua sombra no caminho dos meus sonhos;
entre múltiplas paisagens com cenários mutantes,
translúcidas gravuras de panoramas risonhos
relumem como espelhos rútilos, vibrantes...
no rosicler do espaço, plasmam na visão traços medonhos
desse trem fantasma brilhando em tons sutis, estranhos;
se locomovem furtivamente na penumbra da estrada,
é a serpente d’aço que passa silvando insolente,
e seu vulto rubro devassa a visão estampada
na sombria divagação do meu consciente...
entrelaçada às vívidas revelações na herança do passado,
são hoje rudes espectros, fragmentos do trem dilacerado
no tempo, expostos à memória das eternas miragens
projetadas no pensamento, afloram em reflexões
achadas na ferrovia desfigurada por imagens
toscas do triste trem, comboio de paixões...
deslumbrantes, a Maria-Fumaça decadente e a sua carcaça,
inundam meus olhos de lágrimas! Eis a máquina de raça,
do luxo imperial ao gaudio triunfal desta história florida,
só restaram alguns destroços da locomotiva bravia,
já relegada à morte, ferro-velho e sucata puída,
não mais resgata sua glória... tirana ironia!
Piuuú! Piuuú! O maquinista desperta do seu êxtase tristonho,
e não mais descortina os cenários vibrantes desse sonho;
a via deserta esvai-se sob as rodas do fantástico trem,
volatiza-se a máquina encantada com seus brilhos,
o afresco que desfigura sua louçã efígie retém
bem viva a víbora rastejando pelos trilhos...
Porém, a lendária Maria-Fumaça existe nesse confinamento
da trivial lembrança, ora museu de história e divertimento;
na sua transição de infâmia a cicuta da píton perversa
esparge ruína e escória, envilecendo de vergonha
a banida estrada de ferro, postergada e imersa
na ferrugem, refém de tão bestial peçonha...
Ela apagou nessa miragem a derradeira estação, irrealidade,
a última nuvem de fumaça projeta no ar a minha saudade,
no final da viagem desembarco sozinho e quebrantado;
na bagagem, trago um grito de pesar em meu peito,
ferido pela serpe do infortúnio e desconsolado,
ainda ouço o último apito desse trem eleito...
Não há mais o sol e nem a vibração da máquina que serpeia
na senda sem brilhos. Eis que a Maria-Fumaça já vagueia
moribunda pela estrada e até carrega minha comoção
ao encontro dos tormentos e devaneios bisonhos,
mas o silvo de horror que ressoa meu coração,
ainda abisma em meus turvados sonhos.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019
PRISIONEIRAS DO EU
Infelizes são
elas, criaturas egoístas
e sem união,
órfãs de si mesmas e sozinhas
numa ilha, jazem aflitas
como desatinadas andorinhas,
que sem direção, perdidas
no tempo e no espaço,
buscam localizar aturdidas
seus ninhos no regaço...
Tais almas,
acorrentadas pelo mal,
em carmas,
açulam-se por qualquer razão;
anilhadas ao ódio fatal,
estilam o seu ópio no coração,
pois se tornam prisioneiras
do eu, iguais pássaros
retraídos pelas ribanceiras,
gélidos e sem amparos...
Essas criaturas,
como aves fustigadas
em desventuras,
enclausuram-se numa penúria
sem fim; desarrimadas,
não podem encarar a invernia;
álgidas ao suão das brumas,
querem sobrevoar alto,
mas o peso de suas plumas
dificultam-nas ao salto...
Quase tudo
na vida tem explicação,
e no escudo
do medo, tais aves se retraem
sem força, sem reação,
e no mesmo espaço persistem
sem que consigam se alçar;
elas miram a liberdade,
mas lhes é inviável arriscar
pela imane dificuldade...
Parecida é a vida
das pessoas apagadas:
igual a ave ferida,
longe do ninho e da realidade,
divisam desorientadas
o remoto céu da sua liberdade;
imersas em pulos bisonhos
elas pretendem revoar,
porém, somente em sonhos
é que os farão realizar.
Do seu Livro "Cascatas de Versos" - 2019
PÁSSAROS MASCARADOS
Quando os capatazes, aves de maldade,
com suas asas velozes, ousarem vencer
os ideais da paz, do amor e da liberdade,
os heróis audazes, bravos filhos do bem,
irão lhes expor toda a força que provém
da infinita justiça para cortar com prazer
suas podres cabeças, águias da cidade!
Tais sequazes, pássaros ruins, irão saber
que existe a lei perante a torpe iniquidade.
Suas ações hão de grulhar por clemência
e seus contumazes sentidos irão perecer
nas vorazes labaredas da sua petulância.
Por enquanto, travestem-se de máscaras,
horrentes carrancas vedam-lhes as faces;
seus bicos hiantes, olhos d’inveja e garras
recurvas de ganância, propagam rapinas,
extorquem os pobres e pleiteiam propinas
iguais vilões, tenazes por ruínas, rapaces
gaviões do poder, abutres dados às farras.
Mas chegará o dia desses infiéis e voraces
perdulários exibirem as suas faces bizarras;
cairão nas arapucas e serão todos caçados,
não mais farão revoadas e nem algazarras.
Corvos cruéis! Rolarão mortos e degolados.
Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019