Coleção pessoal de gamalielmoreira
Homens são como sapatos para as mulheres, passam a vida sob os seus pés, existe um pra cada ocasião, o preferido nunca está em casa, sempre numa vitrine, se um dia tu se tornar o favorito, logo será o mais usado, com isso, descartado mais cedo.
O cérebro que armazena muitos aromas, sabores, cores, vozes, que abriga tantas faces, um dia nos deixa só, em meio a multidões.
Heros
Quero andar por terras que ninguém anda,
quero beber do seio do engano,
quero adormecer no colo do diabo,
quero roubar as asas de um anjo,
quero colher uma rosa-branca e impura,
quero tocar uma canção fúnebre em dó maior,
quero aprisionar o teu aroma emblemático nos meus olhos,
Quero o cárcere, a cólera, a luxúria, a gula, a dor, a malícia,
quero a paz e o teu amor.
À SUA FALTA
Você que faz a falta, a falta me traga;
traga-me sem falta, é o que a falta faz!
falta-me fazer falta, falta voraz!
A falta de quem falta, falta nenhuma me faz!
Mas a sua falta é falta voraz!
Você faz-me falta! que a falta faz?
Quando eu faltar, nem a minha falta terás!
És sem falta o que, a falta faz-me.
POR UM MUNDO MAIS HIPÓCRITA
Publicado em 1946, O livro de Josué de Castro, GEOGRAFIA DA FOME, aqui, o seu título pode ser traduzido como FOME NO MUNDO, infelizmente, traz nas suas páginas um assunto ainda muito atual, A FOME DE MILHÕES DE SERES HUMANOS.
Outro tema semelhante que está em evidência, de importância relevante, é o CORONA VÍRUS, que é um “sucesso” em todos os meios, com pouquíssimas diferenças da insegurança alimentar.
Diferente da FOME, O CORONA VÍRUS, se tornou uma balbúrdia nos meios de comunicação de massa, que divulgam informações a todo o tempo, até "parecem que estão" num negócio muito rentável.
Mas, o mais bonito de se apreciar é o quanto às pessoas são “solidárias", indivíduos de raças, gêneros e credos distintos, em países preconceituosos, sem as mãos dadas, mas unidos por uma causa tão nobre, "SALVAR A HUMANIDADE", e o fabuloso: patrocinados pelos mais abastados, como é lindo o “amor” entre as classes sociais.
Mas o que une essas pessoas de fato? O afeto? Ou a dura e, despida realidade que COVID — 19, também AFETA OS RICOS, diferente da FOME?
Como psique, tu nunca empunhes, numa mão, uma adaga e, na outra uma lamparina, se satisfaça com o “monstro” que, incita o conforto, o calor, a confiança, a proteção.
Não sou opção, sou flecha envenenada com “amor”, sou a coragem num tirano, nua, pura, justificável, inaceitável, imoral.
Para me alcançares deves "morrer", sou Hades, impiedoso, insensível, mas justo, sobrevenho a todos.
Sou a “escolha de Sofia”, sou aquela que clamou ao rei: “Ah! Senhor meu, dai-lhe o menino vivo e por modo nenhum o mateis.”
Sou o argumento do sonho.
Amor de cães e gatos.
Nós, cães e gatos, quando partimos dessa vida, os nossos pais dizem que nos transformamos numa estrelinha do céu.
Quando eu virar uma estrelinha, senta com a tua filha, mostra-lhes o firmamento, escolhe uma estrela, e diz: esse gato virou estrela porque foi descuidado.
Mas ele, tentou nos dar o seu melhor, "acariciou as nossas pernas com a sua cauda, massageou a nossa barriga com as suas patinhas gordas, nos trouxe lagartixas de presente” para demonstrar o seu amor, ele foi um bom gato, e hoje ilumina a nossa noite.
A melhor coisa de se ouvir pela manhã, é um bom dia de um bem-ti-vi, e ao fim da noite, o seu silêncio fustigante.
Alienígena
Eu venho de um mundo onde a gentileza era rainha e, o amor era seu cetro.
Eu venho de um mundo onde tratar bem era um dever.
Eu venho de um mundo onde a maior riqueza era a liberdade.
Eu venho de um mundo onde a família amparava.
Eu venho de um mundo onde a dor era sentida por todos.
Eu venho de um mundo onde havia fé.
Eu venho de um mundo onde os idosos eram os de maior valor.
Eu venho de um mundo onde crianças eram sagradas.
Eu venho de um mundo onde só se matava pra comer.
Eu venho de um mundo onde às mulheres ficavam felizes com flores.
Eu venho de um mundo onde os amigos eram amigos.
Eu venho de um mundo onde o elogio era puro.
Eu venho de um mundo não sei onde estou.
Eu vivo num mundo desgovernado, cuja bandeira é o ódio.
Eu vivo num mundo de barbárie.
Eu vivo num mundo escravizado.
Eu vivo num mundo sem proteção.
Eu vivo num mundo de egoísmo.
Eu vivo num mundo sob efeito de calmantes.
Eu vivo num mundo sem o passado.
Eu vivo num mundo profano.
Eu vivo num mundo onde o sangue corre caudalosamente pelas vielas.
Eu vivo num mundo dominado pela luxúria.
Eu vivo num mundo sem ninguém.
Eu vivo num mundo de mentiras.
Eu vivo num mundo não sei pra onde vou.
Cultura de massa
Amassa a massa, se não ela te devora
A massa amassada não te amola
Pisa na massa sem massa
Depois manda embora
Pois, massa amassada é tostão
Vale ouro na praça sem graça
Massa sem direção.
Se eu fosse um homem, mais seguro seria.
Se fosse homem não teria medo do que a língua do povo diria.
Se fosse homem seria mais sol.
Tocaria o paraíso por mais pecado que tenha cometido.
Abraçaria o mundo sem de ser...
Agredida
Amarrada
Exposta
Maltratada
Humilhada
Assediada
Queimada
ESTUPRADA
Morta e jogada na vala
Baleada
Sufocada
Esfaqueada
Chutada, traída, desprezada.
Abandonada feito lixo na estrada.
E depois de tudo ainda ouvir que sou CULPADA.
Que não fui eu que apertou o gatilho, mas é minha culpa ter recebido a bala.
É minha culpa porque quando tive medo, gritei; também é minha culpa ter ficado calada.
Não fui eu que planejei ser morta na frente dos meus filhos, mas fui eu que me apaixonei por um canalha. Culpada.
Então vamos e convenhamos, com uma saia dessas como não ser assediada?
Com esse copo de bebida na mão pediu pra ser estuprada.
Aumentou a voz para o marido e não quer apanhar na cara?! Fique calada! É tudo culpa sua. Mais uma vez, culpada.
Porque não sou um cara.
Não tenho barba
Nem tanta força
Nem as piadas constrangedoras.
E quando penso que caço, na verdade sou presa fácil do macho viril e sagaz
De uma sociedade inteira que julga, cospe e amaldiçoa.
Desrespeita, escarnece e não perdoa, seja menina, mulher ou moça é sempre CULPADA
Nunca tem razão
Se nasceste fêmea, é digna apenas de impureza, incompreensão e opressão.
""São necessárias lentes gigantes para enxergarmos o que está muito distante, mas são as pequenas lentes que nos revela o que está ao alcance das mãos."
Paixão
Pronto, paredes pintadas com tinta transparente transferem a permanência da Essência original de um livro malditado, escrito a mão, no escuro, por um poeta míope, sobrecarrega uma estante da biblioteca central de um ciclope chinês formado em Harvard, preso a laços de grandeza que torna pequeno o maior dos deuses gregos.
Os olhos de Argos ornamentam a calda do pavão do Edinardo, expondo a futilidade das paixões, na escura noite de muitos olhos, olhares frios, vazios, braços entrelaçados sustentam o sol que assustado não quer nascer, retardado por uma nuvem de pedra acabar por vomitar um reluzente raio no rio de ferro que corre para o tártaro.
Pombas de aço trazem a paz em suas delicadas asas, e depositam seus ovos de Colombo sobre a Amazônia.
Muito sangue, tocou o celular.
(Leila Magh, novembro de 2018)
DESGOSTO
Repentinamente o frio, teu “corpo” encheu o ambiente, me inquietas, me tiras o sono.
Sinto tua aproximação, tu rastejas por entre as folhas secas, furtiva como uma serpente à espreita, tua sinuosidade me seduz.
Essa atmosfera sombria, me apavora.
O que queres de mim mercador da dúvida? Por que não descansas como todos os demais? Sussurra-me nos ouvidos, me dizes algo que não preciso saber.
Meu corpo estremece a cada palavra tua, a cólera se apossa do meu ser, não consigo acreditar no que vejo com teus olhos, dói meus ouvidos, a incerteza é agora a imperatriz suprema.
Era apenas a folha de um velho diário, manchado com café e, com forte odor de tabaco, com palavras que não consigo compreender, não me esconda o lixo, ele fede, se denuncia.
Mostra-me teu jardim, as tuas flores, as ervas daninhas e, os espinhos que cortastes com teus dentes, não me esconda nada.
Enxergo o oculto e, o inimaginável por meio dos teus pensamentos, escuto, mas não queria ouvir essa mensagem de falsidade, volta para teu umbral, alma penada, que a mim nada acrescentas.
Me deixa em paz com essa ilusão.
Se me escondes a verdade, não sei o que dizer, rogo a Urano, traga chuva, molhe a terra mais uma vez, faça minha semente germinar.
(Leila Magh, outubro de 2018)