Coleção pessoal de Froesingrid
Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.
A existência é um contrato de riscos.
Sem riscos, a psique não teria poesia, criatividade, intuição, inspiração, coragem, determinação, espirito empreendedor, necessidade de conquistar.
E pra te falar ainda mais a verdade, eu acho mesmo que você foi o príncipe que esperei a vida inteira. Porque eu te juro, de todas as coisas do mundo, eu só queria olhar pra você. Eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você.
Mais sábios que os homens são os pássaros. Enfrentam as tempestades noturnas, tombam de seus ninhos, sofrem perdas, dilaceram suas histórias. Pela manhã, têm todos os motivos para se entristecer e reclamar, mas cantam agradecendo a Deus por mais um dia. E vocês, portadores de nobre inteligência, que fazem com suas perdas?
►Dono Do Tempo
Pudera eu ser o dono do tempo
Pudera eu voltar ao passado,
E reviver belos momentos
Admirar outrora o céu estrelado
Mas pudera nós sermos capazes desta façanha
Tornarmos viajantes, como o vento
Ou que fôssemos presenteados com o justo julgamento
E decidir qual das orquídeas me amam
De sermos ouvintes fieis dos anjos.
Ai de mim se pudesse fazer tudo diferente
Afinal o ser humano erra sucessivamente
Meus acertos tornam-se menos aparentes, porém meus erros são consistentes
Quem me dera ser perfeito, mas ninguém é, eu seria o primeiro?
Iria prever os minutos reservados para o meu futuro?
Teria consciência da irrelevância das mentes controladas?
Saberia o dia em que as mentes criativas seriam testadas?
Haveriam sequelas geradas pela terceira grande guerra?
Oh tempo, sois de ti teu humilde servo
Nada significo, identifico-me como um grão no deserto
Façais de mim teu grão de areia predileto
Quantas foram as mentes revolucionárias que tu devoraste?
Diga-me, ganharei um troféu se conseguir tocar os céus?
Mate minha solidão, e não acusarei-te como sendo o réu
Adocica minha vida, feito um favo de mel
Que meus sentimentos e versos sejam mais fortes que Babel.
Tempo, seria ele um inimigo desprezível?
Tal como aquele mau elemento incorrigível?
Detesta-me, tempo? Possuis algo de ruim contra mim?
Por que quem amo sempre corre de braços abertos para ti?
Oh tempo, expulsai esse sentimento depressivo que em meu coração vive
Oh tempo, dai-me mais segundos daqueles doces relacionamentos
Faças de mim um aprendiz, serei o ouvinte e escutarei tudo que diz
Quero ser capaz de aproveitar os minutos que me dás
Não desejo mais ser eterno, apenas da felicidade um adepto
Pois sei que tu passas rápido, veloz, ágil
Sei bem que sou apenas um ser humano frágil
Mas quero ser capaz de amar, chorar,
Pois não há necessidade de dizer-me que a vida é apenas um estágio
Me contento em viver somente com o necessário,
Um abrigo, um amor e um verdadeiro amigo.
Quem poderia almejar algo mais importante?
Não há de existir algo mais interessante e instigante
Não é de meu conhecimento algo mais valioso
Que ser deste grande mundo seria tão ganancioso?
Quero apenas alguém para compartilhar meu coração carinhoso
Aquele desejo tão antigo, de possuir um colo quentinho para repousar um pouquinho
Que a minha solidão inimiga torne-se uma simples lembrança
Como aquelas que esquecemos quando éramos crianças.
Oh tempo, dai-me mais de seu tempo
Oh tempo, sou daqueles que alegam que não há tempo
Oh tempo, passe um pouco mais devagar, para que eu sinta o vento.
Uma carta sem segredos
Tenho diante de mim o pulsar sereno de convicções adquiridas. Pudera eu comunicá-las com a mesma serenidade com que pulsam.
Sinto-me no direito de poder dizer. Tens o direito de não considerá-las.
Acredito que viver o conflito consiste em ter nas mãos metade da mudança. Eu sei que mudança de comportamento não se quantifica, mas percebe-se pelo instaurar sereno da paz em nós. É isso que queremos, é isso o que buscamos.
O que importa não fugir, e assumir o autoconhecimento como investimento necessário, afinal tu serás o companheiro que terás de aturar a vida toda. O que és, o que podes, o que não podes e o que deves serão a pauta na qual a vida se inscreverá. Os sonhos e as realidades deverão ser desvendados e, aos poucos, terás de possuir a síntese das duas instâncias. Sonhar sempre, mas o sonho possível, aquele que se percebe brotar da realidade, existencial pousada sobre as mãos.
O que tens hoje nas mãos? O que te é possível? Certamente é o que precisas para a luta que hoje tens de travar. Penso que a ansiedade que existe em ti tem sua raiz no discurso da falta. Buscas o preenchimento de um mundo de ausências que se estabeleceu ao longo de tua vida. Por vezes são ausências rasas, facilmente preenchidas. Uma canção, um encontro com os amigos, mas por vezes elasse configuram e assumem forma de abismo e, nesse momento, não há metáfora alguma que as possa preencher. Aí nasce a saturação. Nada basta, nada explica, nada fala e nada o satisfaz.
Acredito muito no que podes, mas também acredito no que não podes. Uma realidade não anula a outra; apenas traça o perfil de tua verdade, mostra o que és.
Sei o quanto te custa conviver com isso, afinal viveste muito tempo sob o peso da exigência e da cruel comparação aos outros. E por mais verdadeiro que seja o amor que te dedicaram, no fundo, lá onde pulsa a tua solidão ônica, esse amor nunca bastou. Daí nasce a falta, a ausência e a necessidade do discurso metafórico que tanto utilizas.
Metáfora é o requinte com que vestimos a realidade. Ela é o disfarce do real, mostrado, expulso, mas sem revelar. É a luta para que o simples seja maquiado e não seja revelado em seu despojamento. Com a metáfora, nós tentamos nos livrar do desconserto da nudez.
Não há nenhum problema em revestir a vida de metáforas. São elas que nos salvam da mesmice, que dão cor aos nossos dias. Sem elas, a realidade nos esmagaria com seus fardos. Mas há que se cuidar de um detalhe. Não é justo tornar a vida uma metáfora.
Por isso, não temas o momento do despojamento. Compreenderás, com ele, que a vida é só o que temos. Só ela realmente importa. Mesmo porque sem ela nada será possível. Todos os outros desdobramentos se darão se a vida ainda estiver em nós. Crava os olhos na tua pequenez e descubra o quanto ela é grandiosa. És muito mesmo no pouco. O espírito de onipotência não nos faz melhores, apenas mais pesados. Ele nos conduz a um capo de possibilidades e depois nos abandona!
Identificas-te com o “menino abandonado” e por isso pedes o amor de domínio. Inconscientemente te entregas ao domínio dos afetos. Tens necessidade do aconchego e da segurança de outra vontade. Não precisa ser assim. Resguardar a liberdade, ainda que amarrado pelo amor, é um direito a que nunca podemos renunciar.
Aqui mora o conflito do amor possessivo. As pessoas nos tratam de acordo com o que autorizamos. Se inconscientemente pedes o domínio, ele se dará. Mas sei que estás incomodado com as amarras afetivas em que te encontras. Vives o fastio da dependência. Que bom. A saturação pode ser a porta por onde nos chegam grandes mudanças. A crise sempre resguarda a possibilidade de uma grande conquista. O caminho da mudança está diante de ti. Terás primeiramente de proclamar tua liberdade, para que alguém te ame sem te aprisionar.
Essa proclamação não é grito que se aprende da noite para o dia, mas cedo ou tarde terá de começar. Não poderás fugira vida toda. É uma questão de sobrevivência. Aquilo de que foges hoje, amanhã terás de temer ainda mais. Quanto mais adiares a luta, tanto mais frágil te sentirás!
A comunhão que o coração de Deus nos inspira torna-nos participantes de outras histórias. Não estamos sós. Em algum lugar, um coração sofre semelhante angústia. E busca e deseja o aprimoramento do modo de ser e estar no mundo.
Sei que queres o aprimoramento do teu ser. Primeiros passos já foram dados. Hoje és mais livre do que foste ontem, afinal o querer é a primeira configuração do realizar. Ele é essência do ato de ser livre, e por meio dele nos inserimos na dinâmica da vida. Quem não alimenta o seu querer, mesmo que ainda respire, pode se considerar morto.
Mais vivo do que nunca vou ficando por aqui. Desculpe-me ter invadido a tua casa. Não sei se cheguei em boa hora!
Desconsidera tudo o que julgar desnecessário. Falar sozinho é sempre um risco, afinal as intervenções alteram e purificam os pontos de vista e as compreensões.
Tens agora em tuas mãos um discurso ou uma pregação – como diria um outro amigo meu –, mas eu te asseguro que é um prosear bem-intencionado, fruto de um coração irmão que no silêncio da prece luta contigo!
Quem espera apenas afagos da vida nunca estará apto a aprender em meio às vicissitudes da existência. Enxergue seu caos como oportunidade de renovação; Vislumbre sempre seus escombros como matéria-prima para reconstrução. Lembre-se: Deus, que arquitetou o universo, é o maior interessado em ajudar a reprojetar sua vida. Muitas vezes ele só aguarda um convite seu.
DELÍRIO
Acima da cintura, ela é toda cetim púrpura, luminescências das lantejoulas, marfins no colo. O redondo do violão guarnecido por um vermelho-escarlate, figurinhas de melancias, caranguejos e moluscos. Suas pernas estão em matizes caribenhos: esverdeados-mares. As pontinhas das orelhas adornadas por duas açucenas, as maçãs são manjares-turcos e o queixo um caracol estático.
Isso é porque falo somente da pele!
Duro itinerário
... Se vos interessas as festas, for-vos festivo,
minhas lágrimas em lantejoulas,
nas fogueteadas lembranças vou-me em calma,
nuns gritos aos giros dos quarteirões,
pisam-me sem pressa, destas moléstias,
cruzeiros dos amantes de pés descalços...
... Quanta malvadeza nesses emaranhados vagos,
não hei então de prometer-vos-ei milagres,
morena dos cabelos nas bases,
remexe as ancas, sedutora do ninho,
breves choramingões junto ao meu pó,
entre os gritos sou o calar d’alma juveníssima,
que aos trancos se apegas aos barrancos...
... Balanças o tempo e morrem as horas de amor,
se me encantas, por um jovem velho,
quem por vossa liberdade se apaixonou,
porém se enclausurou, feito lagarta não madurou,
se me cabe a ilusão desta vida,
prefiro sofrer na prisão, duma fração,
segundos vivera o anseio de uma vida mal-vivida...
Não me desculpo; peço-te perdão... As lantejoulas sobrevoam em festa... Sofro o abuso destas festividades de verão, porões da vida, em teus seios vidraças estilhaçadas me levam, numa viajem por nos domesticar...
Sabe, para mim a vida é um punhado de lantejoulas e purpurina que o vento sopra. Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo - deixa o vento soprar, let it be, fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco...
Quero-te assim
Quero-te assim...
As paredes tão quentes como a tua ofegante respiração
E a música teceu-nos no seu tear padronizado
Valente vibração de amor ardente
Estávamos no quarto
Quando lancei o meu olhar sobre ti
Lembras?
As tuas mãos movem se sobre o meu rosto
Fluindo docemente
Mudei-me entre os teus dedos
Por dentro da tua roupa
Dos teus dedos senti-me conhecido
E naquele desesperado momento
Eu ouvi dizeres o meu nome
A tua voz encontra o caminho do meu ouvido
Soltando os cabelos como um vento de inverno
Os teus lábios e os meus caíram na sombra
A tua vida foi derramando
Sobre a minha alma entre os beijos e sussurros
E eu estava desolado e doente de paixão
Um distúrbio no teu doce olhar
Um entrelaçar de dedos que erra
Vou passar meus dias negligente
Enquanto cada vez mais enfeitiçado
Imortalizei-te na minha arte
Enquanto preciso de ti
Em todas as partes
E ainda assim se chega de alguma forma.
Quero te assim toda dengosa
As ágeis mãos mais quentes do que o fogo
O maravilhoso olhar de luz intensa
Esplêndidas coxas flexíveis dançando
Fonte de todo o meu prazer
Meu único querer
Brilhante desejo da minha alma
Como posso não querer?
Todas as noites no meu coração
Eu sentia o teu coração batendo
Noites idas com o vento
Orquídea distante
Perdida da minha mente
Engrossa a noite em torno de nós
Na escuridão aprofundada da tua intimidade
As nossas mentes que se encontram
Bebo do teu fôlego
Que doce veneno
Uma musa nos meus braços
O meu comprimento pressionando
Confiando encantamentos
E todo o teu corpo é mel para a minha boca
Quero-te assim toda impiedosa
E todo o teu corpo é pasto para os meus olhos.
As tuas carícias em êxtase
O calor dos teus seios no meu peito
O espaço profundo da tua escuridão se afundando
Murmúrios do teu amor em mim
Eu quero que assim seja para toda a eternidade.
_______Anjo da Madrugada®