Coleção pessoal de flabrito
Eu não sei de nada. Não sei de nada. E eu gosto dessa ignorância, dessa quase inocência de desconhecer as coisas para me permitir não depender delas.
ATO DE CONTRIÇÃO
Que para todo amor pagão
haja salvação
porque gostar é incerto
e se entregar é incerto
e ser gostado
e aceito
é incerto
e a única certeza é esse coração que ignora
e arrisca
e bate
Fale-me de qualquer coisa que possa, como um dedo carinhosamente pousado sobre um lábio incerto, fechar meus olhos para o mundo que não nos pertence.
TRECHO
Encontro num pedaço de vida
um pedaço de mim
que desimpediu-se
ganhou fôlego
e aventurou-se correndo trecho
agora
tampouco sei do pedaço de mim
que ficou
é que por onde andam
pedaços desimpedidos
de passos despedaçados
nem mente
nem lente
alcançam
Cultivo aquele tanto de dor necessária para ser feliz. Porque é impossível reconhecer que se é feliz sem, em algum momento da vida, ter sido sensibilizado pela dor de uma ou outra coisa.
Não sei não esperar. E o faço meio disfarçada, meio olhando pelo buraco da fechadura para ver se o que desejo chegará sem me flagrar à sua espera, mas espero.
Mesmo com toda carga de quase insanidade, mesmo quando há um dedo permanentemente na ferida, eu ainda prefiro a dor à indiferença.
A gente anda tão dependente de relacionamentos que muitas vezes confunde estar apaixonado com querer estar apaixonado - por um medo irracional da solidão ou do preconceito subliminar que determina ser socialmente inaceitável estar só e ser feliz assim.
"Tem jeito de chuva fininha em fim de tarde solar isso que eu sinto e que é meio saudade, meio vontade. Coisa mais linda.
O que adoece a lucidez da gente é esse vício besta de procurar sentido em tudo. Pra quê? Deixa não fazer sentido. Deixa e vai lá fora viver.