Coleção pessoal de flabrito
Até minhas tentativas de dissimulação são confessionais. Quando penso não ser tão aparente é que sou mais óbvia.
E esse cheiro. O cheiro das minhas lembranças. Essa insistência em guardar comigo o que me estremece. Coisas tuas que o meu corpo aprende e, devotado, não esquece, e nem duvida.
Se essa é a hora certa ou errada eu não sei, e não me interessa. É o tempo que tenho. É o que me importa.
"Vida: como você é linda. E embora me assuste um pouco quando me olha assim, com esse desejo tanto, confesso: prefiro sua doce loucura a toda e qualquer apatia."
E aquela palavra que eu não te disse, mas tu conheces porque me conheces, ainda te olha pelo vão da porta, sem coragem de ir embora.
Aí eu me peguei cantando mentalmente uma musiquinha cafona, eu assim meio encantada, sabe? E, depois do susto, tive certeza: a felicidade é um descuido.
Talvez realmente não tenha fundo e tudo seja apenas vertigem e queda livre mas e daí? Eu sempre preferi, aos desertos, os precipícios.
E toda essa insegurança que acolho dentro de mim não me enfraquece - só me oferece a força necessária para não embrutecer.
Aprendi a dividir a calçada com meus fantasmas. Nas poucas vezes que nos esbarramos - porque meu mundo interior é grande demais - faço que não os vejo. E assim a mente segue, o coração segue, a vida segue.
Poucas coisas na vida demonstram tanta intimidade quanto saber compartilhar - e compreender - silêncios.