Coleção pessoal de Fg7r85

81 - 100 do total de 123 pensamentos na coleção de Fg7r85

Ao passar agora no caixa da padaria pra pagar o lanche, pra comer no trabalho, aproveitei e perguntei, por curiosidade, ao divisar na prateleira, quanto era um potinho do famoso chocolate, esse tal de Nutella, coisinha assim destamainho do tamanho de um frasco de sal de frutas Eno, outro riquinho, o meu é Sonrisal mesmo, ela disse, sete conto! Amanhã talvez eu leve um pra degustar com umas bolachas cream craker pra me amostrar, rs. E comentei com ela, enquanto providênciava o troco: "- Quando eu pequeno Nescau e Toddy era coisa de rico. Maçã e uva, outra coisa da elite a gente só comia quando tava doente no hospital. Nossos entes queridos, não sei se por remorço, pra enganar mesmo, pra ver se a gente, doentes queridos, ganhava um soprinho de vida, um estimulozinho, nos davam, como a dizer: - Olha se tu sobreviver, vai comer isso todo dia! Que nada, quando saía era só banana mesmo. Ate comi uma maçã depois numa rara oportunidade, uma raridade por essas bandas e se chamava mazanas e vinha embrulhada num cheguei, anil. Perguntei a minha mãe, depois que comi, se podia plantar, ela disse não, que era fruta de lugar frio, eu perguntei, seguindo esse raciocinio, se podia plantar na geladeira. RS. - (30.01.2020)

Detesto gente insosa, adoro gente festiva. Gente explosiva qual fogos de artifícios, subito brilho, show pirotécnico. Que recebe um presente e vibrar e ri e chora que faz gosto tanta animação qua dá vontade de dar outro presente pra ver novamente. Gente espontânea, estantanea, que senta no chão, gente urgente, de repente, com sangue nas veias, que me sacuda, me acuda, me salve, me lave a alma, levante a poeira, a pasmaceira cotidiana, cera no assoalho sem brilho dos dias. Sem entraves, que eu diga,: "Vamo?" E responda: "Vamo, tô esperando". Gente saltitante, elétrica, não aquela coisa hermética, embalada a vácuo, na prateleira empoeirada, com prazo de validade, se já não tiver vencida, sem vontade toda vida, toda comedida, cheia das medidas, das etiquetas, agendamentos, sem contentamento. Gente improviso, não previsível, coisa que a gente já sabe, enquanto um zig, o outro zag. - (25.01.2020)

Ter uma liderança é uma coisa natural. Os animais tem seus lideres. O lobo por exemplo, quando eles caçam o líder come primeiro, mas, o resto da matilha depois, mas, não há desacordo, revolta. Assim também funciona um formigueiro, uma colmeia, onde tem a abelha rainha, as operarias, os soldados, umas até que ficam soprando as asas só pra ventilar o ambiente, e ninguém reclama, ambiciona mais que os outros, e são animais irracionais, tem instintos apenas. O homem, diferentemente deles tem livre arbitrio, pensa, raciocina, e por causa disso mesmo, responsáveis pelo seus atos, passiveis de serem penalizados quando do seu mau uso ou abuso.

O ciúme supõe você bastar pro outro em tudo. Ter ciúme até de sua própria sombra, do sol que lhe "alumia". Outro dia vi aqui na TV o padrasto que matou o enteado com ciúme da companheira, mãe do outro, de caso pensado, um crime premeditado, numa emboscada. Mas, que tinha uma coisa a ver com a outra, cada um no seu quadrado, recebendo amor, atenções especificas, um era companheiro, o outro era filho, vá entender? Não é pra entender mesmo, não. Tem também ciúme de um irmão com o outro, do bicho de estimação, etc. Mas, ai, dirão, ciúme doentio, se bem dosado... Como se tivesse vários tipos de ciúmes, como se emoção fosse fácil de controlar, tivesse uma torneirinha pra fechar e abrir, viesse feito colírio em conta-gotas, cachorro amarrado que só pode ir até aonde a corrente alcança. Ciúme reclama exclusividade, toda atenção do outro, ser os outros, o suficiente em tudo, antes de tudo, único, dominar todos os assuntos, não ter par nesse mundo como o ar na hora de respirar, a água na hora da sede. Supor que você não precisa de mais ninguém, ser seu tudo, em tudo lhe bastar, ser pleno, onipresente, encaixar perfeitamente como na bandeja o ovo. Há quem reclame de excesso de ciúmes, sinta-se sufocado e, noutra ocasião, cobrar mais atenção, resmungar de indiferença, sentir-se carente. Complicado.

Naquele tempo acreditava em papai Noel e na cegonha. Papai Noel, toda véspera de natal, acho que véspera, pra enrolar, era o mesmo ritual, de olho no presente, me comportava bem o dia todinho, varria até a casa, me segurava, não fazia malcriação. A noite, antes de dormir, escrevia um bilhetinho: Não esqueça minha Caloi, coisa desse tipo, (bicicleta naquele tempo era do preço de uma moto, pelo jeito) e colocava no sapatinho. De manhã... Que papai Noel mais desligado! Trazia uma coisa totalmente diferente, um carrinho de plástico, um saquinho de bonequinhos, vaquinhas, cavalos, índios, cowboys... Tem nada não, alguma coisa por traz daquilo dizia que eram dados de bom grado, de coração, com ternura justificáveis, e eu nem me importava no final, eram até bonitinhos, ia pegando gosto. Até que um dia, inexplicavelmente, nem isso mais veio, veio coisa nenhuma. A Cegonha, na noite que minha mãe tava pra dar a luz ao quarto filho, o quarto na ordem sucessória, minha irmã, foi aquele rebuliço, lembro muito vagamente, como num sonho, minha tia passar correndo com uma bacia cheia dágua e entrar no quarto onde minha mãe estava, e pedir a alguém pra chamar Dona Nita parteira, nascíamos em casa, e logo em seguida pegar na minha e nas mãos dos outros irmãos e levar pra casa da minha avó. Poxa! Justamente agora, por quê? Ia perder um acontecimento extraordinário, a chegada da cegonha! Já tava imaginava aquele passarinhão fabuloso, enorme, deste tamanho, maior que uma ema, do tamanho da porta, entrado sala adentro com minha irmã pendurada no bico. Perdi. Quando voltamos o bicho já tinha ido embora, nem uma peninha pra guardar de lembrança e de prova. Não sabia que Papai Noel era meu próprio pai e a cegonha, com todo respeito, minha própria mãe. (22.12.2016)

Tava vendo agora no NE TV, noticiando um assalto onde pessoas foram baleadas após reagirem a um assalto. Perto do final do ano, ceia de natal, virada do ano, peru, comidas, fazer uma besteira dessas, passar no hospital, estragando a festa dos outros também por tabela. Quando não mata, aleija. Pessoal eu peço, encarecidamente, não rejam. Não é nenhum demérito, covardia, ele está armado você não. Nem no tempo dos velhos filmes de faroeste, o mocinho armado era tão imprudente, quando diante do bandido com a mão no gatilho e a dele não podia custar-lhe a vida qualquer reação, devido a rapidez do oponente, segundos de vantagem a sua frente pra sacar a arma. Anos atrás fui assaltado, nem reagi nem nada, fui alvejado pelas costas com dois golpes de arma branca (nome bonito técnico pra chamar faca ou canivete, deu nem pra ver) pernoitei no Hospital da Restauração, foi protagonista de um filme de terror naquele inesquecível dia. De madrugada eu sentado no corredor, em observação se havia necessidade de operar ou não, parou um na minha frente numa maca branco, nem um pingo de sangue, uma mancha vermelha no peito, recomendou a um policial que ia conduzindo-a que ajeitasse a mangueira do soro que tava dobrada e seguiu, não deu dez minutos e voltaram com ele e entraram numa sala ao lado, daqui a pouco sai uma moça chorando, resumo da época, era um dentista, ela, noiva dele, ele teria reagido a um assalto na frente do antigo Cavalo Dourado, executado por dois motoqueiros que lhe pediram o relógio e ele se recusou a entregar, era um dia de sábado, feito hoje. Não precisei operar, mas, passei 15 dias depois já em casa, de licença, sangrando até cicatrizar. Noutra ocasião, fui assaltado na Av, Norte, cheio de carros passando por 5 meliantes, fortemente armados com revolveres embaixo da camisa (será que estavam armados mesmos, nunca vou saber, na duvida, rs.) Na hora só disse e eles, façam nada comigo não, fui tirando a carteira do bolso e entregando, enquanto um deles com o braço pressionando minha cabeça contra um murro dizia: Tudo bem, só não olhe pra gente. Grande coisa, rs. Em São Paulo, vi um dia desses assaltando na porrada mesmo, cinco rapazes, com socos e pontapés. Levaram-me três calças jeans que levava numa bolsa, umas duas, três camisas, uns vinte reais, na época comprava mais coisas, e uns dois vales transportes. Ironicamente vi dois indivíduos durante e semana usando camisas como a que haviam me levado. Um até sentou-se do meu lado no ônibus durante a semana no caminho do trabalho com uma camisa que havia comprado na C & A, de brim, cor de rosa, mas apropriada para ser usada a noite em ocasiões especiais, manga comprida e grossa, nada a ver usar num dia de verão, deu vontade de perguntar se era a minha, rs, muito desaforo, rs. Disseram-me aqui que nem todo mundo reage a um assalto do mesmo jeito, Pois é. Eu sou diferente de todo mundo, sou covardão mesmo nessas horas, minha vida, minha integridade física vale mais que um celular, um automóvel, que geralmente são deixados depois em algum terreno baldio, relógio de pulso... Etc. Tudo isso se comprar depois, a vida não. É a vida de marginais são curtas, é o preço, não duram muito, colhem o que planta.

Sei não. A gente é pra viver para sempre, faz parte de nossa natureza, quanto mais vida tivéssemos. Nos apegamos, temos consciência, inteligência, percepção de nossa finitude. Perdemos um braço, e ainda assim, continuamos, uma perna, um pulmão, nos abalamos, mas, continuamos. E quem tá rua agora, então, ao relento, sem internet, dormindo cedo por falta de opção, que motivação os prendem a existência, a insistência em permanecer, a não se deixar ir embora, embora. Se bem que tão melhores em certos aspectos a muitos que moram em palácios. A vida é uma só, vai dizer isso a quem não tem uma vida tão favorável, a um menos afortunado, que não vive, sobrevive sabe Deus como, vai dizer isso a quem perdeu um filho em tenra idade, um
natimorto. Alguns reclamam daqui mas, na hora de partir quer ficar, ao menor perigo, uma gripe mal curada, um arranhão no pé que virou um abscesso, se agarram com unhas e dentes, desesperadamente. Amanhã o céu estará azul, o vento soprando, os passarinhos cantando. É ruim mas é boa. Ou como diz o matuto: "A rapadura é doce, mas, não é mole".

Quem diz que é humilde não é humilde, é orgulhoso da sua humildade

Dizem que antigamente as pessoas eram mais inocentes, o mundo era melhor, balela, ser humano é o mesmo até hoje. Por exemplo, no meu tempo de criança tinham umas brincadeiras criativas mas bem violentinhas, a começar pelo papagaio, que noutros cantos chamam de pipa, em que além do conhecidos brinquedo de papel de seda confeccionado em casa eram prendidas laminas da marca Gillette na cauda que servia de leme do bicho, também no cabresto pra cortar a linha do papagaio outros, só tinha graça assim, não se contentavam feito eu em vê-lo translucido plainar no céu azul. Eu era pessimo pra empinar, ou levantar ao céu e não era hábil em fazer aquelas manobras que os outros faziam nas linhas que o impulsiona a fazer, sob seus comandos, variadas manobras de lado, pra baixo, etc... Depois a tecnologia competitiva evoluiu pra linha cerol, feita com lâmpadas florescentes picadas e cola aderidos a linha que a transformavam numa arma, um verdadeiro bisturi sobre nossas cabeças. O inventor deveria ter patenteado, ganharia um trocado bom, hoje são industrializadas, quer dizer, também ia preso. Sem falar do violentíssimo garrafão, que consistia numa garrafa desenhada no chão, em que ficava um garoto na boca do gargalo, virando-se de vez em quando, e se ele visse os outros brincantes se movendo, o primeiro deles, fosse mais rápido num golpe de vista, vindo em sua direção, o cara era linchado, mas, também se alguém chegasse antes até ele, era o contrario. Dessas brincadeiras a mais proveitosa, achava, era uma que dizia: "Senhor rei mandou dizer... " Em que um soberano de mentira ordenava seus súditos a fazerem determinadas coisa esdrúxulas, fazia parte, ai que tava a graça, como cumprimentar estranhos na rua, etc. Tinha um fator positivo o de estimular a iniciativa e o espirito de superação e a de vencer a timidez. E não se chamavam palavrão, não, diga-se de passagem, ai daquele, que era ameaçado de engolir um ovo quente, castigo aplicado no passado aos escravos rebeldes, soube depois, por acaso, um ovo cozido, fumegantes enfiado guela a dentro. Em compensação era tanta praga que o filho levava: Desgraçado, pestilento, infeliz da costa oca, da meia noite, murrinha, sua gota, sua gota serena... eram alguns deles. Vixi, quanta negatividade atirada numa criança em formação. Quando crescia ficava abestalhado, sem iniciativa, ai os pais diziam: "Não sei a quem esse menino puxou?" Puxou a tu, peste, desnaturado. E as musicas de ninar, então, musicas de acordar, melhor dizendo, isso sim! Já viu ninguém dormir com medo, assustado. "Xô, xô, pavão de cima do telhado" soubesse que o pavão era um bicho tão bonito nem me assustava, não aquele mostro que na musica aparentava, uma ave enorme, preta, em cima das telhas, arriscado a cair em mim. Outra, "Boi, boi, boi da cara preta, pega essa criança que tem medo de carreta" essa sem comentários... Oia os oião arregalado 👁️👁️! Melhor fingir que tá dormindo logo pra pararem de cantar. Sem falar no "Atirei o pau no gato, tô, tô, mas, o gato não morreu. Dona zica, cá, cá, admirou-se, se, se, do berrou, do berrou que o gato deu... " 🙀 Essa era de roda. Minha nossa! Que maldade com o bichano! Hoje da cadeia. (Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º. ... “A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.) Ser humano muda só de época, é o mesmo desde o tempo de Adão.

O SITIO

Uma vez eu e meus irmãos, mais precisamente no período da adolescência, inventamos de passar as férias no sitio do meu avô no interior de Pernambuco. Pegamos um ônibus aqui em Recife na rodoviária e rumamos para o município de Limoeiro, e após umas duas horas de viagem, chegamos. Perto da Praça da Bandeira embarcamos noutro ônibus, que levava de tudo, além de gente, óbvio, galinhas, papagaios, bodes, pessoas simples que vinham da feira, em sua maioria, com sacolas. Saindo do centro da cidade, o citado coletivo pegou uma estrada de barro ladeado de canaviais, e continuou embalado enquanto ia levantando, atrás, rolos de poeira. Descemos daqui a pouco tempo num povoadozinho, já com luz elétrica, que noutra ocasião não tinha, animador acdei. Nos encaminhamos a uma casa próxima e pedimos água, e interessante, que no lugar da água serviram suco de maracujá, isso mesmo, suco de maracujá! Que gentileza, que gente acolhedora, amável, a conhecida hospitalidade interiorana, não é todo dia que a gente pede água e nos servem suco de maracujá. Estava natural, mas, deixa pra lá, seria querer demais. Quando provei... Xiviiii!!! Salgado!!!! Onde já se viu! Puseram sal em lugar do açúcar por engano. Fiz uma careta indisfarçável. Ai a dona da casa disse: - É a água da cacimba que é assim mesmo! Ou seja, barrenta e salobra. A tal cacimba era uma espécie de poço. Agradecemos e, depois, seguimos por outra estrada de barro, dessa vez a pé, o sol cozinhando o juízo, umas 2 horas da tarde. O que estimulava e distraia eram, aqui, ali, no caminho, uns pés carregados de laranjas amarelinhas, uns juntinhos dos outros, baixinhos, vários, parecendo arvores de natal, fora de época, carregadas! Umas até caídas apodrecendo, maior fartura e de graça, era só pegar e ir comendo. Depois de um pedaço bom de chão percorrido aos poucos ia se divisando, surgindo, ao longe, uma casa, perdida no meio do nada, o sitio, finalmente, que nem o de Dona Benta. Lá tinha de tudo, perdido num fim de mundo, e curioso que tinha, na propriedade, rodeando-a, em frente da casa, loja, farmácia, mercearia, igreja, até cemitério, tudo pelo meu avô construídos. Talvez por um capricho dele, porque se fosse depender de clientela, só de vez em quando que saia no meio do mato uma viva alma, surgida não sei de onde pra comprar algo, e ai ele despertava do cochilo na cadeira de balanço e ia atender. Ou alguém precisando de um socorro, ai meu avô incorporava o Farmacêutico, misturador das formulas acondicionadas nuns frascos grandes, uma farmácia de manipulação as antigas, também dava injeção e mandava a vitima rezar, se fosse de noite pra chegar vivo até de manhã e pegar o ônibus na cidade vizinha, a do "suco de maracujá" que começava a circular as 8 da manhã e as 5 da tarde e ir para um hospital mais próximo, após caminhar um pedaço bom, se não morresse no caminho, mas, se morresse, tinha problema não, seria enterrado no cemitério do sitio, como disse. No sitio do meu avô não tinha energia elétrica, ai, à noite, perdia a graça, não se divisava o céu do chão, só em noite de lua cheia ficava bonito, os caminhos iluminados, dava até pra caminhar sem problemas e as copas das arvores prateadas. A noite mesmo era na base do candeeiro, feito nas novelas e filmes de época. Batia um sono cedo na gente, oxê, 8 horas ainda, uma lezeira, sonolência repentina. Mas, durante a semana, de dia, era divertido, subia nas arvores e comia muita manga, de varias qualidades, feito diz o matuto (espada, rosa, manguito, sapatinho), cajus, laranja geladinha das primeiras horas da manhã, tiradas do pé, molhadas de orvalho, leite do peito da vaca, galinha do quintal, de capoeira, mortinha na hora, uma tal de carne seca, que depois vim a saber que era a velha e boa carne de charque conhecida. Aonde até os cachorros da casa eram vegetarianos, isso mesmo, vegetarianos, comiam só macaxeira, (também conhecida como mandioca, aipim, pros sulistas) ou comiam ou morriam, toda manhã e a noite, era só isso, que davam. A gente mesmo só variava no almoço ai era feijão, arroz, macarrão, carne como todo mundo. No meio da semana, minha tia nos chamou pra buscar água pra tomar banho no barreiro (Um buraco que os homens do campo cavavam para armazenar água da chuva e usar durante o resto do ano ou por um bom tempo, menor que um açude, destinado ao mesmo propósito), ai foi a gota d'água. No sitio também não tinha água encanada, esqueci de dizer. Fomos, cada um com a sua respectiva lata, com a alegria e a inocência da novidade. Andamos um pedaço considerável atrás do precioso liquido, no meio do caminho passamos por uma grande poça d’água suja, com uma camada de lodo por cima, esverdeada, espumando e um sapo boi boiado de papo por ar. Que nojo! Eca! Passei ao largo e prossegui pro barreiro. Quando, atrás de mim, ouvi a voz de minha tia chamando: - Eiiii!!! Vai prá onde?! – Pro barreiro, respondi. – Mas, é aqui!!! Disse, ela. – Ai?! Essa água suja com um sapo boiando?! Vou tomar bando com essa água?! – Sim. Tu bebe dela! Respondeu. Água limpa só a do teu avô que é um homem idoso, a gente bota um paninho, coa as folhas, galhos e depois bota no filtro. Só sei que no final da semana tava todo mundo desesperado, querendo voltar pra civilização. Meu avô na cadeira de balanço, vendo tudo, a aflição, nos chamou e deu o maior carão, dizendo: - O que vocês vieram fazer aqui?! Aqui é só trabalhar e dormir! Eu poderia até puxar eletricidade da cidade vizinha, mas não quero não. Vejo quando vou em Recife. Começa a novela e o mundo para, é aquela malandragem! Quero isso aqui não. Voltamos no outro dia, de manhã, num sábado. Só não entendo, tava lembrando disso um dia desses, porque não fizeram uma cacimba ao lado da casa, seria melhor, mais prático, água limpinha. Mas, tudo eram os hábitos, os costumes, a tradição.

(13.11.2016)

De tudo se morre, viver é um risco absoluto! Cada decisão, pode provocar uma avalanche, levar um escorregão, de indecisão também morre ao atravessar um sinal por exemplo, será que dá tempo... Se ficar parado, não fizer nada, também uma bala perdida lhe alcança, um vento, um tombo de mal jeito, a cabeça encontrando o chão, morresse por não se movimentar. Levanta-se murro, cercas eletrificadas, pra se proteger, como se fosse só isso, vivessem invadindo casas, fôssemos algum Silvio Santos, pra sequestrar. São inúmeras possibilidades. Então vamos aproveitar... Na volta da festa acontece algo, o carro bate, ou uma inocente taça lhe corta a jugular num encontrão inocente, assim não vale, estávamos tentando aproveitar. Então é bom nem falar... Como evitando de falar não acontecesse essa sucessão de eventos sinistros e trágicos. Acho que a vida é mais uma aposta, e nos os jogadores e o homem nasceu pra ser eterno, mais vida tiver, mais vida quererá, não importando as condições em que viva, enquanto houver vida há esperança. Ou como diria o poeta: "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." - Fernando Pessoa.

A mulher sabe de seu poder de sedução, então, ela gosta de se mostrar, ser desejada, afagar seu ego, apostar, ser comida com o olhos, ofecer sem dar. Se não tivesse o que mostrar esconderia... Vi caminhando, um dia, duas moças, uma ao lado da outra, sob sol escaldante, a mais voluptosa exibia as carnes rijas e macias em trajes mínimos, a outra, franzina, vestindo quase uma burca. No homem, pouco se distingue, monótono o tempo todo, só calça e camisa, que nada realça, difere de outros machos. De todas as espécies animais, é o que menos exibe, é o menos enfeitado.

O dia do cachorro é um dia após o outro, só come e dorme. Ele sabe que anoitece e adormece, se amanhece não sabe, é só instinto, reação, ração. Todo dia igual ao outro sem inquietação, ansiedade, ambição, até o final dos seus dias, é uma repetição. Não sabe de doenças, nem que terá um fim, apenas vive, está aqui. Só diferencia das plantas porque se move, não tem maiores aspirações, não deseja, planeja, se angustia, se frustra, não faz perguntas, não se interroga, não raciocina, não quer ir além de sua condição. Deita no chão, balança o rabo se o afagam. Não é muito diferenciado dos outros, apenas no porte, raça, cor, espécie, um cão não é mais que um cão.

Um caixa de um supermercado disse a outra, que olhava o vazio: "pense não... " Mania da gente de acordar os outros dos seus devaneios. Ou, "quem pensa não casa" e todos querem casar. Por que o mal estar, o incômodo que causa? Pensar talvez seja perigoso, ou sofrível. Também é libertador, idealizar, questionar, calcular, sonhar. Imaginar as coisas diferentes. Daí deve residir o medo de remar contra corrente, inovar, querer as coisas de outro jeito.

Obrigado a você pela atenção dispensada, pelo afago na alma, pelo precioso tempo que me deu ouvido. Pelo carinho, pelo cuidado, pela dedicação, por rir, me fazer sorrir, também me levar a sério, por se preocupar comigo. Por oferecer o ombro amigo, por se fazer presente, perguntar por mim, como foi meu dia, minha noite, o mês passado, como tenho passado. Por me estender a mão, me acolher, ser assim comigo. Que atenção, companheirismo, empatia, não é uma questão, necessariamente, de estar junto fisicamente, muitos estão, mas, não estão, propriamente, são tão ausentes como se morasse no Japão. Que estar perto é mais uma questão de ter boa vontade, satisfação. Quando se quer o distante é perto, é qualquer hora, sempre dar-se um jeito, quando se quer de fato nada é obstáculo.

Trabalhei com uma senhora de sobrenome "Tapioca", isso mesmo! Nada assim tão demais, tanta gente famosa tem nome estranho e a gente nem liga. Tinha outro que respondia pelo sobrenome de "Aranha" , que um dia vi num supermercado e cumprimento-o, naturalmente, em alto e bom som: - Aranhaaaaa!!!!! E o filha da mãe se aproximou todo assim, todo desconfiado, olhando pros lado e sussurrou: - Chama assim não que minha mulher não gosta! Oxi, mas, não era assim que era conhecido, eu hein? E o cara nem ligava antes, era o sobrenome mesmo, tava zuando não, eu juro! Vá reclamar de quem pôs o nome, digo, sobrenome. Outra tinha por sobrenome "Guaraná", tudo a ver, era uma moça faceira, já tinha sido, inclusive, escolhida miss da empresa, outrora, numa festa de final de ano, me contaram. Ah, mas vamos voltar a colega Tapioca, antes que eu esqueça, mania de me distanciar do assunto. Pois é, e que tinha outra peculiaridade, vestia-se diariamente feito uma cigana: saias amplas e longas batendo no chão, coloridas, estampadas, a moda hippie, ops! e até tão usando de novo. Brincos enormes, coloridos, penas, etc. Até lia cartas de tarô, ou tirava essa onda. Olhavam-na com estranheza, no entanto, até já ouvi quem a achasse doida, estranha. Um dia uma novela da Globo exibiu uma novela que contava a historia dos ciganos, atores caracterizados, vestido a moda dos tais, danças típicas, comidas, costumes, etc... Ai as lojas logo passaram a vender as saias da novela, o Camelódromo, brincos, bijuterias imitando, virou uma febre! E consequentemente outras colegas passaram a vestisse igual a Tapioca, que por uma questão de ética vou emitir o primeiro nome comum, igual ao de todo mundo. Gosto de pessoas assim, que se antecipam a moda, que fazem sua própria moda, que são elas próprias, a moda. Que são autenticas, que salvam esse mundo monótono, esse ócio causticante, que estão além do seu tempo sem perceber. Que apenas são o que são, sem artifícios, mesmo sem ser estrelas de novelas, celebridades que calça sandália cada uma de uma cor, pintam o cabelo de azul , vestem roupas extravagantes e ninguém rapara, ou só reparam, mas, respeitam, acham um chame, artistas podem. (24.10.2016)

Aquele amigo que se vangloriava em estar mostrando como um troféu a foto de uma determinada filha adolescente, dizendo, no entanto, que não sabia aonde andava, só fez. Um dia ela descobriu seu paradeiro e telefonou dizendo desejar conhecê-lo. Ele, com toda má vontade do mundo, combinou encontrá-la em frente às Lojas Americanas na hora do almoço. No outro dia deu um pulinho ao encontro combinado. Voltando, no entanto, mostrou-se indignado dizendo ter entrado na loja e comprado para ela um presente bom. Alardeou enfático: "um play station 2" - presente de menino, cá entre nós. E para sua surpresa, ela não aceitou. Disse-lhe que pensava que ficaria com ele a tarde toda, ora! Sentariam numa mesa e comeriam uma pizza como fazem os outros pais e filhas comuns, quanto mais eles que nunca tinham se visto antes, desde então. Se conheceriam melhor, dariam risadas, falariam sobre a longa ausência, a emoção natural do encontro, essas coisas, entende? Mas não, ele foi logo embora. Mais tarde, o mundo dá voltas. Ele casou com alguém e quis um ter um filho como todo casal, segundo a ordem natural das coisas. Acontece que a mulher era estéril. E aí só restou adotar um menino, ironia do destino, gesto nobre com o filho não sanguíneo, dando de tudo que não deu a biológica, boas roupas, presentes finos, o filho de outro enchendo de mimos.

É como eu de vez em quando digo... Na volta do trabalho ao descer do ônibus pra resolver uma pendência, notei do outro lado da avenida um ajuntamento de pessoas próximo ao meio fio. Um tava segurando uma barricada improvisada de papelão, e por traz, pude perceber, pelos pés, que tinha um corpo estendido. Atravessei a rua e me aproximei pra ver. Havia uma moça deitada de bruços, com o braço direito um pouco arranhado na altura do cotovelo, mas respirando, viva, só que imóvel. Alguém a abanando com a camisa, outro fazendo sombra, protegendo-a do sol inclemente, poucos mais das 2 da tarde, ainda muito forte, outro alisando seus cabelos, dizendo algo para conforta-la, aliviar sua agonia . Perguntei se tinha acontecido um acidente, ela havia sido atropelada, disseram que não, então foi algum mal estar, problema de pressão, talvez, que a fez cair e ficar ali, prostrada. Perguntei também se haviam chamado o SAMU, dissera que sim e também a ambulância dos bombeiros. Notei que trabalhava numa loja, pelo nome atrás da camisa e perguntei se haviam avisado o pessoal do estabelecimento comercial, disseram haver também feito isso. Porque as pessoas estavam lá se solidarizando com essa estranha? Porque paravam, esquecidos de seus compromissos, suas vidas e estavam lá esperando também o SAMU, torcendo por ela, se preocupando, fazendo companhia a ela como se fosse da família? Não era irmã deles, parente... Como diz Rosseau: "O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe", é isso, por trás da sua máscara de prepotência, frieza, da competitividade, de ver no outro um adversário, uma ameaça, no fundo o homem é bom, a bondade é uma coisa instintiva.

Minha tia não acreditava em horoscopo larmente, nesse dia, ia ao centro da cidade com ela ajudar a trazer uns pacotes pra abastecer um armarinho que ela trabalhava e toda vez antes de sair costumava, como todo dia fazia, ouvir as previsões de Omar Cardoso, famoso astrólogo da época, pro seu signo, escorpião. E nesse dia após ouvir o signo dela ela pediu esperasse e ouvisse o meu. - Minha tia vamos "simbora"! Ela, - Espera, ouve o teu, primeiro. É mentira, mas... O meu vinha depois do dela. Pois bem: Sagitário! Manda, seu Omar... Sagitário... Péssimo dia para viagens!!! Eita! Vou mais não minha tia. - Menino isso é mentira! - É?! Mas ele disse que era um péssimo dia pra viagens, vou mais não! Depois o ônibus cai da ponte no Rio Capibaribe, eu não sei nadar, morro! Olha ai... - Mas, ele quis dizer, viagens longas, pra São Paulo, Rio... - Mas, não deixa ser uma viagem, pelo sim pelo não, vou mais não.

A FICHA DE LEITURA

Um dia a professora de português, Dona Maria José (Dona Cuca, por esse carinhoso apelido, também conhecida, por parecer com uma certa personagem do Sitio do Pica-Pau Amarelo) Mandou comprar certa vez um livro, A Escrava Isaura do escritor Bernardo Guimarães, para fazermos uma tal de ficha de leitura, que consistia, basicamente, em lermos e depois fazermos um resumo do que lembrávamos, ótimo incentivo a leitura e reflexão e assimilação do texto. Só que nessa época, adolescência, não gostava muito de ler, não. Não só não comprei o livro, como esqueci totalmente o dia de entregar o trabalho (assim como chamávamos) ai foi que me lembrei, poxa! Ai, muito do desenrolado, em cima da hora, tive uma ideia genial, um plano infalível, fui na casa de uma vizinha, colega que mora agora no Rio, mais carioca que pernambucana, que ate já perdeu o sotaque, daqui, rapidinho, e há muito, fala o mais fluente carioquês: “ – E ai, ô Fábio, como vai? “, coisa assim, irmã de um grande amigo meu. Pois bem fui pra casa dela, como ia dizendo e sentei-me a mesa e pedi pra ela, pelo amor de Deus, quebrar esse galho e ir lembrando do que pudesse, da Escrava Isaura, lembra? A novela com Lucélia Santos, Rubens de Falco e grande elenco, vê se lembra qualquer coisa ai, se não lembrar tudo direitinho, tinha nada não, tá valendo, ficha de leitura é assim mesmo, a gente só escreve o que lembra, enchendo duas, três folhas, ta bom demais, da pro gasto, é só fazer algum volume! Começou, solicita, assim sendo, a puxar pela memória em prol de tão nobre causa, daqui a pouco chamou outra vizinha, pra ajudar; - Fulana! Tu lembra? Foi assim, assado? Ela se achegou e, daqui a pouco, também chamou a irmã, senão me engano. E eis que tinha a minha disposição, uma respeitável assessoria, três cabeças pensando melhor que uma, três cúmplices legais, rs. E aos poucos, de grão em grão, fui
enchendo uma, duas, três, quatro folhas de papel pautado, rs. Nesse negocinho, elas com toda boa vontade do mundo e eu escrevendo, já tinha passando da hora de ir pra escola e eu ainda lá, tinha nada não a aula de português seria a terceira. Daqui a poucos instantes, enfim, dei por satisfeito, tava de bom tamanho, juntei todo material coletado e fui correndo pra casa, tomei banho rapidinho, almocei, acho que almocei e fui pro colégio correndo, chegando bem na hora da terceira aula, a de português, tudo cronometrado, perfeito, entreguei a “ficha de leitura”, a professora ainda perguntou por uma coisa que viria no livro e tava faltando e eu disse veio não, não sei por que. Passou... por pouco! Dias depois, no grande dia, enfim, da onça beber água, ela inovou, (acho até que foi pessoal, o que ela fez foi combinado, hoje dava processo, rs.) chamou um a um no seu birô os alunos, na frente de todos, para devolver as fichas, fazer umas rápidas considerações e dizer a nota e eu fui o ultimo, tô dizendo, tava escrito. Na minha vez ela fez uma pergunta estranha, incisiva, disparou: - Me diga uma coisa, você fez o trabalho baseado na novela da Rede Globo, não foi? (Estranho, como ela adivinhou? É vidente?) Respondi, evidente que não! E podia? Ela prosseguiu: - Rapaz, não tente me enrolar, foi ou não foi? Eu dissimulado: - Não! E ela insistindo: - Diga logo, vá, se avexe... E a turma olhando, maior climão, constrangimento, que mico! E eu renitente e ela intransigente, vendo que ela não ia desistir, parecendo um interrogatório policial, confessar ou confessar, não tinha pra onde correr, ia dar a hora da saída e ela ali, marcando em cima, confessei: - Foi!!! Como a senhora soube? Ela disse: - Meu filho tenho uma biblioteca em casa e esse personagem Tobias, que morreu queimado aqui, não existe no romance original, o diretor da novela inventou, fez uma adaptação, eles fazem isso nas novelas, (poxa, fazem isso?! E pode? Dancei direitinho) Depois de descoberta a ficha fajuta, com ares de esperta ela jogou uma piadinha dizendo que me daria 6, pelo esforço de tentar enganá-la. Tá, até podia ser pior, ficar sem nota, entre mortos e feridos, sai até no lucro, seis, tava na media, deu pro gasto, rs.

(15.10.2016)