Cada manhã é um manancial de oportunidades
Repetidas ao acaso na luz
E que terás que agarrar antes do ocaso
A distância entre os instantes
Vai encurtando nas espirais do tempo
Até à redução a um ponto
À espreita do dia seguinte
Seremos ludibriados pela areia
Correndo na ampulheta da luz
Se aceitarmos jogos
Sem regras definidas
Seremos sempre vencidos
Arte é tudo aquilo
Que é capaz de criar asas
Concretizando o sonho de voar
A idade faz nublar a vista
Mas ensina a definir
Para além dos olhos
O dinheiro é uma hóstia metálica
Que se usa para pagar
Aos vendilhões do templo
A primavera floresceu os ramos
Para que as raparigas possam mostrar
A cor das suas pétalas
Apenas pelas rotas da poesia
Poderemos perceber
Que a alma é transformável em matéria
Os versos são palavras escritas
Com as tintas dos ventos
Sobre os instantes da pele
Só o tempo pulsante
Fará a transparência do âmbar
Esquecendo a turva resina
No fulcro do corpo
Transformo em alavancas de fogo
As fantasias alquímicas dos olhos
Poesia é saber sentir
O silêncio como se fosse
A pureza da música
Quando se acredita na meta
Os passos não se perdem
Nos atalhos dos caminhos
O chão que pisámos na infância
Será sempre o mais seguro
Para construir as nossas paredes
A voz pode ser o cinzel
Esculpindo arestas na pedra dura
Ou apenas um bocejo efémero
O escuro poderá
Encandear mais
Que a luz brilhante
Os grandes oceanos
São feitos de pequenas gotas
Insustentáveis nas clepsidras do céu
Seguindo as sombras do corpo
Corro o risco de passar
A ser a própria sombra
Poeta é aquele que consegue
Dar a terceira dimensão
Ao limbo das palavras planas