Para que a bússola Indique outro azimute Eu terei que mover-me
A beleza e a arte Definem-se intuitivamente No mosto da mente
As escadarias das torres São sempre mais íngremes Nos degraus do topo
O bronze que molda um herói Poderá voltar a ser fundido Para fazer novo herói
No jogo de xadrez O cheque-mate poderá ser do peão Mas a vitória será sempre do seu rei
Os morcegos na noite Imitam os pássaros Mas não enganam as corujas
Os olhos sempre serão traidores Quando se trata de guardar Segredos do coração
No extremo dum abismo Admiro a paisagem Mas a falta de asas matará os sonhos
Coabitando o lenho Das árvores que plantei Nunca me faltará a seiva
Soletro as tuas vértebras uma a uma Para descobrir os poemas Que existem no teu corpo
A arte de saber olhar É conseguir observar Para além da penumbra do nariz
Em ritual de água e fogo Misturo as folhas dos livros E faço uma tisana de palavras
Olhando para além das sombras Conseguiremos ver Para além da luz
Até que o silêncio os dissolva Os ecos perdidos no ar Repetem-se ocos como balões de papel
Os instantes da metamorfose da voz Poderão construir o corpo Ou ser ecos perdidos
Pelas mãos dos poetas As palavras libertam-se Dos ferretes dos dicionários
Mais que rimar palavras Importa à poesia Rumar as ideias
Renovadas nas mãos dos poetas As folhas caídas no outono Voltarão a ser folhas de papel
Os impulsos do coração Não chegam para alcançar Os frutos nas árvores
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.