Os arquétipos são manequins Que não são capazes De se vestir a si próprios
Quando pretender ajuizar alguém Coloque-se em frente dum espelho E verá que o vidro é frágil
Os olhos só são olhares Quando são capazes De abrir caminhos no escuro
Numa pedrada no charco As olas divergentes Diluem a pedra antes das margens
Caminho lentamente recolhendo Os restos da minha sombra Até que ela se esgote
Quimicamente os sonhos São feitos de gases Mais leves que o ar
Desenho um sol pela manhã E fico seguindo a magia Da sua mutação em lua
Talvez o calor das mãos Possa moldar o metal duro Ignorando a bigorna
Até que o caruncho as faça em pó As estátuas de madeira Poderão vestir-se de santos
O jornal imitando as aves Cria asas e voo Mas é apenas avião de papel
Escrevo na areia da praia Mas a libertinagem das ondas Rouba-me as palavras dos poemas
Os poetas são todos diferentes Como as cores na paleta Mas todos são filhos do arco-íris
A mente é uma roldana Por onde passam Os fios do pensamento
No jogo de xadrez Os peões e os reis São feitos da mesma madeira
Palavras que não reproduzem ecos Na montanha em frente Não servem para fazer os poemas
Os obstáculos nos caminhos Não deixam Que o caminhante adormeça
A rocha bruta na pedreira É da mesma matéria Que a pedra depois de polida
Sempre que se deita sal Na ferida aberta O sal morre e a dor aviva
Qualquer bola de sabão Servirá para jogar andebol Até que o ar destrua o sonho
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.