Como garimpeiro vigilante Importa saber Quem transporta o ouro
A voz dos poetas É sempre um vento selvagem Fabricando ecos
Como trapezistas de circo ambulante Oscilamos pendularmente Entre a alvorada e o poente
À beira do rio Faço barcos de papel E parto à descoberta da foz
Antes do poente Aprende com o sol A verdade do tempo
A poesia é uma nascente Nos acasos do silêncio Alcançando mais longe
Do arado restará o óxido de ferro E dos sonhos apenas o vapor Só os livros continuarão como aves
Nunca penses que dobraste um bambu Ata bem o seu colmo Ou sentirás o seu coice
Nem todos os gritos Têm a mística poética De voar até ao infinito
Se não existissem os espelhos Nós seriamos apenas A nossa sombra no chão
Podemos forjar os metais Ritmando as pulsações do fogo Mas apenas o ferro criará alma
No etéreo do meu corpo zenital Fazendo a vertical do lugar Reduzo o todo a um ponto
O meu instinto é uma ave Pousando ao acaso Sobre as nuvens passando
As chamas das palavras certas Não se apagam Nas cinzas do presente
Declinando os cinco sentidos Como se fossem verbos meus Conjugo o sol e o tempo
As flores de plástico Não murcham no tempo Nem brilham ao sol
Transformada a pedra em pó Ficaremos suspensos na vertical Do lugar de queda
Alterno o lenho e o sangue Depois construo uma jangada E perco-me nos arcos do mar
Montando cavalos em pêlo Aprendi a fraqueza da carne E a dureza do chão
Apenas as boas sementes Recordarão as raízes E o dia em que o vento as levou
Ajude-nos a manter vivo este espaço de descoberta e reflexão, onde palavras tocam corações e provocam mudanças reais.