Coleção pessoal de fernanda_pcr
O RIO E O OCEANO
Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, os cumes das montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos
povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar
nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência. Você
pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo
desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de
desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é
renascimento.
Então, não se preocupe. As coisas estão acontecendo perfeitamente bem para você.
A palavra coragem é muito interessante. Ela vem da raiz latina cor, que significa "coração". Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça; receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos, palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas, eles se escondem.
O caminho do coração é o caminho da coragem. É viver na insegurança, é viver no amor e confiar, é enfrentar o desconhecido. É deixar o passado para trás e deixar o futuro ser. Coragem é seguir trilhas perigosas. A vida é perigosa. E só os covardes podem evitar o perigo – mas aí já estão mortos. A pessoa que está viva, realmente viva, sempre enfrentará o desconhecido. O perigo está presente, mas ela assumirá o risco. O coração está sempre pronto para enfrentar riscos; o coração é um jogador. A cabeça é um homem de negócios. Ela sempre calcula – ela é astuta. O coração nunca calcula nada.
O Amor não deveria ser exigente,
senão, ele perde as asas e não pode voar;
torna-se enraizado na terra e fica muito mundano.
Então ele é sensualidade e traz grande infelicidade e sofrimento.
O amor não deveria ser condicional, nada se deveria esperar dele.
ele deveria estar presente, por estar presente, e não por alguma recompensa, e não por algum resultado.
Se houver algum motivo nele, novamente seu amor não poderá se tornar o céu. Ele está confinado ao motivo;o motivo se torna sua definição, sua froteira.
Um amor não motivado não tem fronteiras:
É a fragância do coração.
Relacionamento significa algo completo, acabado, fechado. O amor nunca é um relacionamento: amor é relacionar-se - é sempre um rio fluindo, interminável.
Estou aqui para dizer-lhes algo
que é absolutamente inacreditável:
que vocês são deuses e deusas.
Vocês se esqueceram disso.
Faça todas as coisas criativas, faça o melhor a partir do pior - isso é o que eu chamo de arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um amor, um desfrute, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de toda a sua vida.
Sua morte não será feia como ordinariamente acontece todo dia com todo mundo. Se a morte é feia, isso significa que toda a sua vida foi um desperdício. A morte deveria ser uma aceitação pacífica, uma entrada amorosa no desconhecido, um alegre despedir-se dos velhos amigos, do velho mundo.
Desenvolver-se significa mover-se a cada momento mais profundamente no princípio da vida; significa afastar-se da morte - não ir na direção da morte. Quanto mais profundo você vai para dentro da vida, mais entende a imortalidade dentro de você. Você está se afastando da morte: chega a um momento em que você pode ver que a morte não é nada, apenas um trocar de roupas ou trocar de casas, trocar de formas - nada morre, nada pode morrer. A morte é a maior ilusão que existe.
A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes por todo o ano. Somente então você pode se desenvolver, você pode florir. Transforme pequenas coisas em celebração. Tudo o que você faz deveria expressar a si próprio; deveria ter a sua assinatura. Então a vida se torna uma celebração contínua.
Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse direito.
[A arte de viver]
O homem nasceu para se realizar na vida, mas tudo depende dele. Ele pode não alcançar. Pode continuar respirando, pode continuar comendo, pode continuar envelhecendo, pode continuar indo em direção à sepultura – mas isso não é vida. Isso é uma morte gradativa, do berço à sepultura, uma morte gradual ao longo de setenta anos. E porque milhões de pessoas que o cercam estão morrendo, essa morte gradual, lenta, você também começa a imitá-los. As crianças aprendem tudo com as pessoas que os cercam, e nós estamos cercados pelos mortos. Assim, primeiro temos que entender o que quero dizer com “vida”. A vida não deve ser simplesmente um amanhecer. A vida deve ser um crescer. E trata-se de duas coisas diferentes. Qualquer animal é capaz de envelhecer. Mas crescer é um privilégio dos seres humanos. Apenas poucos reivindicam esse direito.
Crescer significa penetrar, a cada momento mais profundamente, nos princípios da vida; significa ir se afastando da morte – e não ir em direção a morte. Quanto mais fundo você for na vida, mais perceberá a imortalidade dentro de si – você está afastando a morte; nada mais é do que trocar de roupa ou de casa, trocar de forma – nada morre, nada pode morrer. A morte é a maior ilusão que existe.
Para crescer, apenas observe uma árvore. À medida que a árvore cresce, suas raízes se aprofundam. Existe um equilíbrio: quanto mais alto a árvore cresce, mais profundamente suas raízes crescerão. Você não pode ter uma árvore de 50 metros de altura com raízes pequenas; elas não poderiam sustentar uma árvore tão imensa. Na vida, crescer significa aprofundar-se dentro de si mesmo – é aí que suas raízes se encontram.
Para mim, o princípio fundamental da vida é meditação. Tudo mais vem em segundo plano. E a infância é a melhor época. À medida que você envelhece – e isso significa que você está se aproximando da morte – fica mais difícil entra em meditação. Meditação significa melhorar na sua imortalidade, mergulhar na sua eternidade, mergulhar na sua divindade. E a criança é a pessoa mais qualificada, porque ainda não foi contaminada pelo conhecimento, pela religião, pela educação e por todo tipo de lixo. Ela é inocente. Mas, infelizmente, sua inocência está sendo condenada como ignorância. Ignorância e inocência têm uma certa semelhança, mas não são a mesma coisa. A ignorância também é um estado de não saber, tal qual a inocência. Mas também existe uma grande diferença, que tem sido esquecida por toda a humanidade até agora. A inocência é inculta – mas também ela não tem o desejo de ser culta. Ela está absolutamente satisfeita, preenchida. (…)
O primeiro passo na arte de viver será criar uma divisória entre ignorância e inocência. A inocência tem que ser amparada, protegida, porque a criança trouxe consigo o maior dos tesouros, o tesouro que o sábio encontra depois de árduos esforços. Os sábios dizem que se tornaram crianças de novo, que renasceram. (…)
Quando você chegar a entender que perdeu sua vida, o primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência. Abandone o seu conhecimento, esqueça suas escrituras, esqueça suas religiões, suas teologias, suas filosofias. Volte a nascer, torne-se inocente – e isso está em suas mãos. Limpe sua mente de tudo que não é seu conhecimento próprio, de tudo que é emprestado, de tudo que veio através da tradição, dos costumes, se tudo o que foi dado a você pelos outros – pais, professores, universidades. Simplesmente livre-se de tudo isso. Volte a ser simples, seja uma criança novamente. E este milagre é possível através da meditação.
A meditação é simplesmente um estranho método cirúrgico que remove tudo aquilo que não é seu e preserva somente aquilo que é seu autentico ser. Ela queima tudo mais e o põe de pé, nu, sozinho, ao sol, ao vento. É como se você fosse o primeiro homem a pousar na face da Terra – não conhece nada, que deve descobrir tudo, que deve se tornar um buscador, que deve partir numa peregrinação.
O segundo princípio é a peregrinação. A vida deve ser uma busca – não um desejo, mas uma procura; uma ambição para se tornar isso ou aquilo, o presidente de um país ou um primeiro-ministro, mas uma busca para descobrir “quem sou eu?” É muito estranho que as pessoas não saibam que não saibam quem elas são estejam tentando se tornar alguém. Elas nem ao menos sabem quem são neste exato momento. Elas nem conhecem o seu próprio ser – mas tem o objetivo de “vir a ser”. “Vir a ser” é uma doença da alma. O ser é você. E descobrir o seu ser é o começo da vida. Então cada momento traz uma nova alegria, uma nova descoberta. Um novo mistério abre suas portas, um novo amor começa a crescer em você – uma nova compaixão, que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade para a beleza, para a bondade.
Você é tão sensível que até mesmo a menor folha de grama possa ter uma imensa importância para você. Sua sensibilidade deixa claro que a menor folha de grama é tão importante para a existência quanto a maior estrela. Sem essa folha de grama, a existência seria menos do que ela é. E essa folha de grama é única, insubstituível, ela tem sua própria individualidade.
E essa sensibilidade criará novas amizades para você – amizade com as árvores, com os pássaros, com os animais, com as montanhas, com os rios, com os oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais rica na medida em que o amor cresce, em que a amizade cresce. (…)
À medida que você se torna mais sensível, a vida vai ficando maior. A vida é um pequeno lago, ela se torna oceânica. Não fica limitada a você, e a sua esposa e as suas crianças – ela não tem limite algum. Toda essa existência se torna sua família e, ao menos que toda existência passe a ser sua família, você não conheceu o que é a vida - porque nenhum homem é uma ilha, todos estamos relacionados. Somos um vasto continente, ligados de milhões de maneiras. E se nossos corações não estiverem cheios de amor pelo todo, nossa vida se torna menor na mesma proporção.
A meditação lhe trará sensibilidade, uma profunda sensação de pertencer ao mundo. Este mundo nos pertence, as estrelas nos pertencem; nós não somos estrangeiros aqui. Nós pertencemos intrinsecamente à existência. Nós somos parte da existência, somos o seu coração.
Em segundo lugar, a meditação lhe trará um grande silêncio – porque todo o lixo da existência se foi. Os pensamentos que são parte desse conhecimento também se foram... um imenso silêncio, e você fica surpreso: este silêncio é a única música que existe. Toda a música é um esforço para expressar, de alguma forma, este silêncio.
Os homens de visão, do oriente antigo, foram muito enfáticos em um ponto: todas as grandes artes – música, poesia, pintura, dança, escultura – todas nascem da meditação. São um esforço para, de alguma forma, trazer o que não pode ser conhecido, para aqueles que não estão prontos para ir em peregrinação – são dádivas para aqueles que não estão prontos para a peregrinação. Talvez uma música possa despertar o desejo de ir em busca da fonte, talvez uma estátua...
Da próxima vez que você entrar em um templo de Buda ou de Mahavira, sente-se em silêncio, observe a estátua, porque ela foi feita de tal maneira, com tais proporções que, se você a observar, será tomado pelo silêncio. É uma estátua de meditação, nada tem a ver com Gautama Buda ou Mahavira. (…)
Neste estado oceânico, o corpo assume uma determinada postura. Você mesmo já presenciou isso, mas não estava alerta. Quando está com raiva, você já observou? – seu corpo assume uma determinada postura. Na raiva você é incapaz se manter suas mãos abertas, na raiva você cerra os punhos. Na raiva, você não pode sorrir – ou pode? Com uma certa emoção, o corpo tem que assumir uma determinada postura. Essas pequenas coisas estão profundamente relacionadas com a interioridade. (…)
Uma determinada ciência secreta foi usada, por séculos, para que as gerações seguintes entrassem em contato com as experiências das gerações anteriores – não através de livros, não através de palavras, mas através de algo que vai mais fundo – através do seu silêncio, através da meditação, através da paz. Quando seu silêncio cresce, sua afabilidade e seu amor crescem da mesma forma também; sua vida se torna, a cada momento, uma dança, uma alegria, uma celebração.
Você pode ouvir os fogos de artifício lá fora? Você pensou no porquê de, em todo mundo, em toda cultura, em toda sociedade, existirem alguns dias do ano para celebração? Esses poucos dias de celebração são apenas uma compensação – porque essas sociedades tiraram toda a celebração de sua vida, e, se nada é dado a você em compensação, sua vida pode se tornar um perigo para a cultura. Toda cultura precisa lhe dar alguma compensação, para que você não se sinta totalmente perdido na infelicidade, tristeza. Mas essas compensações são falsas. Esses fogos de artifício e essas luzes lá fora não podem fazê-lo regozijar-se. São somente para as crianças; para mim são apenas uma amolação. Mas no seu mundo interior pode haver luzes, melodia, alegria continuamente.
Lembre-se sempre de que a sociedade vai lhe dar compensações quando sentir que à parte reprimida pode explodir em uma situação perigosa, se não for compensada. A sociedade sempre encontra alguma maneira de permitir que você libere o que está reprimido, mas isso não é verdadeira celebração, e não pode ser. A verdadeira celebração deveria brotar de sua vida, em sua vida.
A verdadeira celebração não pode acontecer de acordo com o calendário: no dia primeiro de novembro você vai celebrar. Estranho, o ano inteiro você é infeliz, e, no dia primeiro de novembro, você, de repente, sai da infelicidade, esta dançando. Ou a miséria era falsa, ou o dia primeiro de novembro é falso; ambos não podem ser verdadeiros. E uma vez que termine o dia primeiro de novembro, você volta ao seu buraco negro, cada um na sua miséria, cada um está na sua ansiedade.
A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes durante todo o ano. Somente então você pode crescer, você pode florescer. Transforme as pequenas coisas em celebração. (…)
Mesmo que você adoeça e tenha que ficar de cama, você fará desses momentos de cama, momentos de beleza e de alegria, momentos de relaxamento e repouso, momentos de meditação, momentos de ouvir música. Não há necessidade de ficar triste por estar doente. Você deveria estar feliz; todos estão no escritório trabalhando, e você na sua cama como um rei, relaxando – alguém está lhe preparando um chá, o samovar está cantando uma canção, um amigo se ofereceu para vir trocar flauta para você... Essas coisas são mais importantes do que qualquer remédio. Quando estiver doente, chame um médico. Mas, mais importante, chame aqueles que o amam, porque não existe remédio mais importante que o amor. Chame aqueles que podem criar beleza, música, poesia em volta de você porque não existe nada que cure como uma atmosfera de celebração.
O remédio é a forma mais baixa de tratamento. Mas parece que esquecemos tudo; assim temos que depender de remédios e ficar mal-humorados e tristes – como se estivesse sentindo falta de alguma alegria que pudesse ter no escritório! No escritório você era miserável – apenas um dia de folga, e você se apega até mesmo à infelicidade; não quer abrir mão dela.
Faça tudo de uma maneira criativa: o pior faça melhor – isso é o que eu chamo de “a arte”. E se um homem viveu toda sua vida fazendo de cada fase, algo belo, amoroso e feliz... um amor, uma alegria, naturalmente a sua morte será um ponto culminante de empenho de toda a sua vida.
Os últimos toques... Sua morte não será feia como normalmente acontece, todos os dias com todo mundo. Se a morte não tem beleza, significa que toda sua vida foi um desperdício. A morte deveria ser uma tranquila aceitação, um amoroso mergulho no desconhecido, um alegre adeus aos velhos amigos, ao velho mundo. (…)
Comece com a meditação, e coisas irão continuar crescendo em você – silencio, serenidade, alegria, sensibilidade. E tudo o que brotar da meditação, tente trazê-lo para a vida. Compartilhe-o, porque tudo o que é compartilhado cresce rapidamente. E quando tiver alcançado o momento da morte, saberá que não existe morte. Você pode dizer adeus, mas não há necessidade de lágrimas de tristeza – talvez lágrimas de alegria, mas não de tristeza.
Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso.
Opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências.
O coração vê as coisas com clareza
e o amor é sua qualidade natural - não há necessidade de treinamento.
E esse amor não tem o ódio como contraparte.
Antes de tudo, o amor
Senta aqui do meu lado,
Vamos ver o sol se por.
Apreciar esse momento.
Antes de tudo, o amor.
Eu aqui do seu lado,
Vejo a vida tão melhor.
Juntos nesse momento,
Me aquece a alma o teu calor.
Espera anoitecer,
Ficamos a sós.
E entre nós,
Tudo pode acontecer.
O sol tá indo embora,
Me abraça, me namora
Sob a luz do luar.
Solidão da o fora!
Te quero a toda hora,
Vem me amar.