Coleção pessoal de FabricioHundou
VAIVÉM AQUOSO
reprofunda
pedra bailarina
molda-se feito libração
y vaivém aquoso
quer viver a sede sem mágoa
lança cabelos aos cardumes
diz que ama porquê ama pois
pondera a gagueira ao ver
o a(mar) explícito/abundante/imponente
tomar ossos & musculaturas
feito o erotismo do
abraço
BOCADO
nem tanto me abrasei
às bocas do fogão
tampouco me rebucei
na boca da mata
ou cai em estado líquido
em boca de lobo
virei foi sorte
na boca do sapo
teu nome: sotaque
de boca de boca
na anoxia
no bocejo
no grito y desejo
um bocado de fome
da boca
pra
fora
NUBLATOTÔ
parecia faltar fôlego
umidade sem ter
aguadouro curadoro
pôs ácido lático a circular
mas
se o sol é relógio
tenho que aprender
a contar chuviscos
seja nublado ou sem riso
em qualquer algia - nem todo dia há azul
Escorpião na Lua nos chama
a ver matizes por detrás das
franjas de
Omolu
GUIDOM
tem
muito de mim nxs velhxs que forçam o pigarro
nxs qu'escondem o bocejo y teimam quando a hérnia de disco comprime
captando o hiato da dor nas costas
tipo um timbre afinado
um álbum inteiro gravado
sob o autodiagnóstico de
"muito túnel pra pouca luz"
hérnia que nem sabe que tudo agora é por internet: pagamento, remédio, comida e amor
transa, transe, trânsito
meu modo maria-passa-na-frente
Exu sinaleiro
Ogum é meu guidom
Oxum apitando lírica
[fiz um pranayama aqui]
pois
tem muita gente ensaiando o traquejo de pôr à chave certa de primeira sem precisar revirar o molho inteiro caçando uma por uma como se a sorte estivesse na adivinhação tentada ou na procrastinação de fazer um macarrão a noite pós larica
morrer de fome/viver de silêncio
y
nenhum GPS guia
a
dispersão
contínua
MÓVEL
dança
cambaleia
oscila
gangorra
ferryboat
barco
gira
gira
tudo ao móvel
como deve ser
(2x)
sistema vestibular
propriocepção
memória (um carrossel)
Lavoisier / Lei Divina
linha do tempo
tempo-pai
mãe menininha
transitório-hoje
tudo ao móvel
como deve ser
T A I O B A
quero una muda de taioba
debruçar-me em toda folha
pôr-me frágil ao frágil
ainda que a grandeza seja
o que resta no espaçamento
entre as horas do réveillon
y minha lágrima-pedestre quando
vê a foto de meu póstumo pai
na carteira de meu irmão
uma resma de taioba
custa Ícaros - para quem vai saber:
Ícaro não pôde voar tanto
não tinha crença em Akará-Vento
Oyá dizia
também me emociona erês saindo das escolas
sinto a eternização do rosa desbotado dum
prédio que ignorei todo o resto
todo o tamanho que havia
pois só a cor pode explicar
pois só a cor pode explicar
s'esse banzo
rema ou rima
ficamos enquanto puder
SER ERRADO
restou
de um rebuliço cálido
um vão / inane / cavo
espaço amorfo y vago
espaço vasto / "ecooso"
espaço sideral de novo
nem certo nem errado
légua portátil (de carregar no bolso)
a margem perdeu função
antes deixasse o chão
a água se engoliu
se era verde : partiu!
praxes do meu Cerrado
há seca y
ipês
desabrochados
PERPENDICULAR À ENCRUZILHADA
prospero pela travessia
perpendicular à encruzilhada
onde se agradece pelos rumos
ebó às léguas -
tantas tantas estradas
aonde
faço-me
agente/causador/recepetor
artista manifesto
apaixonado por homem
assobiador de lembrança
macramê nas entranhas
caminho largo (laroyá)
asé y fé em deus
sinto que amor de cada dia
é o meu
AZUL-MUJER
homem que escreve bonito
um céu azul-mujer está limpo
pra tu passar
levar cores na água dum riso
mandar cartão postal
um logradouro dos
teus segredos
EPA!
silêncio não é paz à beça
anjo da guarda tira asa
trabalho (doze) - relógio que pesa
vento que abre a porta
tiro que não se ouve
conversa-trem que descarrila
saudade que sempre urge
ligação que não se completa
Mercúrio: dono dos sopros
Oxalá retrógrado
meu afeto não tem
pressa
DECISO
vôte
se não lhe faltasse a verdade
nem todos precisassem
saber de ti - ora, só sentir
já é grande sabedoria
filosofias dum redemoinho emocional
dor de siso nascendo pra morder
a língua que se cala
ao beijar
teus
dedos
SARAVÁ!
cadeira com encosto
arruda em um dos bolsos
garapa y maracujina
sopro na minha venta
desculpa de maré alcalina
tiros de saco bolha
ou alguma vírgula
pr'eu
respirar
CEGA
tenho da harmonia
um trilho
aresta
percurso as cegas
cílios que caem (outono)
sotaque da gente que me cerca
peixe elétrico: desfibriladores
crase dando ar à pedra
las dores de un ninho
que sabe fazer casa na distância
y braço de sofá
em todo um colo
que
rejeita
BRANCO CAPITAL
"Brasília é da cor do concreto cru; brancos geométricos sob o céu azul. Tem mais satélites do que próprio sistema solar e, porventura, sol não falta. Eis o que torna um solo de gente fria, que se cruza todos os dias e se perde no silêncio das tesourinhas - cujas só cortam nossos juízos."
CAPRICA
Capricórnio
De córnea hígida y
Pupilas dilatadas
Nos córneos
A bússola
Aponta sem perder
Foco
Hora
QUE PENA
Uma pena só: que pena!
Fragmento de liberdade
Fruto maduro da asa branca que
Por falta d'água
bateu em nuvens carregadas
y fez
Lufadas pra
Minha saudade
Voar
ASÉ FÉ
Laroyê bará
Abra caminho tranquilo pr'eu passar
Sopra vento, Oyá
Levai-me corpo y alma
Eparrey: Queira qu'eu
Esteja onde puder estar
Kaô Kabecilê
Justiça y martelo firme
Em dias de se padecer
FOSSE LIGEIRO
Tu
Presente duma vida
Que vive há dias em
Nublados que me quaram
Embrião de cambaxirras
Eco alto que se ouve em futuro
Passado ligeiro
Passou, por mim, engomado
Vestido em minha roupa
Façamos tranças
De nossos pêlos eriçados
Contato com contato
Envaidecidos (ego sem dolo)
Em leões lunares:
Pois há beleza nesse
nosso
(a)temporalizar