Coleção pessoal de EvertonArieiro

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Voe, filho, voe; mas não deixe de pousar e repousar no lugar em que estão os teus pais.

Não se escreve uma nova história por cima de uma antiga. A antiga tem seu valor, mas no momento, a escolha é pela novidade. Então é melhor apagar a outra.

Engana-se quem pensa que o dia dos pais é uma vez ao ano.

Nós, achamos que damos a vida aos filhos, quando na verdade, eles dão sentido às nossas.

Coisa boa é termos as pessoas. Elas são, sim, insubstituíveis, afinal, as particularidades de um não se repetem em outro. Os assuntos, podem ser parecidos, mas a liberdade pra falar com alguns não se repete ao falar com outros. Rotineiramente eu percebo semelhança nas pessoas; mas vejo também que os lugares tem donos, e não há quem ocupe certos lugares.

Um dia para ser especial, precisa só de pessoas especiais.

Lembro a alcunha 'O melhor do Brasil é o brasileiro'. De fato, 'eles' gostam muito do brasileiro: aquele que tem um título de eleitor e acredita em coelho da páscoa, e espera o papai noel pela chaminé.

Alguns reconhecem, porque são gratos;
Outros recorrem, porque não encontram outras alternativas.

Aí vem o Neymar, que é, indiscutivelmente um ótimo jogador, faz um gol, e eu sou obrigado a ouvir o Galvão dizer que a nação espera que ele, o Neymar resgate o orgulho do país. O orgulho só seria resgatado se as organizações governamentais deixassem o povo em paz, e parassem de tirar direitos e patrimônios adquiridos com tanto esforço.

As cores de Helena

Hoje recordo o ontem, um dia em que a princípio tudo era normal, tendencioso à mesmice, sem surpresas. Minha rotina estava toda escrita, e pelo que parecia, não havia nada no caminho capaz de transformar aquilo que era tão comum em algo estrondoso.

Fui cortar o cabelo, algo normal de se fazer pelo menos uma vez ao mês. Enquanto esperava, conversava, mexia no telefone, apreciava a vista do chafariz, que por causa da luz solar e das flores à sua volta, parecia colorido.

Sentia que as cores me atraíam mais do que o meu próprio aparelho telefônico. O lugar era simples, não era para chamar tanto assim a minha atenção, mas não conseguia olhar para outro lado, até meu telefone tornou-se desinteressante.

Pedi licença aos que estavam por perto, levantei-me e fui andando em direção ao chafariz, ainda não o tinha visto brilhando, colorido daquele jeito.

De um lado, uma criança andava de bicicleta, nada anormal nisso. Um outro menininho, estava sentado em um banquinho jogando pipoca, as que caíam no chão eram atrativos para os pombos, que se fartavam naquele lugar.

O que ainda não entendia era o reflexo colorido, que me atraiu enquanto eu estava no salão, do outro lado da rua.

Parei no meio da praça. Será que alguém achou estranho? Será que alguém percebeu que procurava por algo?

Só queria entender, discernir aquelas cores, afinal, inicialmente pensei que faziam parte da paisagem fixa do lugar, ou que fosse reflexo da luz solar, mas ainda não havia descoberto, e isto tornara-se um segredo a ser desvendado.

Circulei o chafariz, ainda seguindo as cores, que insistiam em me atrair. O reflexo desapareceu enquanto eu circulava, e à minha direita, um senhor, um velhinho pachorrento ostentava uma cesta colorida sobre o banquinho cinzento da praça.

Admirei a sua solidão , e perguntei-me sobre o quê estaria ele fazendo naquele lugar, naquele dia, naquela hora. É interessante que perguntei a mim mesmo, não a ele.

Um boné com o logotipo de algum posto de combustível, deixava a mostra um pouco de sua grisalhisse, a camisa xadrez, o suspensório, o chapéu, e um livrinho no colo; coisas características de alguém de sua idade, que não era, de acordo com meus conceitos, apropriada para sentar-se em um local daquele à espera de alguém, para um encontro romântico.

Por ter minha curiosidade aguçando a cada observação, sem dizer palavra alguma, sentei-me ao seu lado, ousei sentar no mesmo banquinho; agora éramos três elementos ali: eu, o curioso; o velhinho, o pachorrento e a cesta, a colorida.

-Você deve se perguntar sobre quem é a felizarda que receberá de presente a cesta.- Disse ele, olhando para o chafariz, e enquanto isso, seus olhos distantes, brilhavam.

-É Helena, e ela não está mais aqui. Mas era aqui que vínhamos comemorar o aniversário dela, porque foi aqui que nos conhecemos, e ela gostava de dar pipoca aos pombos. Na cesta, não há flores, só pipoca, e eu as jogarei a eles, do mesmo jeito que Helena fazia, sem pressa, sem a mínima vontade de ir embora; comemorarei o aniversário dela, porque ela se foi, mas está aqui no clima, no ambiente que ela mesmo criou. Eu sei que os pombos sempre chegavam perto de mim por causa dela.

Depois de ter dito isto, abriu a cesta e começou a jogar pipocas, e enquanto jogava, ia falando lentamente sobre a longevidade do relacionamento nascido há tanto tempo, e que, mesmo tendo Helena partido sem se despedir, o relacionamento não havia se consumado. Ele ainda fazia questão de agradá-la, indo aos lugares que ela gostava, e citando sempre

seu nome, e me disse que a todos a quem contava a história, deixava claro sua vontade de reencontrá-la.

Criar os filhos é uma dádiva. Uma confiança depositada, que nos enche de orgulho.

O preço

Quanto vale?
Um olhar só teu;
Quanto custa?
Ter um beijo teu;
O que faço?
Por um sorriso teu.

Venha hoje;
E me abrace cedo;
Venha a tarde;
E leve o medo;
Volte à noite;
Guarde o meu segredo.

Sobre ontem;
Desconhecia a ti;
Do amanhã;
Sei que nada sei;
Qual teu nome?
É o meu presente.

Eu te pago;
Pelo riso;
Tua boca;
Meu desejo;
Por ela eu pago;
A moeda é beijo.

O dia 11 de setembro de 2011 vai ficando para trás. Mas a cada ano, o terrorismo é mais presente no mundo.

Para refletir.

Conta-se de um homem, muito bom, capaz de surpreender, muito trabalhador, e capaz de dar à sua família, sempre os melhores presentes.
Diziam que sua esposa era uma sortuda, uma pessoa que não tinha do que reclamar, afinal, vestia-se sempre bem, e nada lhe faltava.
Um dia, às vésperas de seu aniversário ela confidenciou que uma amiga havia recebido de presente, um buquê de flores, de cores muito bonitas. Ele disse que a surpreenderia dando-lhe o cartão de crédito para que ela comprasse roupas, sandálias e bolsas, afinal, mulher gosta dessas coisas, e isto é muito melhor do que flores.
Outra ocasião, ela repetiu a história da amiga, e ele repetiu surpreendê-la, dando-lhe um carro de presente. Agora, ele não precisava ir com ela aos lugares que lhe fossem cansativos, e ela podia demorar o tempo que fosse quando estivesse no salão, ou em qualquer lugar.
Mas chegou uma ocasião em que ele estava pensando nela, depois do carro, quase nem se viam, cada um ia para um lado, um carro chegava em casa, e o outro saía. Nesse dia, ele não sabia o que fazer ou dar de presente, até que encontrou um amigo muito próximo, de muita confiança.
O amigo se ofereceu para lhe fazer companhia até o cemitério, para visitar o túmulo daquela mulher, e, finalmente dar a ela o que ela sempre quis: flores.
É uma pena que ele esperou não tê-la para dar-lhe o que mais queria.

Eu olho aos cantos, mentalizo meus muitos livros, escritos ao longo dos anos. Em alguns, visualizo as imagens de uma figura derrubada, os tropeços em pedras, das mais diversas, em pés de outros, e às vezes nas próprias pernas.
Penso que algumas páginas poderiam ser arrancadas, jogadas em algum lugar que ninguém fosse ver, principalmente as que contam dos tombos, das vergonhas, ou qualquer situação que valha como vexatória. Mas ao ler a página seguinte, a figura que estava ilustrada caída, está se levantando; descubro que se arrancar a página que tem o tombo, terei que apagar também a página seguinte.
O livro não é uma página, é uma história, cuja alegria de se levantar só existe pelo fato de se ter sentido a dor da frustração e dos tombos. Todas as páginas valem de alguma forma, as particularidades são suas marcas, um dia feliz, outro não tão feliz assim, um dia pra se lembrar, outro pra esquecer.
O livro vai indo, virando páginas, algumas apenas com desenhos, outras cheias de poesias, outras demagogas, outras irônicas, sem contar aquelas cheias de contradições; mas todas reunidas, pra que a vida seja acrescida de aprendizagem.
Mentalizo meu livro, minha coleção, que insisto em escrever, rir de mim e dos outros, das coisas que lembro e das que esqueci, dos conhecidos e dos que nem vi, o melhor livro é o que eu escrevo de mim.

Serviços prestados com excelência nem sempre são aqueles em que agradamos a todos; ao contrário disso, a excelência consiste em fazermos o excelente, mesmo com o vento contrário; consiste na capacidade de manter-se firme mesmo com a existência da crítica; tem a ver com a manutenção da boa mentalidade inicial durante todo o trajeto. Mas uma coisa que fascina, é a capacidade de suportar os desanimados, que sempre são maioria, os barulhentos, que são costumeiramente os mais 'ocos', os tolos, que sempre são os mais 'palpiteiros'; suportar, lutar e relutar, resulta em excelência.
É complexo, por isso a procura é pequena.

Quem vai pagar?

Entre tantos assuntos que são chamados de polêmicos, sempre há algum que se sobressai. No momento um deles tem ganhado destaque, campanhas na internet e muitos comentários que manifestam a revolta dos vivos em favor da vida.
Hei de concordar que a vida faz o melhor dos barulhos que há. Que abortar é impedir este barulho, sim, uma vida é impedida por uma outra que não é capaz de dar vida, portanto, não deveria ter o direito de tirar uma.
Claro que todos temos pontos de vista, e é necessário respeitar opiniões, levando em conta que não é possível influenciar no pensamento alheio.
No meu caso, não vejo necessidade de polemizar sobre o assunto. Afinal, a questão é a vida, e a vida é a razão da sociedade, a vida é o substantivo responsável por todos os tipos de expressões.
Mas quando o assunto é criminalização, legalização, é imprescindível que saiamos do lado emocional, que prevê soluções simples e rápidas. Principalmente quando o problema não é nosso. Surgem então algumas perguntas:
“Uma mulher que não quer ter um filho há de criá-lo com atenção e amor? Os locais e processos para adoção são avançados a ponto de impedir que uma criança sofra? Uma criança que vem ao mundo contra a vontade materna, corre o risco de trilhar os caminhos da marginalidade?
São algumas das questões para as quais a emoção deve sair de cena na hora da resposta. Para estas não se deve levar em conta os milagres históricos já ocorridos, mas deve-se olhar para a sociedade, esta na qual estamos inseridos.
Particularmente, defendo que trata-se de um crime contra a vida, de fato. Mas defendo que o crime que uma pessoa comete em si mesma não me prejudica em nada; a consequência é dela, a saúde é dela e se o amor dela não é suficiente para ter a tal criança, a opinião dela deve ser respeitada.
Não defendo a legalização. Porque existem prioridades para o Sistema Único de Saúde, o SUS, que não atende à demanda dos que comparecem às unidades à meia-noite, queimando em febre, e não há medicamentos e nem um atendimento compatível com os impostos que pagamos. Quem quiser fazer um aborto, que pague por isso, afinal, conceber e algo opcional, diferente de uma simples gripe, para não citar as doenças graves para as quais nem se consegue um atendimento.
Não apoio a criminalização. Mas presumo que uma pessoa que pensa em abortar o faz em desespero, na surpresa de saber que poderá ter uma vida para a qual não há estrutura familiar, psicológica, e ou financeira para educar, criar e formar um cidadão.
A consequência já está na pessoa, essa que pode ser física e psicológica, portanto, eu que estou no meu aconchego olhando para os filhos que sempre quis ter, não devo pensar que a realidade das outras pessoas é igual a minha.
Tudo que recebe atenção e cuidados, floresce. O bom filho, um bom cidadão, tendenciosamente, será aquele que for bem criado. Para que isto ocorra, sua concepção deve ser espontânea, com a máxima satisfação por parte de quem o carrega.
O feto é uma vítima. A criança que vive sem receber o afeto, a educação, a atenção familiar, é tão vítima quanto à outra.
Assim, defendo a vida, a vida que floresce. Quem quiser abortar, não será por mim criminalizado, porém, não me sinto na obrigação de patrocinar o ato.
Prefiro que cuidem do prioritário. A prioridade é pensar antes de conceber

Ela é a pessoa que não tem redes sociais; que nunca leu uma postagem que fiz; e nunca vai ler; nem adianta eu dizer nada em segunda pessoa do singular; mas é ela a pessoa que bateu, que brigou, que arrebentou com qualquer situação que me fosse contrária, só porque é a minha mãe, a pessoa a quem eu amarei sempre.

Eu tinha uma professora anônima, a Vida, e ela ficou escondida por muito tempo. Até que um dia começou a aparecer com frequência, e a trazer de suas lições, suas atividades, suas provas. Em uma dessas aulas, ela me trouxe você, e me ensinou a não mais conjugar verbos no singular; tudo em primeira pessoa do plural. Agora, já são anos, e em tudo, somos nós. Você é a alegria da casa, você é o barulho que não pode faltar, você é o amor que temos, e a felicidade que mora aqui. Feliz aniversário. Que o amor lhe seja um companheiro constante; que tua felicidade seja longeva, e o riso esteja sempre disponível ao teu rosto. Que em toda a poesia de tua vida, haja versos que tragam o amor, e todas as belezas que são frutos da vida. Amo você, do mesmo jeito que amo a mim.

1990, uma escola em São Bernardo do Campo, e a minha primeira professora, Ester. Ela me deu um livro, "A loja da dona raposa". Tenho ainda o livro, e a dedicatória que ela escreveu. "Everton, só se aprende a ler, lendo, a escrever, escrevendo, e a amar, amando". O tempo passa e guardo as sabedorias que me ensinaram. Nem sei se ela ainda vive, se ainda é professora, mas sei que ela me ensinou algo relevante.