Coleção pessoal de EvansAraujo1

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***Mais Um Dia**

Rami , acordou com o toque do despertador e sentiu, como sempre, o vazio ao seu lado. O travesseiro onde Adam, costumava dormir ainda tinha o leve perfume dele, mesmo meses depois que ele havia partido. Ela puxou o cobertor um pouco mais, como se pudesse esconder o vazio dentro dela, mas o dia precisava começar.

"É só mais um dia", pensou.

Enquanto caminhava até a cozinha, as memórias insistiam em se misturar aos passos. Lembrava-se de como eles costumavam preparar o café juntos, a risada de Adam ecoando pelas paredes da casa enquanto ele fazia piadas sobre suas manhãs preguiçosas. Rami abriu o armário, pegou a caneca favorita dele e, por um instante, hesitou. Aquele ritual parecia sem sentido agora, mas algo a fazia repetir os passos, talvez na tentativa de se sentir próxima dele outra vez.

Ela saiu para o trabalho e, a cada esquina da cidade, alguma lembrança surgia – um restaurante onde almoçaram, a praça onde sentaram para conversar até o anoitecer, o café onde planejavam os sonhos que jamais aconteceriam.

Ao longo do dia, as pessoas ao redor de Rami não percebiam o que se passava por dentro dela. Para eles, era apenas mais um dia normal. Mas para Rami , era mais um dia sem ele. Um dia de dor silenciosa, de um desejo calado de que, de alguma forma, ele pudesse entender a falta que fazia.

Naquele fim de tarde, sentada no parque onde sempre passeavam, ela olhou o pôr do sol e tentou se convencer de que o tempo iria curar tudo, que a saudade um dia se tornaria apenas uma lembrança. Ela sabia, porém, que algumas marcas ficam mais profundas, e que o coração demora para aprender a andar sozinho.

Mesmo que ninguém percebesse, Rami sabia que cada dia era uma batalha. Ela apenas respirava fundo, murmurava para si mesma que tudo ficaria bem... e, então, seguia em frente.

Evangehlista Araujjo O criador de histórias

Havia um cachorro no quintal. Toda vez que eu me aproximava para alimentá-lo, ele vinha e me mordia. Eu levava petiscos, tentava ganhar sua confiança, mas a reação era sempre a mesma: um olhar desconfiado seguido de uma mordida. No começo, eu não entendia. Por que ele reagia assim? Eu só queria cuidar dele, mas parecia que ele via em mim um inimigo.

Com o tempo, fui descobrindo o motivo. Esse cachorro, antes de estar comigo, tinha um dono que o maltratava. Alguém que não o alimentava direito, não lhe dava carinho, e talvez só se aproximava para punir ou ignorar suas necessidades. Esse passado de dor e desconfiança se refletia em cada mordida que ele me dava, em cada vez que ele se retraía ao menor gesto de aproximação.

Mesmo assim, eu insistia. Dia após dia, voltava ao quintal, levando comida e esperando pacientemente que ele me visse como alguém diferente. Mas nada mudava. Ele continuava me mordendo, como se eu fosse a sombra do antigo dono.

Então, um dia, decidi não ir mais até ele. Resolvi deixá-lo sentir minha ausência, para que ele percebesse a diferença entre o que tinha sido e o que poderia ser. Por alguns dias, mantive distância. E foi só então que ele começou a entender. Senti sua falta e percebi que ele também sentia a minha. Ele finalmente compreendeu que eu não era aquele que o machucava, mas o que tentava lhe dar uma nova chance.

Mas, quando ele se deu conta, já era tarde. O tempo que passei tentando ganhar sua confiança foi também o tempo em que, pouco a pouco, fui me cansando de ser mordido. Agora, que ele parecia querer minha presença, já não sentia o mesmo. Eu não queria mais correr o risco, não queria mais me machucar.

Às vezes, mesmo com boas intenções, não conseguimos consertar as feridas que outros deixaram. A desconfiança, quando alimentada por muito tempo, pode ser mais forte que a vontade de recomeçar. E, assim, cada um seguiu seu caminho: eu, ainda com a lembrança das mordidas, e ele, talvez com o arrependimento de quem demorou demais para confiar.