Coleção pessoal de Epifaniasurbanas
Sonho com um dia
sem pressa.
Eu, meu filho, uma praça...
deitados olhando figuras de nuvens
sorrimos.
Inspirados por ipês amarelos
florescemos. E como eles
sem ligar para a pressão das estações
vamos criando nossas próprias primaveras.
Sonho com um dia
sem pressa.
Eu e meu filho
Sorrindo...
e o tempo não tendo poder sobre nós.
Em um mundo de relações tão liquidas só pode se sentir realmente realizado aquele que;
• descobriu a importância de se perseverar,
• que se alegra com o que já tem,
• que não desistiu de observar,
• que não ignorou a teimosia d'uma flor em brotar,
• que ainda se encanta em procurar, novidades na sua rotina.
“Em suas arestas
Platônicas
Cosmos geométricos.
Poliedros.
Em tudo Deus Geometriza.
Após os quatros elementos
se fez quinto,
dodecaedro.”
Acostumado a um itinerário
acidentado e sem cor traçado
pela vida, leio e viajo por meio
de mãos alheias.
No limiar dos pensamentos que
voam raso, equilibro-me. Arranho
sonhos vivendo cochilos de eternidade.
Sonhar é reconhecer a
fronteira dos corpos.
Discernir este real abstrato
que na vida pede passagem.
Ao sonhar trapaceio a existência.
Já que viver é a real ilusão.
Mas os sonhos
não respeitam regras.
Os sonhos são
o que realmente são.
“O Choro é nosso primeiro ato.
Sinônimo de fracasso na adolescência.
Com o passar da existência
Vira significado de resistência.
A fragilidade é quem prova a mortalidade.
A tristeza é a fiel da balança,
Igualadora de homens.”
Todos homens se tornam pó
por ignorar a transcendência.
Não se valem da dualidade
presente além da existência.
Há sim, carne depois da carne
e isso não tem nada a ver com fé mais com resiliência.
É possível Imortalizar-se nas memórias dos vivos ou através de sua descendência.
O esquecimento é um grande aliado da ingratidão.
O antecessor nunca tem valor pouco importa as melhorias que deixou.
Tudo o que se entende como bom será atribuído a um bem aventurado que chegou.
Mas um dia a memória volta numa dessas voltas que o mundo dá ressuscitando quem por ali um dia passou com uma linda lembrança, dessas que não tem como não sorrir ou chorar.
Então na mesma hora um rastro de imagem e odor punirão a parte que não agiu e ficou.
Acordes
ao meu toque
Dedilhado
em teu corpo.
Ressoando gemidos
Uníssonos...
Viola
seus princípios
ao passo em que
Compõe comigo
as suas próprias
Canções.
“Toda vez que enfrento um dilema pratico o exercício de minha morte.
Na minha cabeça só assim se é possível enxergar as próprias vísceras.
A morte, ainda que encenada, me garante esse distanciamento necessário para não me deixar corromper com o objeto ou assunto por mim observado.
Só morto consigo ser imparcial.”
A Lua resolveu dar uma lição no sol
Apagando temporariamente o seu farol.
Quis mostrar como dois seres tão diferentes
pelo menos um dia, poderiam ser equivalentes.
Na sombra umbra que a terra fez
a Lua pode finalmente se mostrar
Penumbral, parcial até que total.
Mas o que realmente a Lua quis nos provar?
Que alguém mesmo sem luz própria
pode um dia também irradiar.
Ou quem sabe mostrar que a beleza não esteja contida apenas na luz
Ela pode existir também no apagar.
Que todo mundo tem uma sombra em algum lugar
Que foi a falta de luz quem fez a Lua reinar.
E que todos um dia, mesmo sem luz,
podem vir a se destacar.
“Antes de começar a escrever procurei me sensibilizar. Na aorta do coração cultivei minhas emoções e irriguei meus sentimentos. Foi só então que colhi poesias.”
“Se desejar é pecado,
desejo.
Desejo um corpo.
Não apenas um corpo.
Não apenas pelo corpo.
Não que esse corpo não seja
um bom motivo de desejo.
Além do corpo,
esse repositório do meu desejo,
almejo a essência que nele habita.
Desejo cada pedaço do corpo.
Este corpo em que repousa tudo
o que mais desejo.”
Eu olhei a tristeza nos olhos e acolhi a sua presença.
Quem sabe ela só precisasse de um ouvido generoso.
Eu olhei a tristeza nos olhos e a abracei demoradamente.
Quem sabe ela me abraçasse também.
Sentir um pouco de tristeza é fundamental para provarmos nossa humana capacidade de reinvenção.
Seria ela um sopro de felicidade em fase de germinação?
Eu olhei a tristeza nos olhos e encarei-a com esperança.
Dei-lhe um ombro macio e pedaços novos de velhos sentimentos.
Despedimo-nos. De mim, nada levou.
Eu olhei a tristeza nos olhos e a deixei ir.
Até a tristeza precisa de um adeus para partir...
Eu olhei a tristeza nos olhos e sorri.