Coleção pessoal de EmOutrasPalavras

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O número daqueles que, nas coisas difíceis, raciocinam bem é muito menor do que aqueles que raciocinam mal. Se raciocinar sobre um problema difícil fosse a mesma coisa que carregar pesos, então muitos cavalos carregariam mais sacos de trigo que um cavalo só, e eu concordaria mesmo que a opinião de muitos valesse mais que a de poucos; mas raciocinar é como correr, e não como carregar. Assim, um cavalo de corrida sozinho correrá sempre mais do que cem cavalos frisões". Galileu Galilei in O Ensaiador

Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor, quando sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno.

Amor e Justiça

Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? – Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos. O amor é estúpido e possui uma abundante cornucópia; dela retira e distribui seus dons a cada pessoa, ainda que ela não os mereça, nem sequer os agradeça. Ele é imparcial como a chuva, que, segundo a Bíblia e a experiência, molha até os ossos não apenas o injusto, mas ocasionalmente também o justo.

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.

Mas há em cada um de nós, mesmo no maior, um eu inferior, antiquíssimo, bestial, infantil, esquecido, renegado, oculto, refreado - amortecido, mas não morto. Quando os homens se reúnem, o eu superior anula-se e os inferiores, despertados, reconhecem-se e assumem a supremacia. A multidão é niveladora e gosta de decapitar, ainda que metaforicamente. Já não são intelectos ou sentimentos que contrastam, mas instintos elementares que combatem.

Em todas as multidões, como em toda a Humanidade, os medíocres são infinitamente mais que os grandes, os calmos que os violentos, os simples que os profundos, os primitivos que os civilizados, e é a maioria que cria a alma comum que imbrica e nivela todo o agrupamento de homens.

Se viver é distinguir-se, o orgulhoso deveria providenciar para não se parecer com ninguém. Mas a inveja, sob a sonante designação da emulação, trai-os: os soberbos vêem antes os modelos honrados e celebrados e querem ser celebrados e honrados a par deles, ou mesmo superá-los e desalojá-los, e não se dão conta de que são obrigados, para começar, a colocar os pés nas suas pisadas e no seu caminho.

Toda a vida é um mosaico de plágios.
A maioria imita por preguiça, para se poupar o trabalho de procurar e inventar, ou por prudência, que aconselha os caminhos percorridos e as experiências coroadas de êxito.

Desde que Adão resolveu imitar Eva e mordeu o fruto, somos, a despeito da nossa ilusão em contrário, uma sucessão infinita de cópias. Um único cunho - em regra, chamado gênio - basta para imprimir milhares e milhares daquelas moedas vulgares que circulam pela Terra. E o gênio nem sempre se liberta da servidão universal da imitação. Toda a vida é um mosaico de plágios.

O único amor possível é o amor de nós mesmos.

A própria imperfeição é imprescindível à obra perfeita.

Todos os homens têm medo da felicidade porque a felicidade se parece muito com a morte.

Toda história de amor só presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher”.

Habituai-vos a obedecer, para aprender a mandar. Costumai-vos a ouvir, para alcançar a entender.

... a ciência é grande, mas os cientes, na infinidade do seu número, são pequeninos, como pequeninos são, contemplados do espaço, os maiores acidentes da superfície terrestre.

Porque só há uma glória verdadeiramente digna deste nome: é a de ser bom; e essa não conhece a soberba, nem a fatuidade.

PALAVRAS À JUVENTUDE
O patriotismo, praticamente, consiste, sobretudo, no trabalho.
Conhecer da natureza quanto seja mister, adorar com discernimento a Deus, e governar com acerto a vida, sobejamente compensa as maiores canseiras do entendimento, desde as porfias da escola até as meditações do gabinete.
Por distintos, porém, que vos logreis fazer entre todos, ainda que o mundo vos enrame a fronte de coroas, e o nome se vos grave entre o dos privilegiados na fama, não seja nenhum de vós confiado na sua suficiência, nem da sua glória se envaideça. Porque só há uma glória verdadeiramente digna deste nome: é a de ser bom; e essa não conhece a soberba, nem a fatuidade. Depois, a ciência é grande, mas os cientes, na infinidade do seu número, são pequeninos, como pequeninos são, contemplados do espaço, os maiores acidentes da superfície terrestre.
Mocidade vaidosa não chegará jamais à virilidade útil. Onde os meninos camparem de doutores, os doutores não passarão de meninos. A mais formosa das idades ninguém porá em dúvida que seja a dos moços: todas as graças a enfloram e coroam. Mas de todas se despiu, em sendo presunçosa.
Sede, meus caros amiguinhos, tais quais o verdor florescente de vossos anos o exige: afervorados, entusiastas, intrépidos, cheios das aspirações do futuro e inimigos dos abusos do presente. Mas não vos reputeis o sal da terra.
Habituai-vos a obedecer, para aprender a mandar. Costumai-vos a ouvir, para alcançar a entender. Não delireis nos vossos triunfos. Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber.
Sede, sobretudo, tenazes, quando o objeto almejado se vos furtar na obscuridade avara do ignoto. Profundai a escavação, incansáveis como o mineiro no garimpo. De um movimento para outro, no filão resistente se descobrirá, talvez, por entre a ganga, o metal precioso".

Ninguém sabe por que ama ou por que não ama. É uma coisa que se sente, mas que não se explica.

Há sempre em nós um fundo de esperança que não nos deixa acreditar no mal senão quando nos achamos face a face com ele.