Coleção pessoal de elis_barroso

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COMO NASCEM OS POEMAS
Poemas nascem do amor entre a caneta e o papel
Cada qual com a missão
De libertar a quem o lê.

DESEJO A VOCÊ

Que tu saibas encontrar felicidade em um botão de flor
Em um dia nublado
No inverno prolongado
E até mesmo na dor

Desejo que sejas feliz até no dia ruim
Quando o riso não for tão constante
Quando ouvires mais nãos do que sins

Quero que aches graça nos próprios tombos
Que mude de sonhos
De rumo
De planos

Que tu saibas encontrar a felicidade
Ou melhor
Que ela se encontre em você.

DONOS DA VERDADE

Procuro onde mora a normalidade
Quem dita as regras do feio ou esquisito
A quem foi dado o compasso, prumo, régua
Não acho

Se souber, me procure
Quem sabe assim eu me cure
Estarei por aí
Aqui, ali

Nesse mundo confuso
Quem sabe a louca sou eu
Ou você que me lê

Inspiro, respiro, piro

Vida de Navegante

A cabine é teu lugar sagrado
Terra firme já não é o seu lar
Pelo oceano estás apaixonado
Sentido só há no partir e retornar

Vida repleta de tanta aventura
Tiveste prazer com mulheres de todas as cores
Cada qual com sua história e cultura
Deixando em cada porto lágrimas e amores

Como a Estrela Polaris eu queria ser
Para você meu Capitão em mim se encontrar
Mas de ilusão não posso viver
Convicta sou de que serei mais uma a chorar.

Enquanto o navio não parte
Vamos brindar, dançar e sorrir
Atiçar essa chama que em meu peito arde
Armazenando memórias pra minha alma nutrir.

GAIOLAS

Abandonei as gaiolas
Para ganhar os ares
Enxergar novas paisagens
Sentir o vento

Larguei as gaiolas
E para surpresa minha
Escolhi o ninho.

DESATINO

Perdi-me da razão
Não mais lembro do seu rosto
Nem ouço sua voz

O que afirmam ser o certo
Acho errado!
O que ensinam ser errado
Já nem sei!

Perdi a razão!
Se achar não me devolva
Nem diga onde estou

Nessa grande maluquice
É provável que os loucos guardem o último resquício de sanidade.

RECOMEÇOS

Vou seguindo de recomeços
De todas as segundas
De tantos janeiros
Já não sei se sou pedaço
Nem sei se sou inteira

Vou seguindo desse jeito
Sou feita de recomeços.

DOS QUE PARTIRAM

Nesse mundo tão grande
Muitos passaram por mim
Uns deixaram saudades
Outros ensinamentos
Teve aquele que não fez diferença
E até quem mudasse minha crença
Você?!
Você ainda mora em mim.

EU QUERIA SABER

Quanto tempo o tempo leva
Pra água esculpir a pedra
O tolo parar de bancar o juiz
Perceber que ser aprendiz é melhor

Quanto tempo o tempo leva
Pra eu descobrir quem sou
Se sou uma ou se sou várias
Se a dor é minha ou do poema

Quanto tempo o tempo leva
Pra engavetar uma teimosa paixão
A violenta saudade domar
Uma ferida virar cicatriz
A ausência parar de doer
Leva, Tempo?
Leva!

MISTÉRIO

Entre o batom e o perfume
A montanha russa de hormônios
Nos vãos da doçura e da artimanha
Nem mil filosofias explicarão
O que se esconde em uma bolsa
E na alma de uma mulher.

DIAGNÓSTICO

Quando o olhar te trai
O corpo sua
A língua tem sede
A pele arrepia
Quando as pernas vacilam

Será doença ou paixão?
Indecisão!
Quem sabe são a mesma coisa.

DESCOBRI

Um dia cresci
Descobri que o barulho na concha
Não era o som do mar
Que pai e mãe também erram
Que a cada dia sei menos das coisas
Descobri que verdadeiros amigos se conta nos dedos
Que ganhar colo é bom em qualquer idade
E que sempre vou querer raspar a vasilha de bolo

Um dia cresci
Descobri que o para sempre
Às vezes tem fim
Que nem sempre o sim é melhor que o não

E o melhor de tudo
Descobri que os grandes abismos
Podiam ser pulados feito poças d’água.

PEDAÇOS

Pedacinhos de mim
Vai ficando em cada verso de poema
Em meus riscos
Rabiscos
Em cada frase
Num conto
Em uma crônica

Lascas de mim
Caem entre os vãos das palavras
Ficam presas em vírgulas
Entre as páginas de um livro

Já não sou mais inteira
Derramo-me a cada deslizar da caneta

Um dia
Serei feito folhas ao vento
Terei em cada canto
Um pouquinho de mim.

PRECE

Ainda trago na boca
O gosto dos beijos teus
Meu corpo agradece
E quase faz uma prece
Rogando que seja seu.

TROCA

Vamos trocar nossos saberes
Você aumenta meu mundo
Eu aumento o seu
Você me ensina a escrever
Eu te ensino a remar

Peraí! Eu não sei remar
Te ensino quando aprender
Amar eu sei!
Deve ser quase a mesma coisa.

DIVAGAÇÕES

Divagando em minha teia de pensamentos
Enquanto tecia memórias
Quis saber qual palavra mais causa tormentos
Morte, dor, desprezo, escória...
Entre tantas mazelas
Lá estava ela
QUASE
Quase é a palavra
Palavra que mais maltrata

Quase passou no concurso
Quase chegou a tempo
Quase conseguiu o aumento
Um quase beijo
Quase amor
Quase se libertou
Quase foi escolhida
Quase ganhou a corrida
Quase, é a mais doída
Quase, jamais gera vida

Quase, é a palavra daquele que não alcançou
De quem não ficou e nem chegou
De quem se perdeu no caminho

Ainda em minha divagação, pensei
A água quase quente não serve pro café
Ah!! Uma vida sem café não dá...
Nem tem discussão. Né?!

ACREDITO

Perguntaram-me se acredito em amor que dura pra sempre
Respondi que sim
Os meus são todos eternos
Os levarei pra sempre comigo
Vivos
Gravados com tinta no papel
Transformados em poema.

BALANÇO

Quando criança eu não sabia do vai e vem da vida
Cada coisa estava sempre no mesmo lugar
O limoeiro, a mangueira
O pé de papoulas em que eu brincava de comidinha
O varal de roupas branquinhas que pareciam bandeiras da paz
A merenda estava sempre na lancheira
O café na garrafa
Cada coisa em seu lugar
Parecia que nada nunca mudaria

Fui descobrindo que não
Os avós não são para sempre
Muitos amigos se vão
As nuvens nem sempre tem forma
Às vezes são só uns borrões
Nos terrenos baldios nascem prédios
As estradas se bifurcam
Nos obrigam a tomar direções

Quando criança eu não sabia do vai e vem da vida
Ainda estou aprendendo a me equilibrar.

A DOR QUE NÃO VIRA POEMA

A dor que não vira poema
Sufoca na garganta
Cresce um pouco a cada dia
Mata devagarinho

A dor que não transborda em poesia
Cria limo no peito
Cresce lodo na alma
Afoga a esperança

A dor que vira poema
Derrete
Esvai
Se vai.

PAI

Pai, quantas vezes fiquei revoltado
Por não deixar-me andar com aqueles "amigos"
Que gostavam de correr perigo
Por não teres me dado aquele tênis irado.

Pai, tantas vezes eu não entendi
O porquê de querer me levar pra escola
Deixar-me de castigo por notas vermelhas
Beijar-me na bochecha sem entender que cresci.

Pai, tantas vezes desprezei seus conselhos
Fugi de casa pra viajar com colegas
Acidentei-me naquele carro sem freio
No hospital virei a cara aos seus beijos.

Pai, hoje sei que você estava certo
Quando queria que eu chegasse cedo em casa
Quando dizia que não fosse tarde pra cama
Quando mandava eu ficar por perto.

Pai, levou tempo, mas agora entendo
Suas lágrimas em minha formatura
Àquela surra quando roubei no mercado
Seus soluços ao ver vovô morrendo.

Pai, como eu queria que você soubesse
Hoje sou igualzinho a você
Meus filhos ainda não me entendem
Como eu queria que seus conselhos desse.

Meu pai, tudo eu daria com toda certeza
Pra ter direito a um último pedido
Pois sem você eu me sinto perdido
Só mais um beijo em minha bochecha.