Coleção pessoal de Eliot

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⁠O que a Morte pode tocar -

Que terrivel é amar aquilo que a morte pode tocar ...
Porque a morte chega cedo e cedo é sempre,
a vida, longa ou breve é curta, finda o ar,
quem sofre, sofre sem parar a dor que sente.

P'ra quem fica resta a pedra de uma lousa
p'ra quem parte é arremedo de um principio
e um silencio vago; infinito pousa
sobre o corpo de quem fica amargurado e frio.

Nao chorem nunca sobre os figados da morte
porque somos parte das suas entranhas
na bussola da vida com destino a Norte.

Mas havemos de chegar a algum lugar
porque tarde ou não ninguém foge às suas manhas ...
Que terrivel é amar aquilo que a morte pode tocar!

⁠O que a Morte não pode tocar -

Grato estou por ter amado o que a morte pode tocar!
Grato à Vida, grato ao tempo e ao Destino
por me ter posto ao lado gente que por amar
tornou mais belo, mais inteiro o meu caminho.

Amo os mortos e os mortos dos meus mortos ...
Para sempre! Guardo-os na memória! Estão em mim ...
Eles foram tanto! Não apenas corpos
agora abandonados subjugados a um fim.

Eu amo a vida que ainda habita os mortos
a que está além da forma incapaz de ver
que aqueles que eu amei habitam noutros Portos.

Navegam noutros barcos no cimo de outro mar ...
Todos estão em mim e na certeza de me saber
grato por sentir que isto a morte não pode tocar.

⁠Penso em Ti -

Penso em ti quando o mar alto e profundo
minh'Alma alcança. Quando sou silêncio e luto
sinto em meus olhos os olhos deste mundo
com sonhos destronados e confusos.

Penso em ti em cada dia e segundo ...
À chuva, ao vento, por entre a noite sossegada!
E é tão pura a paixão de que me inundo
que não te tendo a ti não quererei mais nada ...

Penso em ti com a dor das velhas penas
que o destino num tormento me concedeu
rodeado, numa cama, de assucenas.

E ainda mais te quererei depois da morte
pois recordarei o que a minha Alma já sofreu
até a minha infância densa e forte!

⁠Nunca é tarde -

Nunca é tarde demais para viver
nunca é tarde demais para amar,
nunca, nunca é tarde para saber
que a vida é feita a caminhar ...

Nunca é tarde demais para cantar
nunca é tarde nas malhas da esperança
há dias p'ra sorrir outros p'ra chorar;
depois da tempestade vem a bonança ...

Nunca é tarde (mesmo que seja tarde)
p'ra saber que a vida nunca passa
sem nos dar outra oportunidade!

E o desalento que nos abraça
veste a nossa Alma de saudade ...
Mas não é tarde ... a vida nunca escassa!

⁠⁠Insalubre -

À beira do silêncio
daquela madrugada apetecida
sentei-me à mesa do vazio ...
E veio a chuva, veio o Sol,
veio o vento!
Na mesa, pus as mágoas,
as tristezas escondidas,
os desejos incumpridos,
a vida não vivida.
Servi-me!
Tudo estava frio! Insalubre ...
Então, bebi das lágrimas dos meus
olhos excessivamente abertos,
cansados de existir ...
Sem metas nem destino, sozinho ,
adormeci sobre a mesa ... e morri!

⁠O Canto de Amália -

Seu canto vinha de longe
vinha do fundo do mar
não era canto de gente
era o Fado em seu lugar.

Havia ali algo diferente
sobre as águas a pairar
era a vida, era a morte
de uma guitarra a soluçar.

E o mar cansado e forte
não calava a voz do tempo
por alguém ela esperava
mas só ouvia a voz do vento.

Porque o tempo não passava
p'ra quem tinha aquele olhar
aquela voz não se calava
era o Fado em seu lugar.

⁠Mundo ao Contrário -

No silêncio dos Astros indiferentes,
na terra, algo de oculto aconteceu!
O mundo estava velho e sem Deus ...

As pessoas não morriam,
o Sol anoiteceu,
os bebés não nasciam,
a Lua não voltou,
as bocas não sorriam ...
Havia gritos nas esquinas e desejos
incumpridos ...
Choravam os alegres e os tristes,
a cantar, lamentavam o destino!

A vida ao Contrário trazia na algibeira,
mortalhas e angústias que pesavam
sobre o corpo.

A esperança não se via,
havia dor por todo o lado
e os olhares eram turvos.

E tudo isto sobre o silêncio dos Astros
indiferentes porque o mundo estava velho
e sem Deus!

(Perdão Senhor ... Perdão!)

As Estrelas de Maria Flávia de Monsaraz -

No vazio da penumbra dos meus sentidos
vagueiam memórias caiadas de silêncio,
saudades, palavras e gestos perdidos
que se aninham, recalcados no meu peito,
batendo como asas de Anjos adormecidos.

Uma só caricia me vem ao pensamento,
uma só vontade adorna os meus desejos,
Voltar atrás, beijar seu rosto, amar o tempo
em que nos tinhamos tão próximos, tão juntos
e que a morte nos tirou num pé de vento.

Sua voz ... essa voz calma e serena,
as púrpuras que caiam das suas mãos,
seu corpo, cheio de aves, tantas penas,
agora na paz sepulcral de um jazigo,
adormecido num ataúde d'açucenas.

E cai a madrugada sobre mim como aquela
tarde triste e tenebrosa em que partiste
do cais da minha solidão num barco à vela!
O mundo parou! Parou a vida! Parei eu
naquela casa frente à sacada da janela ...

Casa, outrora, de Poetas e de Paz!
E a janela, a sacada, aquela rua ...
... a Victor Cordon que saudades que me traz,
um tempo que não volta, voltar aos braços
das Estrelas de Maria Flávia de Monsaraz.


Até sempre querida Maria Flávia!
Um ano de saudade.

⁠O Vento, a Água e o Mar -

Do teu semblante carregado de infinito
pendem as mais belas histórias de encantar ...
Pende o vento, pende a água e o mar!

Dos teus olhos cheios de madrugada
pendem os mundos mais bonitos
que poderei um dia encontrar ...
Pende o vento, pende a água e o mar!

Dos teus punhos cheios de silêncio
pendem as rendas mais antigas
que te possam adornar ...
Pende o vento, pende a água e o mar!

Do teu corpo cheio de malmequeres
pendem as pétalas mais brancas
sem pensar ...
Pende o vento, pende a água e o mar!

Talvez um dia -

Um dia a luz há-de voltar a brilhar
no fundo dos meus olhos ...
E os rios hão-de correr em qualquer parte!

Um dia a alma há-de voltar a dar vida
ao meu corpo ...
E as estrelas hão-de brilhar novamente!

Um dia a esperança há-de voltar a penetrar
meu coração ...
E a minha noite deixará de ser noite!

Um dia a vida há-de correr-me novamente
pelas veias ...
E a parte de mim que não sou morrerá!

Um dia a minha boca há-de falar muito
do amor ...
E o amor virá à minha vida!

Um dia - talvez um dia! - possa abraçar
o silêncio de ser eu - na poesia ...
E tudo será novo para mim!

Um dia ... talvez um dia ...

Sobre Covid -19 -

A vida ficou suspensa
por duas linhas que se tocam
muito frágeis, muito ténues:
a doença e a morte!

A vontade ficou parada
nas curvas sem visão
no silêncio do caminho
e cada um à sua sorte!

O sonho perdeu encanto
de gestos e ternuras
perdeu-se do amor
e afastou-se do coração!

O orgulho e a vaidade
perderam-se dos Homens,
afinal, tudo é passageiro,
neste mundo, tudo é vão!


Na dificil travessia destes tempos pouco luminosos.

⁠⁠Serena seja a tua Noite -
(Para Maria José Costa Felix)

Serena seja a tua noite!
Carregada de infinitos
sem o peso da paixão
com sonhos violeta
ao som de uma canção ...

Serena seja a tua noite!
Cheia de pálpebras abertas
fechadas pela morte
norteadas p'las estrelas
que nos ditam cada sorte ...

Serena seja a tua noite!
Fechada sobre o mundo
despida de vaidade
escoltada pelos Anjos
da tua genuina mocidade ...

Desenha-se no Céu a Lua Nova,
vem d'outra Lua velha, sonolenta,
em busca de outro corpo que a acoite
e que a embale em novo amor ...
Serena seja a tua noite!


Para Maria José Costa Felix que neste momento já ruma à Casa do Pai.

(Que pena. Fica a memória...)

⁠Adeus Abruptamente -

Ontem o silêncio que escutava
junto ao teu corpo adormecido,
ecoa hoje, intensamente,
dentro do meu peito ...
É um estalar cansado,
um soar vazio,
um sentir oblíquo ...
Um pensar se resisto
à tua ausência,
cheia de lamento e fuga,
que me põe à beira d'um abismo.
Pobre de mim tão cheio de nadas,
incoerente e cego, além de todas
as vontades ...
Alheio a mim estão todos os sonhos
do mundo, todas as vidas da vida,
todos os olhos das gentes! Adeus!
Adeus abruptamente! ...

⁠- ORAÇÃO DAS AIAS DE NOSSA SENHORA DA SAÚDE DE ÉVORA -

A Teus pés, Senhora Nossa, nos prostramos! Aqui estamos, débeis, simples mulheres.
Senhora, Rainha dos Céus, recebe de nós,
fiéis devotas, a verdade dos nossos corações. Recebe e guarda sempre as nossas Almas.
Recebe os nossos pais, os nossos esposos,
os nossos filhos, os nossos netos.
Os nossos vivos, os nossos mortos.
Guarda-os junto ao Coração.
Aninha-os em Teu regaço como a teu Filho.
Somos pobres pecadoras, tantas vezes, incapazes de te ouvir segredar-nos ao ouvido, aquele "SIM" que deste um dia a Deus
e que foi o Principio da nossa salvação.
Ensina-nos o dom da humildade,
a alegria do amor, a sabedoria do Perdão.
Aqui estamos! Aias, vassalas, escravas, subditas,
prontas a dar a vida pela Sua Senhora,
servas do Seu Santo Nome!
Recebe, Senhora, a humildade dos nossos préstimos, te-los entregamos
para o Bem de toda a humanidade.
Nossa Senhora da Saúde de Évora,
Rogai por nós!
Amen.

E Anoiteceu -

⁠Há no frontispício do meu olhar
a mácula d'um vazio indefinido ...
E anoiteceu!
Fez-se escura a minha Alma
cheia de turva solidão.
Longe do Céu, longe da Terra,
longe de todos os sonhos
nada sei do meu silêncio.
Há ainda um qualquer destino
por cumprir,
coisas por viver, vontades por abrir.
São abismos! Profundos, silenciosos ...
São vales! Densos, parados ...
São montanhas! Penedos que se erguem
entre mim e a vida. Entre a Vida e Deus.
Estou cansado!
Há no frontispício do meu olhar
a mácula d'um vazio indefinido ...
E anoiteceu!

⁠Queria tanto Morrer Amanhã -

Queria tanto morrer amanhã!
Por todos os motivos e mais um
apetecia-me morrer amanhã ...
A Vida fez-me cego e sem
destino ...
Além de todas as clareiras
entregou-me aos precipícios,
aos abismos, aos vales de ilusão,
tecidos pelos dias.
Dia-após-dia, desgosto-após-desgosto,
de mim nada fica neste mundo quando
eu partir. Nem quero que fique!
Não quero deixar nada!
Esqueçam-se de mim! Que de vós me
esquecerei!
Façam de conta que nunca existi! ...
Porque eu não me lembrarei de ninguém.
E sacudirei os sapatos do pó deste mundo!
Nem isso quero levar!
Queria tanto Morrer Amanhã!

⁠A Frigida Senhora -

E aquela frigida Senhora
trazia memórias no olhar
trazia rosas sobre o corpo
penas sobre a alma a pesar!

Lânguidos silêncios sobre a voz
soluçavam-lhe a respiração
vontades impolutas de ser feliz
poisavam como aves sobre as mãos!

Quem seria a frigida Senhora;
enlutada dama que passava?!
Prostrada, de joelhos, aos pés da cruz,
de mãos postas, junto ao peito, só rezava!

Entregava a Deus a solidão
dos tristes dias duradoira,
coitada, pobrezinha, tão triste,
quem seria a Frigida Senhora?!

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DA SAÚDE DE EVORA -

Lembrai-vos, ó Sagrada Virgem Maria, Senhora da Saúde, que somos Vossos filhos e que, por isso, cheios de confiança na vossa Divina Intercessão, vimos nesta hora implorar o vosso auxílio.

Tendes, em Vossas Mãos, a Fonte de todas as Graças que brotam do Coração amantíssimo de Jesus, abri-a em nosso favor, concedendo-nos a graça que ardentemente vos pedimos: a Saúde dos enfermos e a paz dos mortos.

Ó Virgem Santa, não vos esqueçais das tristezas deste mundo. Lançai um Olhar de vontade aos que estão em sofrimento, aos que não cessam de provar o cálice das amarguras desta vida. Tende piedade dos que se amam mas que estão separados pela discórdia, pela doença, pelo exílio ou pela morte. Tende piedade dos que choram, dos que suplicam, e dai a todos o conforto, a esperança e a paz!

Clamamos por piedade!
Clamamos por auxílio!
Rezamos pelos mortos,
entregamos-vos os doentes.

Senhora ... perdemos o norte. A doença assola o mundo, destrói famílias, povos, nações...

Temos medo! Tanto medo! Perdemos quem amamos e não sabemos como proteger quem nos rodeia.

Atendei à nossa humilde suplica e alcançai-nos a graça que agora fervorosamente vos pedimos por intermédio do Sagrado Coração do Vosso Divino Filho!

Amparai os doentes e recebei os mortos, vitimas desta terrível Pandemia que abraça o mundo.

Protegei a todos e a cada um com o Vosso Sagrado Manto!

Amém.

- PRECISAMOS TER ESPERANÇA -

É com tristeza e pesar que a Real Irmandade de Nossa Senhora da Saúde de Évora lamenta a difícil situação pandémica pela qual atravessa todo o Concelho e Distrito de Évora. Hospitais cheios, impossibilitados de receber pessoas, as morgues repletas, lares com surtos, familias separadas, destroçadas, infelizes. Os tempos são difíceis, diriamos quase crueis. A vida tornou-se ainda mais frágil, mais subtil, mais ténue. A tristeza apoderou-se dos corações, impregenou-se nas Almas das pessoas. Só a Fé nos pode dar alento para olhar à nossa volta com esperança. Colocamos o nosso Concelho de Évora, bem como todo o mundo, nas Sagradas Mãos de Maria nossa Mãe. Precisamos de Paz. Precisamos de voltar a acreditar. Precisamos de voltar a ter Esperança. A morte cerca-nos astutamente por todos os lados. É preciso confiar e não deixar de ser cuidadoso. O lema desta Irmandade é " Apoiar os doentes e rezar pelos mortos". Nunca um lema esteve tão actual. Façamo-lo! Fazemo-lo progressivamente! Foi para isso que surgimos no panorama religioso. Rezamos por quem é ceifado à vida de forma tão radical e prematura que nem pode ser sepultado com a dignidade que os nossos avós nos ensinaram e tentamos dar apoio a todas as solicitações que nos chegam por necessidade ou doença. Mesmo no meio de tantas dificuldades temos Deus como protecção e Nossa Senhora como escudo. É nossa intenção seguir em frente. Dar a mão a quem precisa. Levar esperança e Fé a quem a não tem ou perdeu. Queremos cada vez mais levar a cada irmão amor e confiança , trazendo no olhar, aquele olhar penetrante que a Senhora da Saúde de Évora ostenta na sua Sagrada Face, no nicho do seu altar na igreja de Santo Antão. Aquele olhar penetrante vindo de Deus que nos põe com a Alma no infinito. Mesmo em tempo de pandemia não nos resignaremos à morte e gritaremos bem alto que a vida , uma nova vida, espera em breve por todos nós. Mais ampla , mais intensa, mais verdadeira, mais profunda. Que Nossa Senhora da Saúde de Évora nos guie, proteja e ajude a dar a mão a quem precisa porque quem precisa hoje pode igualmente ajudar-nos amanhã.

Em Deus e com Maria.

⁠- CONFINAMENTO -
(Covid-19- terceira vaga)

A infecciosa solidão
destes dias penetrantes
arrastou-nos muitos sonhos;
corre de mão em mão
como sempre, como dantes,
tão longe de dias risonhos!

Tão longe da vontade
que trazemos no coração
de abraçar a quem amamos ...
Ela mata de saudade
antecipando de antemão
as lágrimas que choramos!

E choramos por nós próprios
choramos pelo mundo
pela dor-da-separação,
de nada valem tantos ódios
porque a raiva vem do fundo
amarga como um limão!

E da Esperança? Que fizémos?!
Que lugar tem Ela em nós?!
De que nos vale o pensamento
se não amámos, se não démos
à nossa Alma uma voz
neste triste confinamento!