Coleção pessoal de elenimariana
Tu sabes do meu amor.
Não há como negares
Essa cor, essa pele, esse sorriso
Esse jeito de falar e essa voz
Esse tom, esse eco de infinito.
O andar, o modo com que me fitas
Eu não me enganaria tanto.
Não, a carência não traduziria fielmente
A leitura que faço da tua pose.
Teus ares com as brisas que me inundam.
Teu cheiro com a intensidade que me causa embriaguez
De alma.
A leveza com que giras à minha volta
Roçando os teus cabelos no meu rosto
Quando finges examinar a outra.
Não precisarias chegar tão perto
Demasiadamente indiscreto
Teu olhar que sonda meu arfar irrequieto
De aflição por te amar tanto.
Tudo em ti grita e ressoa na minha mente.
Que és meu
Inteiramente.
Que sabes o amor que há em mim.
Completamente.
Brinco de viver
Meu coração está repleto de amores
Que colhi durante o meu caminhar.
Transformei meus espinhos em flores
Num grandioso desabrochar
De esperanças e de alegrias.
Brinco ser a Lua namorando o Sol
E brinco ser o Sol iluminando a rica Terra.
E no compasso de tanta euforia.
Tenho refletido no olhar doce arrebol
E minha voz é de tenor quando berra
Pras Divindades a minha gratidão por Ser
Existir
E brinco que sou uma estrela
De maior brilho que reluz
E sou nuvem que derrama sobre os prados
Meu amor
E solto o meu riso escancarado.
Pra que siso?
Se a vida é breve e vai correr.
Por isso, às vezes fico séria e então, só então,
Brinco de viver.
Amor derramado
Esses meus modos de menina Sapeca
Quando já vividos mais de meio século
Na verdade, meio século mais uma dezena
Vejam bem, não é nenhuma quinzena
De dias vividos com uma calma
Tão estranha que causa a mim que a experimenta
Inquietude.
Por que sou uma aventureira
É que cabem travessuras nas minhas cestas repletas
De magnitudes
Desconcertantes.
Não tenho nenhum receio de fazer o que quero
E espero
Que me perdoem por ser tão atrevida.
Na minha lida
Diária, pois sou uma eterna enamorada
Pela vida.
E vou revelar agora o meu segredo
Sem nenhum medo
De ele ser depreciado.
Tudo isso em mim é o tal do
Amor derramado.
Estou Dele locupletada
Verdadeiramente saturada.
Manifesto para o diretor da FUNAI
“Senhor, peço sua licença para levantar a minha voz pela vida. O infanticídio de crianças indígenas é vergonhoso e revoltante.
Tenho lido que alguns antropólogos não são favoráveis ao diálogo entre as culturas e a qualquer tipo de interferência.
No entanto, deixar essas pequenas criaturas serem sacrificadas porque nasceram diferentes é fechar os olhos para o desumano.
É repetir ou permitir que repitam o espetáculo sangrento e grotesco das câmaras de gás de Adolf Hitler que o mundo tanto condena.
Deixar que crianças indígenas brasileiras sejam assassinadas porque existe essa cultura de morte em seu povo, é o mesmo que abrir-lhe a sepultura com as próprias mãos. Eu salvei Endi, e outros quem os salvarão?
Esses povos precisam ser chamados ao diálogo franco e sereno. “Alguém precisa tocar-lhes o coração e mostrar-lhes que uma mudança na cultura, não irá apagar sua história, pelo contrário, a valorizará, pois tudo é dinâmico e o mundo está em constante evolução.”
Do livro: As Filhas de Geruza
Vândalos e delinquentes: os herdeiros de uma política descompromissada com os cidadãos.
Se tentarmos responder de imediato a questão: como nascem os vândalos e delinquentes, de pronto diríamos que eles são unicamente produtos da miséria e da desestruturação familiar.
Mas ao debruçarmos um pouco na análise, constataremos que os determinantes que ela cita não podem ser aceitos como únicos provocadores de tais chagas sociais.
Não fosse verdade, não veríamos filhos da classe média envolvidos em atos de extremo vandalismo ao patrimônio público e depredações generalizadas: públicas e particulares.
Um exemplo recente é o que vem acontecendo em todo o País travestido de manifestações legítimas, e que descambou para as arruaças, pois, na realidade tais atitudes vão além, muito além das aparências dessas causas e expõe o inconformismo com o despreparo e descaso dos governantes.
É muito claro que a violência é decorrente de fatores sociais, mas é um leque tão vasto que teríamos que discorrê-los em um trabalho de tese.
O que fica evidente, sejam eles quais forem, é o a omissão do Estado. Essa omissão beirando a inconstitucionalidade, é tão vergonhosa que por si só já se torna um ato de vandalismo e delinquência. Daí, o exemplo para os cidadãos ainda em formação, e, quando formados, mal formados estão, por conta de política descompromissada com a educação.
Por que os nossos jovens apadrinhados com a sorte de terem as necessidades primárias e secundárias e até mesmo as terciárias de acordo com a hierarquia de necessidades de Maslow, supridas, não se ajustam para atingirem as quartanárias que são: auto-estima, confiança, conquista, respeito ao outros, respeito dos outros?
Sabemos que faltam políticas de inclusão social para todos, principalmente para os pobres, que é obrigação do Estado garanti-las, e as existentes não se sustentam por si mesmas, ou, seja, têm os seus limites balizados por conveniências político-eleitoreiras e apenas acontecem para promoverem cargos e partidos.
Projetos sociais são mal construídos na ante-sala das eleições e abortados assim que os criadores se apossam do almejado cargo. Não há necessidade de repetir aqui a lengalenga pisada e repisada pelos políticos durante as campanhas, um exemplo robusto deste desnível é o lugar que o Brasil ocupa no ranking mundial de competitividade e um dos motivos é a falta de infraestrutura básica, como estradas e portos tão decantados nas falas promissoras dos nossos candidatos.
O que a competitividade de um país tem a ver com a delinquência e o vandalismo?
Tudo. Uma vez que, nação com baixa competitividade, é nação sem atrativos mercadológicos, portanto, será uma nação com pouca esperança para os anseios de uma juventude sedenta de participação na produtividade do país. Energias desperdiçadas para o bem tendem a ganhar a direção oposta.
No que tange à educação, em 2012, o Brasil ocupou o vergonhoso penúltimo lugar numa lista de 40 países analisados pela Economist Intelligence Unit (EIU), ficando na frente apenas da Indonésia, última colocada no ranking.
O presidente do programa avalia que, entre outras razões da fragilidade educacional, está a falta de uma cultura que apoie o espírito educativo.
Por conta dessa cultura descompromissada com a educação o país tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Está atrás apenas da Bósnia Herzegovina e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe.
Essa evasão gera cidadãos despreparados para exercerem suas respectivas cidadanias como deveria ser de direito. Suas leituras de mundo são deformadas e aceitam tudo o que os oportunistas lhes vendem como verdade absoluta.
Quando não, se sentem excluídos da ciranda produtiva, então, partem para a destruição de toda ostentação abusiva que a sociedade e o Estado lhes impingem.
Em se tratando da classe média, então, o governo lava totalmente as mãos e os pais se vêem oprimidos entre os leques cada vez mais vastos de produção de conhecimentos específicos e gerais que eles precisam comprar com preços não módicos para que seus filhos se insiram num mercado competitivo e impiedoso.
Aqui, também, pertencer a uma parcela pequena da sociedade chega a ser igualmente doloroso. O “eu posso ter”, fecha um círculo para poucos que, isolados, sem um Norte definido se vêem acuados e avançam na contramão dos bons costumes.
Livros são os melhores presentes.
O governo do DF (Distrito Federal) sancionou Lei que proíbe a fabricação e venda das armas de brinquedo. Um ato bastante polemizado pela mídia e cidadãos engajados com as questões educacionais.
Alguns se posicionaram contrários à medida defendendo a idéia de que crianças precisam brincar de heróis e mocinhos, e que tais práticas podem reforçar nos pequenos, a noção de justiça.
Outros avaliaram positivamente a atitude do Governo, uma vez que ela vai ao encontro dos anseios da sociedade de se frear a violência no país.
Se esta medida será eficaz ou não, somente a próxima década nos dirá. As crianças que não receberem suas armas de brinquedo nesta, serão o objeto de estudo comparativo com as que receberam, no passado, as suas pistolas, metralhadoras e outras afins.
Entre os prós e os contras de tal ação, há que se fazer uma análise mais detalhada dos primeiros, pois, razões robustas e contundentes exigem que nos debrucemos sobre elas antes de escolhermos de qual lado ficaremos. Vejamos:
Sabe-se que a infância é um período fértil para toda e qualquer aprendizagem: música, línguas, dança etc. Há, ainda, quem defenda a idéia de que nas brincadeiras infantis de imitações podem desabrochar aptidões e habilidades que conduzirão o individuo para atividades afins na fase adulta.
Com certeza, o leitor contumaz adquirirá maior capacidade de abstração que é o meio mais eficaz para mover-se com êxito no mundo hodierno. Também é a leitura é uma ferramenta potente no desenvolvimento emocional e imaginativo das crianças.
E por ser a infância a fase onde todos os hábitos são formados que devemos difundir boas práticas para coibir desvios de más condutas, o máximo que pudermos.
Outro argumento salutar nos apresenta um diversificado mercado de brinquedos que estimulam a inteligência e desenvolvem as fantasias dos pequenos.
Então por que não prover nossas crianças com coisas belas e úteis? Bons livros são construídos e editados todos os anos, e estão entre os melhores presentes. Desenvolver o hábito da leitura ainda na infância é preparar cidadãos com competência de realizarem uma leitura crítica do mundo. Ler é fundamental para a aquisição do conhecimento e a história comprova que bons leitores serão os ótimos escritores do futuro.
Retomando o tema violência, a sua queda passa, sobretudo pela elaboração de medidas capazes de dirimi-las desde a sua origem até as suas conseqüências.
Governo e sociedade têm de somar esforços para atingirem tal fim. E todas e quaisquer ações neste sentido devem ser bem vistas e recebidas com muita disposição.
Onde estavam os black blocs brasileiros?
Onde estavam os black blocs brasileiros até as manifestações que brotaram nas ruas em junho passado?
Inspirados em grupos internacionais eles começaram suas ações no Brasil timidamente em 2001 quando das manifestações da Ação Global dos Povos, movimento contrário à globalização neoliberal.
De lá para cá, entraram em um estado de quase inação ao ponto de suscitarem, hoje, indagações indignadas:
Por que não apareceram antes? Foi só o gigante acordar para que o grupo ganhasse volume e saísse em defesa dos manifestantes. Ou não? Seriam estes ativistas contrários às manifestações e com suas ações agressivas tentam enviar uma mensagem - “Parem, senão quebraremos tudo”.
São favoráveis ou contrários aos atos de reivindicações nascidos com os clamores das ruas?
As dúvidas são cabíveis uma vez que eles transformam em um pandemônio todo e qualquer ato reivindicatório como se ao contrário da promoção da união quisessem minar as forças e descaracterizar as ações genuinamente cidadãs.
Por que em uma democracia, quando uma pauta tem ampla representatividade, é coerente que sucedam traduções positivas de resultados. Somatórios são valorados pelos altos graus de repetência.
Isto é, quanto maior o número de indivíduos interessados que se reúne em torno de uma questão para obter vantagens, mais pressão exerce sobre os representantes políticos. E, quanto mais vezes elas acontecem, mais ganham adeptos para engrossarem a corrente.
Desde que sejam atos de cidadania, desde que respeitem os padrões de boa conduta e não firam os princípios da democracia. Desde que corroboram o posicionamento reivindicatório – todos têm direito a manifestar-se. E, nessa linha de pensamento, ainda pode-se afirmar que todas as formas de expressões que convirjam para o fortalecimento do Estado democrático são bem-vindas.
Na contramão dos direitos e deveres, os black blocs forjam uma intenção: proteger os demais manifestantes da polícia. Como se os seus atos de extremo vandalismo pudessem defender a população espoliada e pedinte.
Muito pelo contrário, eles expõem a risco desnecessário: militantes de uma causa, jornalistas, passantes ocasionais e a própria polícia.
Não é possível ignorar esse abscesso que drena as energias da massa ávida por participação. Muitos gostariam de dar continuidade ao que começaram em junho quando das manifestações surpreendentes que se alastraram por todo o país, mas desistem por força da situação perigosa.
Temem a ocorrência do enfrentamento físico e brutal com a tropa de choque que ocorre toda vez que os ativistas vestidos de preto provocam quando aparecem com seus martelos, estilingues e pedras. Então, sentindo-se abalados no quesito segurança, os cidadãos de fato, desistem de exercer a sua cidadania e as ruas ficam cada vez mais vazias destes.
Por trás de uma grande causa, nobre ou cancerígena, sempre há uma mente fértil que a lidera.
Pergunta-se: quem está por trás desta? A quem mais interessa a massa apequenar-se e se voltar para seu cotidiano singelo, sem grandes conquistas?
Quem é o grande mentor dessa paralisante anomalia que obrigou o Gigante a voltar para o seu sono profundo?
A pergunta foi lançada, senhores. Façam suas apostas.
Mahatma Gandhi
Oh! Grande Alma
Que vicejaste nos prados indianos
Para recenderes pelo mundo todo.
Sementeira de Deus que propagaste
Tão singularmente o exemplo do
Filho Unigênito espalhando o fundamental
Princípio da paz: a não-violência, o amor...
O grande e infinito amor!
Podias direcionar a tua generosidade unicamente
Para o leproso Shri Parchure
E deixar um mundo vazio das tuas obras.
Por que deixar as gerações futuras “apalermadas”
Com um exemplo vivo de Cristo?
Assim como Ele,
Solidário até a morte.
Bravo.
Forte.
Destemido.
Arrojado demais o teu ideal de mundo.
Onde fincar a bandeira da paz que empunhas
Com a coragem de um Guerreiro da Luz?
No deserto de um mundo desprovido
De Deus ela não pára, meu camarada.
Não se assenta nos bancos
De um mercado capitalista,
Egoísta
E desumano.
As tuas idéias e virtudes,.
Não param a queda vertiginosa
Da carência que aumenta cada dia mais.
Trazendo em seu bojo filhos desdentados,
Esfarrapados e pedintes. Ela dilata seu ventre
E dá a luz a centenas de milhões de filhos.
Aumenta-se mais e mais a mendicância
E a delinqüência
E o mundo fica cada vez mais órfão de Deus.
Por que, então, semear no deserto
Árido dos corações humanos?
Valerá à pena, meu amigo?
As balas que atingiram o teu corpo enrugado
E descarnado pelos jejuns,
Não cessarão a desenfreada corrida dos humanos
Às riquezas materiais,
Nem porão fim ao choro dos oprimidos das nações pobres.
Enquanto um número significativo de estadistas,
Líderes políticos e revolucionários do século XX,
Homens que fomentaram guerras
E propiciaram massacres horrendos,
Morreram de causas naturais;
Irás, meu bom e grande pacificador, morrer à bala.
Balas que provocarão feridas profundas.
Que farão o líquido vermelho ensopar toda a roupa
Tecida com as próprias mãos
Trabalhadoras na sua própria humilde roca
Balas que calarão a voz do ativista,
Mas que felizmente não matará o ser sublime
E iluminado que seguia os ensinamentos
De outros seres igualmente repletos de luz:
“Buda” e “Jesus Cristo.”
Disseste um dia:
"Possuo a não-violência do corajoso? Só a morte dirá. Se me matarem e eu conseguir ter, uma oração nos lábios pelo meu assassino e o pensamento em Deus, ciente da sua presença viva no santuário do meu coração, então, e só então, poder-se-á dizer que possuo a não-violência do corajoso."
Provaste Grande Alma,
Que possuías mesmo a não-violência.
Quando tombastes, entre gemidos, disseste:
- He, Rama! (Oh, meu Deus).
Esteja com ele Grande Alma,
Muito mais por mérito do que por misericórdia.
Para o assassino
É para ti que escrevo.
Limpando o pó da minha alma
Empedernida pelos crimes
Bárbaros que presencio
Lendo ou ouvindo.
Desatinados
Acontecerem sob o céu de Deus.
Ou da natureza bruta
Como queiras a tua fé.
Que talvez nem a tenhas.
A secura de amor talvez faça parte
Do labirinto da tua entranha.
E deves nem saber ao certo.
Que o mal é tão doloroso a quem o recebe.
Morrer, então é o fim.
E vem alguns dizer que não morremos
Passamos desta para outra melhor.
E se não for assim?
E se deixarmos nossas células
Germinarem outros organismos e
Mais nada. Fica o vazio de vida.
Que poderia ter sido e que não foi.
E cortada impiedosamente.
Curta, breve.
Tão somente.
Um tempo estreito que sem jeito.
Levou nossa fala e nosso canto.
Pode-se às vezes, por sofrer
Até querer morrer.
Mas depois se levanta e prossegue.
E destempera o que tiver acima
Da medida exata que combina
Com o tom leve que se pode suportar.
Se tiver riso demais, buscamos o comedimento.
Se lágrimas acima do normal.
Damos uma enxugada nelas
E dá-se o prosseguimento.
Na caminhada.
Então, se alguém gritar
Denunciando crueldades.
Anunciando as verdades.
Que podem contaminar.
O mundo. Não maltrates.
Ah! Não, por favor, NÃO mates.
Cristo
Suponho que tinhas a impetuosidade
Do homem que nasceu Santo.
E que podias mandar e desmandar
Da ordem natural das coisas.
E é sabido que o fazias.
Pássaros de barro voar.
Meninos malvados caírem mortos
E secos diante da tua ira.
Deus entre o mal nascido por escolha
Pobre e revolucionário.
Do contrário o que pregam é heresia.
Ou serei eu a única herege?
Porque fico ensimesmada
Ante tamanha contradição.
Não que eu não acredite em tua Divindade.
Deusdade.
Mas, convenhamos Senhor
Morrer por um mundo torpe?
Desigual até ultrapassar limites
De aceitação pacífica e cômoda.
É ultrajante.
Ver caminhar entre rios de dinheiro.
A corja maltrapilha e esfomeada.
Os excluídos do bojo da abastança.
É, no mínimo, insofismável.
De que morreste em vão.
Ou não?
Tenho sido anacrônica
Por voltar atrás em busca
De conceitos e preceitos
Que não casam mais na nossa dura realidade.
Fria e calculista.
Do mercado capitalista.
Que utiliza seu nome para gerar fartura
De dinheiro, não de almas.
Vendem sua fala que torceram
Para enganar o incauto.
Duvido que falavas em divisões
Desiguais.
Aconselhando-nos
A não nos importarmos com os pobres
Pois o mundo sempre os teria.
Não consigo imaginar um Deus
Criando um mundo para povoá-lo
De miseráveis.
E vê-los chafurdar na lama
Por puro prazer.
A desigualdade Senhor, é filha
Da cobiça
Do desmando dos lá de cima.
Que acham que podem posar de
Donos e posam sem escrúpulos
De curadores de almas e feridas
Da humanidade esquecida
Dos direitos básicos da vida.
E se foi por ela que morreste,
Então por que tardas tanto?
Senhor, em voltar.
Já é sem tempo, pois o teu mundo
Degringolou
Tudo piorou.
Tens de vir para ficar.
Não morrer mais pendurado
Pelos pecados.
Mas ficar eternamente entre nós.
Pois o que pregam é tão distante.
Da verdade;
Que nós deixam errantes.
E incrédulos.
Da tua sorte.
Da tua escolha de morte.
Tiradentes
Tira, tira Tiradentes.
A tua presença viva dos anais da história.
Liberdade ainda é inglória.
Melhor que vás para São Paulo ou Bahia.
Deixa as Minas e segue sem jamais
Olhar para trás.
A Inconfidência é conspiração à coroa
E terás sina de forca.
Esquartejamento público.
Teu corpo será colocado
Como bandeira,
E desfraldado
Contará para o mundo a tua ignomínia.
De lesa-majestade.
Deslealdade
Com o poder maturado da Europa.
Lideras uma causa sem remédio.
Teu país dormirá por décadas
No seio da impunidade.
Da discriminação
Da contramão
Da desigualdade.
Gritante!
Pedante!
Dos homens do comando.
E teu sonho ainda é um esboço
De um projeto que começa a se desenhar
Na conjuntura arredia
Porém, esperançosa.
De uma nação forte que quer mudanças e inspira
Ainda mais o lema.
Liberdade, ainda que tardia.
Olga Benário
Os campos de extermínios
São frios e lavados com o suor dos corpos
Que exalam ânsia por mais vidas nas suas vidas.
Então Olga,
Não vás atiçar o ódio dos nazistas,
Pois eles punirão aos que forem contrários às suas regras,
Covardemente.
Impiedosamente.
Deixa as tuas idéias
De um mundo comum a todos
Guardadas na gaveta mais recôndita
Da tua alma,
Do contrário não ninarás Anita
E nem colocarás a fita
Nos cabelos sedosos de criança dócil.
Não troques uma vida inteira
De ternura entre os beijos
E afagos da filha amada por um sonho vão.
Lamento,
Sem tento
Desatinado e improvável.
A velha União será sorvida
Ao sopro do furacão do ocidente.
O capitalismo canibal que se apossou global
Estende seus tentáculos para o Leste
Que inerte
Cambaleia e agonizante desfalece,
Enfraquece
E tomba.
Igualitários países sem almas e sem sonhos.
De que adianta comer
E não poder tecer
A renda que enfeita a nossa vida tão curta e frágil?
Não Olga.
Melhor que a comida é ter a liberdade de alçar voos.
É caminhar por entre a multidão
Descobrindo rações que fortalecem a alma,
E com a calma de um passante contemplativo,
Deixar-se descansar até tomar novo fôlego
Para a jornada no meio às descobertas
E poder subir galgando degraus
E pode-se até cair,
Mas com o tino de que o prumo é a meta,
Certa para os filhos do Universo.
Por falar em Uno,
Temos a beleza estendida
E naturalmente construída
No ventre da mãe natureza.
Pare e pense um pouco nas coisas
Que teus olhos perderão para sempre.
Vê, ainda é mais caro Olga,
Ficar entre os muros sombrios
Dos campos de concentração.
Então, não vá lá não.
Esquece a aflição dos miseráveis.
E volta para o seu mundo abastado.
Ah! Querida, entendo.
Sabendo.
A agonia dos excluídos
Buscavas igualar os direitos deles.
Como matar a guerreira que grita dentro de ti?
Só mesmo aquele gás mortífero.
Só assim a Olga não lutará mais pelos
Irmãos caídos
Estendidos pelo caminho
De uma vida estreita e sem horizontes.
Assim pensavas e foi tão válida
A tua luta.
Que o mundo inteiro hoje te coloca
No pedestal de heroína.
E só isso importa!
Vladimir Herzog
Olá Vlado!
Estou buscando inspiração na tarde sonolenta de janeiro.
Choveu o dia quase todo.
Agora o sol tenta romper a neblina
Que insiste em ficar na atmosfera
Carregando-a de lágrimas.
Não dei conta de suportar a nostalgia
Que a impotência causou-me.
Pensei em ti e chorei.
Depois de tanto tempo?
Como pude?
Nem eu mesma soube explicar.
Só sei que precisava desabafar
O nó preso na garganta
De um tempo negro demais
Que não pode voltar
A não ser nas lembranças
Para rejeitarmos esses moldes
E nunca mais vê-los novamente implantados
Nos nossos portais humanos.
Não vamos falar a versão deles Vlado.
Sejamos diretos e simples tanto quanto o tamanho
Do ardil vil
E obscuro construído
Nas salas do DOI-CODI.
Covardemente mataram você.
Como o fizeram com muitos.
Alguns ficaram vivos,
Mas saíram “mortos” de medo.
Pela dor causada por torturas físicas e psicológicas.
Ainda hoje são devorados nas entranhas
Por tais monstros.
Como voltar atrás e não atender ao chamado do algoz?
Melhor fugir para o exílio e voltar
Quando as amarras caírem
E a perversidade for extirpada do ventre da nossa Pátria.
Tão Soberana!
Que mergulha por querer numa dolorosa
Repressão aos contrários do militarismo.
A palavra liberdade
Parecia estar em desuso,
Principalmente nas frias salas de interrogatórios,
Onde se lavavam com sangue
As memórias daqueles que ficaram
Enjaulados
E acuados diante de tanto horror.
Talvez porque o alto comissariado
Não compreendesse o mais profundo significado
Da dignidade humana
E que ele não se estampa naquilo
Que a pessoa faz ou diz,
Mas simplesmente no fato
De ser pessoa humana, devendo,
Por direito, ser tratada como tal.
Instrumentalizaram as pessoas
Em vista dos seus sórdidos interesses.
Feriram-nas.
Torturaram-nas até mais não suportarem
A agonia de ser gente.
E renitentes assenhorearam-se das idéias
E ideais de liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
Que tão bem a velha França gritou.
Espernearam aqui os seguidores deste lema.
Defenderam com suor
E muita luta o Brasil das garras
Dos poderosos parasitas podres,
Que infestavam as esferas governamentais
De um país mergulhado no choro.
Choramos lá
E agora ao recordar só queremos suplicar
Plagiando Dom Paulo. Brasil: Nunca Mais.
Sei Vlado que ficaste como divisor
De águas do hediondo tempo ditatorial.
Após tua partida,
Intelectuais e meios de comunicação
Denunciaram anunciando o fim do terror.
Levantaram-se as bandeiras
Dos filhos destemidos
Da Grande Mãe Pátria para todos.
E calados locupletaram a Catedral da Sé
Num ato heroico de repúdio ao regime ditatorial.
E de lá para cá
Temos colocado no poder
A nossa alma carregada de esperança.
Elegemos nossos governantes
De acordo com a vontade popular.
Oxalá que acertemos um dia
O melhor caminho para a glória de toda a nação.
Estamos carentes de um Grande Estadista.
Alguém capaz de dirimir as exclusões
Que o perverso sistema capitalista cria
Que plante visando as futuras gerações.
Políticas públicas robusta que recriem
A humanidade que tanto sonhaste.
E contigo tantos se não mortos,
Torturados pela ditadura.
Queremos a democracia de fato.
Direito sagrado nosso.
Está lá, na nossa Carta Magna
Por que continuam nos negando?
Até quando?
Fingiremos que tudo está bem?
John Kennedy
Olá John.
Tomo a liberdade de dizer antes de tudo que meu coração
É um pouco teu apesar de já te encontrares
Em outras dimensões quando pude alcançar a tua história.
Se estivesses aqui ainda,
Talvez fosses o meu único e grande platônico amor.
Mas, escrevo-te este não para falar
Do teu sorriso provocante que ainda quando vejo fico a
Desejar as brumas milagrosas de Deus.
Tão pouco falar de coisas desabridas
Para não carregar de rancor as tuas páginas
Tais como a guerra do Vietnam e os anos de chumbo
Do Brasil. Neste espaço eu me permito realçar apenas a nobreza
Não a vileza, pois todos nós temos um pouco dela, senão muito.
Não John.
Vou dizer-te coisas boas que fizestes e que tratam da derradeira
Ordem do Criador quando quis sua imagem
Refletida na criação:
“Amai-vos uns aos outros.”
Agora pesquiso a tua história
E está tudo lá:
O teu grito de amor tingindo as velhas páginas
Com a cor, o cheiro e o sabor da verdade:
Querias um mundo mais humano
Com direitos iguais para os filhos desprovidos
Da fartura do rico império impiedoso de alguns.
Querias "um mundo de lei e livre escolha,
“Banindo a guerra e a coerção”.
Teu governo desenhou o início
De uma nova esperança na direção
De direitos iguais entre americanos
E em busca da paz mundial.
Tentavas desmilitarizar
– ABSURDO –
O mundo feito à base de sangue e armamentos.
Como John?
De que maneira derreter
Os moldes dos impérios fortes forjados
Com o aço das lâminas assassinas
Que enriqueceram alguns.
E como enriqueceram!
Até se esqueceram que são mortais.
Projetaram-se deuses e ditaram extermínios.
E existem, também, e lamentavelmente,
Os fanáticos.
Aqueles que matam em nome do nada,
Sem causa, sem origem.
Apenas matam.
Eliminam sem piedade os homens carregados
De sonhos e projetos.
E como os tinha John!
Estavas grávido de idéias
E teu ideal de mundo não diminua tua glória.
Esplendoroso e viril. E belo.
E homem.
E presidente de uma nação despontando forte,
No Norte da América.
Então, o covarde Lee Harvey Oswald,
Calou a tua oratória e pôs fim
Ao teu inflamado discurso que arrebanhava multidões
E te privilegiava com uma boa popularidade.
E morre contigo, a esperança.
O sonho de uma América mais humana,
Mais justa e sem armas.
E, depois de muito, vem historiadores
Sustentarem a tese de uma conspiração.
Quão inventivos!
Será John que aquela bala disparada
Fora programada
Para partir na tua direção,
Pois terias contrariado profundamente os interesses
De indústrias bélicas
E de militares ao lutar pelo fim da corrida armamentista,
E como resposta,
Industriais e militares poderosos teriam
Tramado a tua morte?
Ditado a tua sorte?
Ah! John! Não!
Eles não seriam tão radicalmente perversos
E frios
E desumanos e
Bestiais a tal ponto.
Não ao mesmo tempo.
Não comungariam a mesma horrenda e macabra idéia.
Bom pensar que a maldade foi apenas de um único ser.
Fica mais fácil assim John.
Suportar o mal, encarar o mundo.
Viver.
Ainda precisamos acreditar na bondade.
Tanta perversidade
Apaga em nós a chama
Da esperança de um dia sermos todos iguais.
E por falar em igualdade.
Descanse em paz, a tua América mudou de cor.
Hoje a Casa Branca tem inquilinos
Da Raça dantes espezinhada.
Diminuída e combatida
Por puro preconceito vazio e sem sentido.
Ela alçou o voo da vitória.
E a na história ficará o registro da passagem,
E porque não?
Da permanência longa de uma era nova,
Sem racismo,
Pedantismos
Dos brancos engravatados ou não.
Até sem colarinhos,
Portando a simplicidade nas vestimentas,
Mas por dentro,
Lamento...
Tanto; são rebuscados
E empertigados torcem pela guerra
E muitos a fomentam.
Do ódio, do preconceito virulento que destrói a paz.
Chegaremos lá John?
No teu tão sonhado mundo de igualdade?
Que Deus permita!
E continue salvando as Américas.
Elas todas: Sul, Central e Norte.
Brademos, então, uma vez mais com muito fervor.
Deus Salve as Américas deste rapaz sonhador!
Martin Luther King
Olá Martin.
Quanto tempo o teu sonho de um mundo
Sem segregação permaneceu apenas
Nas esferas recônditas de almas puras
Assim como a tua.
Simplesmente nas mentes pacíficas
De homens sensíveis como foste tu.
A tua voz firme, porém,
Ecoou nos ouvidos vazios
De almas empedernidas
E retumbou no eco da eternidade.
Deus ouviu o teu clamor
E enviou para a América,
A tua América,
Um filho da mesma raça valorosa e ditosa!
Que raça!
De brio.
De luta.
Por três séculos enfrentaram uma contenda laboriosa
Em busca de direitos iguais aos dos brancos.
As razões eram mais do que justas Martin.
Sabemos,
Nós que acreditamos na eternidade,
Que as características raciais não pesam na balança
De Deus que é por querer multifacetado.
Ele não tem preferências,
Também de ideologias e credos.
Credo!
O que faremos como nossas tortuosas alienações
À custa das muitas imposições marteladas
Nas idéias dos mais frágeis?
Isso ecoa na eternidade.
Não silencia na mente de Deus,
As nossas culpas.
Os atos impiedosos dos dominadores sobre
Os dominados ficam ressoando no ouvido divino,
E os gritos da massa manipulada acordam a sua fúria.
Por outro lado, para que termos medo Martin?
Não somos nós eternos?
Não é a nossa capacidade intelectiva tão duradoura
Quanto a nossa soberba?
Por que temer, então,
A ira divina que os nossos preconceitos levantam?
Calamo-nos diante da perversidade
Dos preconceituosos raciais, sociais e religiosos.
É, pois, nossa culpa, também?
Claro que não!
Convivemos tranquilamente com nossas consciências.
Porque não somos individualistas
Quanto aos propagadores da exclusão dos negros
E dos pobres.
Apenas nos calamos diante das maldades dos
Sem coração. Sem pudor. Sem amor.
Nós nos igualamos aos primeiros, Martin?
Não!
Somos crentes a Deus.
Apenas nos silenciamos diante das injustiças.
Para que gritar o grito dos oprimidos?
Oh! Não queremos entrar na mira dos injustos.
Doe demais Martin.
Às vezes, pode ser rápida, na maioria delas, dolorosa.
A morte dos que vigiam o ódio dos extremistas
E o descaso dos omissos.
Daqueles que não suportando prosseguirem
Num mundo banhado de lágrimas inocentes
Empunham a bandeira da luta não violenta
Pelos direitos iguais.
E Não somos iguais Martin.
Que pena!
A massa da qual fomos fabricados,
Nós os Não ativistas,
Foi moldada nos fornos do desafeto.
Da inércia.
Da preguiça.
Da insensatez.
Do medo.
Da covardia.
Ao contrário,
O fermento que deu vida ao homem Martin,
Brotou um dia no chão da velha África,
Com a cor púrpura da dignidade, da estima
E do valor e alastrou-se pela América.
Destemido.
Ativista.
Corajoso.
Herói.
Como, então podes querer que sejamos iguais?
O distanciamento é incomensurável.
Como pesar na mesma balança a força de um homem
Que labuta pelos semelhantes com a voz do homem
E a atitude de Cristo? Quem se iguala a ti Martin?
Poucos.
Apenas alguns que se diferenciaram na história
Da caminhada humana
E escolheram viver para a eternidade.
Eu, como a imensa maioria quero e vou permanecer
Não ativista.
Só comodista.
Egoísta.
Individualista.
Deixa estar Martin,
Que teu grito já acordou as consciências
E a tua América, reverencia outro da tua Gloriosa Raça.
A tua cor Martin,
É hoje o expoente da Política mundial.
Quer mais?
Como tu, também, Nobel da Paz!
Permanece com Deus, valoroso guerreiro,
Que a tua morte, por sorte,
E por merecimento,
Mudou os modos da tua América.
E que Deus a abençoe hoje e sempre!
Tim Lopes
Olá Tim,
Preciso segredar-te algo
A respeito dos homens impiedosos:
Eles possuem um comportamento
Avesso aos mandamentos de Deus:
Não matar.
E não matar, eu,
Na minha sensibilidade quase infantil diria que é tudo,
Desde uma formiga até um Arcanjo como foste tu.
Então,
Deixa tuas investigações seguirem um curso mais ameno.
Sobe o morro sim,
Mas desvia o tema para os rebolados
Das meninas na dança Punk
Onde se enrolam suados corpos encharcados de bebida
E desejos libidinosos.
Deixa prá lá os meninos grandes
Que as usam como depositárias
De seus espermas que de carícias só as que rugem
No interior das feras criadas no mundo sem princípios,
Sem amor, sem piedade.
Estes meninos grandes não sabem o valor da vida
Construída
Na fé de uma força pacificadora que se entranha
Estranha na fartura de um rico servidor do amor:
Deus.
Deixa Tim,
Que todos já sabem o que vais investigar.
A sociedade sabe,
Os da Lei sabem.
E todos só lamentam,
Apenas lamentam impotentes
Diante da gigantesca serpente
De dentes afiados e não têm coragem de desafiá-la
Para ela parar com seus botes nos seus co-irmãos.
Ela vai arrebanhando na sua enorme gula,
Cada vez mais aficionados,
Viciados,
Entediados filhos do caos.
Sua artimanha é fabricada
Nos virulentos labirintos das dores humanas.
Ela aproveita das fraquezas do solitário
Sem apego às coisas Divinas.
Das meninas.
Dos meninos.
Filhos do horror.
Sem esperança.
Sem luz.
Caem nas redes que o submundo tece tão bem.
Ai, pobre deles!
Que não tiveram como Tim,
Uma direção delineada,
Desenhada por mãos de amor.
Seja como for, não vás Tim.
O Prêmio Esso, esofágico,
Regurgitará a ira dos narcotraficantes
Que irão torturar-te sem pena e conhecerás
Os horrores da dor quando ultrapassa
Os limites do humano
E derruba o homem para a condição de feras acuadas
E indefesas.
Esquece o prêmio Tim.
Leva tua micro câmera
Para a praia de Copacabana
E enquadra os quadris das meninas untadas
De bronzeadores e enegrecidas pelo namoro no sol.
Elas vão retribuir
Com um sorriso ingênuo
E despretensioso,
Tanto quanto à vida que lhes entorna
Pelos passar dos anos,
Promessas de encontros casuais
E poucos compromissos nupciais.
Nem precisa Tim,
Elas querem viver o momento
Que é breve demais para se correr atrás
De perigos escondidos num morro habitados
Por narcotraficantes
E frios matadores de gente de boa fé.
Eles vão matar
O menino que era um pedaço de dona Maria do Carmo.
Tecido no ventre de Maria,
Era um pedaço do coração dela
E era só coração
E alegria.
Como disseste no Crônica que tão bem compuseste
Para ela, a mãe.
Carne, coração, alegria, também tristeza e um pouco ela.
Então, não vás, pois ela jamais será inteira
Depois de tua partida.
E tem o Bruno que órfão
Não terá mais um colo autenticamente paterno.
Não Tim,
Se mãe é única,
Pai não tem substituto igualmente.
Fica para que a mulher,
A Alessandra, não sofra o horror do vazio de abraços.
Não deixes Tim,
Que se percam teus espaços de esposo,
De pai e de filho tão queridos.
Ah! Sei... Tua consciência te chama amigo.
Teus ideais... Que dor! Que pena!
Então até mais.
Irmã Doroty
Irmã Doroty
Tenta o silêncio para não deixares rastro
Para os teus perseguidores.
Busca a religiosidade dos conventos de clausuras
Sem o contato com o mundo cão.
Não!
Não apares as arestas da sociedade sem lei
E impiedosa para com teus pobres.
Pára de falar mal dos maus.
“Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar.”
Foge sim, irmã.
Do contrário não verás “as águas de março”
Enxurrarem as valas e o magnetismo das aluviões
Arrebanhando tudo o que se lhes impedem o caminho.
Não molharás mais os pezinhos ligeiros nas poças d’água
Das ruas desnudas por onde trilhas para evangelizar.
Senta irmã,
Os meninos ainda precisam ouvir tuas estórias de amor
Que contas nas aulas de catecismo
E espalhar seus risos inocentes quando fazes cócegas
Em suas orelhas pequenas.
Os olhares deles não repousarão mais
No semblante amoroso de mãe e amiga,
E não terão mais o carinho da mulher solidária
Que lhes levava alegria
E amparo para atravessarem suas travessuras
Com mais gosto.
Ah! Não irmã.
Quem irá lhes informar sobre
O Sol do céu que solda os corações
Em festa quando a primavera orquestrar
No Paraíso as pegadas dos rebanhos do Senhor?
Finge que não tem importância
Os conflitos que trovejam aí no seu Xingu.
O do Brasil dos brasileiros que só querem ver nascer
A esperança de uma Pátria Gentil
Com riquezas mil
Para todos.
Depois que será tão sombrio o amanhecer
Sem a amiga e batalhadora.
A orfandade desencadeará a morte
Dos filhos também.
Morte de sonhos,
Morte das ilusões,
Morte do alimento que lhes chegava à boca com fartura,
Pois tinham Dorothy lutando braviamente por eles,
Por geração de rendas e emprego.
Suas bocas ficarão escancaradas à espera
E famintos calarão o grito da desilusão e da revolta.
Quem importa?
Ninguém mais os ouvirá.
Cadê a pastora que lhes conduzia pelos trilhos
Da abundância
E despejava nos seus corações
A esperança de uma terra rica e generosa?
Ouve irmã,
O grito da araponga ressoando no sertão.
Dizendo não.
Não vás ainda,
O teu rebanho se perderá sem o teu norte
De tão grande porte,
Que nem tem comparação com os outros que ficarão
Chorando a verdadeira,
A filha de Maria,
A irmã da caridade que sem vaidade abarcou os pobres do
Xingu com seus mil braços de perdão,
Compaixão, generosidade,
Piedade e de amor.
O amor expandirá suas garras tentando em vão retê-la.
Quem o usará com igual propriedade?
Por caridade irmã, fica.
Só mais um pouco, uns trinta ou menos,
Vinte anos,
É claro.
Para que desprendas das mangas
Tuas cartas contra a escravidão
Dos corpos frágeis e necessitados de Anapu,
Do Xingu,
De toda a Amazônia e de Ohio também.
Têm pobres lá,
O rastro dos impiedosos atravessa fronteiras
E atinge os extremos
E até os ricos países gordos de mandos e desmandos.
Tem também famintos na América?
A tua que deixaste para trás para vires
Para o fundo do mundo.
Sim, irmã, ela os têm.
Mas quiseste viajar numa caravana de bondade
E adentrar a famigerada floresta com pertencimento
Ao estrangeirismo.
Que abismo!
Estão levando-a como se leva algo insignificante
E assim “como quem não quer nada”,
Roubam-na a impenetrabilidade
E a grande biodiversidade.
Irão reduzi-la, nesse passo, ao nada absoluto
E o pulmão do mundo morrerá.
Junto com ele, também, a Stang.
Que pena amiga!
Saudade...
Cantiga de uma excepcional
Primaveras?
Não as tive. O sol brilhou e as flores floresceram
E não pude vê-las.
Estava estática dentro da jaula
Fria da alma filha da tristeza.
Belezas?
Quais?
Jamais tive a chance de ganhar
Sequer a esperança de ser
Igual
Gente como tantas
No mundo cheio e plural.
Não me percebem
Fico à mercê da minha necessidade
De mostrar que posso mais.
Do que me conferem
As mesquinhas parcelas dos que crêem
Que são mais que eu.
Enganam-se por que
Eu sou capaz.
Apostem em mim
E vão perceber que posso amar
E que no meu universo cabem
Sentimentos e idéias
Dos seres ditos normais.
Crianças-soldado
Os meninos-soldado na maioria, africanos
Não têm tempo para os folguedos. Seus brinquedos?
Pistolas, fuzis e metralhadas.
Matam, decapitam friamente e prosseguem indiferentes.
Chutando os membros mutilados
Dos inimigos. Cirandas?
Nunca seus ouvidos ouviram
As suaves melodias infantis
Carregadas de magias.
Seus sonhos foram visitados
Pelo terror que as guerras civis criam.
E arrancam de suas entranhas.
A suavidade da infância.
Tornando-os tão malvados
E ousados quanto ou mais que um adulto.
Recebem ordens de arrancarem mãos
Cabeças, e as cumprem fielmente.
Como se estivessem apenas
Pulando a amarelinha.
Soltando o pião. Não têm culpas
Desses desvios de condutas
São crianças que não tiveram a sorte
De nascerem em paz.
Foram plantadas
No meio de intrigas.
Brigas.
Muitos perderam pais.
E como vingança.
Aprendem a matar.
Deixam o amor de lado
Dura fatalidade.
E se transformam
Triste realidade
Em crianças-soldado.
Eleni Mariana de Menezes
A Apedrejada
Meu nome é Asho
Tenho treze anos e vou morrer
Por apedrejamento.
Ao relento
Dos corações endurecidos.
Fui condenada por prevaricação.
Num tribunal paralelo.
Meu crime?
Fui violentada,
Estuprada.
Rasgada na minha inocência
Eu só tenho treze anos
Acudam-me. Quem pode salvar-me?
A primeira pedra feriu a minha cabeça.
Pulei dentro do buraco,
Cheio de pedras
Tentando fugir.
Eles vieram atrás
50 homens,
Fortes e raivosos.
Acossaram-me.
Socorram-me.
Agora me apedrejam sem parar.
A dor é aguda e atroz
Vomitei.
Gritei.
Urinei.
Defequei.
Inúmeras vezes de dor.
Agonizei.
Cadê a Anistia Internacional?
Onde está a voz dos Direitos Humanos?
Estou agonizante
Só tenho treze anos.
Não quero morrer.
Muito menos agora,
Por lapidação.
Abriram vários buracos na minha cabeça.
Esfacelaram-me.
Estou sofrendo dores
Do tamanho da maldade deles.
Enfim, vou morrer
Após duas horas dolorosas.
Com a vergonhosa aquiescência do mundo
Eleni Mariana de Menezes