Coleção pessoal de elenimariana

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POSSE

Meu coração é atemporal amor

Por isso transito

Entre longínquos dias e o agora.

Pouco importa se não possuo no momento

Algo concreto de tua poderosa pessoa.

Guardei no meu coração o teu sorriso

Tua voz. Teu jeito indecifrável de fingir

Desinteresse quando eu sei, querias

Via fagulhas de amor no olhar teu.

Fui tua lua, teu luar, sonar...

Foste meu sol, meu arrebol,

Bastou-me.

Porque eu tenho o mágico poder

Das deusas apaixonadas.

E engavetei na minha alma

A tua essência. E atravessei

Meio século de existência

Sorvendo o teu sabor

Demasiadamente homem

Desumanamente inibidor

De nãos. Talvez, ou quase

Absoluta e resoluta estive ai na tua posse.

Que seria desse ser sem estas lembranças?

Seriam o tédio e o vazio engolidores

De mim.

Letargia

Laço apertado. Nó gigante. Amarrou a minha

Vontade de partir.

Buscar o quê?

Estática. Fico fitando nada.

Uma estranheza de não saber o que deixei passar

Sem pegar. Requisitar e nomear de meu.

E o vento chega enredando que é tarde.

Que nada volta pro lugar

Tudo é dinâmico.

Só a minha languidez é eterna

Meu estado de hibernação

Não desemboca

Pra nenhum acordar de esperança.

Se estou sem riso e sem siso

Também estão enxutos os meus olhos.

De lágrimas inexistentes que não rolam mais

Em face desfigurada e envelhecida

A viuvez de amores

Visitou-me e se instalou definitiva.

Na minha alma, no meu querer, na minha vida.

Só sei e sinto muito

Que a letargia me engoliu

Total. Inteira.

Gerúndios de outono

Vou estar tentando escrever a minha lenda

De prenda nada. Preciso preservar a minha


Vou estar redesenhando o meu destino.

Desatino. Não sou nem mesmo desenhista.

Vou estar reconstruindo a minha estrela.

Sem brilho que se apaga dia após dia.

Vou estar bebendo meu último cálice derivativo

Do sacrifício que eu escolhi para padecer.

Vou estar soltando todos os bichos presos

Dentro do meu ser pequeno e intempestivo.

Vou estar decifrando meu enigma.

De não ser nem de longe o que sonhei.

Vou estar navegando entre as almas

Sonâmbulas que giram em torno de si mesmas.

Vou estar aqui neste lugar

Gerundiando e cometendo neologismo

No meu tempo de outono

Pra ver se acaba o meu abismo.

E no infinitivo possa a minha primavera retornar.

COISAS DA LUA

Chego à janela e fito a Lua

Então ela me pede pra ser sua namorada;

Eu respondo

— Não pode ser. Talvez eu namore o Sol.

Por que ele é masculino, você é feminina e sou mulher.

Ela retruca indignada e meio sem jeito.

— Xô preconceito!

A MESMA SORTE

Eu quero a mesma sorte dos casais que celebram
O amor em um jantar-cruzeiro com "Marina de Paris",
Descobrindo a cidade Luz enquanto saboreiam um refinado menu
Para aqueles que pelejam no Zimbábue em condições subumanas
E se espremem em minúsculas cabanas
Feitas de barro
Com seus filhos desnutridos e sedentos.
Ir até o continente africano nem precisa.
Quero essa mesma sorte rica para os brasileiros
Ensacados numa bolsa de codinome família.
Esmola que lhe estendem para lhes comprar o dedo
Qualquer um deles que vá apertar a tecla
Que garanta para os do poder o sustento, que sustento!
Tenham tento...
Uma preciosa caixa com milhares de aumento
Dois?
É apenas um nome simples, mas que guarda uma inimaginável
Montanha de dinheiro.
Que dá até pra comprar aviões.
E outros, vão extorquir esfoliar o povão e se refestelarem
Com a barriga cheia em Planaltos e planícies
Com suas esquisitices
De se autoproclamarem salvadores da Pátria Amada.
Então eu quero a sorte dos mandachuvas estendida
Para cá, para os que ficam do lado de fora do muro das mansões
Para os que vagam nas ruas
Moram em casebres
E sobrevivem de lixões
E se enjaulam em prisões.
Não vou aceitar menos, nem para tal
Proponham-me nada menor do que isto.
E tenho dito.

SOU EU

Fiquei perdida entre as tuas coisas

Magníficas ou pequenas. Por pouco

Achavas o meu riso solto ou embrulhado

No papel que escrevias os teus versos.

De amor não pude tecer nosso namoro

Debruçada na janela da tua alma embebida

Nas paixões que entornaste toda a tua vida.

No trovejar da voz que soltas quando atinges

O ápice do amor. Então, navego por telepatia

Na mesma magia.

Não é comigo, mas atinjo, também, grande ironia

O auge de ser troca, ser o outro, ser um só.

E quando sentes o arrepio de uma alma que te busca e

Beija-te até secar todo o desejo.

Afaga-te tanto que desemboca noutro lampejo

De mais querer. E tudo se repete.

Infinitamente,

Em pensamento apenas, lamento.

Ai sou eu. Apenas eu.

Perda Dolorosa

Retalhos das minhas lembranças estão por todo canto
Num desespero da alma que tenta ajuntar os poucos
Momentos de lucidez
Revisito minhas lembranças pra ver se te encontro
Ao menos nelas ou talvez
Resgate um gesto teu não acenado.
Por medo da minha impetuosidade.
Tinha de ter sido menos intensa
Com maior zelo da minha fala
E não ter extravasado o meu amor
Que liquidifica todo o esplendor
Da descoberta
Ah! Oferecida em demasia
Não podia
Ter entornado o meu coração nos meus recados
De amor pra ti.
Por ter sido sincera, tornei-me leviana.
Por ser afoita assassinei a esperança
E fiz lances tresloucados, ousados
E no fim
Perdi.

Miligrama de Verso I

Dentro do Universo, nossa galáxia.

Dentro da nossa galáxia, a terra

Dentro da terra, Eu

Dentro de mim, o deserto

Dentro do deserto, um oásis

Dentro do oásis, uma fortaleza...

Teus braços.

O preço de um sorriso

Dizem que um sorriso não custa nada.

Custa sim, e, bastante.

Quanto custa, então?

O meu vale:

Algumas dolorosas horas na cadeira da minha dentista

E uma considerável quantia subtraída da minha conta bancária.

EU SONHADOR

Olho pelo retrovisor da minha alma
E revisito com estranha calma
Meus momentos saboreados
Quando ainda, eu cheirava
A tinta fresca da vida.
Tinha, então, apurado o senso da alegria
E meus dias transbordavam de ternura
Entornava meus sons de amor por onde percorria
Da própria aventura
De ser gente.
Minhas noites eram carregadas de magia
Postada à porta uma imagem luzidia
Talvez fosse meu Anjo,
E me servia.
De espelho ali na minha frente.
Indecifrável e inteligente.
Que me guardava de mim mesma.
Onde está agora aquele ser
Quando mais dele preciso?
Por onde anda, por que não está mais comigo?
Não volta mesmo que eu implore de joelhos
Morreu?
Creio que não, apenas desistiu dos risos.
E perambula por ai tonto à espera.
De um final senão feliz, ao menos
De um sofrer menor.
Quem era?
Era o meu outro Eu, o sonhador.

Miligrama de verso II

Alcandoradas esperanças!

Viajo pelo Universo nos teus rastros

À procura das bem-aventuranças.

Do encantado tesouro dos teus braços

Somos partes de um todo

Senão por que a sede e a fome

Devoradores das minhas entranhas?

Causas estranhas

Que não me deixam inerciar

Vivo a trovejar

Para o infinito o meu grito

Que ressoa pelos séculos.

Pois meu amor por ti é milenar.

Miligrama de verso III

Passado?


É perdido.

Passo para trás.

Prefiro o


Presente lúdico que me


Presenteia com os sabores do agora.

Miligrama de verso IV

“Quando derramas sobre mim o teu olhar de Sol,
neste momento,
só neste momento
eu ouço o som do coração do Universo
e experencio a eternidade.”

"DOIDA DE PEDRA"

O amor não viu a tua fulgurante beleza

De Aurora Boreal

Que ofusca as visões que contemplam teu semblante.

De deus belo.

Que atinge o âmago das almas apaixonadas

Perdidamente enamoradas

E nada dela tenho.

Não respeitou o odorífico frescor da tua pele.

De juventude que suscita desejos

De pertencimentos e afronta

A minha idade avançada.

E eu perturbada

Ruei às tontas tentando me aprumar, em vão.

Tão pouco mensurou as nossas diferenças.

A tua graduação

Elevada

Tua sumidade construída não por acaso

Em longo prazo

Entre livros e laboratórios

E a minha pouca, quase analfabeta.

Muito indiscreta

Vontade de te alcançar. Como seu eu pudesse!

Desfazer a abissal fenda

Que nos separa. Tu és A, eu quase Z.

Numa verticalidade de ABCD

Quando te amei...

Estava louca.

"Doida varrida"

"Doida de pedra".

Miligrama de verso V

Eu te fiz uma proposta:
O de sermos um romântico par na longa caminhada.
Refutaste sem nenhum pudor de me ferir.
Fizeste bem
Se seguíssemos meu ritmo
Ficarias entediado com o meu vagaroso e singelo caminhar.
Se seguíssemos o teu
Eu ficaria infeliz por não conseguir te alcançar.

Crônica para Luíza

Luíza foi meu luzeiro por bons janeiros.
Amiga, derramava no olhar tanto afeto
Para mim
Como se filha dela eu fosse também.
Além do riso, tinha a fala, tinha o gesto
Um certo quê de bem-aventurança
E por ser uma mulher forte, foi meu norte
Em dias turbulentos de adolescente perdida
Sentava-me com Luíza e recebia conselhos
E atenção.
“Filha, por ali não”, ou “sim filha, você está certa,
mas pode melhorar se fizer de outra maneira.”
Ganhava-me, então, e corria a atender sua vontade.
Com uma sólida liberdade.
Transitei na sua casa e na sua vida
Por isso, Luíza esteve no meu coração
Por todos esses anos em que a vida nos separou
E o tempo não apagou minhas doces lembranças
Do amparo que eu recebi de Luíza
Quando eu mais precisei.
Ela esteve lá, presente nos meus domingos
Que seriam vazios e doloridos sem a sua força.
Agora ela partiu para sempre.
Não sem deixar-nos seu legado
De fé e esperança.
Na vida, nas pessoas, no amor.
E eu tenho certeza
Que a beleza da alma de Luíza
Espalhou-se por aqui e nunca mais
Vai se extinguir.

Amor Imenso

Assim que entrei no teu radar

Eu soube

Que nem precisaria te olhar

Pra descobrir a nossa comunhão

De almas.

No entanto, mirei teus olhos

E me surpreendi com a magnitude

Do teu amor.

Compreendi que eu poderia

Raspar minha cabeça

Arrancar todos os meus dentes.

Perder toda a carne de meu corpo

Apresentando-me em pele e osso.

Descalça com os pés rachados e encardidos.

Roupa rota

Dessa maneira eu ainda caberia dentro do teu

Propósito de amor.

Então celebrei

E meu coração não parou mais de dançar.

Inocências Feridas

O meu olhar,

A minha voz

O meu grito mudo de dor.

O meu eu aflito

A minha inquietude

A minha prece

Vão hoje para as crianças.

Que padecem

Por conta do maltrato,

Dos adultos perversos.

Crianças vítimas das guerras

Das pestes

Da fome

Da exclusão social que extermina seus sonhos

Suas cirandas.

Suas esperanças

Filhas de uma sociedade egoísta

Que nem as migalhas da sua mesa é capaz de repartir.

Dos governos soberbos e tiranos

Desumanos

Que se autodenominam salvadores

Enquanto roubam e mentem,

E se enriquecem

Enquanto apodrecem

Nas ruas e nos lixões

Crianças indefesas.

Que salivam atrás de uma vitrine

E expelem vermes

Enquanto se espremem

Em cubículos ínfimos

Do tamanho das consciências dos governantes.

Nas favelas.

Expostas às dores

Maiores que suas almas.

Enormemente maiores que a nossa bondade.

Amor no presente

Espargindo gratidão
Minha alma está neste momento
Para os todos os passantes
Que dantes
Disseram não para esta caminhante.
Não foi em vão
Que sozinha trilhei pela sombria estrada
Da vida.
Estive só não sem razão.
Estavas no futuro, que no momento
Se fez presente.
Não tinhas como ir buscar-me no passado.
Pois na sabedoria do infinito
Tudo é milimetricamente programado
E de repente,
O Universo responde ao meu apelo.
E toda a agonia agora transmutada em alegria.
Renasço como um fênix, em zelo
De toda a conspiração magnética
Dos astros,
Deparo-me no teu amor.
Dentro dele.
E inundada com essa verdade.
Celebro a minha deliciosa realidade.
Foi por ti que cheguei até aqui
Livre
Solta pra cingires meu corpo com teus braços
E no teu olhar pausar a minha história.
E reter-me neles pro resto das nossas vidas.

A Minha Espera

Caminho solitária porque minha estrada tem

Bordas de sonhos

Que penetram nelas apenas quem escuta

A minha voz que não solto

Em palavras.

Elas se espalham com o vento

Na leveza das plumas alvas

Da minha alma

E se alguém ouvi-las

É porque entendeu que a minha escada

Espiralada

Tem degraus construídos de emoções

Todas nascidas de uma vontade

Suprema de estar só

Pra esperar o que ainda não decifrei

Não reconheci de meu

E espero fazê-lo

Num único olhar

Que irá tragar o meu eu e

Entranhada nas entranhas desse amor

Não causar estranhezas para o Meu Amado