Coleção pessoal de elciojosemartins
CRESCER E EVOLUIR
Crescer é quantidade, evoluir é qualidade. Quantidade é sem limite e pode diminuir, qualidade não tem limite e só aumenta, nunca se retrai...
Élcio José Martins
DO NADA CHEGOU
Do nada chegou, adentrou e ficou,
Sem dizer nada, apenas com um sorriso, me encantou!
Bem rápido, o meu coração roubou,
Este coitado, de cara, se apaixonou...
Abraçou-me, apertando em ritmos ritmados,
Gotejou-me de sua boca, o presente e o passado.
Matou-me de desejo, encheu-me de paixão,
Fisgou firme, flechou certeiro, fuzilou meu coração...
Embriaguei-me, tontinho, do seu amor,
Roubou-me, de mansinho, de alma e corpo inteiro,
Fez-me Beber e exagerar-me de sua bebida,
Entrou de sola, quase pênalti! Equilibrei-me na partida...
Era o seu propósito, embebedar-me,
De amor, carícias e aromas, sem disfarce e sem alarme.
Pernas, braços e sussurros brandos entrelaçados,
Encheu-me de meu ego, ganhei o prêmio premiado...
Voei alto, naufraguei, vi o mundo girar,
Meio tonto, deixei-me cambalear,
Suei frio, morno, quente, o sangue ferveu!
Até hoje ainda não sei, como isto aconteceu!...
Mas, como do nada chegou,
Fez-me feliz, contracenou, atuou, abusou!
Saiu de mansinho, sorridente e sem dizer nada,
Deixou-me de quatro, seguindo uma nova estrada...
Este pobre e sofrido coração, ainda a espera,
No inverno, outono ou no porvir da primavera,
Ou, quem sabe no fervor do calor de verão,
Recebe-la, de braços abertos, seu sorriso que se fez canção...
Deixastes-me, tu, agora, talvez para sempre,
A saudade, a lembrança, seu valor e a sua importância,
Exibindo ou não, sua simpatia e elegância,
Que, sozinha, distante ou acompanhada,
Serás, sempre e sempre, querida e amada!...
ÉLCIO JOSÉ MARTINS
O MINEIRO E O DOUTOR
O Zé mineirinho tava dordói,
Despejano remela no zóio,
Uma quentura no corpo,
E os quarto dolorido um pouco.
O Jaquim quis ajudá,
Chamano o doutor pra oiá.
Doutor perguntô o que Zé tava sintino,
Até achô qui o zé tava mintino.
Zé mineirinho num consiguia levantá,
Inda mais podê andá!
Dissero qui era ispinhela quebrada,
Qui ele tinha caído nu buraco da istrada.
Dotô num intendeu nada,
Pediu pra leva o Zé por hospitar.
Lá chegano Jaquim tentou ixplicar:
Podi sê ispinhela quebrada;
Mas Tia Mariquinha falô
Qui até podi sê lumbriga.
Ele sempri foi de molera mole,
Teve tossi de cachorro,
Friera, cobreiro de pé,
Eli sempre foi um pereba.
Élcio José Martins
PRIMAVERA
O SOL, A CHUVA, O VERDE!
É chegado o momento,
Do sol, dar lugar à chuva,
A abençoada chuva,
A água benta da vida.
A natureza lúdica, plácida e translúcida,
Faz reforçar a fé. É o criador que fomenta e cuida.
O verde retorna à mata mansa,
Como o porvir que traz luz e esperança.
A chuva molha a terra virgem ansiosa para o plantio,
Amenizando o calor até com um pouco de frio.
Fomenta a sede do rio,
Tira o vazio e faz navegar o navio.
A chuva traz o cheiro gostoso da relva molhada,
O barulhinho poético das goteiras na calçada.
Vem, com ela, a orquestra sinfônica das aves na alvorada.
É o crepúsculo matutino construindo sua morada.
Eis que surge o verde,
O verde da árvore da vida,
O verde do sorriso,
O verde da alegria sem aviso.
Eis que surge o verde.
Pássaros felizes e mais românticos,
À relva molhada um beijo amante,
O cheiro de perfume se faz brilhante.
O verde rejubila nas folhas livres, irradiante.
Um momento esplêndido, marcante.
É o céu que desceu, abençoando a terra,
É criador e criatura, unidos nesta obra poética.
Élcio José Martins
AMOR EM ÁGUAS TURVAS
Seu amor era rio de água corrente,
Amainava o calor no dia mais quente.
Era piscoso e atraente...
Era navegável, límpido e perene.
Suas águas eram abençoadas,
Calmas e cristalinas.
Tinha desenvoltura,
Sorriso e postura.
Samambaias à margem, alegravam o passageiro,
Cascatas, ao som de cristal
Desfilavam elegantemente no desfiladeiro.
Suas cores variavam conforme a luz do sol,
Seu olhar marcante, belo como o girassol,
Dava guarida ao amor do amante.
Pena que tudo acabou!
Suas águas não são mais perenes,
Pede socorro ao som de sirenes.
O que era piscoso ficou viscoso,
O que era doce se acabou...
Suas águas cristalinas ficaram turvas,
Seu leito foi desfeito,
Seus meandros não têm mais curvas.
Seu perfume não cheira mais jasmim,
De seu verde, não sobraram nem relva e nem capim.
A culpa pode ser minha, pode reclamar de mim,
Não cuidei do jardim, como cuida o jardineiro,
Não semeei o verde, apenas colhi o maduro.
Não cuidei das formigas, abandonei o formigueiro,
Achando que não tinha culpa, pequei pela omissão.
Élcio José Martins
AS CORDAS AFINADAS DA VIDA
As cordas afinadas da vida,
São livres, íntegras e às vezes distraídas.
A harmonia de suas batidas faz a alma mais atrevida,
Enche de sorriso e graça o coração da ESCOLHIDA.
A nota DÓ trouxe a paz na construção da arca de Noé,
A nota RÉ driblou a dor com a maestria de Pelé.
A nota MI representa DEUS e eleva o poder da fé,
É o fogão caipira que mantém aquecido o bule de café...
A nota FÁ vem de Belém ou do além,
A nota SOL faz renascer a saudade de alguém.
A nota LÁ traz à tona a lembrança do amor que senti,
A sonoridade da nota Si relembra as lágrimas que um dia derramei por ti.
O romantismo afinado em suas cordas dedilhadas,
Aguça e coração e deixa a alma confortada.
Não há tempo nem espaço no palco da jornada,
Sob as luzes da ribalta o amor constrói morada.
Oh! Viola destemida que canta a alegria e a tristeza!
Foste tu a lembrança de minha aventura e maior proeza...
Do tilintar de suas cordas veio a verdade e a certeza,
Que o homem veio ao mundo apenas para amar.
Essa é a sua natureza!
Élcio José Martins
A BALA E A CANETA
A bala e a caneta tiveram uma treta.
Queriam saber:
Qual seria a perfeita e qual seria a careta.
- A caneta fez sua graça, mostrando sua raça,
Como espingarda na caça, nenhum bicho faz pirraça.
A CANETA:
“Assino cartas e ofícios, faço prédios e edifícios.
Registro nascimentos, diplomas e casamentos.
Solto e prendo e nunca me arrependo.
Receito, referendo, sei de cor o que estou fazendo.
Já assinei casamentos e divórcios secretos,
Centenas de medidas provisórias e decretos.
Faço a paz e a guerra!
É Deus no céu e eu aqui na terra...
Não importa a minha cor, mas a azul é a predileta.
Não importa a roupagem, o que importa é a mensagem.
Já escrevi o amor, já relatei o terror.
Estou na mão do padre e do professor,
Mas, muitas vezes, na mão do facínora, do delator e do Ditador.
Oh! Bala melosa, não venha com chorumelas,
Nem precisa acender velas.
É pudica, atrapalhada e vive sempre embrulhada, ”
A BALA DOCE:
A caneta, calma até agora, resolve falar:
“Até agora fiquei calada, aguardei quieta, sem dizer nada.
Sou bala doce, desejada e só ando na cor da moda.
Meus sabores se multiplicam, derreto-me toda por quem me quer.
Todos gostam de mim, sabor café, hortelã, cereja, mel, como quiser!...
Entenda! Sou diferente!
Minha única exigência, após saboreá-la, é escovar o dente.
A BALA DO MAL:
A bala que sai da sua ponta é certeira
Sua bala pode até cumprir a Lei, até cumprir a ordem de alguém,
Sua bala carrega em seus rastros, máculas irreparáveis.
Cumpre o seu dever, mas, por vezes, é danosa.
Prende o moço, aposenta o velho e tira o futuro da criança...
Destrói a paz e a esperança, o seu crime não tem fiança...
Sua bala é certeira, pode dissipar uma família inteira.
A mão que dispara o gatilho do desamor, tem por trás,
Uma alma e um coração sem amor.”
Élcio José Martins
A ESCOLHA
A luz provisória está quase apagando,
Um novo sonho vai se instalando.
A escolha da vida exige talento e não pede ensaio,
A vasilha que carrega a água não pode ser balaio.
Como espinhos protegendo as rosas,
Só a boa escolha evitará soluços e faces chorosas.
A esperança de noites com o brilho das estrelas,
Famílias felizes distantes das querelas.
Como a fartura do mel produzido pelo trabalho das abelhas,
É sapiente o homem que apoia o lápis na orelha.
Levar à morte a angústia e o sofrimento pandêmico,
Florescer e fazer brilhar o lúdico espaço acadêmico,
O tempo dirá se é endêmico,
O discurso não pode ser único, mesmo que seja polêmico.
Escolher sempre certo é o caminho da paz e da luz,
Em terra fértil toda semeadura produz.
A cidadania consciente fortifica e engrandece,
Transferir a responsabilidade, nada soma e nada floresce...
Élcio José Martins
INTERPRETANDO COMPORTAMENTOS
Num belo jardim de rainhas
Também tem ervas daninhas.
Aprendemos a conviver com a segunda
Pra não perder a beleza da primeira.
No trato com a beleza das flores
Os espinhos trazem as dores.
No jogo da vida não existem vencidos e vencedores,
Pois só pelo direito à vida já somos ganhadores.
No comportamento humano não existe igualdade,
Uns pedem liberdade, outros pedem humanidade,
Uns cultivam o bom convívio e boas amizades,
Outros usam máscaras e só criam inimizades.
Uns são bravos, mas de corações puros,
Outros, calmos, ferem fundo. Ai encaixe o dedo duro.
Há aquele carregado de perjuro,
Destruindo amizades, prejudicando o futuro.
Há o manso e camarada, com perfil enganador,
Há o folgado e o garboso galanteador.
O agradável de abraço leve,
Com três tapinhas nas costas, o troco virá em breve!
Sorte que ainda existem os bons e respeitadores,
Aqueles de fé que ajudam ao próximo. Estes são amados de Deus.
Somos presas fáceis nesse mundo de desalmados,
No palco de maldades, cantamos desafinados.
O homem é mau e de natureza leviana,
Assim dizia Thomas Hobbes sobre a natureza humana.
Sua obra “Leviatã”, inspirada em uma figura mitológica,
Usa a força da serpente para comprovar a sua lógica.
É o corrupto que mata o doente nos hospitais,
É o corrupto que sangra o aposentado em seus dias finais.
É o corrupto que tira o direito dos cidadãos,
É o corrupto que elimina a esperança, só com o poder das suas mãos.
O respeito foi pro vinagre,
Muito obrigado, é um milagre!
Bom dia perdeu destaque,
A gratidão, virou palavra de araque...
Élcio José Martins
A PEDRA BRUTA PARA SER PRECIOSA PRECISA SER POLIDA.
Rocha mãe, matriz milenar e inconsciente, bruta na nascente, solida e permanente, busca na escuridão das trevas, da subserviência, extirpar-se da rudeza de suas arestas, flechas incandescentes, pontiagudas e inconsequentes. Essa pedra bruta precisa, solenemente, receber de presente, o afeto, o ensinamento, o aparo, o amparo e o burilar, tornando-a pura e bela.
Desejosa em embelezar uma dama contente, na preciosidade do colar e do brinco envolvente, rola ribanceira abaixo ao encontro do seu Eu renovado.
Haverão pedras cúbicas, retangulares, angulares, quadradas, triangulares e redondas, irregulares e desniveladas, perfeitas e imperfeitas, simples ou em camadas, em pisos, muros, pontes e alicerces, que, ainda na aspereza original tem o seu jeito, a sua razão e o seu valor.
- O destino depende de sua escolha, da família rocha matriz, e do seu veio.
A aspereza pode ser a autodefesa, a insegurança e a falta de vontade em mudar-se, que, depois de burilada, perderá a sua essência e originalidade. Nada quer perder, nem que seja para encontrar o seu lugar, um novo, um belo, uma arte, um designer, um modelo, um desejo.
Perder pode ser ganhar um pouco, ou tudo.
O bruto pode ser suave, o áspero burilado pode ser uma joia rara.
Perder as asperezas tornar-se-á pequeno, mas notável.
A antes pedra bruta, através do pequeno cinzel, tornou-se polida, e, ainda mais diminuída, um diamante, uma esmeralda, ouro.
Quem conhece apenas o belo, não consegue imaginar quão duro e áspero foi a sua origem e a sua caminhada até o seu destino.
A PEDRA cúbica, outrora pedra bruta, enfeita e é cobiçada. Não é possível conhecê-la e entendê-la se não tiver a percepção do quanto foi maltratada, sofrendo todas as humilhações e as dores da transformação. O talentoso maestro não nasceu maestro, o grande médico não nasceu médico. Mudar para melhor é penoso, dolorido e demorado, e é preciso de uma persistência inabalável.
Elcio José Martins
SOFRÊNCIA...
A noite calma e bela,
Feixe de luz pela janela,
Transcende o júbilo em tela,
O sonho utópico, desnuda ela...
Veio de mansinho e ocupou lugar,
Primeiro passo, primeiro andar.
A roda que faz rodar,
Leva ao trono bem longínquo do altar...
Carícias e soluçar,
Trombetas melódicas ao luar.
Aos ouvidos balbuciar,
Brados em silêncio a auscultar.
A declaração se fez ouvida,
Já é saudade o que é partida.
Indaga a alma que se faz sofrida,
É pecado amar no amor que fica...
A conquista exige permanência,
É pecador quem não dá sequência.
Conquistar o amor e fazer sofrência,
É crime hediondo, diz a jurisprudência...
ÉLCIO JOSÉ MARTINS
MEU SURRADO CHAPÉU.
Meu amigo inseparável,
Suado, surrado, cansado, maltratado,
Companheiro inquestionável...
Fez-me companhia no lombo do alazão,
Meu confidente fiel, nas cavalgadas com amigos e nas festas do peão.
Protegeu-me do sol escaldante,
Confortou-me quando eu estava triste e distante.
Chorou comigo minhas mágoas de amor e paixão,
Abraçou-me forte, quando minh'alma chorou de dor e desolação.
Sabe tudo do meu presente e do meu passado,
Das vezes que sofri por amor e das vezes que fui amado.
Às vezes ficava meio enciumado,
Bebia e sofria comigo, quando eu estava triste e magoado.
Acompanhou-me no plantio e na colheita,
Antecipava-me do perigo, por menor que fosse a suspeita;
Nossa amizade foi sincera, justa e perfeita.
Foi meu parceiro, meu companheiro, meu amigo e meu sombreiro.
Um dia morrerá comigo! Não o disponho por nada, nem por muito dinheiro...
Élcio José Martins
ENCANTAMENTO
Você, mulher garbosa, és tu o sol que ilumina minha vida,
A chuva que rega e alegra o meu viver.
Sois as estrelas do céu que enfeitam Minh ‘alma,
As verdes colinas que desfraldam e desnudam o meu olhar.
Você é a vela e a calmaria em mar revolto;
A janela que fecha, quando tornado o vento afoito.
Você é a lua que ilumina as noites enamoradas;
És a onda bailarina no azul do mar, bailando na madrugada.
És tu, mulher trigueira, o oásis no deserto de sol a pino,
O ressoar do som da magia que sai do sino.
És tu, a ternura e a calma noite, que embala e acalma o sono.
És a melodia da canção que acaricia os meus ouvidos,
Tu, e somente tu, fizeste meu coração ouvido,
Rejubilando seu sorriso livre, franco, brilhante e despido.
Élcio José Martins
VOLTE A CUIDAR DE MIM
És tu minha a minha razão de viver,
Volte, volte! Não me faças sofrer.
Um amor como o nosso não devia morrer,
Vivo por ti, por amor e por te pertencer.
Por que foges de mim, o que pretende?
Por não voltas pra mim. Por que não se rende?
O amor que me destes era maior do eu merecia?
Por que me deste tanto amor, se não era o que pretendia?
Volte! Volte a ser a mais linda flor do meu jardim,
Volte! Venha cuidar de mim....
Rogo aos anjos, arcanjos e querubins,
Bruxas, Santos, Pajés ou serafins...
Volte! Venha cuidar de mim...
Fizeste-me assim, meio doce, às vezes melancólico,
Embriago-me de saudades suas, sem nenhum sabor alcoólico.
Minhas noites sonhadas, são recheadas de pensamentos entrelaçados,
Acordo assustado, mas feliz, enxugando meus lábios molhados...
Olho pela janela, ansioso, esperando a sua volta,
Conforto-me de sua ausência, contemplando o seu retrato.
Quiçá nosso destino dê uma reviravolta,
De maneira diversa, converto-me ao castigo do celibato.
Élcio José Martins
ÁGUIA – O PODER.
A lua desvairada cumprindo sua jornada,
Rejubila cintilante entre a águia iluminada.
No cume da serra a magnifica ave, sorrateira, constrói o seu ninho,
Fugindo, bem alto, do vento rude que não é de dar carinho.
No seu voo tranquilo e sereno, na sua realeza.
Observa, atentamente, onde encontrar a sua presa.
Ave de rapina com enorme acuidade visual,
Vira risco iminente para todo o reino animal.
A águia, mensageira divina, representa a proximidade de Deus,
Na mitologia, representa é símbolo de Zeus.
Representa, ainda, o homem com talento, perspicácia e inteligência,
Na cultura Celta é símbolo do renascimento e renovação na sua essência,
Além da excelente visão, também possui enorme audição,
Ouve de bem longe, qualquer som com precisão.
Sempre está preparada para o ataque e ação,
Dificilmente é atacada, defende-se com garra e decisão.
Pensar fora da caixa e fazer diferente,
É falar do homem águia, o que enxerga longe e sai na frente.
Como o sol, de longe a águia é bela, formosa e refulgente,
De perto, é perigo, de nada vale a beleza de suas asas agudas e potentes.
Élcio José Martins
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A HISTÓRIA DE UM MINEIRINHO SAUDOSO
A história que vou contar,
Muitos, também vão se lembrar.
Uma casinha simples, um lar,
Pássaros livres, frutas no pomar,
Sombras das mangueiras e noites de luar.
Piso de chão batido, cimento, madeira ou tijolo malcozido,
Telhado de estrelas com fissuras de vidro,
Algumas casas com forro, aqueles bem vividos.
São goles de goteiras de lembrança e saudade,
Portas e janelas, abertas com a chave da amizade.
A luz era recente, muitos ainda usavam a lamparina e o lampião.
A Lua como brinde, brilhava na escuridão.
Na trempe do fogão de lenha, cozinhava-se o feijão,
No fumeiro, o toucinho e a linguiça, ficavam à altura das mãos.
Na taipa do fogão aquecia-se do frio,
Causos eram contados, davam medo de arrepio.
Para o fogo não apagar, era um grande desafio,
Lenha boa fazia brasa e queimava-se noite a fio.
A água límpida, da cisterna e da bica,
Era saudável, era rica!
O colchão era de capim, algodão, paina ou palha,
Não existiam grades, muito menos grades e muralhas.
Biscoito no forno era a sensação,
Dia de pamonha tinha muita emoção.
Porco no chiqueiro ficava bem grandão,
Carne não faltava, tinha em toda refeição.
Carne na lata, a gordura conservava,
Quando matava porco, era alegria da criançada.
Vitaminas eram naturais e saborosas,
Colhia-se do pomar, as frutas mais gostosas.
As conversas eram sempre prazerosas,
Damas habilidosas eram muito prestimosas.
Na redondeza, eram conhecidas e famosas,
Mas seus pais, enciumados, não queriam prosas.
No paiol, o milho era estocado,
Das vacas, o leite era tirado,
Porcos e galinhas eram bem tratados.
No moinho, o milho era moído,
No pilão, o fubá era batido.
O cavalo arreado era para a lida e a peleja,
A carroça e o carro de bois carregavam a riqueza.
A colheita era certeza,
Era o fruto do trabalho, feito com dedicação e presteza.
No monjolo, a farinha era preparada,
No engenho, a garapa era gerada.
Da garapa, fazia-se o melado,
Era a rapadura, que adoçava o café do povoado.
Quando o milho era espalhado pelo terreiro,
Os galos sorriam e cantavam de felicidade.
Era só abrir o portão do galinheiro,
Que as penosas desfilavam celebridade.
Cantava-se a boa moda de viola,
Serenatas eram com o violão ou com a extinta vitrola.
No sábado era a vez do bailinho levantar poeira,
Era saudável, tinha respeito e não havia bebedeira.
O instrumento mais conhecido era a sanfona,
Cavaquinhos, violinos e bandolins, entravam de carona.
Bem cedo as vacas já estavam no curral,
Era chegada a hora de ordenhar esse animal.
Cada dia um novo recital,
O leite era in natura, e ninguém passava mal.
Era tudo muito simples, duro e trabalhoso,
Com certeza, não tem ninguém, que não se ache orgulhoso.
Não tinha luxo, não tinha vaidade,
Tinha o sabido, o arteiro e o que fazia molecagem.
Pés descalços, espinhos e bichos de pé,
Festas anuais e barracas de sapé.
A mesa era farta com doces, quitandas, biscoitos,
Melado, leite quente e o bule de café.
Rezava-se se o terço, pois primeiro vinha à fé,
Procissão de ramos caminhava-se a pé.
Os ramos benzidos para casa eram levados,
Serviam para amansar o ruído quando vinha a chuva brava.
Manga com leite era veneno,
Assombração tinha lábia e terreno.
O respeito vinha apenas de um aceno,
A punição era severa, até pelo pequeno gesto obsceno.
Da infância, a boa lembrança e grande saudade;
Carrega-se no peito, o amor, o afeto e a amizade.
Faltava o alfabeto, mas havia muita educação.
É da roça que se ergue, o sustento da nação.
Mesmo com dificuldade, o pai, à escola, seu filho encaminhou,
Queria dar a seus filhos, tudo que um dia sonhou.
Com sacrifício, criou os filhos, para uma vida melhor.
A estrela foi mostrada, por Gaspar, Baltasar e Belchior.
Fica a saudade e o agradecimento,
Nada de tristeza, de arrependimento e lamento.
Cada um é um vencedor, pois mudou o som e a cor,
Com sacrifício caminharam, na virtude e no amor.
As pedras no caminho serviram de degrau,
Os desvios da vida afugentaram todo mal.
Os meandros dos sonhos fizeram um novo recital,
Do sertão para a cidade e depois pra capital.
Fez doutores e senhores de respeito,
Deu escola, deu lição, muro de arrimo e parapeito.
No nosso dicionário não existia a palavra desrespeito,
Com orgulho e gratidão, encho o riso e choro o peito.
É colheita do que se plantou outrora,
Tudo somou e nada ficou de fora.
O fruto de agora,
É a luta, é o trabalho, é a fé.
É a mão de Deus, Jesus e Nossa Senhora.
Élcio José Martins
EU E VOCÊ, VOCÊ E EU
Eu e você, você e eu,
O amor broto, uma rosa,
Um dedinho de prosa, uma vida amorosa.
Começou de fogo quente,
Virou fogo permanente.
Um por outro, vive somente,
Árvore frondosa, frutos! Boa semente.
Dois e um, se fez um somente.
Água, cimento e areia, formou teia.
Até mesmo o que chateia
Perde-se na beleza da lua cheia.
As finas mãos do plantio
Fizeram as colheitas do desafio.
A chama do fogo ardente
Se fez grande e permanente...
PERFÍDIA - REFLEXÃO
A palavra perfídia é sempre utilizada por alguém que não tem noção, ou muita noção!...
Caracteriza-se pela tapeacão e enganação.
Muito usada na eleição com promessas vãs e não cumpridas,
Aproveitando-se da boa-fé das pessoas incautas e desprevenidas.
Perfídia é a violação do compromisso assumido,
É não cumprir o prometido,
É fazer-se de bonzinho, altruísta e querido,
Com promessas vazias ao indefeso, inculto e sofrido.
Proibida em tratados e convenções,
Está livre e aberta, principalmente, na época das eleições.
O candidato tira da mentira, grande proveito,
O que importa é que na urna seja o escolhido e eleito.
A história nos remete ao conhecimento do seu significado,
Vários foram os momentos, onde cidadãos foram enganados...
Fingir-se ou inventar uma desculpa é um ato de perfídia,
Causado, em muito, pelo silêncio dos bons e pelo negligenciar da mídia.
Palavra bonita com significado tosco,
Igual ao conteúdo dos covardes quando falam conosco.
Perfídia é dar a corda, querendo o pescoço,
Pisar em folha seca sem fazer alvoroço.
Mas perfídia também é uma canção.
Alberto Dominguez, compôs de alma e coração.
Eis aqui um pedaço da tradução:
“Mulher, se podes com Deus falar, pergunta-lhe, se eu, alguma vez, deixei de te adorar;
E ao mar, espelho do meu coração, às vezes em que viu-me chorar pela traição de teu amor”
A perfídia é de tamanha grandeza que até na guerra é proibida.
A Nação que cometer este adultério das Leis, é severamente punida.
Palavra bonita, mas de conteúdo suicida,
Quem a utilizar-se, deve ser conduzido aos ditames da Justiça.
Élcio José Martins
O AMOR À PRIMEIRA VISTA.
Na janela eu vi uma luz, um clarão de estontear.
Não era raio, era muito mais, era o brilho do seu olhar.
Meio dia, muitos sóis a lumiar,
Fosse noite, seria a lua a aformosear.
Só enxerguei você. Seu sorrateiro olhar fez meu sorriso notar.
Não era dia de festa, nem noite de seresta,
Não havia música e nem retreta da orquestra,
Nem o pássaro com o seu belo canto na floresta,
Mas havia você, só você, com aquele sorriso largo que se doa e empresta.
Não era dia de Santo Antônio, nem dia de Santa Bárbara,
Nem a festa do mármore esculpido em Carrara.
Ouvia-se alguém cantar “O Rio de Piracicaba”,
Uma bela homenagem a Lourival Santos que um sertanejo prestava.
O Sol estava brilhante, reluzia diamante,
Meu olhar ainda distante, buscava radiante,
Fazê-la perceber, que este cavaleiro errante,
Há anos procurava essa beleza estonteante.
Aproximei-me mais um pouquinho,
Passo a passo, bem devagarinho.
A voz não mais se ouvia, porque era grande o carinho,
Os olhos se encontraram, abrindo portas e caminhos.
Foi paixão à primeira vista
Até hoje não se sabe de quem foi a conquista.
Saiu nos jornais e nas capas de revistas,
O casamento mais falado na Igreja de São João Batista.
Élcio José Martins