Coleção pessoal de EduardoChiarini

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Escrito

Queria ter escrito
O verso perfeito
Em métrica e rima
Mas, o pensamento
Foi desfeito.

Queria muito ter falado
O que sentia
Por que e para quem meu coração batia
Mas, o pensamento
Me esvazia.

Queria, enfim, ter feito alegorias
Viagens, aventuras, romances e romarias
Uma taça de vinho e desmandos
Mas, o pensamento
Acabou com a fantasia

Queria, mas só queria...
E, acabei na madrugada, triste
Com a alma frustrada e vazia.

Vizinho

Outrora desconhecido
É agora meu vizinho,
Sempre perto e inconveniente,

Também não sei o porquê
É um espelho partido,
Que carrego comigo,
Sem bem saber o que fazer

Insistente e perseverante
É um espelho refletindo
Coisas que desconheço,
E, esta sim, a lembrança de uma ideia,
Que duvido ter nascido em mim

Me deixa acanhado
Ninguém usa mais estes termos!
Enviando recados
A todo instante lembrando
Me instigando, me levando aos
Meus doces inúmeros pecados.

⁠Dúvida.

Se um dia
Escrever o verso
Que de tudo diz
Estaria feliz, mas ferido
Talvez como Bandeira....
Iria para outro lugar
Na mente, uma videira
Pequenas lamparinas
O mar quebrando silente
Em deferência às meninas
Que alheias à dor, brincam
Ao redor de uma fogueira,
Fagueiras.

Sábios

As crianças são sábias, os bichos são sábios;
As plantas são sábias; o ser humano desatino,
Não enxerga, o que lhe é retiniano,
Tantos e constantes desenganos

São seres especiais, sensacionais
Desígnios de Deus? Ou simplesmente
Aqueles que procuraram entender melhor;
Daqueles que não são seus
Os sentimentos, momentos, sofrimentos?

São pessoas de idade, almas de muitos anos...
Religiosidade?
Tudo depende de planos?
Divinos, insanos!

Pessoas que amaram mais,
Mais se entregaram, mais sofreram;
Trazem marcadas suas estradas;
Nas faces enrugadas e nas mãos calejadas.

Grandiosos sorrisos luminosos...
De quem sabe que a vida é brindar, cantar e brincar
Música e abraços, mesmo sem música dançar
A mão sempre estendida, apesar de negada
Por aqueles que não entenderam nada.

Amanhecer.

Amanhece, eu sei
Não sei se dormi ou sonhei,
Manhã de apressada saudade
Esquecida do sentimento,
Agora lembrado, profundamente calado.
Não tenho certeza do dia.
Quero vê-lo. Está lindo!
Me cumprimenta gentilmente
Reverencia que não mereço.
Retribuo, durmo novamente e esqueço.

Coisas que não entendo.

As coisas que não entendo,
Em vãs empresas, são boas;
e, assim as compreendo.
O ato de não entender,
às vezes traz, ou não,
calma a esta alma solitária.
Como se preso fosse
retido no meu ser profundo,
que insiste em querer,
abrir portas e se ver.
Talvez nas marcas do rosto.
Talvez no amargo desgosto.
A porta aberta, escancarada,
nesta longa jornada,
em detrimento do entendimento,
nenhum discernimento.
Desejos e paixões.
Desalento.

Perdi a Poesia.

Recentemente,
Talvez de forma displicente,
Perdi a poesia,
Literalmente,

Não se tratava de uma grande obra,
Mesmo porque dessa não sou capaz
Era um fato presente,
Frequente,

Uma simples impressão de um ocaso
Vespertino, dolente
Nada extraordinário, especial, ele, o ocaso
Trazia a noite fria, outonal,

Fiquei sem poesia,
O espelho não revela mais, medonho
Um olhar vivo, atento, vibrante,
Apenas monótono e tristonho.

Sim, perdi a poesia.

Procurando a coisa perdida,
Mais que uma poesia, talvez a vida,
Enquanto passam outras tantas,
Despercebidas,

E eu, impassível e ao todo indiferente
Procuro pela poesia loucamente.


⁠Compreensão

Hoje a tarde vai,
Em mim, como há muito
Não sentia, a tarde vazia.
Lamento, se meu intento
Foi mal resolvido,
Faz-me falta, e essa me dói.
Talvez depois eu consiga,
E se não, assim,
Como a tarde vai,
Poderá soprar uma brisa,
Que encanta e suaviza
E, quem sabe, ameniza,
Este triste sentimento de
Não ter compreendido tua dor.

⁠Ilógico

Minha querida menina
Ilógico seria
Ser assim, lógica, a poesia.
E não óbvio talvez
Como não se supõe ser
O poeta é louco, e....
Logicamente consente
O que não sente...
E o que sente, desmente
Insistente...
Das suas vidas, contadas no papel
Seu único real confidente.

⁠O homem na rua

Onde está a poesia?
Pergunto espantado
Ao homem parado
Ao meu lado, na rua.
Será que a morena amada
Me esperará de madrugada
Pergunto ansioso, em delírio; espúrio...
Ao homem que diz:
- Não sei, sinto
Em um breve murmúrio

Pois é....

Pois é
Meu senhor, Senhor meu...
Parece até que esqueceu
Que ontem choveu
E a terra molhada a absorveu
Hoje, o sol brilhou
Mostrou toda a sua gloria
E, a plantinha miudinha
Atrevida e fasceirinha
Já ao nascer;
Pensou que devia florescer.

⁠Reclusão.
Meu caro, tem tempo que não vejo algumas coisas,
E assim, lhe pergunto coisas simples
Poderás constatar, nada complicado...
Assim começo: o céu continua estrelado?
A lua continua iluminando de prata o chão da rua?
A rua continua exalando jasmim nas noites frias de inverno?
O que me enchia de alegria e agora se esvazia
Em uma triste poesia?
Outrora, trôpego, vindo da boemia,
A vida me parecia uma dança, bolero....
Sei que não possui todas as respostas, espero
Por que, talvez eu não às queira, de teimosia.
Afinal, meu caro, certamente não saberás
Será que morri e não vi?
Será que passei por aqui e não vivi?
Será que que a vida me mentiu?
Ou eu, covardemente, me escondi?
É que tem tempo que não converso
Comigo, com você, com ninguém.
Em um longínquo deserto, além...
Na lucidez, meu caro, de quem, não disperso.
Certamente não lhe desconcerto,
Não importa se certo ou incerto.

⁠Caixa de Palavras.

Achei aqui, jogadas algumas palavras soltas,
Esquecidas,
Algumas surpreendentemente magoadas...
Umas tinham uma aparência viçosa, de novas,
Enquanto outras velhas, antigas e empoeiradas
Resolvi juntar todas em uma caixa
Que chamei de caixa de palavras, um achado!
Seria, a princípio, uma caixa para guardar
Palavras....
Sem uso e sem significado.
Curioso que sou, comecei a olhar as palavras,
Antes soltas, mas agora presas em uma caixa,
Palavras simples como amizade, amor, simpatia, alegria...
Outras complicadas como nitente, solilóquio, consoada...
Em um relance de lucidez percebi,
O que não me cabia...
Aprisionar palavras, em uma caixa, outrora vazia.

A procura.

À noite, sozinho...
Invade-me uma tristeza profunda,
Quero estar ao seu lado,
Contemplar, em paz, o caminho percorrido.

Porém, você já não está mais aqui
Então, sigo calado, o peito congelado
O coração perdido.

Procuro, em uma perspectiva lógica
Algum motivo, mera explicação...
Compreendo, entrementes, não haver
A não ser simplesmente o dito não.

Sentimentos que subvertem a razão,
Me provocam arrependimentos angustiantes,
Tento entender o que não é possível
Um exercício de melancolia,
Uma vez que há muito já havia partido,
E eu disto, tristemente, sabia.

Papel.


Fiquei olhando o papel amarelo,
Queria escrever alguma coisa da emoção
Singelo.
Sinto forte em meu peito
Mas, o papel, não me responde
Quase sem respeito.
Me dizia que não tinha palavras
Que a ideia não saia de suas entranhas
Presas em suas celas
Estranhas
Queria um gosto de mel
Mas, a vida estava difícil
Era preciso superar
Palavras
Ideias
Sentimentos
Esperar...

E, acabei na madrugada, triste
Com a alma frustrada e vazia.

O passado

O passado pequena
Passou...
Quadro preso em um sonho
Que talvez, sonhou
Agora,
Nesta exata hora
O futuro chegou
Vivo, presente
Sonho, que nunca sonhou.

⁠Esperança

Aprendo enfim a enxergar
Ouvindo notícias do passado,
Quase sempre amargurado e quebrado,
Em vozes vizinhas às minhas,
Mas, me deixo embalar,
Em um sonho de lembranças de novos amores,
Que virão...sorrindo.
Não sei bem de onde,
Minha esperança de cores e flores,
Onde eu sei...
Não há na vida, nem seus atores,
Inefável e indolores.

⁠Minha alma.

Minha alma
Irmã da tua, voa indiferente, agora,
Vendo, alva, a lua.

Pequena parte daquela
Que também é parte dela.
Caminha, então
Na sua rua...
De mãos dadas com a sua.
Errantes, estrelas brilhantes,
Mas, aos teus olhos, os meus
Parecerão tristes ao luar
Pois a poesia dispensa os fatos,
Os atos, contratos...
E, entre a fantasia do teria sido.
E do que parecerá ter havido,
Optamos irrevogáveis, por sonhar....
Mas, meu coração é leve
E quando vier o adeus
Voará, E ao lado do teu, mansamente, pousará.

⁠Ser

Este vago, vazio ser
É meu único companheiro.
Vejo agora no espelho
Deste meu lado de ver.
Vejo um rosto inaceitável
Que nunca queria ter.
Do seu lado de imagem
Deve me ver sem coragem,
Que deste meu lado, miragem,
Julgo ter.