Coleção pessoal de EduardoChiarini

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⁠Minha nova estrada
Era como uma estrada
de terra, na madrugada,
que trouxe para mim
poesia e um jardim.
E, de mim não quer nada
só ser amada,
e eu, que só desejo,
ser seu desejo.
Nesta linda caminhada,
então, fazia lua no céu,
com gosto de amor, de noite estrelada.
que, agora, coloco agora no papel.

Enganos passados.

Engano,
eu, tu e aqueles
que não se enganam.
Quem acha que engana, se engana.
olhando a chuva que não cai e vai,
com o vento que se esvai, mas não nos chama,
não é por menos ou por mais.
Nós, esquecidos nós, desastrados
na teia de passados entrelaçados
em tristes enganos.

Encontro Desafortunado
Em um encontro desafortunado,
a mentira, a traição e o jogo sujo,
resolveram agir contra a humanidade,
numa conspiração da maldade.
A mentira dizia que amava, e sorria, mas mentia,
A traição vestia-se de perdão, e ria, traía,
O jogo sujo, este terrível complicador,
Não se importava com a dor,
De qualquer um ao seu redor,
E a nós, impunha mais e mais desamor.
Até que um dia, a poesia chegou.
E na profundidade da alma calou,
Dissipou todas as dores, e
em versos bonitos e incisivos
presenteou-nos com sorrisos.

Poema inspirado em uma conversa com Léa.

⁠Hipocondria liberal
Em meio à confusão,
liberdade e aflição.
Em meio à liberdade
somente interrogação.
Em meio à aflição,
reflexão e internalização.
Paz e meditação, coração,
Constante pulsação.
Disse então o doutor,
Com razão.
Verdadeira apoteose.
Vá para casa, descanse que
é somente uma virose.

⁠Alfazema
É que nesta tarde serena,
ouço ao longe a cantilena,
sentindo a alma plena.
Penso, para que mais um poema
nesta tarde serena?
Diante da vontade encena
e leva a açucena, que
ao tempo, encantou-me
criança pequena,
as senhoras, as novenas,
alfazemas, vozes pequenas
Apenas.

Desconstrução
Escrevo neste papel e deixo,
um pedaço de mim,
amável ou detestável, é inevitável.
Não é desleixo, nem me queixo,
pois sei que é assim.
Se escrevo com paixão,
doí-me o coração,
se escrevo metáforas,
perco-me em diáforas, que de belas,
hoje lamentáveis querelas,
semelhantes à celas.
Nesta hora, em que ora,
eu, aqui escrevo mais um pedaço meu
que agora também é seu.
Peço então, perdão,
ao meu Deus divino, pequeno menino,
que habita meu coração,
por tamanha ingratidão.

Sereno.
Dia sereno
um gesto pequeno
de enorme amplitude
revela a atitude
que teremos,
serenamente um dia...
Lindamente!

⁠A lágrima
Chovia
a lágrima escorria,
ninguém percebia.
Mesmo porque
ali não havia
quem pudesse ver
a lágrima escorrer.

⁠Estradas
Finalmente criei coragem,
abri a porta, que dá para fora,
para a rua,
que bobagem!
Lá fora, o que se poderia esperar?
A rua é claro.
Não! A rua não estava lá,
havia uma estrada, apenas mais nada,
e, ao longe, bem longe, uma porta,
que julguei ser uma porta de entrada.
Andei, andei, andei....
parecia um sonho, que sonhei.
abri a porta de entrada,
nada! Outra estrada.
Voltei, não tinha estrada.
apenas o vento cortante do mar errante,
que cantava uma suave canção,
de amor e de perdão.
Entendi, que ali, não havia nada a entender.
Descansei, sonhei, e finalmente mergulhei.

Estático.

Fico parado
junto ao seu lado?
Ou separado?
Estou esperando.
Melhor sentado.
O que eu ando pensando?
Não importa! Está errado.
A noite chegando,
e, o café gelado.
Me digo, austero,
quase severo,
que a estrela espero.
A reposta que não quero?
Pior, não revelo.
E, espero.

Presença




Estou aqui.
sempre estive.
estou assim.
Mas mudo, toda hora,
mudo silenciosamente,
mudo, seguidamente,
mudo, sempre mudo.
Meus olhos falam por mim,
sempre assim,
não são mudos, são surdos.
e assim mudo, sem escutar
os olhos a falar, e às vezes,
mudo, só por mudar.

O ente estranho


Estava eu de frente
para um estranho ente,
não tinha rosto, não tinha olhos,
nem nariz; nem orelhas,
nem cabeça nem nada,
mas tinha boca e tinha dentes.
Eram dentes fluorescentes,
feito pingentes, que as meninas usam
nas boates quentes.
Perguntei-lhe, reunindo coragem,
foste tu amizade?
Ele não me respondeu,
disse, em um gemido, algo incompreensível,
alguma coisa como:
“mais um preto morto, no pais dos pretos,
e ninguém liga, nem grita”.
Percebi que estava diante da
impunidade, da maldade,
cruel, crueldade, sem rosto,
sem nome, sem idade.

⁠Faltas
Faltava-lhe tudo,
um pouco de tudo foi perdido,
em algum canto esquecido.
Um outro tanto de tudo,
talvez a mais querida,
foi usada como escudo,
contra as emoções da vida.
Queria viver sem sentir,
queria sentir sem viver,
era muito confuso,
este jeito de ser.
Ao perceber, quis de tudo
em um único momento viver.
Não foi possível.
Inconcebível.

Espera ansiosa


Espero sereno,
está tratado.
seu rosto moreno,
as mãos delicadas,
sua boca molhada,
o suave morder de lábios,
a me convidar,
para a intensidade,
com certa crueldade,
num movimento,
perfeito, compassado,
só descansado,
após o ápice do prazer.
Espero, e você não vem.

⁠Suposições
Se por um segundo supor,
portanto merecedor,
seja lá do que for.
Saiba que está errado,
não merecemos nada,
somos o pó da entrada,
que há muito empoeirada,
deixou amassada, a amada.
Agora que estamos afinados
honremos nossos finados,
com um canto extraordinário,
sem compasso e ao contrário.

⁠Incompleto
Sinto-me plenamente incompleto.
decerto algum efeito desta droga,
que a mim mesmo interroga.
Sinto-me completamente vazio,
Com frio em pleno estio.
Por certo, algum efeito desta droga,
que a mim mesmo sub-roga.
Até que voar é bom,
não sei ao certo pois ainda não fui,
está quase na minha vez,
tem uma enorme fila e um jovem cortes.
Explicou-me os elementos básicos,
necessários para tal.
ensimesmado, pensei:
Será efeito desta droga
que só se prorroga?

Inaceitável

Inaceitável!
Ainda que não aprove
sendo quase inalcançável,
desconfio de sua veracidade,
descubro, sustentável e pouco amigável;
alguma verdade, ambiguidade.
Um epicentro
e dúvidas e lamentos que
meus não são.
Estranhamente controlam a mente
propositalmente, a razão!
Assim, comove ou não?
A cirúrgica precisão,
em que me atrevo, destemido
o primeiro passo em direção,
à loucura, pura, quase santa,
dos crédulos, das missões,
do poeta delirante que canta.
Espanta e entristece
mesmo que pudesse,
apetece
ainda que de mim não cesse.



⁠Percepção
Hoje percebi que sinto
falta de coisas inexistentes
outrora vazias à minha mão
provocam-me comoção.
Em uma estranha sensação,
complexadamente avançam,
os dias em meio às ignorâncias,
que persistem em todas instancias.
Perplexo, complexo, nexo,
anexam-se os anexos.
Em uma triste reflexão filosófica,
uma conclusão catastrófica,
evitada cuidadosamente,
por medicações psicotrópicas.

Hoje não tem poema

Hoje não tem poema.
de fato uma pena,
desviou-me a atenção
insignificante razão.
Era, como é, dia então,
mas as minhas vistas
cansadas ou usadas
de tantas visões ousadas,
revelou-se impressionada,
tamanha exatidão.
Se certo acerto, erro.
Erro para acertar, então?
Confusão.

⁠Dia após dia.
Há sim que se fazer poesia
à noite ou de dia,
para não deixar a agonia,
fazer morada em nossa mente.
Não permitir que a tristeza
e a descrença nos atente,
neste mundo sempre descontente,
entretanto demente.
Que as lágrimas possam ser,
de alegria e de fantasia,
dia após dia.